Por Pr Silas Figueira
Texto base: Lucas 13.31-35
INTRODUÇÃO
Os atentados contra a
vida de Jesus começaram muito antes do início do seu ministério público. Quando
ele ainda era um bebê, Herodes, o Grande, patriarca da dinastia herodiana, governador
da Judéia intentou matar Jesus quando Ele ainda era criança. Herodes era um
sociopata cuja paranoia atingiu um clímax horrível quando, no final de seu
reinado, chegaram do oriente uns magos declarando que o rei dos judeus havia
nascido e que eles estavam procurando por Ele (Mt 2.1-12). Temendo um rival
para o seu trono, Herodes informado, a partir dos líderes religiosos judeus que
o Messias havia de nascer em Belém (Mq 5.2), mandou matar todos os meninos de
dois anos para baixo de Belém (Mt 2.16-18). Agora, O filho de Herodes, o
Grande, Herodes Antipas, que havia mandado matar João Batista, está intentando
matar Jesus também. Este era o tetrarca que tinha sob sua jurisdição Galileia e
Pereia, a mesma região por onde Jesus passara e continuava viajando. [1]
O que lemos nos mostra
que o evangelista Lucas diz que naquela mesma hora, alguns fariseus vieram
dizer a Jesus para sair da jurisdição do governo de Herodes, porque este queria
matá-lo. Não sabemos se os fariseus estavam precisamente informando a intenção
de Herodes ou se estavam inventando a história para forçar Jesus a sair daquela
localidade. Duas coisas parecem estar claras na visão do que se sabe sobre
Herodes e os fariseus. Em primeiro lugar, os fariseus eram hostis o bastante
para se utilizar tanto da verdade como da falsidade contra Jesus, e de forma
alguma iriam colaborar com um inimigo. Em segundo lugar, Herodes mostrou, ao
assassinar João Batista, que era capaz de matar um líder religioso. Também era
evidente que Herodes e os fariseus podiam estar esperando se beneficiar com o
resultado de tal informação. [2]
Com isso em mente,
podemos tirar algumas lições importantes para nós.
1 – ALIANÇAS FORAM FEITAS
CONTRA JESUS (Lc 13.31).
Alguns acreditam que os
fariseus estavam tentando alertar Jesus do perigo que corria, pois, assim como
João fora morto por Herodes, Jesus corria risco de morrer também. Mas essa
ideia não se sustenta devido ao ódio que os fariseus tinham de Jesus. Certamente,
os fariseus não tinham nenhum apreço por Herodes. Entretanto, com o propósito
de se oporem a Jesus, os fariseus se uniram a ele e seus seguidores (Mc 3.6).
[3]
Há um ditado que diz: “Se
não pode com ele, junte-se a ele”. Aqui, no entanto, esse ditado é ao inverso,
se não se pode calar Jesus, junte-se aos seus inimigos para calá-lo. Ainda que
esses inimigos sejam também seus inimigos. Como dizem: “inimigo do meu inimigo
é meu amigo”.
Os fariseus tentaram
calar Jesus de duas formas:
1º
- Em primeiro lugar, tentaram intimidar Jesus. Uma vez que os
fariseus não foram motivados pela preocupação com a segurança de Jesus, este
aviso sugere que a sua intenção final era para matar Jesus, no entanto, o seu
objetivo imediato era intimidá-lo e calar o Seu ensino.
Assim como tentaram calar
Jesus muitas vezes, tentaram calar a Igreja no decorrer dos séculos, e estão
tentando calar a igreja hoje. Alguns, para não serem perseguidos, estão
maculando a mensagem da cruz para que ela fique mais palatável ao gosto dos
ouvintes. São os falsos profetas que Jesus falou que viriam em seu nome (Mt
24,23,24).
2º
- Em segundo lugar, estavam tentando levar Jesus para Jerusalém para mata-lo.
O desejo de Herodes de que Jesus saísse de seu território e acelerasse a viagem
para Jerusalém também correspondia ao interesse dos fariseus. Em Jerusalém eles
podiam ter a esperança de que, com auxílio do Sinédrio, seria dado fim à
atuação de Jesus. [4]
Tentaram calar a Igreja
no decorrer dos séculos, mas como não conseguiram, com isso, começaram
perseguir e a matar os cristãos (At 8.1-3, 9.1,2). Hoje, muitos dos nossos
irmãos têm sido perseguidos e mortos em países comunistas como em países
muçulmanos. A liberdade de expressão está cada vez mais restrita até mesmo em
países livres. Expor as Escrituras está virando crime. Ainda podemos falar
dentro de nossas igrejas, mas até quando isso vai durar?
2 – AS AUTORIDADES DESTA
TERRA NÃO PODEM MUDAR A AGENDA DE JESUS (Lc 13.32,33).
