Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lc 22.31-34
INTRODUÇÃO
O texto que lemos está dentro de um contexto onde o Senhor está
corrigindo os seus discípulos acerca de uma discussão que surgiu a
respeito da qual deles era o maior (Lc 22.24-30). A ideia que eles
ainda tinham era que o Senhor implantaria um reino messiânico, que o
Senhor estabeleceria um reino terreno e que eles estariam em um lugar
de destaque neste reino estabelecido. No entanto, isso teve seu ápice
porque Tiago e seu irmão João foram pedir a Jesus para que na sua
glória cada um deles se sentasse um a sua direita e outro a sua
esquerda (Mc 10.35-37), esse pedido só revelou o que se passava no
coração de todos eles, tanto que no verso 41 de Marcos 10 nos diz
que “quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a
ficar indignados com Tiago e João”. Foi devido a esse fato que
o Senhor lava os pés dos discípulos para mostrar-lhes que no seu
reino maior é o que serve e não o que está sendo servido, como
lemos em João 13.1-5.
Jesus mostra-lhes que a liderança que Ele queria não era de
privilégios, mas de serviço. Que o verdadeiro líder não é o que
é servido, mas o que serve, o que se propõe a trabalhar em função
de todos. Foi nesse contexto que o Senhor fala para os seus
discípulos a respeito de Satanás e como ele queria destruí-los ou
cirandá-los.
Observe que o Senhor agora se dirige a Pedro de forma direta. Por que
Ele faz isso? Porque Pedro era um líder que se destacava entre os
outros discípulos. Pedro sempre mostrou liderança antes e depois da
ressurreição de Jesus. No entanto, essa liderança passaria por um
teste muito duro, aliás, todos passariam, mas Pedro de forma muito
particular, pois Pedro pensava que era uma rocha, mas ele não sabia
que não passava de cascalho de pedra, ou melhor, não passava de um
caniço quebrado. E para descobrir quem ele era foi necessário
passar por alguns estágios, não para destruí-lo, mas para que ele
pudesse se ver como ele sempre foi: pequeno, impotente e dependente
de Deus. Para isso o Senhor revelou toda a sua prepotência e
arrogância que, provavelmente, nem Pedro sabia que tinham.
Vejamos algumas lições que podemos tirar desse texto e dos demais
que vamos utilizar.
A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE SATANÁS QUER PENEIRAR PEDRO
E OS DEMAIS APÓSTOLOS (Lc 22.31).
Veja que Satanás queria peneirar todos os discípulos – observe o
termo “vos” e não “por
ti” –, mostrando que todos
eles estavam a mira de Satanás. Mas o Senhor intercede por Pedro de
forma particular.
Por que Satanás queria peneirá-los, principalmente a Pedro?
1o – Para provar que
Jesus havia escolhido homens errados para esse ministério.
Satanás sempre quis desmerecer as escolhas de Deus, e sempre tentou
mostrar que o Senhor comprava fidelidade. Foi isso que ele fez quando
falou a respeito de Jó (Jó 1,2), e ele estava fazendo em relação
aos discípulos e em especial a respeito de Pedro.
Assim ele faz com todos nós também. Não pense você que nós não
somos atingidos por pensamentos que nos levam sempre a pensar que não
somos qualificados para o ministério, ou que não deveríamos estar
à frente de um determinado trabalho. Isso sempre ocorrerá, pois
Satanás sempre tentará desqualificar as escolhas do Senhor.
Creio que não haja ninguém que esteja à frente de um trabalho na
igreja que nunca tenha sofrido os ataques de Satanás nesse sentido.
Se esse ataque não vem em forma de pensamento, virá através da
boca de alguém. Principalmente daqueles que nada fazem. Esses são
excelentes críticos, mas não passam disso. São verdadeiras bocas
de Satanás contra os que tentam fazer algo para Deus.
2o – Para mostrar que
o coração dos discípulos estava cheio de mazelas. Ele
começa fazendo isso através da discussão de quem seria o maior
entre eles. Tiago e João achavam que tinham esse privilégio porque
eram parentes de Jesus, Pedro porque era um líder nato, e os demais,
por inveja criticavam os demais. Satanás no decorrer dos anos
observou a vida daqueles homens que estavam em volta daquela mesa no
dia da ceia. Ele estava reunindo em sua peneira todos os erros e
mazelas que eles tinham. O egoísmo, a inveja, os ressentimentos, as
decepções, a morosidade do coração. Quando Satanás cirandasse a
sua peneira o que ira sobrar? O trigo ou palha? Vidas de qualidades
ou vidas fracassadas? Satanás estava atacando os discípulos e eles
nem sabiam disso.
