Por Pr. Silas Figueira
Texto Base: Efésios
6.4
INTRODUÇÃO
Estamos vivendo um
período onde a palavra paternidade perdeu o seu verdadeiro sentido. Ser pai
hoje, para muitas pessoas, é ser apenas o progenitor e não aquele que é exemplo
na criação. E por que muitos pais não são exemplo para os seus filhos? Creio
que podemos enumerar alguns motivos: 1) muitos pais não são exemplo para os seus
filhos porque não tem maturidade para tal compromisso, muitos por terem sido pais
cedo demais. 2) outros por não assumirem a paternidade – fazer filho é uma
coisa, assumi-los é algo totalmente diferente. 3) outros porque nunca tiveram
um exemplo de pai dentro de casa.
E muitos desses “pais”
não assumem seu papel de pai porque foram criados sem limites e sem disciplina.
Quando deveriam ser corrigidos, eles foram acobertados. É o caso do filho de
uma desembargadora que foi detido com 130 quilos de maconha, centenas de
munições de fuzil e uma pistola nove milímetros. A saída do presídio aconteceu
depois de dois habeas corpus, pois, segundo a família, ele tem problemas
psiquiátricos. No entanto, esse mesmo cidadão tinha outro mandado de prisão pois
também é investigado pela Polícia Federal pela participação no plano de fuga de
um chefe do tráfico de drogas.
Ser
pai é um grande privilégio, mas também nos leva a refletir sobre sua grande
responsabilidade. Ser pai implica em fazer diferença na
vida dos filhos. Significa que este filho ao olhar para o seu pai veja nele o
melhor exemplo de homem. O verdadeiro pai deixa de herança para os seus filhos
o exemplo e não bens materiais. E um dos maiores exemplos que um pai pode
deixar para os filhos é amar a mãe deles.
A Bíblia nos dá alguns
exemplos de pais que fizeram diferença na vida de seus filhos, uns de forma
positiva, outros, infelizmente, de forma negativa. Por isso que eu quero pensar
com você que tipo de pai você tem sido analisando a vida e o exemplo de alguns
desses pais.
1
– ABRAÃO O PAI QUE É EXEMPLO DE FÉ (Hb 11.17-19).
Pela
fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, ofereceu Isaque como sacrifício. Aquele
que havia recebido as promessas estava a ponto de sacrificar o seu único filho,
embora Deus lhe tivesse dito: "Por meio de Isaque a sua descendência será
considerada". Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos;
e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos.
Quando lemos a história
de Abraão nós vemos o quanto ele foi crescendo na fé a medida que andava com
Deus. Foi um processo longo, mas que resultou em um grande amadurecimento na
fé.
Cerca de 45 anos depois dele
ter saído da terra de Ur dos Caldeus, Abraão se vê agora sendo provado pelo
Senhor. Encontramos essa história em Gênesis 22. Mas eu quero me deter aqui em
Hebreus, pois o autor nos mostra que pela fé Abraão cria que o Senhor era
poderoso para ressuscitar o seu filho. Através desse texto aprendemos três
lições:
1º - Um pai que anda pela
fé entrega seus filhos ao Senhor. Abraão não questionou
com Deus a respeito do que Ele estava lhe pedindo. Ele não tentou argumentar se
não podia trocar Isaque por Ismael. Ele simplesmente obedeceu (Gn 22.1-3).
“Passado
algum tempo, Deus pôs Abraão à prova, dizendo-lhe: "Abraão! " Ele
respondeu: "Eis-me aqui". Então disse Deus: "Tome seu filho, seu
único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o
ali como holocausto num dos montes que lhe indicarei". Na manhã seguinte,
Abraão levantou-se e preparou o seu jumento. Levou consigo dois de seus servos
e Isaque seu filho. Depois de cortar lenha para o holocausto, partiu em direção
ao lugar que Deus lhe havia indicado” (NVI).
O Senhor lhe fez um
pedido específico e ele não retrucou, simplesmente fez o que lhe foi pedido.
Isso é fé. É reconhecer que o Senhor tem o direito de pedir o que lhe pertence.
Se um dia você apresentou seus filhos a Deus e os entregando a Ele, saiba que
eles pertencem ao Senhor.
Você não é dono de seus
filhos, você é responsável por cria-los nos caminhos do Senhor, isso é um fato,
mas nós não somos donos deles. Eles pertencem ao Senhor, assim como tudo o que
temos.
2 – Um pai que anda pela
fé não duvida da onipotência de Deus. Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos; e,
figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos.
