quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

JESUS E O JOVEM RICO - Lucas 18.18-30


Por Silas Figueira

Texto base: Lucas 18.18-30

INTRODUÇÃO 

Todos os três sinóticos relatam o episódio seguinte na mesma sequência após a bênção das crianças. [1] Somente Lucas nos conta que este homem era de posição (príncipe). [2] Este também é o único homem dos Evangelhos a colocar-se aos pés de Jesus e, depois, partir numa situação pior do que quando havia chegado. [3]

Pelos três sinóticos este homem é descrito como uma pessoa muito rica, alguém que possuía muitas propriedades (Mt 19.22; Mc 10.22; Lc 18.23). Portanto, o título composto, rico jovem governante lhe é geralmente aplicado. Ele era provavelmente um dos oficiais a cargo da sinagoga local. [4]

James R. Edward destaca que Lucas:

[...] se refere quatro vezes às pessoas ricas e abastadas com tanta frequência quanto Mateus e Marcos. Algumas pessoas com meios financeiros desempenham papéis positivos em Lucas-Atos, incluindo José de Arimatéia (Lc 23.50-54), Barnabé (At 4.37), centuriões romanos (Lc 7.2-10; At 10), talvez Lídia, uma comerciante de púrpura (At 16.14). Nenhuma dessas pessoas, no entanto, é designada como rica (gr. plousios). Em Atos dos Apóstolos, ninguém é chamado plousios, enquanto no terceiro evangelho as pessoas são chamadas de plousios em treze ocasiões, mas só uma vez positivamente (Zaqueu, Lc 19.1-10). Duas das três referências ao “dinheiro” também são negativas (Lc 16.9,11,13). Não é possível dizer que a riqueza é um mal categórico no terceiro evangelho, mas é necessário dizer que ela representa um perigo inquestionável para a fé e o discipulado. [5]

O significado central dessa história é claro. Não importa no que alguém pode acreditar, ninguém entra no reino sem humildemente confessar seu pecado e, pela fé, submeter-se completamente ao senhorio de Jesus. A salvação é mais do que simplesmente acreditar nos fatos relativos ao evangelho; envolve o reconhecimento sobre a sua própria natureza pecaminosa e a autoridade do Senhor como nosso Salvador. A salvação genuína requer reconhecer que não se pode agarrar a nada neste mundo temporal, mas devemos estar dispostos a deixar tudo, se necessário for, em prol da salvação que Senhor tem para nós (Lc 9.23,24).

Wiersbe destaca que esse jovem apesar de ter buscado a Pessoa certa, de ter feito a pergunta certa e de ter recebido a resposta certa, tomou a decisão errada. [6]

Vamos analisar esse texto e ver quais lições podemos tirar desse texto.

1 – ESTE JOVEM ERA UM EXEMPLO NA SOCIEDADE.

Ao lermos os relatos de sua vida nos evangelhos sinópticos, nos deparamos com um homem exemplar. Podemos destacar alguma de suas virtudes.

Em primeiro lugar, ao contrário do fariseu em Lucas 18.9-14, ele reconheceu a sua necessidade (Lc 18.18). Ele estava ciente de que ele não tem a vida eterna de Deus em sua alma, nem a esperança do céu. Em vez de ser calmo e confiante, ele estava inquieto e ansioso. Ele queria alívio do peso esmagador do legalismo, e a certeza da presença de Deus que traz esperança, paz, alegria, contentamento e uma esperança confiante do céu. Este jovem provavelmente pensava que, com algum ato, poderia obter a vida eterna.