Satanás ainda hoje, tenta fazer isso com os servos do Senhor. A
discussão de quem seria o maior só revelou o caráter daqueles
homens e Satanás não queria perder a oportunidade de jogar no rosto
de Jesus essas coisas.
Mas isso também mostra o outro lado da moeda, mostra a graça do
Senhor. Mostra que realmente não somos nada, que se estamos aqui é
só por sua misericórdia e graça. Que somos os mais miseráveis
dentre os homens. Mostra mais uma vez que o Senhor realmente escolheu
as coisas vis deste mundo para confundir as sábias:
“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir
as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para
confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as
desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para
que nenhuma carne se glorie perante ele” (1 Coríntios
1.27-29).
A SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO AQUI É QUE O SENHOR INTERCEDE POR
PEDRO (Lc 22.32).
O alvo principal de Satanás era Pedro. Pedro não tinha condições
de se defender, por isso o Senhor intercede por ele. Na sua
autoconfiança, Pedro coloca os pés no primeiro degrau de sua queda,
no entanto, o Senhor se coloca como seu intercessor perante o nosso
Deus em favor de sua vida.
Observe algumas lições que podemos aprender aqui:
1o – O Senhor Jesus
não intercede para que Pedro não fosse cirandado, mas que não
ficasse prostrado depois da tentação. Pedro era o alvo
principal de Satanás. Por isso que o Senhor diz a Pedro: “Mas
eu roguei por ti”. Observe no texto que o Senhor não diz que
Pedro não seria cirandado, a tentação faz parte da vida de todos
os cristãos e Pedro foi tentado por Satanás de forma extrema. Saiba
de uma coisa, não há cristão que não seja tentado. Veja o que nos
fala o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 10.12,13:
“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio
sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos
deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará
também o escape, para que a possais suportar”.
Provas e tentações fazem parte da vida cristã. A questão não é
passar por elas, mas como passamos e o quanto crescemos através
delas. A diferença entre a prova e a tentação é muito grande. A
prova é para nos fazer crescer, mas já a tentação é para nos
fazer cair. A prova procede de Deus a tentação de Satanás.
2o – O Senhor
intercede por Pedro pois ele fortaleceria os seus irmãos. O
Senhor Jesus diz que quando Pedro “se convertesse”
fortaleceria os seus irmãos. A palavra converter significa
“mudar de rumo”.
Pedro já era um homem salvo, mas logo tomaria um rumo errado e teria
de se converter, ou seja, retornar para o caminho original ou melhor,
ter um novo começo, um novo propósito, um novo destino, um novo
serviço, bem como uma nova posição, como um grande líder para
fortalecer a fé dos irmãos.
Ele
não perderia o dom da vida eterna, mas desobedeceria ao Senhor e
colocaria em risco seu discipulado. Na verdade, todos os discípulos
abandonaram Jesus, mas Pedro também o negaria. Mas
através dessa experiência que Pedro passou ele pôde aconselhar
aqueles que estavam correndo o risco de se desviarem também (1Pe
4.12-19).
A experiência de hoje é para a edificação de outras pessoas
amanhã. Através do que Pedro passou ele pode ser boca de Deus para
fortalecer aqueles que estavam passando por lutas e provações. O
mesmo acontece conosco hoje. As lutas e provações que enfrentamos
na vida serve de experiência para nós e para fortalecermos a fé de
muitos.
A TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE PEDRO CAI NA ARMADILHA DA
AUTOCONFIANÇA (Lc 22.33; Mt 26.31-33).
Pedro, mais uma vez se precipita nas suas palavras e se vê superior
aos outros discípulos. Como lemos em Mateus 26.33: “Mas Pedro,
respondendo, disse-lhe: Ainda que todos se escandalizem em ti, eu
nunca me escandalizarei”.
Ele coloca em xeque a fidelidade de todos, menos a dele. Ele se via
mais crente, mais forte e mais confiável que seus amigos. Ele se via
como o único e intransponível. A autoconfiança de Pedro só
revelava o seu próprio fracasso.
