“Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”.
Essas três primeiras Bem-aventuranças tratam diretamente do
nosso ego – que é o nosso interesse
próprio. A primeira fala que devemos
ser humildes, no sentido de olharmos para nós mesmos e ver a nossa penúria
espiritual e a nossa total dependência de Deus. A segunda nos mostra que diante disso nós choramos de
arrependimento devido ao nosso estado pecaminoso, devido a nossa miséria
espiritual. Os soberbos não choram; e por
fim, nós abrimos mão da nossa vontade própria nos sujeitando a vontade de
Deus através da mansidão. Observe que isso é uma sequência, e
que a chave que abre todas as outras bem-aventuranças
é a pobreza espiritual.
O apóstolo Paulo nos diz
que no fim dos tempos, ou, nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois
os homens serão egoístas, mas tendo a forma de piedade (2Tm 3.1,2,5). O
problema não estará do lado de fora da igreja, mas dentro dela, ou seja, no
homem.
Nessa quarta bem-aventurança Jesus fala sobre fome e
sede. Jesus estava falando sobre algo
que essas pessoas entendiam muito bem este tipo de necessidade. Os verbos no
grego são muito fortes. Peinao significa
estar necessitado, sofrer de fome profunda. A palavra dipsao traz a ideia de sede de verdade. Lembre-se, esta não é uma
exigência apenas para os que estão vindo para o reino, mas também o padrão para
os que já estão nele [1].
1º - O que não significa ter fome e sede de justiça na perspectiva bíblica?É
não ter fome e sede de bênçãos; e nem nos compete ter fome e sede de
felicidade. Ora, o que o mundo anda fazendo é precisamente isso. Todos estão
procurando achar a felicidade, porquanto esse é o seu objetivo fixo. No
entanto, não encontram a felicidade, pois sempre que alguém põe a felicidade
acima da justiça, quanto a ordem de prioridade, tal esforço está condenado ao
fracasso mais miserável [2].
Quem busca tal felicidade
sem pensar na justiça passa por cima de tudo e de todos. Essa pessoa é
extremamente egoísta, ou em outras palavras, um tremendo hedonista. Essa pessoa
quer ser feliz e busca a “bênção” sem se importar que para isso tenha de agir
de forma injusta com os outros. O que tais pessoas querem é a felicidade a
qualquer preço.
2º - O que significa ter
fome e sede de justiça na perspectiva bíblica? John
Stott diz que a justiça na Bíblia tem pelos menos três aspectos: o legal, o moral e o social [3].
a) A justiça legal é a
justificação, é um relacionamento certo com Deus. E eu vou além, isso
envolve a santificação também. Por ser o homem um pecador (Rm 3.23), este não é
justificado diante de Deus através de sua própria justiça. Por mais que façamos
tudo de bom, por mais que andemos de forma a não prejudicar ninguém e façamos o
bem a todos, nada disso nos justifica diante de Deus. Essa é a doutrina dos
espiritualistas. Eles ensinam que quem age assim será “justificado” na próxima
reencarnação.
Cornélio era um homem
justo e a sua conduta agradava a Deus, mas tais condutas não lhe garantiam a
sua salvação (At 10.1-4; 11.13,14). Isso porque pelas obras ninguém poderá ser
justificado diante de Deus, pois o padrão para entrar no céu é a perfeição (Mt
5.48). Como o homem pode ser justo diante de Deus? Aquilo que o homem não podia
fazer, Deus fez por ele. Deus enviou Seu Filho ao mundo como nosso
representante e fiador. Quando Cristo foi à cruz, Ele foi em nosso lugar [4].
b) A justiça moral é a justiça
de caráter; de ter conduta que agrada a Deus. É muito mais que mera
moralidade. Ela ultrapassa a boa conduta na sociedade. Não quero com isso dizer
que tal coisa seja ruim, não é isso. É que o Evangelho vai muito além disso. É
a busca de uma conduta pura que agrada a Deus. Não é uma conduta de fachada
como os fariseus viviam, e por isso, foram recriminados pelo Senhor Jesus (Mt
5.20).
Jesus não está falando de
justiça moral farisaica, pois quem tem fome e sede de justiça deseja
ardentemente ter mente pura, coração puro, vida pura.
c) Justiça social refere-se à
busca pela libertação do homem da opressão, junto com a promoção dos
direitos civis, da justiça nos tribunais, da integridade nos negócios e da
honra no lar e nos relacionamentos familiares. Assim, os cristãos estão
empenhados em sentir fome de justiça em toda a comunidade humana para agradar a
um Deus justo [5].