Fritz Rienecker destaca que interiormente sua consciência constantemente lhe mostrava claramente que o tesouro de suas boas obras não bastava. Buscava acrescentar à sua justiça algo extraordinário, a fim de assegurar com plena certeza a posse da vida eterna. Esses pensamentos o levaram a ouvir do Senhor uma resposta à sua mais importante indagação vital. O rico presidente, portanto, era um homem cheio de boa vontade, porém sem uma visão correta de si mesmo. [7]

Em segundo lugar, ele se aproxima de Jesus de forma humilde (Mc 10.17). “E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele”. Ele não foi arrogante perante o Senhor Jesus, apesar de não o vê-lo como o Deus encarnado, o Messias de Israel. Mas sabia que Jesus era um Mestre usado por Deus. Ele demonstra humildade ao tratar respeitosamente Jesus como Bom (gr. agathos); bom em essência ou por natureza. Nenhum rabino judeu era chamado “bom” quando em tratamento direto. [8] No entanto, esse jovem o fez.

Em terceiro lugar, ele veio para a pessoa certa (Lc 18.18). Muitos dos que procuram a vida espiritual, infelizmente, procuram nos lugares errados; na igreja errada, na religião errada, ou no líder errado. Este homem, no entanto, veio para a única fonte de vida, o Senhor Jesus Cristo, que é Ele mesmo a vida eterna (1Jo 5.20). Ele não buscou atalhos; buscou a Jesus, o único que pode levar o ser humano ao céu. [9]  

Em quarto lugar, ele observa a Lei desde sua infância (Lc 18.20,21). Segundo alguns, ele queria dizer “desde que me tornei um bar mitzvah”, isto é, “um filho da lei”, o nome dado a um menino judeu que havia alcançado a idade da responsabilidade religiosa. Outros interpretam a expressão num sentido mais geral: “a partir da infância.” [10]

Em quinto lugar, ele era proeminente na sociedade judaica (Lc 18.18). Poucos príncipes tinham qualquer apreço por Cristo, mas aqui estava um que o tinha; não nos é informado se ele era um príncipe da sinagoga ou do governo, mas ele era alguém investido em autoridade. [11] Leon Morris diz que não podemos ser específicos e sugerir, por exemplo, que fosse um chefe de sinagoga. Mas pelo menos fazia parte das classes dominantes. [12]

Em sexto lugar, ele era um jovem virtuoso (Mt 19.16; Lc 18.21). Esse jovem fora criado na Lei do Senhor e em pleno alvorecer da vida permanecia firme. Assim como Paulo, este Jovem era proeminente, investindo o seu futuro no reino de Deus. Era um jovem que dava exemplo na sociedade judaica. Considerava-se um fiel cumpridor da lei. Chegou a dizer a Jesus: Tudo isso tenho observado, que me falta ainda? (Mt 19.20). Aquele jovem se olhava no espelho da lei e dava nota máxima para si mesmo. Considerava-se um jovem íntegro. Não vivia em orgias nem saqueava os bens alheios. Vivia de forma honrada dentro dos mais rígidos padrões morais. [13]    

Em sétimo lugar, ele era riquíssimo (Lc 18.23). Os três Evangelhos sinóticos descrevem esse jovem como uma pessoa muito rica (Lc 18.23; Mt 19.22; Mc 10.22). Ser rico não é pecado, o pecado é ser possuído pela riqueza. Como disse Paulo: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6.10).

Em oitavo lugar, ele foi amado por Jesus (Mc 10.21). Somente Marcos cita a forma amorosa que o Senhor olhou para ele. E por amor, o Senhor lhe diz que ainda lhe faltava uma coisa para alcançar a vida eterna. Se desfazer de seus bens materiais.

2 – AS VIRTUDES DO JOVEM RICO ERAM APENAS EXTERNAS (Lc 18.18-23).

O jovem rico tinha muitas qualidades, isso era inquestionável. A sociedade local podia comprovar isso. No entanto, ele as superestimava. Ele deu a si mesmo a melhor nota, afinal ele era um observador da Lei e a guardava com dedicação desde a sua meninice. No entanto, Jesus o desmascarou em relação a avaliação que fazia de si mesmo e até mesmo em relação a avaliação que fazia do próprio Jesus.

Com isso em mente, podemos destacar alguns pontos a esse respeito.

