terça-feira, 9 de abril de 2019

OS PASSOS QUE LEVARAM PEDRO A QUEDA




Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lc 22.31-34

INTRODUÇÃO

O texto que lemos está dentro de um contexto onde o Senhor está corrigindo os seus discípulos acerca de uma discussão que surgiu a respeito da qual deles era o maior (Lc 22.24-30). A ideia que eles ainda tinham era que o Senhor implantaria um reino messiânico, que o Senhor estabeleceria um reino terreno e que eles estariam em um lugar de destaque neste reino estabelecido. No entanto, isso teve seu ápice porque Tiago e seu irmão João foram pedir a Jesus para que na sua glória cada um deles se sentasse um a sua direita e outro a sua esquerda (Mc 10.35-37), esse pedido só revelou o que se passava no coração de todos eles, tanto que no verso 41 de Marcos 10 nos diz que “quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar indignados com Tiago e João”. Foi devido a esse fato que o Senhor lava os pés dos discípulos para mostrar-lhes que no seu reino maior é o que serve e não o que está sendo servido, como lemos em João 13.1-5.

Jesus mostra-lhes que a liderança que Ele queria não era de privilégios, mas de serviço. Que o verdadeiro líder não é o que é servido, mas o que serve, o que se propõe a trabalhar em função de todos. Foi nesse contexto que o Senhor fala para os seus discípulos a respeito de Satanás e como ele queria destruí-los ou cirandá-los.

Observe que o Senhor agora se dirige a Pedro de forma direta. Por que Ele faz isso? Porque Pedro era um líder que se destacava entre os outros discípulos. Pedro sempre mostrou liderança antes e depois da ressurreição de Jesus. No entanto, essa liderança passaria por um teste muito duro, aliás, todos passariam, mas Pedro de forma muito particular, pois Pedro pensava que era uma rocha, mas ele não sabia que não passava de cascalho de pedra, ou melhor, não passava de um caniço quebrado. E para descobrir quem ele era foi necessário passar por alguns estágios, não para destruí-lo, mas para que ele pudesse se ver como ele sempre foi: pequeno, impotente e dependente de Deus. Para isso o Senhor revelou toda a sua prepotência e arrogância que, provavelmente, nem Pedro sabia que tinham.

Vejamos algumas lições que podemos tirar desse texto e dos demais que vamos utilizar.

A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE SATANÁS QUER PENEIRAR PEDRO E OS DEMAIS APÓSTOLOS (Lc 22.31).

Veja que Satanás queria peneirar todos os discípulos – observe o termo “vos” e não “por ti” –, mostrando que todos eles estavam a mira de Satanás. Mas o Senhor intercede por Pedro de forma particular.

Por que Satanás queria peneirá-los, principalmente a Pedro?

1o – Para provar que Jesus havia escolhido homens errados para esse ministério. Satanás sempre quis desmerecer as escolhas de Deus, e sempre tentou mostrar que o Senhor comprava fidelidade. Foi isso que ele fez quando falou a respeito de Jó (Jó 1,2), e ele estava fazendo em relação aos discípulos e em especial a respeito de Pedro.

Assim ele faz com todos nós também. Não pense você que nós não somos atingidos por pensamentos que nos levam sempre a pensar que não somos qualificados para o ministério, ou que não deveríamos estar à frente de um determinado trabalho. Isso sempre ocorrerá, pois Satanás sempre tentará desqualificar as escolhas do Senhor.

Creio que não haja ninguém que esteja à frente de um trabalho na igreja que nunca tenha sofrido os ataques de Satanás nesse sentido. Se esse ataque não vem em forma de pensamento, virá através da boca de alguém. Principalmente daqueles que nada fazem. Esses são excelentes críticos, mas não passam disso. São verdadeiras bocas de Satanás contra os que tentam fazer algo para Deus.