A única verdadeira
felicidade é ser íntegro com Deus em todas as áreas da vida. É termos a
consciência tranquila de que no que depender de nós a injustiça não será
aplicada a ninguém.
3º - Alguns problemas graves
relacionados ao apetite. Para entendermos o que o Senhor
Jesus estava ensinando aos seus discípulos através desta Bem-aventurança. O Reverendo Hernandes Dias Lopes enumera algumas
questões graves em relação ao apetite espiritual [6]:
Os
mortos não têm apetite. As iguarias da mesa de Deus não
despertam nenhum apetite nos espiritualmente mortos. A fome é o primeiro sinal
de que uma pessoa está viva.
Falta
de apetite é uma doença. Quando as pessoas recusam o
alimento, é porque não estão com fome. Quando elas fazem pouco caso do
evangelho, é porque estão cheias de si mesmas. Jesus tinha apetite pelas coisas
do Pai (Jo 4.34).
A
inanição é evidência de uma alimentação escassa.
Quando uma pessoa não se alimenta de forma correta ou não recebe alimento
suficiente para atender as suas necessidades, ficam fracas, desnutridas e,
consequentemente, não se desenvolvem. Muitos pregadores inescrupulosos e
gananciosos criam suas próprias igrejas como empresa familiar. Fazem do púlpito
um balcão, do evangelho, um produto, do povo, uma clientela. Vendem por
dinheiro a graça de Deus e pelo lucro a consciência. Torcem a verdade, pregam
outro evangelho que na verdade não é evangelho de Cristo, e enganam os incautos
com promessas mirabolantes de riquezas e glórias neste mundo.
Muitas
doenças são provocadas por uma alimentação inadequada.
Ninguém pode ter boa saúde se tem uma péssima alimentação. Não há nada mais
nocivo à saúde do que ingerir um alimento estragado ou venenoso. Um falso
evangelho é veneno.
A
desnutrição produz raquitismo. Uma pessoa que não
recebe alimento saudável e suficiente pode sofrer de raquitismo. Seus membros
ficam atrofiados e seu desenvolvimento, comprometido. As igrejas que abandonam
o genuíno evangelho em busca de novidades precisam ter muita criatividade. As
novidades são como goma de mascar. No começo é gostoso, doce. Depois, o açúcar
acaba e a pessoa começa a mascar borracha.
4º - Os que têm fome e
sede de justiça não aceitam a injustiça. Os que
verdadeiramente tem fome e sede de justiça, não somente evitam as coisas que
sabem serem más e prejudiciais, como também evitam as coisas que contribuem
para embotar nosso apetite espiritual [7]. Por isso que o Senhor disse que os que tem fome e sede de justiça serão
fartos. Fartos é uma palavra
forte. É usada para descrever o ato de alimentar um animal. Significa estar
totalmente satisfeito. Deus quer nos fazer felizes e satisfeitos. Satisfeitos
do que temos fome e sede. Satisfeitos de justiça [8].
Vivemos num mundo onde
reina a injustiça em todos ramos da sociedade. O que mais temos contemplado são
juízes julgando em causa própria. A injustiça prevalecendo cada dia mais. A
impressão que temos é que isso nunca terá fim. Mas haverá um dia em que a
justiça de Deus será totalmente aplicada, essa injustiça que reina não é
eterna. Veja o que o Senhor nos fala em Apocalipse 6.9-11:
“Quando
ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham
sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que
sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor,
santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre
a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram
que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número
dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram”.
Os que têm fome e sede de
justiça são os que, por ansiarem por ver o triunfo de Deus sobre o mal e o seu
reino plenamente estabelecido, anseiam também por fazer eles próprios o que é
justo e reto [9]. Aquele que tem fome e sede de justiça será farto agora e na
eternidade, na terra e também no céu.
5
– BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS (Mt 5.7).
“Bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.
Os misericordiosos são
aqueles que estão conscientes de ser indignos recipientes da misericórdia de
Deus e que, não fosse por essa misericórdia, eles não seriam apenas pecadores,
mas pecadores condenados. Consequentemente esforçam-se por refletir no seu
convívio com outros algo da misericórdia que Deus mostrou para com eles. E
quanto mais fazem isto, mais a misericórdia de Deus se estende sobre eles [10].
Esta bem-aventurança trata da nossa da nossa ação diante dos homens. Podemos
dizer que as primeiras bem-aventuranças
tratam da questão do ser, esta trata da questão do fazer. De como pôr em
prática o que somos diante de Deus. No cristianismo o ser vem antes do fazer.
Quem é, faz. A fé sem obras é morta (Tg 2.17) [11].
1º - Nem sempre a
misericórdia recebida é a misericórdia dada.
