segunda-feira, 16 de outubro de 2023

A PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA E DA DRACMA PERDIDA - Lucas 15.1-10

Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lucas 15.1-10

INTRODUÇÃO
 
Este é um dos capítulos mais conhecidos e mais amados na Bíblia inteira. [1] John C. Ryle diz que poucos capítulos das Escrituras têm produzido tanto benefício às almas dos homens quanto o capítulo quinze do Evangelho de Lucas. [2] Fritz Rienecker destaca que cada uma das três parábolas do presente capítulo 15 descreve de maneira peculiar a misericórdia de Deus que transcende qualquer imaginação humana. [3] David A. Neale destaca também que o capítulo 15 é o centro físico, emocional e teológico de Lucas. Ele culmina e cristaliza o tema do arrependimento dos pecadores. [4]

Graig Evans diz que essa seção contém três parábolas que retornam ao tema da inclusão dos humildes e desprezados no reino de Deus: (1) a parábola da ovelha perdida (vv. 1-7); (2) a parábola da moeda perdida (vv. 8- 10); e (3) a parábola do filho perdido (vv. 11-32). Essas parábolas tomam o fio da meada da parábola da grande ceia (14.15-24), isto é, reiniciam o tema, no ponto em que aquelas parábolas o interromperam. [5] Anthony Lee Ash destaca também que Jesus, em defesa de sua associação com cobradores de impostos e pecadores, desenvolveu mais ainda o conceito do arrependimento, que Lucas tinha apresentado previamente nos capítulos 13 e 14. O Novo Testamento usa a palavra para murmuravam apenas aqui e em 19.7. Comer com essas pessoas era considerado mais sério do que recebê-las (veja G1 2.12; e cf. Atos 11.3). Os fariseus aceitariam os pecadores de volta, depois da penitência, mas não os procurariam como Jesus fazia. Eles alegavam religião, mas tratava-se de uma religião de exclusivismo rígido em lugar de amor. [6]

Os doutores da Lei não entendiam o que o Senhor os havia deixado escrito nos profetas. Deus havia dito e jurado no Antigo Testamento, que Ele não sentia prazer na morte e destruição dos pecadores. Mas, que tinha muito prazer no seu retorno e arrependimento, e se regozija no acolhimento misericordioso que lhes dá em razão disso. [7]

Diante desse impasse Jesus conta três parábolas. Jesus mais uma vez mostra o quanto o Pai é misericordioso e acolhe os pecadores. 
 
Para facilitar o nosso estudo, dividiremos estas parábolas em duas partes. Abordaremos primeiramente os versículos de 1-10 e, posteriormente, os versículos de 11-32, que fala a respeito dos dois filhos perdidos.

O que os versículos de 1 a 10 têm a nos ensinar?
 
1 – O MOTIVO POR QUE JESUS PROFERIU ESTAS PARÁBOLAS (Lc 15.1,2).
 
Ao relatar o contexto que envolveu a apresentação das três parábolas, Lucas conta que publicanos e pecadores compareceram em grande número a fim de ouvir a Jesus. Tão logo a chegada do Senhor se tornava pública em uma localidade, o povo caído em profunda decadência acorria imediatamente. Junto a Jesus as pessoas descobriam que nunca haviam encontrado antes amor afetuoso e autêntica santidade, livres de qualquer hipocrisia farisaica. [8]

Ao lermos os Evangelhos, observamos que esta é a primeira vez que todos os publicanos e pecadores se aproximam para ouvir Jesus. Os escribas e fariseus murmuram contra Jesus, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles. A reclamação se deve ao fato de que a mesa é o potente símbolo de inclusão para os marginalizados em Lucas. [9]

Robert destaca que havia murmurações e reclamações sempre que estas duas classes entravam em contato com Jesus. Conforme os publicanos e os pecadores se aproximavam de Jesus, os fariseus e os escribas aumentavam suas reclamações. A diferença social é aqui um abismo enorme. [10]

Com isso em mente, podemos destacar duas lições:

Em primeiro lugar, Jesus atraía pecadores, pois os tratava com misericórdia. Os publicanos não eram tidos em alta estima, porque não somente ajudavam os romanos odiados na sua administração do território conquistado, como também se enriqueciam às expensas dos seus patrícios. Eram ostracizados por muitos e considerados párias pelos religiosos. Os pecadores eram os imorais, ou os que seguiam ocupações que os religiosos consideravam incompatíveis com a Lei. [11]

No entanto, Jesus olhava para essas pessoas como ovelhas que não tinham pastor. Elas estavam perdidas pois não havia quem as guiasse por pastos verdejantes e águas de descanso (Sl 23). Como disse Jesus na casa de Zaqueu: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10).