Nunca na história bíblica
se havia visto ou ouvido de alguém que o Senhor havia ressuscitado,
no entanto, Abraão cria que o Senhor (que havia feito a promessa de que seu filho Isaque seria sua descendência) iria ressuscitá-lo. Por isso que Abraão não
questionou, mas fez o que lhe foi mandado.
Meus irmãos, será que
seus filhos têm visto em você está fé? Uma fé que crê na intervenção divina na
história? Um Deus que tem poder para cumprir as promessas que um dia lhe foram
dadas? Um Deus que pode trazer a existência as coisas que não existem (Rm 4.17)?
Quantos pais que são
frequentadores de igrejas, mas que não tem uma experiência viva com Deus. Falam
de fé, mas vivem focados nas coisas materiais. Duvidam da intervenção divina na
história de suas vidas e na história de seus filhos. Vivem uma religiosidade
morta, uma religiosidade de fachada.
Muitos pais construíram
suas casas espirituais na areia e não sobre a rocha (Mt 7.26,27):
“Mas
quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu
a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os
ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda”
(NVI).
3º - Um pai que anda pela
fé verá pela fé o milagre da ressurreição na vida dos seus filhos.
Abraão [...] figuradamente, recebeu
Isaque de volta dentre os mortos.
Abraão creu e viu o
milagre em sua vida. Ele recebeu Isaque de volta dentre os mortos - figuradamente. Essa é a
diferença entre servir a Deus pelo o que Ele é e não pelo o que Ele dá e faz.
Eu sei que há muitos pais
que estão sofrendo pelos seus filhos. Muitos deles totalmente afastados do
Senhor. Crianças que foram criadas nos caminhos do Senhor, mas que hoje,
infelizmente, estão trilhando um caminho extremamente perigoso.
Não desista dos seus
filhos. Creia que o Senhor há de ressuscitá-los. Que aqueles que um dia foram
entregues aos Senhor, pela infinita graça voltarão à comunhão com o Pai.
Lembre-se do filho pródigo. Sabemos que é uma parábola, mas que retrata muito
bem o amor do Pai e o desejo de ver os seus filhos de volta ao lar.
2
– JÓ UM PAI QUE INTERCEDIA PELOS SEUS FILHOS (Jó 1.1-5).
Há homens que ganham
notoriedade no mundo e fracassam como pais. Que conquistam riquezas e perderam
os filhos; que tiveram tempo para estranhos, mas nunca para os filhos; que
cultivam a simpatia de estranhos, mas abriram feridas na alma dos filhos [1].
Os filhos não precisam de
presentes, mas da presença do pai. Alguns pais para compensar a sua ausência
dão presentes, satisfazem todos os desejos dos filhos sem questioná-los. Tudo
isso para compensar a sua ausência.
O Rev. Hernandes Dias
Lopes diz que Jó exercia plenamente o sacerdócio no seu lar. E ele destaca
quatro verdades a respeito do zelo de Jó pelos seus filhos [2]:
1º - Jó se preocupava com
a salvação de seus filhos (Jó 1.5). Uma das coisas que deve
ser a nossa real preocupação é a salvação de nossos filhos. Não adianta eles se
projetarem na vida profissional e não terem o nome escrito no Livro da Vida.
Mas para que os nossos
filhos tenham a esperança da vida eterna, nós pais, devemos falar e testemunhar
de Deus para eles. Como disse Larry Christenson: “Devemos apresentar Deus aos filhos através da Palavra” [3].
Como nos fala o Salmo
78.1-8:
“Povo
meu, escute o meu ensino; incline os ouvidos para o que eu tenho a dizer. Em parábolas abrirei a minha boca, proferirei enigmas do passado; o que ouvimos
e aprendemos, o que nossos pais nos contaram. Não os esconderemos dos nossos
filhos; contaremos à próxima geração os louváveis feitos do Senhor, o seu poder
e as maravilhas que fez. Ele decretou estatutos para Jacó, e em Israel
estabeleceu a lei, e ordenou aos nossos antepassados que a ensinassem aos seus
filhos, de modo que a geração seguinte a conhecesse, e também os filhos que
ainda nasceriam, e eles, por sua vez, contassem aos seus próprios filhos. Então
eles porão a confiança em Deus; não esquecerão os seus feitos e obedecerão aos
seus mandamentos. Eles não serão como os seus antepassados, obstinados e
rebeldes, povo de coração desleal para com Deus, gente de espírito infiel”
(NVI).