Há muitas pessoas que recebem misericórdia, mas não compartilham a misericórdia
recebida. Tais pessoas são egoístas e perversas. Um psicopata não tem
misericórdia. Tal pessoa é como o Mar Morto, só recebe água doce, mas não a tem
para dar.
Como algumas pessoas
deixam de demonstrar a misericórdia recebida? Vamos enumerar algumas situações.
a) Quando a pessoa tem prazer em desmerecer o nome das outras pessoas.
Há pessoas que o prazer delas é destruir a reputação dos outros. Isso é uma
grande crueldade. Isso demonstra inveja e orgulho. Pessoas que, muitas vezes,
têm até mais do que nós, mas o prazer delas é que não tenhamos nada,
principalmente boa reputação. O bom nome vale mais do que as riquezas (Pv 22.1).
Quem não tem misericórdia espalha boatos falsos e maliciosos. São caluniadores.
A palavra grega para caluniador é diabolos
(1Tm 3.11).
b) Quando expomos os erros dos outros. Como disse Jesus: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe
atire a pedra” (Jo 8.7). Se há pessoas que gostam de destruir a reputação
dos outros, há os que gostam de espalhar o pecado dos outros. Isso geralmente
ocorre porque as pessoas que espalham os erros dos outros se sentem muito mais santas.
Se sentem melhores que as outras. Tem gente que é igual urubu, tem uma atração
mórbida por aquilo que cheira mal.
c) Quando passamos adiante o que ouvimos dos caluniadores. Isso se
chama fofoca. E a Bíblia nos exorta a não andarmos com mexeriqueiros (Lv
19.16):
“Não
andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do teu
próximo. Eu sou o SENHOR”.
Veja também o que nos diz
Êxodo 23.1:
“Não
espalharás notícias falsas, nem darás mão ao ímpio, para seres testemunha
maldosa”.
Pessoas que agem assim
são pessoas sem misericórdia. É gente usada pelo diabo para tentar destruir a
vida alheia. E pior que isso, sempre tem aquele que ainda diz: “Onde há fumaça há fogo”.
Veja o que nos fala
Provérbios 6.16-19:
“Seis
coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua
mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos
iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere
mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”.
d) Quando nos calamos diante das calúnias. Tem gente que ouve a
calúnia, sabe que não é verdade, mas não fala nada. Ser misericordioso é
defender o direito das outras pessoas.
2º - A misericórdia
recebida é a misericórdia dada. O maior exemplo de
misericórdia foi demonstrado por Jesus. Ele curou os doentes, alimentou os
famintos, abraçou as crianças, foi amigo dos pecadores, tocou os leprosos. Ele
fez com que os solitários se sentissem amados. Ele consolou os aflitos, perdoou
os pecados e restaurou os que haviam caído em opróbio [12]. Mas ele deu uma
ordem direta em relação a essa misericórdia recebida, Ele disse para os
discípulos agirem da mesma forma (Mt 10.8).
O Evangelho põe toda a
sua ênfase sobre a questão do ser, e não sobre a questão do fazer, mas no
momento em que eu sou eu faço. Vemos como exemplo a parábola do Bom Samaritano
(Lc 10.25-37). Essa parábola demonstra a misericórdia em ação. É isso que
significa ser misericordioso. Não está envolvido o mero sentimento de
compaixão; mas também há um profundo desejo, e até mesmo ação, para que a
situação afetiva seja aliviada [13]. Trazendo para os dias de hoje esta
parábola, podemos dizer que passou o pastor, depois passou o diácono mas não
ajudaram o pobre homem, aí passou um não crente e se compadeceu dele.
Misericórdia envolve
empatia e não simpatia, por isso que a misericórdia não é uma virtude natural.
Por natureza o homem é mau, cruel, insensível, egoísta, incapaz de exercer a
misericórdia. Você precisa nascer de novo antes de ser misericordioso.
Em outras palavras, Jesus
estava lhes dizendo: “As pessoas no meu
reino não recebem; elas dão. As pessoas no meu reino não se colocam acima dos
outros – são pessoas que se curvam” [14].
3º - As recompensas
prometidas aos misericordiosos: “alcançarão misericórdia”. Antes de falarmos de recompensas, é bem deixar
claro que não somos merecedores de nada. Como disse John Stott: “Não que
possamos merecer a misericórdia através da misericórdia, ou o perdão através do
perdão, mas porque não podemos receber a misericórdia e o perdão de Deus se não
nos arrependermos, e não podemos proclamar que nos arrependemos de nossos
pecados se não formos misericordiosos com os pecados dos outros” [15].
a) Alcançarão misericórdia porque que a misericórdia é uma via de mão
dupla. Nós recebemos de Deus o que nós damos para os outros, e damos para
os outros o que recebemos de Deus. Somente as pessoas que percebem
verdadeiramente sua posição diante de Deus, de seu relacionamento com Deus, é
que necessariamente sentem compaixão por seus semelhantes.
b) Alcançarão misericórdia não dos homens, mas de Deus. Não se
surpreenda se a pessoa com a qual você agiu com misericórdia te decepcione.
