Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 9.23-26
INTRODUÇÃO
Esta breve passagem tem
verdades valiosas, claras e brilhantes, e contém o coração do convite de Jesus
para seus discípulos. Em suas próprias palavras o Senhor colocou para fora o
que significa ser um verdadeiro discípulo. Confessar a fé no Salvador vai muito
além de palavras, envolve ação e reação. Envolve atitude e posicionamento ante
a fé professada. O que é mais impressionante sobre o chamado do Senhor ao
discipulado é que ele exige abnegação radical, talvez a ponto de morrer, ao
mesmo tempo, vivendo em completa obediência aos seus mandamentos.
A visão equivocada do
messiado leva a um a visão equivocada do
discipulado. Esse é o ponto em Marcos 8.34, em que o assunto passa de Jesus
para seus seguidores. Marcos reintroduz de forma abrupta “a multidão” e, com isso, indica que o que Jesus diz
agora o diz para todos os discípulos, e não
apenas para os Doze. A gravidade do ensino é assinalada pelo relato de que Jesus convocou (gr. proskaleomar, NVI, “chamou”) a multidão
[1]. Essas exigências são para todos os que querem ser seus discípulos.
Quais as lições que
podemos tirar desse texto para nós?
1
– DEVEMOS ENTENDER O QUE NÃO É TOMAR A CRUZ.
Diante do evangelho que
muitos têm pregado, há uma distorção do que venha ser “tomar a cruz” que Jesus
exige dos seus discípulos. Para isso devemos primeiramente procurar entender o que
não é tomar a cruz. Podemos destacar duas coisas básicas:
1º - Tomar a cruz não é
auto realização. Isso coloca o verdadeiro evangelho
pregado por Jesus em nítido contraste com o pseudo-evangelho contemporâneo de
auto realização, popularmente anunciado e recebido por muitos que se
identificam como cristãos. Esses falsos mestres veem o Senhor como um gênio da
lâmpada utilitário, como um deus domesticado
e adestrado que concede as pessoas o que eles quiserem. Alguns afirmam que
Jesus quer que as pessoas sejam saudáveis e ricas, e se eles não estão é porque
elas não conseguiram reivindicar suas bênçãos.
Outros afirmam que o
objetivo principal de Deus é fazer as pessoas se sentirem melhores, elevando
sua autoimagem e eliminando os seus pensamentos negativos. Alguns até já
pediram uma “nova reforma”, abandonando a teologia centrada no Deus bíblico em
favor de uma teologia centrada no homem. Esta abordagem do evangelho “ao gosto
do freguês” veio para substituir o Evangelho bíblico da salvação, com um
conjunto de suportes psicológicos para elevar as pessoas a satisfação e maior
propósito de vida. Este narcisismo, quase Cristão, promove o egoísmo, o que na
verdade caracteriza os falsos mestres que o pregam (2Tm 3.2) e centralizam,
como eles fazem, em sua satisfação, em vez da glória de Deus.
2º - Tomar a cruz não
são os problemas que enfrentamos. Outro grande erro que
muitos pensam é que a cruz são as dificuldades da vida, as crises que
enfrentamos, principalmente as doenças. Mas quem tem esse pensamento não
deveria orar para Deus resolver os seus problemas e nem pedir a cura, pois como
lemos em Lucas 9.23 devemos tomar a cruz cada dia. Se a cruz são os problemas,
então não devemos orar para que Deus nos ajude a superá-los. Isso seria uma
contradição.
2
– TOMAR A CRUZ É COMPROMISSO COM O EVANGELHO (Lc 9.23).
Qualquer judeu da
Palestina saberia que o homem condenado à crucificação, com frequência, era
forçado a carregar parte da sua própria cruz uma obrigação e um sinal da morte
[2]. Jesus usou uma linguagem que eles entendiam muito bem, pois era um caminho
sem volta.