2o – Para mostrar que o coração dos discípulos estava cheio de mazelas. Ele começa fazendo isso através da discussão de quem seria o maior entre eles. Tiago e João achavam que tinham esse privilégio porque eram parentes de Jesus, Pedro porque era um líder nato, e os demais, por inveja criticavam os demais. Satanás no decorrer dos anos observou a vida daqueles homens que estavam em volta daquela mesa no dia da ceia. Ele estava reunindo em sua peneira todos os erros e mazelas que eles tinham. O egoísmo, a inveja, os ressentimentos, as decepções, a morosidade do coração. Quando Satanás cirandasse a sua peneira o que ira sobrar? O trigo ou palha? Vidas de qualidades ou vidas fracassadas? Satanás estava atacando os discípulos e eles nem sabiam disso.

Satanás ainda hoje, tenta fazer isso com os servos do Senhor. A discussão de quem seria o maior só revelou o caráter daqueles homens e Satanás não queria perder a oportunidade de jogar no rosto de Jesus essas coisas.

Mas isso também mostra o outro lado da moeda, mostra a graça do Senhor. Mostra que realmente não somos nada, que se estamos aqui é só por sua misericórdia e graça. Que somos os mais miseráveis dentre os homens. Mostra mais uma vez que o Senhor realmente escolheu as coisas vis deste mundo para confundir as sábias:

Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele” (1 Coríntios 1.27-29).

A SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO AQUI É QUE O SENHOR INTERCEDE POR PEDRO (Lc 22.32).

O alvo principal de Satanás era Pedro. Pedro não tinha condições de se defender, por isso o Senhor intercede por ele. Na sua autoconfiança, Pedro coloca os pés no primeiro degrau de sua queda, no entanto, o Senhor se coloca como seu intercessor perante o nosso Deus em favor de sua vida.

Observe algumas lições que podemos aprender aqui:

1o – O Senhor Jesus não intercede para que Pedro não fosse cirandado, mas que não ficasse prostrado depois da tentação. Pedro era o alvo principal de Satanás. Por isso que o Senhor diz a Pedro: “Mas eu roguei por ti”. Observe no texto que o Senhor não diz que Pedro não seria cirandado, a tentação faz parte da vida de todos os cristãos e Pedro foi tentado por Satanás de forma extrema. Saiba de uma coisa, não há cristão que não seja tentado. Veja o que nos fala o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 10.12,13:

Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar”.

Provas e tentações fazem parte da vida cristã. A questão não é passar por elas, mas como passamos e o quanto crescemos através delas. A diferença entre a prova e a tentação é muito grande. A prova é para nos fazer crescer, mas já a tentação é para nos fazer cair. A prova procede de Deus a tentação de Satanás.

2o – O Senhor intercede por Pedro pois ele fortaleceria os seus irmãos. O Senhor Jesus diz que quando Pedro “se convertesse” fortaleceria os seus irmãos. A palavra converter significa “mudar de rumo”. Pedro já era um homem salvo, mas logo tomaria um rumo errado e teria de se converter, ou seja, retornar para o caminho original ou melhor, ter um novo começo, um novo propósito, um novo destino, um novo serviço, bem como uma nova posição, como um grande líder para fortalecer a fé dos irmãos.

Ele não perderia o dom da vida eterna, mas desobedeceria ao Senhor e colocaria em risco seu discipulado. Na verdade, todos os discípulos abandonaram Jesus, mas Pedro também o negaria. Mas através dessa experiência que Pedro passou ele pôde aconselhar aqueles que estavam correndo o risco de se desviarem também (1Pe 4.12-19).

A experiência de hoje é para a edificação de outras pessoas amanhã. Através do que Pedro passou ele pode ser boca de Deus para fortalecer aqueles que estavam passando por lutas e provações. O mesmo acontece conosco hoje. As lutas e provações que enfrentamos na vida serve de experiência para nós e para fortalecermos a fé de muitos.

A TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE PEDRO CAI NA ARMADILHA DA AUTOCONFIANÇA (Lc 22.33; Mt 26.31-33).

Pedro, mais uma vez se precipita nas suas palavras e se vê superior aos outros discípulos. Como lemos em Mateus 26.33: “Mas Pedro, respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu nunca me escandalizarei”.