Isso, infelizmente, é a coisa mais comum que existe. Jesus foi a pessoa mais
misericordiosa que já existiu, e o povo clamou por seu sangue. Ninguém se
levantou para defende-Lo, nem seus discípulos, nenhuma das pessoas que Ele
curou, nenhum ex-leproso se colocou como advogado de defesa do Nosso Senhor.
Ele não recebeu misericórdia alguma das pessoas a quem distribuiu misericórdia
[16].
Nós alcançaremos misericórdia
vinda da parte de Deus, pois somente Ele pode ser misericordioso de forma
plena. Não quero com isso dizer que todas as pessoas com quem usarmos de
misericórdia serão injustos conosco, não é isso. Eu quero dizer que devemos ser
misericordiosos com todos, mas esperar do
Senhor a recompensa.
6
– BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO (Mt 5.8).
“Bem-aventurados
os limpos de coração, porque verão a Deus”.
O Secretário Geral do
Partido Comunista, Nikita Kruschev, em um discurso antirreligioso em um
plenário do Comitê Central da União Soviética disse: “Gagarin voou ao espaço, mas não viu nenhum Deus ali”. Outros dizem
que está frase pertence ao próprio Yuri Gagarin – o primeiro homem (cosmonauta)
a ir ao espaço. Mas, segundo Jesus, para vermos a Deus não é necessário irmos
ao espaço sideral, para tal devemos sim ter um coração limpo.
Antes de entendermos o
que vem a ser um coração limpo, devemos entender o que vem a ser a palavra
coração segundo a Bíblia.
1º - O vocábulo coração
segundo a Bíblia. Em termo geral, o coração é tido como o
centro da personalidade. Não indica meramente a sede dos afetos e das emoções.
Esta bem-aventurança não é uma
declaração que vise dizer que a fé cristã é algo primariamente emocional, e não
intelectual ou pertencente ao terreno da vontade. De maneira nenhuma! Nas Escrituras,
a palavra “coração” envolve todos
esses três conceitos. O coração é o centro do ser e da personalidade do
indivíduo; é igualmente a fonte de onde brota tudo quanto daí se segue. Inclui
a mente. Inclui a vontade. Inclui as emoções. Essa palavra considera o homem em
sua totalidade [17].
Jesus está ressaltando
que a pureza deve penetrar em todos os recônditos da nossa vida: nossos
pensamentos, emoções, motivações, desejos e vontade. A Bíblia diz: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o
teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23) [18].
2º - O coração é um
manancial de impureza (Mt 15.19). O Senhor Jesus em
Mateus 15.19 nos diz assim: “Porque do coração
procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos, blasfêmias”.
Não é o meio em que vive
que contamina o homem, o homem é mau por natureza. O problema não está do lado
de fora, mas do lado de dentro, ou seja, dentro do coração. É só ver que o Adão
caiu estando em um ambiente totalmente limpo do pecado, mas lá caiu. Jeremias
17.9 também nos diz algo semelhante:
“Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”
O coração do homem em
resultado da queda, em resultado do pecado, como nos diz as Escrituras é
desesperadamente corrupto. Por isso que em Ezequiel 11.19,20 nos diz:
“Dar-lhes-ei
um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração
de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e
guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu
Deus”.
Davi também disse algo
semelhante no Salmo 51.10:
“Cria
em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável”.
3º - O que vem a ser
“limpos de coração?”. Para entendermos o que o Senhor
disse que bem-aventurado são os limpos de
coração, devemos entender o que não é essa limpeza.
a) Não é uma limpeza cerimonial. Na versão ACF diz: “Bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus”. Observe que diz que “eles” verão a Deus. Essa palavra “eles” no grego é autoi,
que significa apenas eles, ou seja,
somente os limpos de coração. O Senhor aqui está colocando em xeque a ideia que
os fariseus tinham de achar que eles é que eram puros, pois afinal de contas
eles se purificavam cerimonialmente sempre. Eles eram criteriosos quanto a
cumprirem determinadas práticas como o lavar as mãos, vasos e panelas, no
entanto o Senhor disse para eles em Mateus 23.27:
“Ai
de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros
caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de
ossos de mortos e de toda imundícia!”