2º - Jó se preocupava com
a santificação de seus filhos (Jó 1.5). Jó ao oferecer
dez ofertas queimadas em nome de cada jovem adulto, ele se preocupava com a
ideia de que poderiam haver no coração deles uma pitada de desobediência, ou
que talvez um deles tivesse contado uma piada vulgar durante seus encontros
frequentes. Jó é profundamente zeloso – espiritualmente sensível não só em
relação a sua vida, mas no que se referia à coerência da vida dos filhos. Jó
era homem de oração. Verdadeiro sacerdote [4].
3º - Jó se preocupava com
a vida íntima de seus filhos (Jó 1.5). Devemos nos
preocupar com a vida de nossos filhos longe dos nossos olhos. Devemos
interceder para que a conduta deles condiga com a vida que professam ter dentro
da igreja.
Jó dizia: “Talvez os meus filhos tenham lá no íntimo
pecado e amaldiçoado a Deus”.
Esta também deve ser a
nossa preocupação. Devemos ensinar aos nossos filhos que eles são crentes em
Jesus longe e perto de nós. Que os olhos do Senhor estão em todos os lugares.
4º - Jó era um pai
intercessor (Jó 1.5). Na era patriarcal os pais eram
também os sacerdotes dentro de suas casas, posteriormente com a Lei sendo
estabelecida é que a tribo de Levi ficou com essa incumbência.
Mas ainda hoje devemos ser
sacerdotes em nossos lares, intercedendo pelos nossos filhos. Devemos orar
constantemente por eles e com eles. Devemos ter em mente que a oração de um
justo vale muito em seus efeitos (Tg 5.16).
Na família de Tim
Cimbala, pastor em Nova York, sua filha primogênita estava se tornando
resistente ao evangelho e começou a viver uma vida de rebeldia, mundanismo e
pecado. Não demorou muito até se rebelar contra os pais e sair de casa. Seus
pais choraram, sofreram e começaram a definhar a ponto de os amigos lhes
dizerem para desistirem de procurá-la. Contudo, numa celebração de vigília, uma
irmã interrompeu e disse que deveriam clamar por sua filha e todos deram as
mãos e oraram. Ali se tornou uma “sala de parto” onde as dores e os gemidos
eram expressos diante de Deus. Quando o pastor voltou para a casa ele disse à
sua esposa: “Se há Deus no céu, nossa
filha já foi liberta hoje”. Dois dias depois ela voltou para casa liberta e
sarada. Deus restaurou aquela menina e o instrumento que Deus usou foi a oração
intercessória.
Por isso meu querido pai
não desista de seus filhos, ore por eles. Os apresente constantemente ao
Senhor, pois Ele é que, através do Espírito Santo, convence-os do pecado, da
justiça e do juízo (Jo 16.8).
3
– GILEADE UM PAI AUSENTE (Jz 11.1-3).
“Jefté,
o gileadita, era um guerreiro valente. Sua mãe era uma prostituta; seu pai foi
Gileade. A mulher de Gileade também lhe deu filhos, que quando já estavam
grandes, expulsaram Jefté, dizendo: "Você não vai receber nenhuma herança
de nossa família, pois é filho de outra mulher". Então Jefté fugiu dos
seus irmãos e se estabeleceu em Tobe. Ali um bando de vadios uniu-se a ele e o
seguia” (NVI).
Jefté foi um dos juízes
em um período caótico da história de Israel, 1380 a 1050 a. C: “Não havia rei em Israel, porém cada um
fazia o que parecia reto aos seus olhos” Jz 21.25. Vivia em Gileade, sendo
membro da tribo de Manasses. A história de Jefté é curiosa, controversa e não
conclusiva. Ele nasceu e viveu em um contexto familiar desorganizado. Sua mãe
era prostituta, seu pai (Gileade) tinha muitos filhos de outro relacionamento.
A ausência do pai na vida de Jefté e depois a sua total indiferença para com
ele, fez com que este se tornasse um marginal.
O sucesso de uma
sociedade depende do sucesso da família. A forma como a sociedade define
moralmente a família estabelece os padrões de conformação da personalidade da futura
geração. Dessa forma podemos prever o caos ou a organização da sociedade [5]. Na vida de Jefté foi o caos.
1º - Gileade foi um pai
que criou os filhos sem afetividade com Jefté (Jz 11.2).
Aqueles irmãos cresceram com ódio no coração. Tudo porque Gileade era um homem
que não criou os filhos com vinculo de afetividade. Eles não se importavam uns
com os outros, mas com os bens materiais. Se importavam era com a herança do
pai.