Herodes é a única pessoa
da qual há registro a quem Jesus tratou com desprezo. Jesus deixa claro que nem
Herodes nem os fariseus mudariam sua agenda. Ele não estava fazendo sua obra na
dependência dos poderosos deste mundo, mas cumprindo uma agenda eterna do Pai
do céu. [5] David Neale diz que Herodes era uma figura patética e sem poder,
que pensava que podia subverter o propósito divino da marcha de Jesus para
Jerusalém. [6]
Podemos destacar algumas
lições importante aqui.
1º
- Em primeiro lugar, Jesus despreza as autoridades ímpias desta terra (Lc 13.32).
Jesus responde à instrução dos fariseus “Retira-te daqui” com as palavras “Ide”
e “Dizei a essa raposa!”. A raposa é emblema de ardil e de esperteza. [7]
Charles
L. Childers diz que Herodes era cruel e ousado, e seria mais esperado que fosse
representado como um leão do que como uma raposa. Mas ele também era astuto e
vil, e era este aspecto de sua personalidade que Jesus tinha em mente. Se, como
sugerido acima, Herodes estivesse propositalmente enviando os fariseus até
Jesus, com um aviso contra Ele, o motivo para a designação raposa estaria
evidenciado. [8] Champlin destaca também que a raposa era uma metáfora comum
entre os judeus e os gregos para indicar um homem astucioso; mas com frequência,
na literatura rabínica, simplesmente significava um indivíduo destituído de importância,
sendo usado como termo de menosprezo. [9]
O apóstolo Paulo
escrevendo aos Romanos no capítulo 13.1-7 nos diz que devemos nos sujeitar as
autoridades superiores. Com isso, devemos entender que o Senhor instituiu o
governo, e não a anarquia. E este governo foi levantado para governar com justiça.
Em outras palavras, é a autoridade de Deus que se exerce, quando a autoridade
exerce sua autoridade a serviço do bem. Mas quando essa autoridade faz leis que
burlam a Palavra de Deus, esta autoridade está a serviço de Satanás e não do
Senhor.
Nós, como cristãos, não
podemos nos sujeitar a nenhuma autoridade que apoia o aborto, o uso das drogas,
o casamento homo afetivo, ou qualquer outra coisa que fere os princípios
bíblicos. Nenhuma autoridade tem poder para alterar a agenda de Deus, que é a
Sua Palavra. Jesus nos deixou o exemplo e os apóstolos o seguiram (At 5.29).
2º
- Em segundo lugar, Jesus tinha uma agenda imutável (Lc 13.33).
A resposta que Jesus manda transmitir a Herodes por meio dos fariseus atesta
que ele realizará exorcismos e curas enquanto lhe aprouver e pelo tempo que
Deus lhe determinar. Ele não se retiraria hoje, como eles pretendem, mas
prosseguirá sua atividade pelo tempo necessário até que sua incumbência tenha
sido concluída. Jesus cita apenas a atividade de cura, pois o governante não
seria capaz de imaginar nada específico acerca da pregação. Herodes também
deveria admitir por si mesmo que uma atuação tão benéfica não merece a morte ou
o banimento. [10] Nem os fariseus nem Herodes determinam o destino de Jesus,
mas este, em obediência à providência divina, determina o seu destino, seu
objetivo. O verbo grego para “alcançar um objetivo”, teleioun, do qual
deriva a palavra “teologia”, significa “cumprir ou completar um propósito
pretendido”. [11]
Charles J. Ryle destaca que
não havia chegado ainda o tempo para Jesus deixar o mundo. Sua obra ainda não
estava concluída. Até que chegasse o momento específico, Herodes não teria
poder para fazer-lhe qualquer mal. Até que a obra estivesse terminada, nenhuma
arma forjada contra Ele prosperaria. [12] Jesus não vai alterar seus planos,
nem se deixará intimidar. É preciso que prossiga seu caminho (é o sentido de
hoje e amanhã), para que não suceda que morra um profeta – alguém que traz a mensagem
de Deus para o seu povo – fora de Jerusalém. [13]
Assim é a Igreja. Os
homens ímpios só tocam na Igreja se o Senhor permitir, fora isso, nenhuma arma
forjada contra ela prosperará. Quando lemos o livro de Atos, vemos que, por
permissão de Deus, Tiago foi decapitado, no entanto, Pedro foi solto
milagrosamente da prisão (At 12.1-10; Ap 13.7).
3 – O LAMENTO SOBRE
JERUSALÉM (Lc 13.34,35).