Podemos destacar duas
coisas em relação ao tomar a cruz:
1º - Tomar a cruz é
entender o significado da cruz para Jesus (Lc 9.22).
Só podemos entender as palavras de Jesus para os seus discípulos depois que
entendemos o que a cruz significava para Jesus. E uma das coisas que Jesus
deixou claro para os seus discípulos era o seu real significado e propósito.
Ele nunca escondeu isso deles.
Jesus depois da
confissão de Pedro passa a falar claramente a respeito do propósito de sua ida
para Jerusalém (Mt 16.21). Para isso Ele veio e estava cumprindo o Seu
propósito. Jesus estava em total submissão ao Pai, como Ele nos fala em João
6.38: “Porque eu desci do céu, não para
fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”.
A morte de Jesus foi
planejada e planejada desde a eternidade (Ap 13.8). Toda a história da
humanidade foi uma preparação para a chegada do Messias e ele veio para morrer,
e morrer pelos nossos pecados. Tanto sua morte como sua ressurreição estavam
fartamente profetizados nas Escrituras (1Co 15.3,4). A morte de Jesus foi uma
tragédia, mas não foi um acidente; pois ele estava cumprindo o propósito de
Deus na redenção.
2º - Tomar a cruz é
seguir o exemplo de Jesus. A cruz que o Senhor
nos mandou tomar não é a cruz literal. A cruz que Ele nos mandou tomar todos os
dias é seguir o seu exemplo de obediência ao Pai, e aos Seus mandamentos. Como
disse o apóstolo Paulo em Gálatas 2.20: “Já
estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a
vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou,
e se entregou a si mesmo por mim”.
Esse é o verdadeiro
significado de tomar a cruz que Jesus quer de nós.
3
– O PREÇO DO DISCÍPULADO (Lc 9.23).
Uma das expressões mais
significativas de Jesus (cf. Mt 10.38; Mc 8.34; Lc 9.23; 14.27) é encontrada
nessa exortação. Não era só Cristo que deveria enfrentar a Cruz, mas também os
seus discípulos [3]. Jesus sabia que as multidões que o seguiam estavam apenas
atrás de milagres e prazeres terrenos, sem disposição para trilhar o caminho da
renúncia ou pagar o preço do discipulado. O discipulado é uma proposta
oferecida a todos, indistintamente (Lc 9.23). Jesus dirige-se não apenas aos
discípulos, mas também à multidão. O discipulado não é apenas para uma elite
espiritual, mas para todos quantos quiserem seguir a Cristo.
Jesus chama a si a multidão
porque a fervorosa exortação que se segue é de importância para todos; aliás, é
para todos uma questão de vida ou morte, de vida eterna em oposição à morte
eterna [4].
O que é ser um
discípulo de Cristo? Talvez essa pergunta hoje tenha perdido o seu real
significado. Muitas vezes está atrelado a alcançar todos os sonhos, possuir
muitos bens materiais, nunca ficar enfermo... essa ideia tem tomado muitos
púlpitos, mas essa é uma distorção maligna do que venha ser um verdadeiro discípulo
de Cristo.
Vejamos o que é ser um
verdadeiro discípulo nas próprias palavras de Jesus:
1º - O discípulo de
Jesus sabe o preço do discipulado (Lc 9.23).
O discípulo de Jesus não é alguém iludido com promessas vãs e ideias
distorcidas de uma vida sem problemas. Como disse Leon Morris Jesus
imediatamente acrescentou à previsão da cruz uma referência a outra cruz, sendo
que esta teria de ser carregada pelos Seus seguidores. Há, naturalmente, uma
diferença. A cruz deles não era literal, e os sofrimentos não tinham poder
expiador. Mas era (e é) real [5].
a)
O discipulado começa com um chamado condicional
– “se alguém quer vir após mim...”. A
soberania de Deus não violenta a vontade humana. E preciso existir uma
predisposição para seguir a Cristo. Jesus citou quatro tipos de ouvintes: os
endurecidos, os superficiais, os ocupados e os receptivos. Muitos querem apenas
o glamour do evangelho, mas não a cruz. Querem os milagres, mas não a renúncia.