Em momento algum vemos
Gileade se envolvendo nessa questão. Aliás, Gileade por ser um homem promíscuo
gerou isso em seus filhos. Eles, provavelmente, foram criados vendo sempre
Jefté como um intruso em suas vidas. Ele era como um estranho no ninho.
Não são poucos os casos de irmãos que não se falam, quando não se odeiam. Muitas vezes não foram os pais que erraram, é bom destacar isto aqui; mas geralmente, muitos pais não envolveram nas brigas e desavenças contínuas entre seus filhos.
Jacó e Esaú tornaram-se inimigos e a culpa foi dos pais. Posteriormente eles se retrataram, mas o estrago já estava feito entre os seus descendentes. O edomitas - descentes de Esaú - tornaram-se um dos maiores inimigos de Israel.
Pequenas brigas podem se tornar uma grande calamidade.
Não são poucos os casos de irmãos que não se falam, quando não se odeiam. Muitas vezes não foram os pais que erraram, é bom destacar isto aqui; mas geralmente, muitos pais não envolveram nas brigas e desavenças contínuas entre seus filhos.
Jacó e Esaú tornaram-se inimigos e a culpa foi dos pais. Posteriormente eles se retrataram, mas o estrago já estava feito entre os seus descendentes. O edomitas - descentes de Esaú - tornaram-se um dos maiores inimigos de Israel.
Pequenas brigas podem se tornar uma grande calamidade.
2º - Gileade foi um pai
ausente (Jz 11.2). Gileade não deu um basta aquela
discórdia, ele se ausentou durante todo o tempo e as consequências foram
desastrosas. Os outros irmãos se voltaram contra Jefté e o expulsaram de casa. Gileade
foi um pai ausente que não defendeu o próprio filho.
Não são poucos os jovens
que lutam com questões de identidade sexual, até mesmo desejo desejos
homossexuais. Qual é o denominador comum desses homens? Anseiam por um pai. O
dano sofrido pelas crianças criadas num lar cujo pai é ausente, cruel ou
indiferente é uma ferida aberta (que reflete na sociedade e na igreja) [5].
Observe que o texto nos
diz que Jefté fugiu para a terra de Tobe e ali um bando de vadios uniu-se a ele e o seguia. Devido a esse episódio
em sua vida, Jefité tornou-se um aventureiro, um salteador. Vivia com seu bando
roubando as pessoas e causando terror as pessoas.
Devido a um gigantesco
desajuste familiar Jefté tornou-se um homem sem referencial de honestidade,
pois cresceu em um lar onde os irmãos disputavam a herança do pai a ponto de o
expulsarem por causa dela.
3º - Gileade maculou o
leito conjugal (Jz 11.1,2a). Gileade não foi nem
exemplo de pai presente e pior, era um adúltero. Que exemplo esse homem poderia
ser para os seus filhos? Que conselhos esse indivíduo poderia dar aos seus
filhos a respeito de relacionamento conjugal? De fidelidade.
A Bíblia nos mostra
muitos outros erros que outros pais cometeram. Homens esses que eram fiéis ao
Senhor, mas que erraram na educação dos filhos. É fácil falar de Gileade, mas
devemos olhar para esses outros pais também, pois eles, de alguma forma, são
como nós também.
A Bíblia registra os
resultados infelizes da negligência dos pais para com os filhos, quer dando um
mau exemplo, quer deixando de discipliná-los corretamente. Davi mimou Absalão e
deu um péssimo exemplo, e as consequências foram trágicas. Eli não disciplinou
os filhos, e estes, além de desgraçarem seu nome, trouxeram derrota sobre a
nação de Israel. Em sua velhice, Isaque mimou Esaú, e sua esposa demonstrou
favoritismo por Jacó, resultando em um lar dividido. Jacó cultivava o seu
favoritismo por José, quando Deus resgatou o menino de modo providencial e
levou para o Egito, onde o transformou em um homem de caráter [7]. Com isso
vemos que a Bíblia não esconde os erros nem dos seus filhos, mas permite que
tais erros sejam mostrados para servir de exemplo para todos nós. Devemos
aprender a observar os exemplos bíblicos para podermos ter um lar dentro dos
seus padrões. Não é fácil, mas devemos lutar por isso.
4
– DEVER DOS PAIS COM OS FILHOS (Ef 6.4).
Nem um de nós é perfeito.