1o – Pedro foi
prepotente – Quando a pessoa demonstra exagerada confiança
em si, deixa clara a sua prepotência. Não demorará para que sua
autodestruição aconteça. Uma ilustração mostra muito bem o
prejuízo que a distância da realidade pode acarretar em uma pessoa
cheia de autoconfiança.
Certo caçador, muito famoso por seu método ímpar de caçar, saía
em plena selva africana e voltava com quantas caças quisesse, desde
os mais indefesos animais até as mais temíveis feras. Seu método
era simples e infalível: por meio de uma flauta, hipnotizava os
animais. Ao deparar-se com uma fera, bastava tocar sua pequena flauta
e pronto, o animal era totalmente dominado.
Assim aquele homem procedeu durante muitos anos. No entanto, um dia
saiu em busca de um velho tigre, conhecido por suas destruidoras
investidas em pequenos povoados da região. Era um animal temido, e
por isso os moradores daquela região agiam com muita cautela, ao
passo que o caçador nem ao menos lembrava de um só momento em que
teve medo. Suas façanhas davam-lhe total despreocupação.
Dentro da mata, o caçador pôs-se a procurar a temível fera. Não
demorou muito para deparar-se com o assustador felino, que passou a
espreitá-lo. De imediato, o homem deu as costas ao bicho e passou a
tocar sua flauta. Como sempre, logo após o primeiro som do
instrumento, os animais, hipnotizados, o acompanhavam com passos já
molengas.
Porém naquele dia parecia haver algo estranho no ar. Os passos do
tigre não estavam tão lentos como era de se esperar, e seus rugidos
continuavam fortes a ponto de arrepiar o destemido caçador. Mas,
como sempre dava certo, o homem não se importou muito. Sua
experiência jamais o decepcionara. Por isso, continuou sua marcha, à
frente do bicho, como um verdadeiro líder, e, imponente, tocava sua
flauta.
Em dado momento, percebeu que o bicho movimentou-se inesperadamente
e, antes mesmo de olhar para trás e ver o que estava acontecendo,
foi atacado pela fera. O tigre matou o experiente caçador e destruiu
a sua flauta.
Depois de uma intensa pesquisa, com a captura do bicho, descobriu-se
que o animal era surdo.
2o – Pedro fazia da
sua carne o seu braço forte. Como nos fala Jeremias: “Assim
diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o
seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!” (Jeremias
17.5). “Ainda que todos te abandonem, eu jamais te abandonarei!”.
Essas são verdadeiras palavras de um homem estribado em sua própria
força e capacidade, e não firmado em Deus.
A QUARTA LIÇÃO QUE APRENDO AQUI É QUE O SENHOR REVELA A QUEDA
DE PEDRO (Lc 22.34).
Após o Senhor ter revelado a fraqueza de Pedro, creio que ele não tenha levado em conta que isso poderia vir acontecer, afinal de contas, ele sempre foi fiel e não seria ele que iria desapontá-lo num momento crucial. No entanto, o que o Senhor o Senhor havia falado veio se cumprir na noite em que Jesus foi preso.
1 – Autoconfiança (Lc 22.33). Quando Jesus alertou
Pedro acerca do plano de Satanás de peneirá-lo como trigo, Pedro
respondeu que estava pronto a ir com Ele tanto para a prisão como
para a morte. Pedro subestimou a ação do inimigo e superestimou a
si mesmo. Ele pôs exagerada confiança no seu próprio “eu”, e
aí começou sua derrocada espiritual. Este foi o primeiro degrau de
sua queda.
Aquilo que Pedro achava que era fé não passava de uma autoconfiança exagerada. Ele superestimou a si mesmo pensando, inclusive, que era superior aos seus colegiados. Infelizmente essa mesma autoconfiança tem sido pregada em nossos púlpitos hoje, só que com o nome de autoajuda. A mensagem de autoajuda está longe de ser a mensagem do Evangelho, já que mostra o homem independente de Deus, quando na verdade o Evangelho revela que o homem é um ser carente da graça do Senhor por sermos limitados, dependentes e fracos.
2 – Indolência (Lc 22.45). No momento que Jesus foi preso Pedro estava dormindo, isso porque o Senhor já havia os acordado outras vezes. Por estar dormindo o sono do descaso, ele reagiu de forma impensada na hora em que Jesus foi preso. Ele lança mão da espada não entendendo que aquela era uma guerra espiritual e que as armas nessa batalha eram outras. A indolência gera a precipitação e assim por diante. A carne e não o espírito de Pedro falaram mais alto mais uma vez.