Por causa de uma liderança preconceituosa e hipócrita que esses pecadores não se arrependiam de seus pecados. É mais fácil apontar o dedo que abrir os braços. É mais fácil criticar do que aconselhar. Era assim que agia os escribas e fariseus em relação aos pecadores e publicanos.

Devemos destacar que o testemunho dos escribas e fariseus foi completa e literalmente verdadeiro. De fato, o Senhor Jesus é Aquele que “recebe pecadores”. Ele os recebe para perdoá-los, santificá-los e prepará-los para ir ao céu; é seu ministério especial. Foi para isso que Cristo veio ao mundo. Não veio chamar justos e sim pecadores ao arrependimento e salvá-los. Aquilo que Ele era, enquanto esteve na terra, hoje Ele é, à direita de Deus, e o será por toda a eternidade. Enfaticamente, o Senhor Jesus é o amigo dos pecadores. [12]

Em segundo lugar, os escribas e fariseus desprezavam essas pessoas. Hendriksen destaca que associar-se com pessoas desse tipo era considerado contagiante; comer com eles era ultrajante! [13] Eles que deveriam ser os pastores dessas ovelhas perdidas, no entanto, estavam agindo como mercenários, os abandonando aos lobos. Eles que deveriam ser luz para os guiar pelo caminho escuro, eles eram trevas e os levavam para os desfiladeiros, para a morte eterna. Como disse Jesus: “são cegos condutores de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (Mt 15.14).

Em terceiro lugar, os escribas e fariseus eram cegos em relação aos próprios pecados. As palavras dos adversários, que se revestem de importância por servirem de ponto de partida para a longa resposta do Senhor, contêm um erro fundamental de quatro aspectos: 1) pensavam que eles mesmos não eram pecadores; 2) a pessoa seria pecadora somente por causa de pecados grandes ou grosseiros, p. ex., como as falcatruas praticadas pelos publicanos; 3) o lema dos fariseus condenava classes inteiras de pessoas de forma contínua, tola e sem amor, de modo que todos os coletores de impostos seriam os piores pecadores; 4) os fariseus chegaram à conclusão de que o próprio Jesus só podia ser pecador. A palavra de desprezo “esse” usada pelos adversários de Jesus denuncia a mentalidade maligna oculta por trás de seus pensamentos. Esse, que não era bem-vindo e incomodava a todo o instante (cf. Lc 23.18), ao qual não queriam deixar prevalecer nem falar, busca comunhão de mesa com a ralé mal afamada. [14]

Como disse Matthew Henry: “maus modos geram boas leis. Assim, neste capítulo, a murmuração dos escribas e fariseus pela graça de Cristo, e pelo favor que Ele demonstrou aos publicanos e pecadores, deu oportunidade para uma descoberta mais plena desta graça, do que talvez do contrário deveríamos ter tido nestas três parábolas contidas neste capítulo”. [15]
 
2 – A PARÁBOLA DA OVELHA PERDIDA (Lc 15.3-7).
 
Wiersbe diz que a história da ovelha perdida tocaria o coração de homens e de meninos da multidão, enquanto as mulheres e as meninas se interessariam pela história da moeda perdida do colar de casamento. Jesus procurou alcançar o coração de todos. [16]

A ovelha não foi perdida; ela se desgarrou do rebanho. Ela foi atraída por novos horizontes, novas pastagens, novas aventuras, e afastou-se do convívio das outras ovelhas. Certamente não notara o risco de cair no abismo, nem de perder o rumo nos desertos, nem mesmo a possibilidade de ser apanhada por um animal predador. A ovelha é um animal frágil, teimoso, indefeso, míope, que não consegue defender- -se. [17]