Primeiro, ele estava enganado a respeito da salvação (Lc 18.18). Ele supunha que a vida eterna devesse ser merecida, e que fosse necessária alguma boa obra que não estava fazendo na ocasião. [14] Seu desejo de ter a vida eterna era sincero, mas ele estava enganado quanto à maneira de alcançá-la. Ele queria obter a salvação por obras, e não pela graça. [15]

Segundo, ele estava enganado a respeito da guarda da Lei (18.20,21). Dos dez mandamentos, Jesus pergunta cinco: “Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe”. Esses cinco mandamentos dizem respeito a lidar com outras pessoas. E, segundo ele, os estava observando. Não podemos imaginar uma resposta mais repleta de trevas e ignorância pessoal, diz John C. Ryle. Aquele que deu essa resposta não sabia nada corretamente a respeito de si mesmo, de Deus e de sua Lei. Nenhum homem verdadeiramente ensinado pelo Espírito jamais falará que desde a sua juventude tem “observado” todos os mandamentos de Deus. Pelo contrário, ele clamará, assim como o apóstolo Paulo: “A lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal... eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum” (Rm 7.14,18). [16]

Sanner destaca que outro hebreu que mais tarde fez uma confissão semelhante (Fp 3.6) também descobriu que “o homem não é justificado pelas obras da lei” (G1 2.16). [17] Wiersbe diz que Jesus não cita a Lei para ele como um meio de alcançar a salvação, pois a obediência à Lei não salva. Antes, coloca a lei diante do jovem como um espelho para revelar seus pecados (Rm 3.19, 20; Gl 2.21; 3.21). [18]

Terceiro, ele estava enganado em relação ao pecado (Lc 18.22). Esse jovem não percebeu quanto idólatra ele era. O dinheiro tomava o seu coração de tal forma que virou o seu deus.

Vende tudo o que tens era o desafio do reino de Deus (cf. 12.33). A vida eterna valia mais do que qualquer outra coisa, e, portanto, era preciso renunciar a tudo para obtê-la. Jesus referiu-se então, em essência, ao mandamento contra a cobiça. Conhecendo o coração do jovem, Jesus pediu-lhe que ultrapassasse o decálogo, enquanto lhe assegurava que continuaria tendo um tesouro, que, apesar de diferente, era muito maior (veja Mt 6.20). [19]

Jesus não está dizendo para este jovem que salvação vem através da filantropia, mas por meio de humildade, abnegação e obediência à Cristo (cf. Lucas 9.23,24). Jesus mostrou para o jovem rico que ele estava equivocado em achar que estaria salvo por guardar a Lei. Jesus deu-lhe uma ordem para abandonar todas as suas prioridades terrenas e despojar-se de tudo o que importava para ele. Deus deve ser a nossa principal prioridade nesta vida. Tudo o que toma o lugar de Deus em nosso coração deve ser abandonado.

À primeira vista, não havia qualquer razão pela qual esse homem não podia ser instruído no caminho de Deus e tornar-se um discípulo de Cristo. Mas infelizmente existia uma coisa que ele amava mais do que a “vida eterna”. Era a sua própria riqueza. Quando convidado por Cristo a abandonar tudo que possuía na terra e ajuntar um tesouro nos céus, esse homem não teve fé para aceitar o convite. O amor ao dinheiro era o pecado que dominava seu coração. [20]

Em quarto lugar, ele estava enganado a respeito de Jesus (Lc 18.18,19). Anthony Lee Ash diz que Jesus estava verificando se o jovem iria depender de Deus e confiar nEle para dar-lhe a resposta de Deus. [21] Mas pelo que observamos, quando este jovem se aproxima de Jesus e o chama de “Bom Mestre”, essa forma de dirigir-se a Jesus tinha sabor de adulação insincera. De modo que Jesus começou dirigindo seus pensamentos a Deus.