Aqui Jesus derrama a
amarga agonia do amor rejeitado. A amargura da sua tristeza mostra que embora
seu amor não tenha sido requisitado e sua oferta de ajuda não tenha sido
aceita, o seu amor não mudou. Jerusalém está sem esperança não porque Cristo
tenha ido embora, mas porque eles literalmente não desejaram, não tiveram
vontade, não quiseram o que Ele oferecia. Deus não forçará ninguém a aceitar as
suas bênçãos. [14]
Podemos destacar algumas verdades
aqui.
1º - Em primeiro lugar,
Jerusalém era uma cidade assassina (Lc 13.34a).
De acordo com a santa ironia acerca de Jerusalém, que se tornou covil de assassinos
de profetas, irrompe em Jesus o tom de lamentação de profunda dor. Sua
consternação interior já fica clara pela duplicação do nome “Jerusalém”. [15] A
Jerusalém que eles chamavam de santa, Jesus chama de assassina de profetas. A
Jerusalém que eles exaltavam, Jesus diz que apedrejava os que a ela foram
enviados. A Jerusalém que Jesus quis, tantas vezes, acolher sob suas asas, como
uma galinha ajunta os seus pintinhos, essa o expulsou para fora de seus muros e
o crucificou no topo do Calvário. [16]
Jesus sempre fará o
diagnóstico correto do coração humano. Jesus não se deixa levar pelas aparências.
Ele não vê como vê o homem. Ele esquadrinha os corações e seu julgamento e
justo (Jr 17.9,10, Ap 3.17,18).
2º - Em segundo lugar, Jesus
trata Jerusalém com ternura (Lc 13.34b). Há ternura na linguagem
figurada da galinha e seus pintinhos. A responsabilidade dos judeus pela sorte
deles é atribuída diretamente a eles mesmos com a expressão final, vós não o
quisestes! [17] O lamento perturbador de Jesus a respeito de Jerusalém é o
resultado de sua compaixão (“eu quis reunir os seus filhos”) sendo oposta por
uma contracorrente obstinada de rejeição humana (“mas vocês não quiseram”). Muitas
vezes Deus é tratado no Antigo Testamento como ave mãe protetora (Sl 17.8, 91.4;
Is 31.5). [18]
O motivo pelo qual os
pecadores não são protegidos e sustentados pelo Senhor Jesus – como os
pintinhos o são pela galinha – é que eles não querem: Eu quis, eu quis frequentemente,
e não quiseste. A boa vontade e a disposição de Cristo agravam a má vontade dos
pecadores, deixando o seu sangue sobre as suas próprias cabeças. [19]
3º - Em terceiro lugar,
uma profecia dramática (Lc 13.35). A partícula idou
(eis) indica que o que se segue é surpreendente e chocante. Casa simboliza não
só o templo, mas também Jerusalém e a nação como um todo. A rejeição do reino
da graça implica a exclusão do reino da glória. Os judeus, tão arrogantes e
soberbos ao rejeitarem a Cristo, o Messias, veriam sua casa ficar deserta. [20]
No entanto, Israel ainda
tem um futuro. Virá o tempo em que o Messias voltará, será reconhecido e
recebido pelo povo, que dirá: “Bendito o que vem em nome do Senhor” (Lc 13.35;
ver também SI 118.26). Algumas pessoas usaram essas palavras na “entrada
triunfal” de Jesus (Lc 19.38), mas elas só se cumprirão quando ele voltar em
glória (ver Zc 12.10; 14:4ss; Mt 24.30,31). [21]
CONCLUSÃO
A agenda de Jesus não foi
alterada mediante as ameaças de Herodes e nem dos líderes religiosos de Israel,
e não será alterada hoje também devido a incredulidade do mundo ímpio e suas
ameaças à Igreja. Assim como tentaram calar Jesus e o levaram a morte de cruz,
o mundo ímpio tem tentado calar a Igreja através da perseguição e morte, mas o
Coliseu não calou a Igreja, as perseguições no decorrer dos séculos não calaram
a Igreja. Não conseguiram, porque a Igreja é a agência de Deus na terra. Nós
não fazemos e falamos o que queremos, mas somos guiados pelo Espírito Santo. Somos
guiados pela Palavra de Deus e caminharemos até o fim. Até a volta do Senhor em
Glória!
Pense nisso!
Bibliografia
1 – Hendriksen, William.
Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 241.
3 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
434.
4 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 301.
5 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
435.
6 – Neale, David A.
Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ,
2015, p. 147.
7 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 301.
8 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 443.
9 – Champlin, R. N. O
Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed.
Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 140.
10 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 301.
11 – Edwards, James A. O
Comentário de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 518.
12 – Ryle, J. C. Meditações
no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 245.
13 – Evans, Craig A. Novo
Comentário Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 244.
14 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 444.
15 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 302.
16 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito,
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 436.
17 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 215.
18 – Edwards, James A. O
Comentário de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 519.
19 – Henry, Matthew.
Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ,
2008, p. 640.
20 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
436.
21 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1,
Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 296.
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