Conforme a concepção do AT, Jesus considerava todo o povo judeu como um rebanho de ovelhas cujo proprietário e pastor é Deus. Pelo fato de que em seu tempo Israel havia se separado da fé genuína e verdadeira em Deus, não dispondo mais de cuidado espiritual verdadeiro, o Senhor o chama de rebanho sem pastor (Mt 9.36; Mc 6.34), uma multidão perdida e dispersa de ovelhas que correm perigo de perder-se definitivamente (Mt 10.6; 15.24). O uso dessa metáfora parecia ser particularmente certeiro para os publicanos e pecadores, que haviam se desviado da caminhada divina e não dispunham da condução e do cuidado pastoral intentados por Deus. Uma ovelha extraviada, na realidade, é a mais indefesa de todas as criaturas. [18]

Por ser um animal míope, a ovelha perdeu-se por sua falta de senso de direção. Esses animais têm a tendência de se desencaminhar, por isso precisam de um pastor (Is 53.6; 1Pe 2.25). Cada uma das ovelhas era responsabilidade do pastor; se uma desaparecia e o pastor não era capaz de provar que ela havia sido morta por um predador, precisava pagar por ela (ver Gn 31.38, 39; Êx 22.1013; Am 3.12). Isso explica por que deixaria o rebanho com outros pastores, sairia em busca do animal perdido e se alegraria ao encontrá-lo. Não encontrar a ovelha perdida pesaria no bolso dele e lhe daria a vergonhosa reputação de pastor descuidado. [19]

Com isso em mente, podemos tirar algumas lições importantes para nossas vidas.
Em primeiro lugar, o Supremo Pastor valoriza cada uma de suas ovelhas (Lc 15.4). O fato de deixar as noventa e nove ovelhas não implicava que o pastor não se importasse com elas. Essas noventa e nove estavam em segurança, enquanto a ovelha perdida corria perigo. O fato de o pastor sair à procura de uma ovelha é prova de que cada um dos animais era importante para ele. [20]

Hernandes Dias Lopes destaca que o pastor não desistiu dela nem a culpou por sua fuga inconsequente. Antes, deixou as demais em segurança, procurou-a pelas montanhas escarpadas e valados profundos, e encontrou-a em situação desesperadora. Não podendo ela andar, o pastor a tomou no colo. Em vez de sacrificá-la, o pastor alegrou-se em encontrá-la e festejou sua reintegração ao rebanho. E assim que Deus faz conosco. Ele não desiste de nos amar. Ele não abre mão da nossa vida. Ele não abdica do direito que tem de nos tomar para si e nos manter em sua presença. [21]

Em segundo lugar, o Supremo Pastor a procura até encontrá-la (Lc 15.4). Leon Morris destaca que o pastor faz mais do que uma busca simbólica. Quer sua ovelha. Procura até achá-la. [22] O pastor não ficou lamentando a ovelha perdida e nem ficou conformado por ter ainda noventa e nove ovelhas ainda. Ele parte em busca da que se perdeu. Ele a procura até encontrá-la. Provavelmente a noite já estava começando, mesmo assim ele a procura diligentemente.

Matthew Henry mostra que a ovelha perdida é um transgressor que segue em caminhos pecaminosos. Ele é como uma ovelha perdida, uma ovelha extraviada; ele está perdido de Deus, que não tem a honra e o serviço que deveriam ser-lhe prestados por ele; está perdido do rebanho, que não tem comunhão com ele; perdido de si mesmo: ele não sabe onde está, vagueia sem rumo, está continuamente exposto aos animais de rapina, sujeito a sustos e terrores, longe do cuidado do pastor, necessitado dos pastos verdejantes. E, por si só, não é capaz de encontrar o caminho de volta ao aprisco. [23]