3 – Precipitação (Lc 22.50). O sono de Pedro era o sono do descaso, por isso ele foi precipitado em lançar mão da espada e cortar a orelha do servo do sumo sacerdote. A aparente coragem dele não passava de precipitação, ele foi movido pelo momento e não agiu de forma pensada. Toda a sua aparente valentia era carnal e não espiritual. Por não estar em oração ele agiu segundo os seus instintos e não segundo a vontade de Deus. Por isso, que sua coragem logo se transformou em covardia.
Essa batalha só podia ser vencida em oração e não com armas carnais. Foi assim que Jesus venceu. Enquanto orava Jesus clamou por livramento, mas enfrentou a vontade do Pai, por isso quando se levantou não temeu ninguém e nem a nada. Diferentemente de Pedro e dos outros apóstolos. As batalhas devem ser vencidas em oração primeiramente.
Essa batalha só podia ser vencida em oração e não com armas carnais. Foi assim que Jesus venceu. Enquanto orava Jesus clamou por livramento, mas enfrentou a vontade do Pai, por isso quando se levantou não temeu ninguém e nem a nada. Diferentemente de Pedro e dos outros apóstolos. As batalhas devem ser vencidas em oração primeiramente.
4 – Seguia a Jesus de longe (Lc 22.54). Aquele que dizia que estava pronto a enfrentar até a morte por Jesus, agora está sentado na roda dos escarnecedores fingindo ser um deles. A sua fidelidade ao Mestre foi colocada à prova e ele fracassou. Pedro está seguindo Jesus de longe, com medo, assustado, acovardado. Não queria perder Jesus de vista, mas também não queria assumir nenhum compromisso e muito menos se arriscar a ser preso também.
Não tem sido diferente em nossos dias. Quantos crentes em Jesus andam seguindo Jesus de longe, se assentam à roda dos escarnecedores, se detém no caminho dos pecadores, como nos fala o Salmo primeiro, pessoas que têm vergonha de assumir o cristianismo. São bons crentes na igreja, mas no mundo estão longe de dar bons testemunho.
Não tem sido diferente em nossos dias. Quantos crentes em Jesus andam seguindo Jesus de longe, se assentam à roda dos escarnecedores, se detém no caminho dos pecadores, como nos fala o Salmo primeiro, pessoas que têm vergonha de assumir o cristianismo. São bons crentes na igreja, mas no mundo estão longe de dar bons testemunho.
5 – A negação (Lc 22.55-60). A negação de Pedro
não foi um impulso momentâneo, não foi uma simples precipitação
– Pedro sob pressão não suportou o ocorrido.
Vejamos os passos da sua negação:
1 – Assentando na roda dos escarnecedores (Lc 22.55).
2 – Sendo um covarde (Lc 22.56,57).
3 – Cometendo perjúrio (Mt 26.72).
4 – Sendo um praguejador (Mt 26.74).
Pedro quis ser o mais forte e se tornou o mais fraco. Quis ser o
melhor e se tornou o pior. Quis colocar o seu nome no topo da lista
dos fiéis e caiu de forma mais vergonhosa para o último lugar.
CONCLUSÃO
Ao olharmos para a vida de Pedro, estamos diante do espelho. Muitas
vezes somos como Pedro. Mostramos autoconfiança, não oramos, somos
precipitados e, seguimos Jesus de longe. Todavia, não podemos perder
o foco. O Senhor não desiste de nós, assim como não desistiu de
Pedro. Tudo isso foi registrado a respeito de Pedro para nos mostrar
que não devemos confiar na nossa própria carne. A nossa força
natural não nos mantém de pé nem por um instante, a nossa total
confiança tem que estar em Deus. Somente Ele pode nos manter de pé
e fortalecer a nossa fé na hora da tentação.
O Salmo 108.13 nos diz que em Deus faremos proezas. Mas em Deus e não
na nossa própria força. Como disse Davi: “Alguns confiam em
carros e outros em cavalos, mas nós confiamos no Nome do SENHOR, o
nosso Deus” (Sl 20.7).
Que a nossa confiança esteja sempre no Senhor e nunca em nós
mesmos.
Pense Nisso!
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