Ele chama Jesus de Bom Mestre, mas não está pronto para lhe obedecer. Ele pensa que Jesus é apenas um rabi, e não o Deus encarnado. Quando Jesus lhe deu algo para fazer, ele se recusou a obedecer! Desejava ser salvo de acordo com suas próprias condições, não de acordo com o que Deus havia determinado, de modo que se virou e partiu profundamente entristecido. [22]

Em quinto lugar, ele estava enganado acerca da verdadeira riqueza (Lc 18.23). Depois de perturbar a complacência do jovem com a constatação de que uma coisa lhe faltava, Jesus o desafia com uma série de quatro imperativos: “Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me” (Lc 18.23). Esses quatro imperativos são uma única ordem que exige uma só reação. O jovem deve renunciar aquilo que se constitui no objeto de sua afeição antes de poder viver debaixo do senhorio de Deus. [23]

Por causa de sua atitude cheia de cobiça com relação a riquezas, ele se tornara culpado de violar também o primeiro e mais importante dos mandamentos: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3; Dt 5.7). Esse homem não conseguiu abrir mão de sua fortuna para seguir a Jesus, daí sua tristeza. Sua reação ilustra muito bem o enunciado de Jesus: “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lc 16.13; v. também Mt 6.24). [24]

O jovem rejeitou a Cristo e a vida eterna. Agarrou-se ao seu dinheiro e com ele pereceu. Saiu triste e pior, por ter rejeitado a verdadeira riqueza, aquela que não perece. O jovem rico se tornou o mais pobre entre os pobres. [25]

3 – AS RIQUEZAS PODEM SER UM EMPECILHO PARA A SALVAÇÃO (Lc 18.24-30).

Aqui encontramos o segredo e a tragédia deste importante homem rico. Vivia egoisticamente. Era rico, mas não dava nada a ninguém. Seu verdadeiro Deus era a comodidade, e o que realmente adorava eram suas posses e sua riqueza. Por essa razão Jesus pediu que ele desse tudo. [26]

Podemos destacar duas lições aqui.

Primeiro, este jovem confiava na riqueza e não em Deus (Lc 18.24,25). Esse acontecimento levou Jesus a fornecer aos seus um ensinamento sobre o perigo da riqueza. Um rico dificilmente entra no reino de Deus, porque o coração pecaminoso se apega demais à propriedade terrena. [27] O dinheiro é mais do que uma moeda; é um ídolo. A confiança em Deus implica o abandono de todos os ídolos. Quem põe a sua confiança no dinheiro não pode confiar em Deus para a própria salvação. [28]

Leon Morris diz que Jesus disse que os afluentes sempre são tentados a depender das coisas da terra, e não acham fácil lançar-se sobre a misericórdia de Deus. [29]

Mas vejamos o que a Bíblia nos fala a respeito do perigo de confiarmos nas riquezas. Em Mateus 6.24 o Senhor disse:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom (riquezas)”.

Paulo também alertou Timóteo a esse respeito quando lhe escreveu:

“Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam se apoderar da vida eterna” (1Tm 6.17-19).

A raiz de todos os males não é o dinheiro, mas o amor ao dinheiro (lTm 6.10). Não é o fato de possuir riquezas que impede as pessoas de entrarem no céu, pois Abraão, Davi e Salomão foram homens extremamente ricos. Antes, é o fato de ser possuído pelas riquezas e de confiar nelas que dificulta a salvação dos ricos. A riqueza dá uma falsa sensação de sucesso e de segurança, e quando as pessoas estão satisfeitas consigo mesmas, não sentem necessidade de buscar a Deus. [30]

Jesus ilustrou a impossibilidade da salvação daqueles que confiam no dinheiro: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Lc 18.25). Os persas expressavam a impossibilidade usando um provérbio familiar, afirmando que seria mais fácil um elefante passar pelo buraco de uma agulha. Os judeus pegaram esse provérbio e substituíram por um camelo, uma vez que os camelos eram os maiores animais na Palestina, e o fundo de uma agulha era o menor orifício conhecido na época. Belone (gr) significa, originalmente, a ponta de uma lança, e depois, a agulha do cirurgião. Esse termo é encontrado somente aqui no Novo Testamento. [31]