Há pessoas que são como os
fariseus, pensam que podem se purificar cerimonialmente sem serem limpos de
coração.
b) O sentido bíblico para limpos de coração. A palavra “limpos” no grego é “kátaros”, que aqui nos dá a ideia de ser limpo de toda hipocrisia,
ou seja, é uma total devoção sem a pessoa estar dividida. É um coração sincero.
O coração limpo é um coração totalmente entregue a Deus, e por estar entregue a
Deus ele está limpo de toda e qualquer contaminação. E quando se contamina,
busca de Deus o perdão de seus pecados, pois reconhece o seu estado (1Jo 1.9).
c) Como podemos purificar o nosso coração? Se o nosso coração é tão
terrível como a Bíblia descreve, como posso então ter um coração limpo? De que
forma isso pode ocorrer? Creio que para essas perguntas há três respostas.
1
– Através do verdadeiro arrependimento. Tanto que o Senhor
Jesus começou o seu ministério dizendo: “Daí
por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está
próximo o reino dos céus” (Mt 4.17).
A solução de Deus para o
coração pecaminoso e a regeneração, é o nascer de novo, é voltar-se para Deus
pela “fé”, e aceitar Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor pessoal. O coração
que experimenta o novo nascimento de Deus tem o desejo de amar e obedecer. Este
tem um novo coração.
Através do arrependimento
o Espírito Santo habita em nós e Ele purifica-nos dos pecados. Somente a Sua
presença no íntimo pode limpar-nos o coração. Ele faz isso operando em nós “tanto o querer como o realizar, segundo a
sua boa vontade” (Fl 2.13).
2
– Observando a Palavra de Deus. O Salmo 119.9 diz: “De que maneira poderá o jovem guardar puro
o seu caminho? Observando-o segundo a tua palavra”.
Jesus orou ao Pai pedindo
que nos santificasse na verdade, pois a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17).
A Bíblia é como um espelho que mostra o nosso estado espiritual. Quando eu a
leio eu me vejo como na verdade eu estou.
3
– Confessando sempre os pecados a Deus. O texto de João nos
fala duas vezes a respeito disto. Veja em 1Jo 1.7,9:
“Se,
porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça”.
Através da confissão dos
nossos pecados o Senhor nos purifica dos nossos pecados através do sangue de
Jesus. Através do sangue d Jesus derramado na cruz os nossos pecados foram
lavados. A Bíblia nos diz que Jesus levou sobre si os nossos pecados:
“Carregando
ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós,
mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes
sarados” (1Pe 2.24).
4º - A recompensa de ter
um coração puro. A gloriosa recompensa dos puros de
coração é que eles verão a Deus. O verbo grego está no futuro contínuo. Em
outras palavras: “Eles verão continuamente a Deus” [19]. Hoje nós vemos a Deus
pela fé, mas chegará o dia em que o veremos face a face, como nos fala João em
sua primeira carta:
“Amados,
agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser.
Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque
haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2).
Aqueles que não têm o
coração puro não verão a Deus, pois a Bíblia diz que, sem santificação, ninguém
verá a Deus (Hb 12.14). Aqueles que se recusam a ser lavados no sangue do
Cordeiro serão banidos para sempre da face do Senhor e viverão para sempre nas
trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes. Deus é luz, Deus é amor.
Longe de Deus só reinam treva e ódio. Os limpos de coração verão a Deus. Mais
do que tesouros, mais do que glórias humanas, nossa maior recompensa é Deus.
Ele é melhor do que as suas dádivas. Ele é a nossa herança, a nossa recompensa.
Teremos a Deus, veremos a Deus por toda a eternidade! Oh, que glória isso será!
[20].
Fonte:
1 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 104.
2 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 68.
3 – Stott, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. ABU, São Paulo, SP, 1986: p. 34.
4 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 63.
5 – Stott, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. ABU, São Paulo, SP, 1986: p. 35.
6 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 67,68.
7 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 82.
8 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 109.
9 – Tasker, R. V. G. Mateus, Introdução e Comentário. Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985: p. 49.
10 – Ibid; p. 50.
11 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 81.
12 – Ibid; p. 82.
13 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 91.
14 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 119.
15 – Stott, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. ABU, São Paulo, SP, 1986: p. 38.
16 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 118.
17 – Loyd-Jones, David Martyn. Estudo no Sermão do Monte. Ed. Fiel, São Paulo, SP, 1984: p. 101.
18 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 96.
19 – MacArthur Jr, John. O Caminho da Felicidade. Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001: p. 147.
20 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance, uma exposição das bem-aventuranças. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 107.
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