Querem prosperidade e saúde, mas não arrependimento. Querem o paraíso na terra,
mas não a bem- aventurança no céu [6].
b)
O discipulado exige renúncia – “...negue-se a si mesmo...”. Negar-se a si mesmo é despedir-se. Dar
adeus à vontade própria, às inclinações e aos desejos pessoais, essa é a
“negação de si mesmo” que nos cabe realizar. Negar-se a si mesmo significa
viver como se não nos importássemos mais conosco e nossa vontade [7]. É
priorizar o Reino de Deus e a Sua vontade. Como nos ensinou Jesus: “Venha o teu reino, seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10).
Negue-se, isto é, que diga
de uma vez por todas Não ao seu velho eu,
o eu como se acha separado da graça regeneradora. Uma pessoa que se nega
renuncia toda a confiança no que ela mesma é por natureza e depende, para a
salvação, tão-somente de Deus. Afasta-se decepcionada não só com os pensamentos
e hábitos que são claramente pecaminosos, mas inclusive com a confiança nas
ideias “religiosas” – por exemplo, farisaicas – que não podem harmonizar-se com
a confiança em Cristo. Veja 2Co 10.5. Deve dispor-se a dizer com Paulo: “As coisas que para mim eram lucro, agora as
considero perda por amor a Cristo ...” Veja Filipenses 3.7-11 [8].
c)
O discipulado exige tomar a cruz – “e tome cada dia a sua cruz...”. Tomar a cruz é um caminho sem
volta. Os judeus na época de Jesus estavam familiarizados com a cruz, e com as
crucificações que os romanos realizavam. Eles sabiam que quando um malfeitor
passava carregando a cruz e ia para ser crucificado, ele não retornaria com
vida. Tomar a cruz é abraçar a morte e escolher a vereda do sacrifício.
Tomar sobre si a cruz
refere-se ao fardo que devemos nos dispor a carregar. A cruz é a mais infame
pena de morte que jamais existiu. Jesus compromete os seus com a morte. Ao
mostrar-lhes o desfecho que esperava por ele em Jerusalém, asseverou-lhes:
“Minha cruz mostra a vocês para onde eu conduzo. Vocês estão seguindo atrás de mim como expulsos, malditos, condenados à
morte, iguais àqueles que carregam sua cruz para o local de execuções. Para
essas pessoas, o mundo passou e a vida está encerrada; o que ainda têm diante
de si é somente infâmia, dor e morte” [9].
“Dia
a dia tome a sua cruz e siga-me” (ARA) – A razão de
Lucas para inserir a expressão “dia a
dia” só pode ter sido que ele entendia esta exigência como uma ação
constantemente repetida no discipulado de Jesus. Não é algo que se pode fazer
esporadicamente, é algo constante, envolve renúncia e consequências desse ato.
É morte para o eu e vida com Cristo.
Um erro contra o qual
devemos guardar-nos é a noção de que uma pessoa pode, por suas próprias forças,
negar-se a si mesma, tomar a cruz e seguir o Salvador. A conversão (bem como o
processo de santificação que se segue), embora certamente seja uma
responsabilidade humana, é impossível sem a regeneração (Jó 3.3,5) que é a obra
do Espírito Santo no coração do homem [10].
d)
O discipulado é um convite para uma caminhada dinâmica com Cristo
– “...e siga-me”. Seguir a Cristo é
algo sublime e dinâmico. Esse desafio nos é exigido todos os dias, em nossas
escolhas, decisões, propósitos, sonhos e realizações. Seguir a Cristo é
imitá-lo. É fazer o que ele faria em nosso lugar. E amar o que ele ama e
aborrecer o que ele aborrece. E viver a vida na sua perspectiva [11]. Siga-me é
o caminho que nos cabe percorrer, é andar a cada instante o caminho traçado por
Cristo e em cada passo seguir as pegadas dele [12].