Ele coloca em xeque a fidelidade de todos, menos a dele. Ele se via mais crente, mais forte e mais confiável que seus amigos. Ele se via como o único e intransponível. A autoconfiança de Pedro só revelava o seu próprio fracasso.

1o – Pedro foi prepotente – Quando a pessoa demonstra exagerada confiança em si, deixa clara a sua prepotência. Não demorará para que sua autodestruição aconteça. Uma ilustração mostra muito bem o prejuízo que a distância da realidade pode acarretar em uma pessoa cheia de autoconfiança.

Certo caçador, muito famoso por seu método ímpar de caçar, saía em plena selva africana e voltava com quantas caças quisesse, desde os mais indefesos animais até as mais temíveis feras. Seu método era simples e infalível: por meio de uma flauta, hipnotizava os animais. Ao deparar-se com uma fera, bastava tocar sua pequena flauta e pronto, o animal era totalmente dominado.

Assim aquele homem procedeu durante muitos anos. No entanto, um dia saiu em busca de um velho tigre, conhecido por suas destruidoras investidas em pequenos povoados da região. Era um animal temido, e por isso os moradores daquela região agiam com muita cautela, ao passo que o caçador nem ao menos lembrava de um só momento em que teve medo. Suas façanhas davam-lhe total despreocupação.

Dentro da mata, o caçador pôs-se a procurar a temível fera. Não demorou muito para deparar-se com o assustador felino, que passou a espreitá-lo. De imediato, o homem deu as costas ao bicho e passou a tocar sua flauta. Como sempre, logo após o primeiro som do instrumento, os animais, hipnotizados, o acompanhavam com passos já molengas.

Porém naquele dia parecia haver algo estranho no ar. Os passos do tigre não estavam tão lentos como era de se esperar, e seus rugidos continuavam fortes a ponto de arrepiar o destemido caçador. Mas, como sempre dava certo, o homem não se importou muito. Sua experiência jamais o decepcionara. Por isso, continuou sua marcha, à frente do bicho, como um verdadeiro líder, e, imponente, tocava sua flauta.

Em dado momento, percebeu que o bicho movimentou-se inesperadamente e, antes mesmo de olhar para trás e ver o que estava acontecendo, foi atacado pela fera. O tigre matou o experiente caçador e destruiu a sua flauta.

Depois de uma intensa pesquisa, com a captura do bicho, descobriu-se que o animal era surdo.

2o – Pedro fazia da sua carne o seu braço forte. Como nos fala Jeremias: “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!” (Jeremias 17.5). “Ainda que todos te abandonem, eu jamais te abandonarei!”. Essas são verdadeiras palavras de um homem estribado em sua própria força e capacidade, e não firmado em Deus.

A QUARTA LIÇÃO QUE APRENDO AQUI É QUE O SENHOR REVELA A QUEDA DE PEDRO (Lc 22.34).

Após o Senhor ter revelado a fraqueza de Pedro, creio que ele não tenha levado em conta que isso poderia vir acontecer, afinal de contas, ele sempre foi fiel e não seria ele que iria desapontá-lo num momento crucial. No entanto, o que o Senhor o Senhor havia falado veio se cumprir na noite em que Jesus foi preso.

1 – Autoconfiança (Lc 22.33). Quando Jesus alertou Pedro acerca do plano de Satanás de peneirá-lo como trigo, Pedro respondeu que estava pronto a ir com Ele tanto para a prisão como para a morte. Pedro subestimou a ação do inimigo e superestimou a si mesmo. Ele pôs exagerada confiança no seu próprio “eu”, e aí começou sua derrocada espiritual. Este foi o primeiro degrau de sua queda. 

Aquilo que Pedro achava que era fé não passava de uma autoconfiança exagerada. Ele superestimou a si mesmo pensando, inclusive, que era superior aos seus colegiados. Infelizmente essa mesma autoconfiança tem sido pregada em nossos púlpitos hoje, só que com o nome de autoajuda. A mensagem de autoajuda está longe de ser a mensagem do Evangelho, já que mostra o homem independente de Deus, quando na verdade o Evangelho revela que o homem é um ser carente da graça do Senhor por sermos limitados, dependentes e fracos.       