Em terceiro lugar, o Supremo Pastor se sacrifica pela sua ovelha (Lc 15.5). Uma ovelha extraviada, na realidade, é a mais indefesa de todas as criaturas. Não consegue retornar sozinha ao rebanho, é absolutamente incapaz de se defender, cansa-se com facilidade. Por isso o pastor precisa procurá-la pessoalmente e, tendo-a encontrado, carregá-la. Dessa forma expressa-se com intensidade o esforço para carregá-la. O pastor preocupado assume esse fardo, porém com júbilo, e tendo chegado em casa partilha essa alegria com amigos e vizinhos. [24]
Kenneth Bailey destaca que uma ovelha perdida ficará deitada, desamparada, e recusar-se-á de mexer-se. O pastor é forçado a carregá-la por uma distância considerável. [25] Por isso que o pastor da parábola se sacrifica em prol de sua ovelha perdida. Da mesma forma o amor de Cristo por nós é caracterizado por renúncia própria. O pastor trouxe em seus ombros a ovelha perdida de volta ao lar, ao invés de abandoná-la no deserto. Assim também Cristo não poupou a Si mesmo, quando veio ao mundo para salvar os pecadores. Ele “suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia” (Hb 12.2). O Senhor Jesus entregou sua “própria vida em favor dos seus amigos”; “maior amor do que este” jamais poderá ser demonstrado (Jo 15.13). [26]

Jesus evidencia seu imenso amor a ponto de nos carregar no colo. Ele nos toma em seus braços eternos. Ele nos toma pela sua mão direita e nos conduz à glória. Ele não sente nojo da ovelha que caiu no abismo, mas desce os despenhadeiros mais perigosos para arrancar das entranhas da morte a ovelha que se perdeu; ao encontrá-la, toma-a amorosamente nos braços e a leva para o aprisco. [27]

É interessante que muitos quadros foram pintados a respeito desta parábola. E, geralmente, mostra a ovelha ainda filhote sendo resgatada pelo pastor. Na verdade, é pintado um cordeirinho. Mas o texto nos diz que foi uma ovelha que se perdeu, não dando a ideia de ser um animal pequeno. É bem provável que a ovelha era adulta e bem pesada. O esforço do pastor foi muito maior do que se vê em certos quadros. Principalmente, porque o texto está fazendo um paralelo com os publicanos e pecadores e não com crianças.

Em quarto lugar, o Supremo Pastor celebra com júbilo o resgate da ovelha (Lc 15.6,7). Achar o que era perdido é uma experiência de júbilo. Alegremente, o pastor traz a ovelha para casa sobre os ombros. Não há qualquer resmungo sobre a necessidade de carregar o animal: o pastor está cheio de júbilo. A alegria de achar a perdida sobrepuja todas as outras coisas. Na sua felicidade transbordante reúne outros para compartilhar da alegria. [28]

Observe, Ele a chama sua ovelha, apesar de desgarrada, uma ovelha que vagava perdida. Ele possui o direito a ela (todas as almas são minhas), e Ele as reivindicará como sua propriedade, e recuperará o que é seu por direito. Portanto, Ele mesmo vai atrás dela: Eu a achei; Ele não mandou um servo, mas o seu próprio Filho, o Grande e Bom Pastor, que achará o que procura, e será achado daqueles que o buscarem. [29]

Ainda que a busca consuma tempo e seja fisicamente exaustiva, ao encontrar a ovelha o pastor, da forma típica do Oriente Médio, a põe em seus ombros com o estômago da ovelha contra sua nuca e as quatro patas atadas diante de seu rosto. Assim carregado, ele volta para sua casa na vila. O pastor se regozija, e isso não só porque recuperou um material perdido, mas porque ama sua ovelha. Seu coração pastoral se regozija porque a ovelha não foi devorada nem pereceu de alguma outra forma. O pastor ainda convida seus amigos e vizinhos para se regozijarem com ele. Resultado: Uma verdadeira festa. [30]

David A. Neale destaca que a narrativa se desloca do literal para o teológico com a declaração sumária a respeito da perspectiva divina sobre o encontro da pessoa “perdida”: Eu lhes digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam arrepender-se (v. 7). [31]

Mas quem são os justos ou aqueles que não precisam de arrependimento? Visto que Jesus estava respondendo à crítica dos escribas e fariseus, é mais provável que estivesse tomando emprestado a terminologia deles. Eles dividiam a população judaica em pecadores e justos. Os justos eram aqueles que, na opinião deles, não necessitavam de arrependimento. Eles se colocavam nesta categoria. Jesus estava dizendo, com efeito: ‘Vocês desprezam aqueles que vocês mesmos chamam de ‘publicanos e pecadores’; mas o céu se alegra mais pelo arrependimento de um destes do que por noventa e nove de vocês, que, de acordo com as suas tendenciosas opiniões, não precisam de arrependimento”. [32]

Rienecker diz que com santa ironia o Senhor confronta os fariseus com duas coisas, para vergonha deles: 1) os habitantes do céu alegram-se com a conversão de um pecador, quando para eles isto constitui motivo de reclamação. 2) os anjos de Deus sentem maior júbilo por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos da categoria deles. [33]
 
3 – A PARÁBOLA DA DRACMA PERDIDA (Lc 15.8-10).
 
