quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Nós temos que parar de adorar no santuário da auto-estima.


Por Josemar Bessa

Ainda sabemos o que é arrependimento? O que Jesus queria dizer com "Arrependei-vos"? Essa foi a primeira demanda do ministério de Jesus.

Desde então, Jesus começou a pregar, dizendo: "Arrependei-vos, porque o Reino dos céus está próximo." – Mateus 4.17

Esse versículo é o contexto para o Sermão da Montanha. Duas perguntas precisam ser feitas. Uma delas é, o que Jesus quis dizer por "arrepender-se"? A segundo, o que ele quis dizer com "porque o reino dos céus está próximo"?

Hoje ficaremos na primeira.

Charles Spurgeon escreveu“O arrependimento é uma retirada de toda cobertura e racionalização do mal do pecado em nossa vida, um luto que vivemos por causa dele, uma resolução para abandoná-lo... É, de fato, uma mudança de mente de caráter muito profundo e prático, o que faz o homem amar o que antes odiava, e odiar o que uma vez ele amava”.

Toda a superficialidade deve ser esquecida aqui... e superficialidade e a grande característica de nossa geração. Duas coisas centrais nos mostram que o arrependimento é uma mudança profunda e interna da mente e do coração – não é mera tristeza pelo pecado ou simples melhoria implementada em parte de nosso comportamento.

O significado da palavra grega por trás do “arrependei-vos, (Português – Metanoia – [μετάνοια]) aponta nessa direção. É composta por duas partes. A segunda parte (νοια) refere-se à mente e seus pensamentos, percepções, disposições e propósitos. A primeira parte (μετά) – é um prefixo que aponta para movimento ou mudança. O significado básico da palavra então, é experimentar uma mudança de percepção da mente, disposição e propósitos.

Nossa geração está num terreno completamente desconhecido aqui. Se temos uma característica marcante em nossa geração ( incluindo grande parte dos que se dizem cristãos ), é uma falta de “especialistas” no assunto arrependimento hoje.

Mas se formos para o início da era cristã, vamos ver que este problema já estava lá. Jerônimo, um homem brilhante, traduziu a Bíblia para o latim por volta de 400 AD, e sua tradução da Bíblia se tornou padrão no mundo ocidental por mais de mil anos. Mas ele traduziu esta palavra – “Arrepender-se”, como “fazer penitência”. Ou seja, mostrar como você está arrependido. Que, de modo geral, é algo bom a ser feito. Mas podemos fazer coisas externas, chorar baldes de lágrimas... sem um pingo de arrependimento ou mudança de mente, ou odiar o que antes se amava e amar o que antes se odiava. Fazer a penitência é um ato momentâneo e essencialmente externo. Isso não nos muda. Mas faz nós sentirmos que fizemos o que devíamos fazer, “pagamos” nossa dívida e estamos fora do gancho da culpa, para que possamos então, voltar a viver como sempre vivemos – até a próxima vez que precisemos fazer um “pagamento” pelo que ainda amamos, já que a mente, propósitos, disposições... não foram atingidos.

“Fazei penitência” – A tradução de Jerônimo, aprisiona todos nós na superficialidade piedosa que em nada muda o coração e mente do pecador. Na tradição judaica, arrependimento também foi reduzido a atos de esmola, boas obras, jejum... e assim por diante. Jesus, a Palavra de Deus, como vimos, tinha algo muito mais profundo em mente.

Martinho Lutero na primeira de suas 95 teses fala exatamente sobre este texto, e diz: 1. Ao dizer: "Fazei penitência", etc. [Mt 4.17], o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse penitência.

Ou seja, o verdadeiro arrependimento não é mera oração para se ver livre da culpa, escapar das consequências, aliviar a mente... O verdadeiro arrependimento é muito maior do que apenas um momento. É uma nova inclinação no centro do seu ser, porque você vê a hostilidade, inimizade, e desprezo em relação a Deus em cada pecado, e ainda assim quando é levado pelo Espírito a ver como Deus te amou e chamou soberanamente, algo dentro de você muda, e você quer o mesmo que Ele agora. O verdadeiro arrependimento flui de um novo coração que toca tudo sobre nós. Apesar de lutar com inconsistências, entramos em verdadeiro arrependimento se Deus tem livre acesso a tudo em nossas vidas. Estamos abertos. Isso é o que Jesus quis dizer quando disse: “Arrependei-vos”.

O “preço” a ser pago no arrependimento, é enfrentar quem nós realmente somos. Há algo ( muitos ) sobre todos nós – algo que não queremos enfrentar, algo que você fez, algo que você é... que você não pode suportar olhar... é tão vergonhoso, tão embaraçoso, tão assustador como verdade sobre você, tão destrutivo, paralisante... que você quer enterrar, que você quer ignorar, que você quer fingir que não está lá. Mesmo um ateu como Nietzsche afirmou: “Minha memória diz, eu fiz isso. Mas meu orgulho diz, eu não posso ter feito isso. Em nosso orgulho então, tentamos apagar a memória” – Eis uma das razões porque o entretenimento é um deus poderoso em nosso mundo. Ele ajuda nós a continuarmos em negação. Se você permanece em negação e continua assistindo TV o suficiente, usando de todo o entretenimento possível para manter tua mente ocupada, Jesus continuará a ser uma boa teoria, mas não um poder, muito menos uma realidade na vida. Mas quando você fica vazio o suficiente, exausto o suficiente... e enfrenta a realidade sobre você exposto nas Escrituras... e vai a Deus, por Cristo, e derrama tua história em sua santa presença... só aí o verdadeiro Jesus começa a se tornar realmente real para você – porque finalmente, você está sendo real e verdadeiro com Ele.