2 – Indolência (Lc 22.45). No momento que Jesus foi preso Pedro estava dormindo, isso porque o Senhor já havia os acordado outras vezes. Por estar dormindo o sono do descaso, ele reagiu de forma impensada na hora em que Jesus foi preso. Ele lança mão da espada não entendendo que aquela era uma guerra espiritual e que as armas nessa batalha eram outras. A indolência gera a precipitação e assim por diante. A carne e não o espírito de Pedro falaram mais alto mais uma vez.

3 – Precipitação (Lc 22.50). O sono de Pedro era o sono do descaso, por isso ele foi precipitado em lançar mão da espada e cortar a orelha do servo do sumo sacerdote. A aparente coragem dele não passava de precipitação, ele foi movido pelo momento e não agiu de forma pensada. Toda a sua aparente valentia era carnal e não espiritual. Por não estar em oração ele agiu segundo os seus instintos e não segundo a vontade de Deus. Por isso, que sua coragem logo se transformou em covardia. 

Essa batalha só podia ser vencida em oração e não com armas carnais. Foi assim que Jesus venceu. Enquanto orava Jesus clamou por livramento, mas enfrentou a vontade do Pai, por isso quando se levantou não temeu ninguém e nem a nada. Diferentemente de Pedro e dos outros apóstolos. As batalhas devem ser vencidas em oração primeiramente.  

4 – Seguia a Jesus de longe (Lc 22.54). Aquele que dizia que estava pronto a enfrentar até a morte por Jesus, agora está sentado na roda dos escarnecedores fingindo ser um deles. A sua fidelidade ao Mestre foi colocada à prova e  ele fracassou. Pedro está seguindo Jesus de longe, com medo, assustado, acovardado. Não queria perder Jesus de vista, mas também não queria assumir nenhum compromisso e muito menos se arriscar a ser preso também.  

Não tem sido diferente em nossos dias. Quantos crentes em Jesus andam seguindo Jesus de longe, se assentam à roda dos escarnecedores, se detém no caminho dos pecadores, como nos fala o Salmo primeiro, pessoas que têm vergonha de assumir o cristianismo. São bons crentes na igreja, mas no mundo estão longe de dar bons testemunho.  

5 – A negação (Lc 22.55-60). A negação de Pedro não foi um impulso momentâneo, não foi uma simples precipitação – Pedro sob pressão não suportou o ocorrido.

Vejamos os passos da sua negação:

1 – Assentando na roda dos escarnecedores (Lc 22.55).
2 – Sendo um covarde (Lc 22.56,57).
3 – Cometendo perjúrio (Mt 26.72).
4 – Sendo um praguejador (Mt 26.74).

Pedro quis ser o mais forte e se tornou o mais fraco. Quis ser o melhor e se tornou o pior. Quis colocar o seu nome no topo da lista dos fiéis e caiu de forma mais vergonhosa para o último lugar.

CONCLUSÃO

Ao olharmos para a vida de Pedro, estamos diante do espelho. Muitas vezes somos como Pedro. Mostramos autoconfiança, não oramos, somos precipitados e, seguimos Jesus de longe. Todavia, não podemos perder o foco. O Senhor não desiste de nós, assim como não desistiu de Pedro. Tudo isso foi registrado a respeito de Pedro para nos mostrar que não devemos confiar na nossa própria carne. A nossa força natural não nos mantém de pé nem por um instante, a nossa total confiança tem que estar em Deus. Somente Ele pode nos manter de pé e fortalecer a nossa fé na hora da tentação.

O Salmo 108.13 nos diz que em Deus faremos proezas. Mas em Deus e não na nossa própria força. Como disse Davi: “Alguns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós confiamos no Nome do SENHOR, o nosso Deus” (Sl 20.7).

Que a nossa confiança esteja sempre no Senhor e nunca em nós mesmos.

Pense Nisso!

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