Somos falhos, e por sermos falhos, cometemos muitos erros. Mas nós como pais
devemos lutar para não errarmos, ou se errarmos, errarmos o menos possível e
que tal erro não traga consequências devastadoras para dentro do nosso lar.
Devemos nos esforçar para sermos como Abraão um homem de fé, e como Jó, um
homem de oração. E devemos fazer de tudo para não cairmos no erro de Gileade.
No entanto, devemos lutar
por exercer uma quarta coisa. Aquilo que o apóstolo Paulo nos fala em Efésios
6.4. O texto que lemos no início, que nos diz:
“E
vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor” (ARA).
O apóstolo Paulo nos dá quatro conselhos em relação a educação dos filhos.
1º - Os pais não devem
lhes provocar a ira. No tempo de Paulo, o pai exercia
autoridade suprema sobre a família. No mundo greco-romano, as crianças gozavam,
em geral, de pouquíssima estima. Os romanos simplesmente numeravam suas filhas,
e também seus filhos homens a partir do terceiro ou quinto não recebiam nomes.
A manifestação mais clara deste status baixo conferido às crianças era o
costume amplamente difundido de enjeitar recém-nascidos. As crianças eram
descartáveis no sentido literal da palavra. Em Roma, o recém-nascido era
deitado aos pés do pai. Se o pai não o levantava e reconhecia como filho, era
abandonado. O verbo que em latim significa “levantar” (suscipere) passou a ser sinônimo para sobrevivência. Muitas das
crianças abandonadas morriam. Outras eram criadas para serem escravos. Os
rapazes eventualmente eram obrigados a se tornarem gladiadores, enquanto que as
moças acabavam se prostituindo. Sêneca, o Velho, um contemporâneo de Jesus,
relata que em seu tempo mendigos profissionais recolhiam as crianças
abandonadas, mutilavam-nas e depois exploravam seu estado lastimável para
conseguir esmolas [8].
Para os judeus no entanto, as crianças eram consideradas dádivas de Deus e era uma forma da
continuidade da raça. Com a vinda do Messias esse quadro se tornou ainda mais
importante, pois não só os adultos eram valorizados, mas também as crianças
eram respeitadas.
A personalidade da
criança é frágil, e os pais podem abusar de sua autoridade usando ironia e
ridicularização. O excesso ou a ausência de autoridade provoca ira nos filhos e
leva os filhos ao desânimo. Cada criança é uma pessoa peculiar e precisa ser
respeitada em sua individualidade.
O Reverendo Hernandes
Dias Lopes citando William Hendriksen aborda seis atitudes dos pais que
provocam a ira nos filhos:
1) Excesso de proteção;
2) favoritismo; 3) desestímulo; 4) não reconhecimento do fato de que o filho
está crescendo e, portanto, tem o direito de ter suas próprias ideias e de que
não precisa ser uma cópia exata do pai para ter êxito na vida; 5) negligência;
e 6) palavras ásperas e crueldade física [9].
Calvino diz que os pais,
por sua vez, são exortados a que não irritem seus filhos com imoderada
severidade. Tal atitude excitaria o ódio e os levaria a lançar de si o jugo
[paterno] de uma vez para sempre. Consequentemente, em Colossenses 3.21 ele
adiciona: “para que não fiquem
desanimados". O tratamento bondoso e liberal conserva a reverência dos
filhos para com seus pais, e aumenta a prontidão e a alegria de sua obediência;
enquanto que a severidade austera e inclemente suscita sua obstinação e destrói
seu senso de dever [10].
2º - Os pais devem cuidar
da vida física e emocional dos filhos. O texto diz: “criai-os na disciplina e na admoestação do
Senhor”. O verbo traduzido por “criar” é a mesma palavra traduzida por “alimentar”
em Efésios 5.29. O marido cristão deve nutrir a esposa e os filhos dando lhes
amor e ânimo no Senhor. Não basta cuidar dos filhos fisicamente providenciando
alimento, abrigo e roupas. Também deve lhes dar alimento emocional e espiritual
[11].
3º - Os pais devem
disciplinar os seus filhos. A palavra grega paideia, “disciplina”, tem o sentido de
treinamento por meio da disciplina. Da palavra disciplina vem a palavra
discípulo em português.
Provérbios 29.15 afirma
que “A vara e a repreensão dão sabedoria,
mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe”; e é justamente a
consequência dessa sabedoria proverbial que a Suécia está enfrentando, na prática,
hoje em dia, por proibir as palmadas: uma geração de crianças mimadas. Tanto que
em inglês a palavra “spoiled child” transmite
a ideia de uma criança chata, com comportamentos inapropriados devido ao
excesso contínuo de bajulações e a falta de repreensão. Spoiled significa
estragado, deteriorado.