3
– O PARADOXO DO VERDADEIRO DISCÍPULO (Lc 9.24).
No Evangelho de Marcos
esse texto acrescenta a morte por amor a Cristo e do Evangelho: “Quem quiser, pois, salvar a sua vida
perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á”
(Mc 8.35).
O discipulado implica o
maior paradoxo da existência humana. Os valores de um discípulo estão
invertidos: ganhar é perder, e perder é ganhar. O discípulo vive num mundo de
ponta-cabeça. Para ele ser grande, é preciso ser servo de todos. Ser rico é ter
a mão aberta para dar. Ser feliz é renunciar os prazeres do mundo. Satanás
promete a você glória, mas no fim lhe dá sofrimento. Cristo oferece a você uma
cruz, mas no fim lhe oferece uma coroa e o conduz à glória [13].
Paradoxalmente, tal
autonegação e tal submissão é o ganho mais seguro e duradouro, enquanto a vida
egocêntrica de auto expressão, tão estimada pelos filósofos modernos, leva o
homem a perder sua alma. E uma vez perdida, que dará o homem em troca, para
remi-la? (Mc 8.37). Tal perda é irrevogável.
1º - Como uma pessoa
pode ganhar a vida e ao mesmo tempo perdê-la?
a) Quando busca a
salvação fora de Cristo. Há muitos caminhos que conduzem
as pessoas para a religião, mas um só caminho que conduz o homem a Deus. Uma
pessoa pode ter fortes experiências e arrebatadoras emoções na busca do
sagrado, no afã de encontrar-se com o Eterno, porém quanto mais mergulha nas
águas profundas das filosofias e religiões, mais distante fica de Deus e mais
perdida fica sua vida.
b) Quando busca
realização em coisas materiais. O mundo gira em torno
do dinheiro. Ele é a mola que move o mundo. É o maior senhor de escravos da
atualidade. Muitos se esquecem de Deus na busca do dinheiro e perdem a vida
nessa corrida desenfreada. A possessão de todos os tesouros que o mundo contém
não compensa a ruína eterna [14].
Fritz Rienecker diz que
o termo psyché (vida em grego)
designa a alma com todas as suas pulsões e capacidades naturais. Salvar a vida
psíquica significa querer mantê-la da maneira como ela é, tentando tão-somente
desenvolvê-la e satisfazê-la. Esse, porém, é o meio para perdê-la. Porque nesse
caso tentamos transformar em algo duradouro o que por natureza representa
apenas uma passagem. Para protegê-la do aniquilamento, existe apenas um meio: é
preciso consentir em perdê-la livremente, pelo fato de entregá-la ao sopro do
Espírito divino, que mata e vivifica simultaneamente, e o qual a preenche com
seu poder superior e lhe comunica valor e beleza perenes. Contudo, quando se
visa conservar a vida psyché,
perde-se não apenas a vida natural em si, mas também a vida superior, eterna,
na qual deveria ter-se transformada como a flor que se transforma no fruto
[15].
2º - Como uma pessoa
pode perder a vida e ao mesmo tempo ganha-la?
a) Perdendo a vida por
amor a Cristo (Lc 9.24c). Apenas entregando a
si mesmo a Cristo o ser humano pode corresponder a essa profunda lei da
existência humana. O eu somente é capaz de negar-se a si mesmo quando existe a
finalidade de reconhecer um eu superior, diante de cuja palavra absoluta ele se
curva [16].
Jesus em Mateus
10.37,38 nos diz: “Quem ama seu pai ou
sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha
mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim
não é digno de mim”.
b) Perdendo a vida por
amor ao Evangelho (Mc 8.35). “Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida
por causa de mim e do evangelho salvá-la-á” (Mc 8.35). Observe que aqui o
Senhor acrescenta também o Evangelho.