O Breve Catecismo de Westminster de 1648 fez a pergunta - O que é o arrependimento para vida? ( Pergunta 87 ).

A resposta é esta:

Arrependimento para a vida é uma graça salvadora pela qual o pecador, tendo um verdadeiro sentimento do seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em Cristo, se enche de tristeza e de horror (ódio ) pelos seus pecados, abandona-os e volta para Deus, inteiramente resolvido a prestar-lhe nova obediência. (2Co 7.10; At 2.37; Lc 1.77-79; Jr 31.18-19; Rm 6.18.).

Três coisas estão na resposta. Uma delas, é um sentimento de pecado. Se queremos que Jesus, nós temos que parar de adorar no santuário de auto-estima. O filho pródigo disse: "Pai, pequei. Eu já não sou digno "(Lucas 15:21). A melhor maneira de amortecer e endurecer nossas almas é pensar:"Pai, eu sou digno."

Jesus Cristo tornando-se real para nós não é primariamente um problema intelectual, embora perguntas honestas mereçam uma resposta honesta. Mas a maior barreira é a nossa falta de auto-consciência. Razão pela qual cultuamos hoje a auto-estima.

William Kilpatrick (1871 – 1965 – um dos maiores pedagogos americanos no século XX ) escreveu o seguinte:

"Um colega ( professor ) na faculdade de Boston ... uma vez pediu aos alunos de sua aula de filosofia para escreverem um ensaio anônimo sobre uma luta pessoal sobre o certo e o errado, o bem e o mal. A maioria dos alunos, no entanto, foi incapaz de completar a tarefa. "Por quê?", Perguntou. "Bem", eles disseram - e, aparentemente, isso foi dito sem ironia - "Nós não fizemos nada de errado" – Esse é o resultado de cultuarmos a auto-estima... temos mil justificações e racionalizações para cada ato... é a única forma de nos vermos como bons..."

Mas e se Deus que toda a vida do homem natural é um erro? E se ele quer falar conosco especificamente sobre isso... sendo essa a única direção da cura que Ele dá? No Sermão da Montanha, Jesus vai nos confronta com verdades embaraçosas o suficiente para nos libertar.

Um senso verdadeiro de pecado é produzido pelo Espírito Santo, jogando luz na verdade sobre nós que não queremos ver, na culpa que preferimos não sentir, na realidade que preferimos ignorar. Isso é a verdadeira misericórdia, não a falsa proteção que o culto a auto-estima estabelece. É a dura misericórdia de Deus que ignora nossas melhores desculpas. É a paz de Deus que declara guerra total contra a falsa paz com que queremos nos contentar cultuando nossa auto-estima...

Dois - Junto com isso, o Espírito Santo nos dá um senso profundo da misericórdia de Deus em Cristo. Um senso de pecado sozinho nunca vai nos mudar. Sozinho ele apenas nos levará para o subterrâneo escuro de nossa realidade. O que nos faz tentados a nos esconder em nossas hipocrisias.

O sentido de pecado que o Espírito produz junto com a visão da misericórdia de Deus em Cristo, é o caminho da mudança. A Palavra de Deus diz: “A bondade de Deus se destina a nos levar ao arrependimento” - (Rm 2.4 ).

Aqui está o que devemos saber sempre. Quando fugimos de Deus, o desonramos, traímos sua glória... se estamos em Cristo, Ele está intercedendo por nós... manifestando seu amor ... O arrependimento não gira, principalmente, sobre o pecado em si, mas contra quem ele é cometido. Primeiramente o arrependimento é um voltar-se para Deus, porque Ele é o único que finalmente nos ama. O filho pródigo – em sua prodigalidade, foi o “melhor amigo” de todo mundo, até que o dinheiro acabou. Mas o Pai ainda estava lá. Se achamos que depois de tudo que fizemos, Deus vai nos desprezar, precisamos ouvir o evangelho de novo e de novo... "Porque, quando ainda éramos fracos, no momento certo, Cristo morreu pelosímpios" (Romanos 5: 6).

Três - nova obediência. Ser aceito por Deus e amado, depois de tudo o que fizemos, nos muda. O poder do amor de Deus é um poder para novidade de vida de maneira prática, porque um coração arrependido anseia por mais de Deus, mais de Sua santidade... Um coração arrependido tem fome da Palavra de Deus, se a mensagem for de conforto ou repreensão. Um coração arrependido goza o povo de Deus. Corações arrependidos desejam espalhar o evangelho aos outros. Um coração arrependido diz: "Eu quero ir mais longe com Deus e para Deus, do que eu já fui antes, ainda mais longe do que eu já sonhei em ir." Isso é o que Jesus estava falando quando ele disse:"Arrependei-vos."

Fonte: Josemar Bessa

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