sábado, 31 de julho de 2010

O que os Inimigos de Cristo reconheceram


Por John Stott

Podemos sentir que pisamos em solo ainda mais firme quando observamos o que os inimigos de Jesus achavam dele. Eles por certo não eram tendenciosos, pelo menos não a favor dele. Lemos nos evangelhos que "eles o vigiavam", tentando "apanhá-lo em suas palavras". É de conhecimento geral que, quando um debate não pode ser vencido por meio da argumentação, os que apreciam uma controvérsia transferem a discussão para o campo pessoal. Na falta de argumentos, a lama pode ser um bom substituto. Até mesmo os registros da história da igreja estão cobertos pela lama das animosidades pessoais. Assim era com os inimigos de Jesus.

Marcos menciona quatro críticas (de 2.1 a 3.6). A primeira delas é a acusação de blasfêmia. Jesus havia perdoado os pecados de um homem. Ao fazer isso, ele estava invadindo território divino. Aquilo era uma blasfêmia arrogante, eles diziam. Mas é possível levantar a seguinte questão: se Jesus fosse de fato divino, então ele tinha o direito de perdoar pecados.

Na segunda crítica, seus adversários ficaram horrorizados (pelo menos foi o que eles disseram) com suas ligações com o mal. Ele confraternizava com pecadores. Comia com publicanos. Permitia que prostitutas se aproximassem dele. Nenhum fariseu sonharia ter esse tipo de comportamento. Eles recolhiam suas vestes e evitavam contato com esse tipo de gente, julgando-se justos ao agir assim. Não apreciavam a misericórdia e a ternura de Jesus que, embora "separado dos pecadores", recebeu o honroso título de "amigo dos pecadores".

A terceira acusação é de que sua religião era fútil. Ele não jejuava como os fariseus, ou mesmo como os discípulos de João Batista. Ele foi considerado um "glutão e um beberrão". que veio para "comer e beber". Um ataque assim raramente merece uma resposta séria. Jesus certamente foi uma pessoa alegre, mas não há dúvida de que levava a religião a sério.

Por fim, eles ficaram enfurecidos porque Jesus quebrou o sábado. Ele curou doentes no dia de sábado. Seus discípulos caminharam pelo milharal no sábado, apanhando e comendo milho, o que os escribas e fariseus proibiam por entender que essas atividades eram equivalentes ao trabalho de colher e debulhar. Ninguém, no entanto, tinha motivos para duvidar que Jesus não fosse submisso à lei de Deus. Ele se sujeitou à lei, e quando se envolvia em alguma controvérsia ele recomendava aos seus oponentes que a usassem como árbitro. Ele também afirmou que Deus fez o sábado para beneficiar o homem. Mas, como "Senhor do sábado" ele reivindicou o direito de colocar de lado as falsas tradições dos homens e dar à lei de Deus sua verdadeira interpretação.

Todas essas acusações são banais e carecem de sustentação. Assim, quando Jesus foi a julgamento, seus detratores tiveram que contratar falsas testemunhas para acusá-lo. Mesmo assim, elas divergiam entre si. Na verdade, a única acusação que seus inimigos conseguiram levantar contra ele não era de caráter moral, mas político. Quando o prisioneiro político colocou-se diante dos homens para receber a sua condenação, foi novamente declarado inocente. Pilatos, após várias tentativas covardes de fugir do problema, lavou as mãos publicamente e declarou-se "inocente do sangue deste justo". Herodes não conseguiu encontrar nada contra ele. Judas, o traidor, cheio de remorso, devolveu as trinta moedas de prata aos sacerdotes dizendo: "Pequei, traindo sangue inocente". O ladrão arrependido na cruz repreendeu seu companheiro por desrespeitá-lo e acrescentou: "este homem nenhum mal fez". Finalmente, o centurião, depois de ter presenciado o sofrimento e a morte de Jesus, exclamou: "Verdadeiramente este homem era justo".

Fonte: John Stott

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