E o que é o Evangelho?
O Evangelho é as boas-novas de salvação que o Senhor veio nos trazer.
Negar-se a si mesmo não
é um ato de desespero, mas sim de devoção. No entanto, é preciso ir ainda mais
longe: a devoção pessoal deve conduzir a responsabilidades práticas, a
compartilhar o evangelho com o mundo perdido. A declaração: “por causa de mim”
poderia levar a um isolamento religioso egoísta, de modo que é contrabalançada
com: “e do evangelho”. Por viver para Cristo, vive-se para os outros [17].
4
– O DISCÍPULO VALORIZA A VIDA COM JESUS (Lc 9.25).
O versículo 25 coloca a
questão do discipulado no contexto da realidade derradeira: a alma e o mundo.
Suponha que o indivíduo fosse ganhar “o mundo todo” – tudo pelo que alguém pudesse
possivelmente esperar – ao custo de sua alma. De acordo com Jesus, essa seria
uma troca ruim. O indivíduo consegue viver sem “o mundo”, mas quando ele perde
sua pessoalidade ou ser, o que se pode dar em troca por isso (Sl 49.6-8)? [18].
Suponha, que você
pudesse possuir todo o mundo, alcançar tudo o que as suas paixões desejassem, tudo
que seus olhos cobiçassem, e pudesse satisfazer seu orgulho de todas as demandas
(cf. 1Jo 2.16), qual seria o lucro se você perdesse a sua alma eterna?”. A
resposta óbvia é “nada”. Nada no mundo é de valor comparável a alma eterna de
uma pessoa. É isso que Jesus deixa bem claro aqui.
Podemos destacar três
fatos a respeito desse texto [19].
1º - O dinheiro não
pode comprar a vida eterna. Há muitas pessoas que
são ricas no mundo, mas são pobres diante de Deus (Lc 12.16-21). Transigir com
os absolutos de Deus, vender a consciência e a própria alma para amealhar
riquezas, é uma grande tolice. A vida é curta e o dinheiro perde o seu valor
para quem vai para o túmulo. A morte nivela ricos e pobres. Nada trouxemos e
nada levaremos do mundo. Passar a vida correndo atrás de um tesouro falaz é
loucura. Pôr sua confiança na instabilidade e efemeridade da riqueza é
estultícia.
2º - A salvação da alma
vale mais do que as riquezas (Lc 9.25). É melhor ser
salvo do que ser rico. A riqueza só pode nos acompanhar até o túmulo, mas a
salvação será desfrutada por toda a eternidade. Jesus chamou de louco o homem
que negligenciou a salvação da sua alma e pôs sua confiança nos bens materiais.
A morte chegou e, com ela, o juízo (Lc 12.20).
3º - A perda da alma é
uma perda irreparável (Lc 9.25). Algumas pessoas
vendem a honra, os princípios, a consciência e a até mesmo a alma para alcançar
bens, popularidade e prazeres terrenos. Porém, nenhuma quantidade de dinheiro,
poder ou status pode comprar de volta uma alma perdida. Vender a alma por
dinheiro, portanto, é um péssimo negócio. Essa troca é um engodo. A um morto
não pertence mais nada; ele é que pertence à morte. No julgamento final, essa
conta não fechará.
Jesus pressupõe que o
propósito de preservar a própria vida tenha sido coroado com o mais esplêndido
sucesso imaginável, chegando-se a possuir o mundo inteiro [20].
O discipulado é uma
questão de ganhos e de perdas, de desperdiçar ou de investir a vida. Deve-se
atentar para a advertência de Jesus aqui: ao gastar a vida, não há como
comprá-la de volta! Não é possível esquecer que ele estava instruindo seus
discípulos, homens que já o haviam confessado como Filho de Deus [21].