Frequentemente se diz que havia uma porta em Jerusalém chamada “Fundo de Agulha”, pela qual os camelos somente poderiam atravessar ajoelhados, e com muita dificuldade. O problema desta exegese, no entanto, é que simplesmente não é verdadeira. Nunca houve semelhante porta em Jerusalém, em qualquer período da sua história. [32]

Segundo, a salvação é uma obra milagrosa de Deus (Lc 18.26,27). Aqueles que ouviram as palavras do Senhor entenderam o que ele quis dizer. Eles ficaram surpresos e exclamou: “Então, quem pode ser salvo?” O rico pode se dar ao luxo de dar mais esmolas que as outras pessoas, e os judeus acreditavam que a esmola era chave para entrar no reino. O livro apócrifo de Tobias expressou esse ponto de vista quando ele disse: “É melhor dar esmolas do que juntar ouro: uma esmola livrará da morte, e deve perdoar todos os pecados. Aqueles que exercem esmolas e justiça deve ser preenchido com a vida” (Tobias 12.8,9; cf. Eclesiástico 3.30). Mas o Senhor mostrou que esta era uma interpretação errada. Como disse Paulo aos Efésios: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9).

Rienecker destaca que a declaração do Senhor ensinou os ouvintes a lançarem um olhar sincero para seu próprio coração. Consternados eles perguntam quem, então, poderá ser salvo? Não obstante, tornar-se bem-aventurado, ser salvo, algo impossível a partir do ser humano, pode ser viabilizado por Deus. Nenhuma pessoa é capaz de transformar seu coração por força própria, para não se apegar mais às coisas terrenas. A onipotência da graça de Deus, porém, consegue renovar o coração, para que abra mão de tudo o que é terreno por causa do reino de Deus, para que busque, ao invés de bens terrenos, o tesouro celestial. [33A salvação, para os ricos ou para os pobres, sempre é um milagre da graça divina. Sempre é a dádiva de Deus. [34]

4 – RICOS EM CRISTO (Lc 18.28-30).

Pedro é o porta-voz, como era usual. Neste caso ele não falou com orgulho, mas fez uma observação justa, conforme a resposta de Jesus certamente o indica. Pedro deve ser contrastado aqui com o jovem rico. É verdade que Simão não tinha “muito a perder”, materialmente falando, como era o caso do jovem rico. Contudo, ele tinha “muito a dar”, como pessoa, como alma. Aquilo a que podia renunciar, renunciou; e o que podia dar, deu. [35]

Podemos destacar algumas lições aqui.

Em primeiro lugar, a abnegação dos discípulos (Lc 18.28). Todos os discípulos fizeram aquilo a o que o homem rico não conseguiu se decidir. A forma peculiar aqui em Lucas “Nós abandonamos o próprio (ta idia), a propriedade”, destaca a dificuldade do sacrifício prestado. Em lugar do temor de não ser salvos, surge entre os discípulos a expectativa de uma recompensa extraordinária. Afinal, o próprio Senhor relacionou o despojamento da propriedade terrena com a obtenção do tesouro celestial. [36] Seguir a Cristo é o maior projeto da vida. Vale a pena abrir mão de tudo para ganhar a Cristo. Ele é a pérola de grande valor. [37]

Uma vez uma pessoa, pensando em todas as provas que tinha suportado David Livingstone, as penúrias que o tinham abatido, e como tinha perdido sua esposa e arruinado sua saúde na África, disse-lhe: “Quantos sacrifícios você tem feito!” Livingstone lhe respondeu: “Sacrifícios? Não fiz nenhum em toda minha vida”. [38]