Todos perdemos coisas de tempos em tempos. Nessa segunda parábola, uma mulher perde uma de suas dez dracmas. Uma dracma, uma moeda grega de prata que variava de peso e valor em diferentes épocas e lugares no mundo da Antiguidade, muitas vezes alcançava o valor de um denário (salário médio de um dia de trabalho, Mt 20.2). O pagamento de um dia de trabalho merece ser encontrado. [34]

Rienecker destaca que aquela ovelha que se perdeu relacionava-se com a totalidade dos bens do proprietário na proporção de um para cem. A moedinha que a mulher perdeu estava numa proporção de uma para dez em relação ao total que lhe pertencia. Essa única dracma representava uma perda ainda maior para a pobre mulher. Essa parábola destaca o valor especial que uma vida humana possui perante Deus. [35]

Wiersbe diz que quando uma menina judia se casava, começava a usar na cabeça uma espécie de diadema com dez moedas de prata para indicar que agora era uma esposa. Era a versão judaica da aliança de casamento, e seria uma verdadeira tragédia perder uma dessas moedas. [36] Champlin corroborando com essa ideia, diz que o valor dessa moeda seria mais aumentado ainda se porventura fizesse parte de um ornamento para cabelos, exigindo que não se perdesse nenhuma peça, para que pudesse funcionar como tal. Esses ornamentos eram usados pelas mulheres casadas, como sucede naquelas regiões até o dia de hoje. Alguns têm sugerido que a preservação da unidade do ornamento podia ser reputada como símbolo da fidelidade da mulher ao seu marido. [37]

A casa de uma pessoa da classe pobre, como essa mulher, geralmente era bem pequena. Tinha o piso de terra e não tinha janelas, ou se as tinha eram bem pequenas. Portanto, uma vez caída uma moeda no chão, tomava-se muito difícil de encontrá-la. Portanto, visto que a casa era um tanto escura, ela acende uma lâmpada e passa a varrer. Ela varre cada canto e cada greta da casa e ... ei-la! Ela a encontra. Que alegria! [38]


Que lições podemos aprender com a parábola da dracma?

Em primeiro lugar, a dracma perdida tinha grande valor. A mulher que perdeu a décima dracma não se conformou em desistir dela nem se contentou pelo fato de ter ainda em segurança as outras nove. Essa dracma ou moeda perdida era valorosa porque é um símbolo do ser humano que se perdeu. A proprietária da dracma tomou todas as medidas para reavê-la. Você tem grande valor para Deus. Ele não desiste de amar você. Ele mesmo tomou todas as medidas para buscar você. [39]

Em segundo lugar, ela procurou a dracma diligentemente (Lc 15.8). A mulher havia perdido a dracma e agiu de forma prática para encontrá-la. Ela tomou três atitudes. Primeiro ela acende a candeia. Ela teve de acender uma lâmpada porque as casas pequenas da Palestina, das classes mais humildes, usualmente não tinham janelas, e a única maneira da luz entrar no aposento era mediante a porta. Portanto, foi necessário acender uma lâmpada a fim de possibilitar uma busca mais completa. [40]

Um lugar bem iluminado facilita encontrar algo que está perdido. A Bíblia nos fala que a Palavra é lâmpada para nossos pés e luz para o nosso caminho (Sl 119.105). É a luz da Palavra que ilumina as nossas mentes.

Em segundo lugar, ela varre a casa. Ela faz uma verdadeira faxina em seu lar. Muitas vezes precisaremos ter coragem para fazer uma faxina em nossa vida. Porque à medida que varremos as nossas mentes descobrimos o quanto ele está sujo, e quantas coisas devem ser jogadas fora. A perda da dracma fez com que ela tomasse certas decisões que provavelmente ela estava postergando a muito tempo.

