Alguém me perguntou recentemente: qual a sua opinião sobre o neo-calvinismo? Sei que esse tipo de pergunta, pode partir de alguém que quer tão somente saber qual o meu ponto de vista sobre algumas expressões de calvinismo do século XX (Plantinga, Dooyweerd, Gordon Clark, Francis Schaeffer etc.). Mas, fico sempre a pensar naqueles que vivem a medir igrejas e pessoas pelo padrão da sua fita métrica teológica. Há teólogo que ama rótulos. Fala de uma tal maneira sobre as demais expressões de espiritualidade, que somos levados a crer, que ele é o único que enxerga o cristianismo de um ponto de vista privilegiado. Ele seria o verdadeiro, paulino-agostiniano-calvinista. Puríssimo.
Se o neo-calvinismo é um calvinismo que avançou na compreensão doutrinária, ele continua sendo calvinismo, pois a tradição calvinista crê no desenvolvimento intelectual da igreja. Se o neo-calvinismo é a tentativa de comunicar antigas verdades de uma maneira que o homem moderno possa compreendê-las, continua sendo calvinismo, pois o calvinismo é avesso ao apego irracional à tradição. Se o neo-calvinismo é o resgate de alguma virtude da tradição calvinista da qual a igreja se esqueceu, continua sendo calvinismo, pois o calvinismo ensina que uma igreja reformada deve procurar sempre a sua reforma.
Agora, se o neo-calvinismo é a quebra do princípio regulador do culto, o apego maior à denominação do que ao reino de Cristo, ruptura com o formalismo que descambou para familiaridade desrespeitosa, dizer-se calvinista sem nunca ter lido Calvino, alienação político-social, falta de investimento em educação, pastores iletrados, racionalismo estéril, ensino do liberalismo teológico em seminário, irrelevância história; nesse caso não estamos mais falando de neo-calvinismo, mas de anti-calvinismo.
Só não venha me dizer que ser calvinista é ter decorado a constituição de uma determinada denominação, pregar de toga, proibir o ministro de usar jeans no púlpito, eliminar o uso da bateria no louvor, usar liturgia impressa, manter-se fiel a costumes do século 19; porque aí vou ter que pedir para essa pessoa, mostrar-me em que página da história da igreja, posso encontrar esse tipo de calvinismo, pois o desconheço.
A exceção é a cultura religiosa de certas igrejas que se dizem calvinistas no Brasil. Compostas por pastores que pensam que suas igrejas não crescem, por causa do seu nível de fidelidade a Calvino, quando na verdade, jamais alcançariam resultados tão pífios, se fossem verdadeiramente, calvinistas.
Fonte: O Observador Cristão
Nenhum comentário:
Postar um comentário