Em provérbios 13.24 diz: “O que retém a vara aborrece a seu filho,
mas o que o ama, cedo, o disciplina”.
A disciplina é um
princípio fundamental da vida e uma demonstração de amor. Como nos diz em
Hebreus 12.6-8: “porque o Senhor corrige
a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que
perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não
corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado
participantes, logo, sois bastardos e não filhos”.
4º - Os pais devem
instruir e encorajar os seus filhos através da Palavra.
Esse é o termo para admoestação; nouthesia
no grego. Esse termo quer dizer educação verbal. É educar através da
palavra falada, seja de ensino, seja de advertência, seja de estímulo. E esta
instrução deve estar de acordo com a Palavra de Deus.
Mas observe que tudo isso
deve ser feito de acordo com o Senhor: “E
vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na
admoestação do Senhor”.
A expressão “do Senhor”
revela que os responsáveis pela educação cristã dos filhos não são: o Estado, a
escola nem mesmo a igreja, mas os próprios pais.
Quando a Suprema Corte dos Estados Unidos deu seu veto contrário à obrigatoriedade de orar nas escolas públicas, o famoso
cartunista Herblock publicou uma tira no jornal Washington Post mostrando um
pai irado sacudindo um jornal para a família e gritando:
- Só faltava essa! Agora querem
que a gente ouça as crianças orando em casa?
A resposta é: sim! O lar
é o lugar onde as crianças devem aprender sobre o Senhor e a vida cristã [12].
CONCLUSÃO
Ser pai cristão é
entender que temos uma grande responsabilidade sobre os nossos ombros e que não
podemos negligenciá-la, muito pelo contrário, devemos abraça-la com alegria e
com maior afinco.
Sabemos que os dias estão
muito difíceis para os nossos filhos e, principalmente, para educa-los nos
caminhos do Senhor. A mídia e o governo estão fazendo de tudo para que os
nossos filhos sejam tudo, menos servos do Senhor Jesus. O Estado está tentando
a todo custo interferir na educação cristã; estão tentando desvirtuar os
ensinamentos bíblicos adquiridos no lar e nas igrejas. Por isso, mais do que
nunca, devemos estar preparados para guerrear pelos nossos filhos sendo exemplo
para eles e para a sociedade. Sendo melhores crentes, melhores maridos e melhores
pais para que amanhã nossos filhos possam andar em nossas pisadas e não errarem
o Caminho, pois se trilharmos o Caminho que é Jesus, eles, pela fé, trilharão
também. Por isso devemos ensinar No Caminho aos nossos filhos e não O Caminho
como muitos tem feito.
Pense Nisso!
Fonte:
1 – Lopes, Hernandes
Dias. Pai, um homem de valor. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 5ª reimpressão 2012:
p. 43.
2 –Ibid. p. 48-50.
3 – Christenson, Larry. A
Família do Cristão. Ed. Betânia, Venda Nova, MG, 5ª edição 1996: p. 161.
4 – Swindoll, Charles R.
Jó, um homem de tolerância histórica. Ed. Mundo Cristão, São Paulo, SP, 9ª
reimpressão 2014: p. 18.
5 – Borges, Marcos de
Souza. O Avivamento do Odre Novo. Ed. JOCUM, Paraná, 7ª edição 2011: p. 187.
6 – Grudem, Wayne e Rainey, Dennis. Famílias
fortes, igrejas fortes – os desafios do aconselhamento familiar. Ed. Vida, São
Paulo, SP, 2ª reimpressão 2013: p. 136.
7 – Wiersbe, Warren W. O
Novo Testamento 2, comentário bíblico expositivo, vol. 6. Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 6ª reimpressão, 2012: p. 69.
8 – Weber, Hans-Ruedi.
Jesus e as Crianças. Ed. Sinodal, São Leopoldo, RS, 1986: p. 10,11.
9 – Lopes, Hernandes
Dias. Efésios, igreja a noiva de Cristo. Ed. Hagnos, São Paulo, 2010: p. 165.
10 – Calvino, João. Série
Comentários Bíblicos – Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses. Ed. Fiel,
São José dos Campos, São Paulo, SP, 2015: p. 351.
11 – Wiersbe, Warren W. O
Novo Testamento 2, comentário bíblico expositivo, vol. 6. Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 6ª reimpressão, 2012: p. 70.
12 – Ibid., p. 70.
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