5
– O DISCÍPULO NÃO SE ENVERGONHA DE JESUS (Lc 9.26).
Jesus identifica
aqueles que não irão se arrepender e crer nEle como aqueles que estão com
vergonha dele e de suas palavras (cf. Mt 10.32,33). Se envergonhar neste
contexto significa rejeitar, desprezar e se encontrar inaceitável. Tais pessoas
são orgulhosas do que deveriam ter vergonha; a sua “glória é para confusão deles” (Fl 3.19). Deus disse dos israelitas
impenitente: “nem sabem que coisa é
envergonhar-se. Portanto, cairão com os que caem; quando eu os castigar,
tropeçarão, diz o Senhor” (Jr 6.15).
A mensagem da cruz é
loucura e algo ofensivo para aqueles que querem manter os seus pecados (1Co
1.18,23), que amam mais a aprovação dos homens do que a aprovação de Deus (Jo
12.43).
Podemos tirar duas
lições importantes desse texto:
1º - Os que se
envergonham de Cristo. Envergonhar-se de Jesus significa
estar alguém tão orgulhoso de si mesmo que não quer ter nada com ele [Jesus] e
com suas palavras. De tais pessoas Jesus também se envergonhará [22].
Quando uma pessoa se
envergonha de Cristo? Quando temos medo que as pessoas saibam que o amamos, bem
como a sua doutrina, que desejamos viver de acordo com os seus mandamentos e
que nos sentimos constrangidos quando nos identificam como membros do seu povo.
Quando o negamos como Pedro o fez (Mt 26.69-75).
Ser cristão nunca foi e
jamais será uma posição de popularidade. Todos aqueles que querem viver
piedosamente em Cristo serão perseguidos (2Tm 3.12). Contudo, é mil vezes
melhor confessar Cristo agora, e ser desprezado pelo povo, do que ser popular
agora e ser desonrado por Cristo diante do Pai no dia do julgamento [23].
2º - Os que se
envergonham de Cristo sofrerão uma perda irreparável.
Aqueles que se envergonham de Cristo agora, Cristo se envergonhará deles na sua
segunda vinda. O julgamento mais pesado que as pessoas receberão no dia do
juízo é que elas vão receber exatamente aquilo que sempre desejaram. O injusto
continuará sendo injusto. Quem se envergonhou de Cristo durante esta vida se
apartará dele eternamente [24].
CONCLUSÃO
O verdadeiro discípulo
recebe alguma recompensa? Sim. Torna-se cada vez mais semelhante a Jesus Cristo
e, um dia, compartilhará de sua glória. Satanás promete glória, mas no final o
que se recebe é apenas sofrimento. Deus promete sofrimento, mas por fim esse
sofrimento será transformado em glória. Quem reconhece a Cristo e vive para
ele, um dia será por ele reconhecido e compartilhará sua glória [25].
Bibliografia
1 – Edwards, James R. O
Comentário de Marcos, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2018, p. 324.
2 – Carson, D. A.
Carson, D. A. O Comentário de Mateus, Editora Shedd, Santo Amaro, SP, 2010, p.
444.
3 – Earle, Ralph.
Comentário Bíblico Beacon, Mateus, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 120.
4 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 296.
5 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p.161.
6 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 297.
7 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 139.
8 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 662.
9 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 139.
10 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 663.
11 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 298.
12 – Rienecker, Fritz.
O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 140.
13 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 299.
14 – Ibidem, p.
299,300.
15 – Rienecker, Fritz.
O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 140.
16 – Ibidem, 140.
17 – Wiersbe, Warren W.
Marcos, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 181.
18 – Edwards, James R.
O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 361.
19 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 301.
20 – Rienecker, Fritz.
O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 141.
21 – Wiersbe, Warren W.
Marcos, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 181.
22 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 666.
23 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 302.
24 – Ibidem, p. 302.
25 – Wiersbe, Warren W. Marcos, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 181.
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