Em segundo lugar, a motivação dos discípulos (Lc 18.29). Não basta deixar tudo por Cristo; é preciso fazê-lo pela motivação certa. Jesus é claro em sua exigência: ... por causa do reino de Deus (Lc 18.29). Marcos ainda é mais enfático no seu registro: ... por amor de mim e por amor do evangelho (Mc 10.29). Precisamos fazer a coisa certa, com a motivação certa. O objetivo da abnegação não é receber recompensa. Não servimos a Deus por aquilo que ele dá, mas por quem ele é (Dn 3.16-18). Muitos hoje pregam um evangelho de barganha com Deus. Você dá para receber de volta. Você oferece algo para Deus a fim de receber uma recompensa maior. [39]

Em terceiro lugar, a recompensa dos discípulos (Lc 18.30). Jesus reassegura a Pedro e aos outros que tudo quanto deixamos para trás por amor do evangelho e do reino de Deus (Mc 10.29 diz: “por amor de mim e do evangelho”) será recompensado inúmeras vezes (Mc 10.30 diz: “cem vezes tanto”) neste mundo e no mundo vindouro a vida eterna. Deus não deve nada a nenhum ser humano. Lucas modificou o texto de Marcos provavelmente porque desejou evitar a ideia de que os discípulos são motivados a seguir a Jesus porque esperam recompensas materiais nesta vida. [40]

Anthony Lee Ash destaca que Jesus respondeu que as bênçãos espirituais e a comunhão no presente e no mundo por vir iriam mais do que compensar qualquer perda, por causa do seu valor mais alto (cf. Lc 14.26). [41]

Mesmo no presente tempo, isto é, antes do grande dia do juízo, e para cada crente antes de sua morte, esses fiéis seguidores recebem as bênçãos indicadas em passagens como Pv 15.16; 16.8; Mt 7.7; Jo 17.3; Rm 8.26-39; Fl 4.7; 1Tm 6.6; Hb 6.19, 29; 10.34; lPe 1.8. Apesar das perseguições que eles terão de enfrentar, eles serão capazes de apreciar até mesmo suas possessões materiais muito mais do que os ímpios usufruem as deles. [42]

Jesus fala sobre duas recompensas e duas realidades.

Primeiro, há uma recompensa imediata. Seguir a Cristo é um caminho venturoso. Deus não tira; ele dá. Ele dá generosamente. Quem abre mão de alguma coisa ou de alguém por amor ao reino de Deus recebe já no presente muitas vezes mais.

Segundo, há uma recompensa futura. No mundo por vir, receberemos a vida eterna. Essa vida é superlativa, gloriosa e feliz. Então, receberemos um novo corpo, semelhante ao corpo da glória de Cristo. Reinaremos com ele para sempre. [43]

CONCLUSÃO

A graça, e não a posição, é o eixo em torno do qual gira a nossa salvação. O dinheiro não fechará a porta do céu para nós, se nossos corações estiverem em retidão diante de Deus. Cristo pode nos tornar mais do que vencedores e capacitar-nos a vencer em cada provação. Disse o apóstolo Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). [44]

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 373.

2 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 250.

3 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 323.

4 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 396.

5 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 645.

6 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 324.

7 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curi-tiba, PA, 2005, p. 375.

8 – Robertson, A. T. Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 313.

9 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 527.

10 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 398.

11 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 683.

12 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 250.

13 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 526.

14 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 250.  

15 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 528.

16 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 295.

17 – Sanner, A. Elwood. Comentário Bíblico Beacon, Marcos, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 286.

18 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 324.

19 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 264.

20 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 295.

21 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 264.

22 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 324.

23 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 530.

24 – Evans, Craig A. O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 310.

25 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 530.

26 – Barclay, William. O Novo Testamento Comentado, Lucas, p. 199.

27 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 377.

28 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 530.

29 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 252.

30 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 324.

31 – Robertson, A. T. Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 314.

32 – Fee, Gordon D. e Stuart, Douglas. Entendes o Que Lês? Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 21

33 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 377.

34 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 252.

35 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 179.

36 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 377.

37 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 532.

38 – Barclay, William. O Novo Testamento Comentado, Lucas, p. 200.

39 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 532.

40 – Evans, Craig A. O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 311.

41 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 266.    

42 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 532.

43 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 406.

44 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 297.