Em terceiro lugar, ela procurou diligentemente a dracma até encontrá-la. Notemos duas coisas que essa mulher fez: primeiro, sua procura foi meticulosa; segundo, sua procura foi perseverante. Houve diligência e perseverança. E dessa maneira que devemos procurar aqueles que se perdem e se desviam. Um fato ainda digno de nota é que a dracma se perdeu dentro de casa. Muitos estão, também, perdidos dentro da igreja. [41]

O Pastor Marcos Granconato disse que o meio evangélico é um dos campos missionários mais vastos do nosso país. Alguém duvida? Então fique atento ao modo de pensar e viver dos milhões de “crentes” que andam por aí e ficará surpreso. A maior parte dessa gente não demonstra nenhuma transformação de caráter, nenhuma alteração em seus valores, nenhum compromisso com a santificação e nenhum grau de discernimento espiritual. Parece que a estratégia principal do diabo para destruir a obra de Deus nas últimas décadas deixou de ser debilitar igrejas verdadeiras com os atrativos da apostasia. Agora, ele cria igrejas falsas compostas por cadáveres espirituais apodrecidos com o objetivo de emporcalhar o santo nome de cristão diante do mundo. [42]

Em terceiro lugar, ela se alegra em encontrar a dracma perdida. A mulher buscou e encontrou a dracma perdida, usando todo esforço e diligência, mas a celebração dessa descoberta foi coletiva. Ela reuniu suas amigas e vizinhas para comemorar o fruto do seu labor. Devemos, de igual modo, não apenas buscar aqueles que se perderam, mas celebrar com grande e intenso júbilo quando eles são encontrados. [43]

E, como o pastor, compartilha sua alegria depois de ser bem-sucedida. Desta vez, Jesus fala do júbilo diante dos anjos de Deus (na parábola anterior, “no céu”), mas o significado é muito semelhante. [44] Hendriksen também destaca que não pode haver dúvida sobre o fato de que os santos anjos de Deus têm um profundo interesse por nossa salvação. Veja Mt 18.10; 25.31; Lc 2.10-14; 1Co 13.1; 1Pe 1.12; Ap 3.5; 5.11; 14.10. Eles podem saber mais sobre isso do que nós imaginamos, pois habitam na presença de Deus. Daí não se deve descartar a possibilidade de que se regozijem pela conversão de um pecador. [45]
 
CONCLUSÃO
 
Podemos concluir fazendo três observações sobre estas parábolas: 1) Não há ninguém tão indigno, a ponto de não ser objeto da preocupação do Senhor; 2) Não há esforços, por maiores que sejam, que Ele não faça em prol da recuperação deles; 3) Não há nada tão gratificante para Ele quanto a recuperação daquele que está perdido. [46]

Pense nisso!
 
Bibliografia:
1 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 223.
2 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 259.
3 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 317.
4 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 160.
5 – Evans, Craig A. O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 253.
6 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 237.
7 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 648.
8 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 318. 
9 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 165.
10 – Robertson, A. T. Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 273.
11 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 223.
12 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 259.
13 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 287.
14 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 319.
15 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 648.
16 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 303.
17 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 457.
18 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 320.
19 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo An-dré, SP, 2007, p. 303.
20 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo An-dré, SP, 2007, p. 304.
21 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 457.
22 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 224.
23 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 649.
24 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 320.
25 – Bailey, Kenneth. As Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985, p. 199.
26 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 260.
27 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 458.
28 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 224.
29 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 650.
30 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 287.
31 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 168.
32 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 452.
33 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 321.
34 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 554.
35 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 322.
36 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo An-dré, SP, 2007, p. 304.
37 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 151.
38 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 291.
39 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 459.
40 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 151.
41 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 459.
42 – Granconato, Marcos. Como Evangelizar Evangélicos, http://www.igrejaredencao.org.br/ibr/index.php?option=com_content&view=article&id=340:como-evangelizar-evangelicos&catid=17:pastoral&Itemid=114, acessado em 13/10/2023.
43 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 460.
44 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 225.
45 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 292.
46 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 453. 

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