segunda-feira, 31 de maio de 2021

O SERVO DE DEUS DIANTE DO SOFRIMENTO - Salmo 88


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Salmo 88

INTRODUÇÃO

O texto que lemos nos mostra um homem em profundo sofrimento. Um homem que se vê abandonado por Deus no momento mais triste de sua vida. Ele grita por socorro, mas os céus estão cerrados; só existe um céu de bronze e um Deus surdo ao seu clamor.

Este salmo é de Hemã, filho de Joel que foi um dos músicos do templo durante o reinado de Davi (1Cr 6.33, 15.17, 16.41,42, 2Cr 35.15). Este era da descendência de Coate, descendente de Levi.

Existe uma segunda opção que este Hemã era filho de Maol, um dos sábios durante o reinado de Salomão (1Rs 4.31). Mas prevalece entre os comentaristas que este Hemã era um dos músicos de Davi.

Este é o último salmo dos filhos de Coré. Os coraítas na Bíblia eram a porção dos coatitas que descendia dos filhos de Coré ou Corá. Eles eram um ramo importante dos cantores da divisão de Coate (2Cr 20.19). Este talvez seja o cântico mais lastimoso de todo o livro. Tanto que o Salmo termina com a palavra hoshek (hebraico), que quer dizer “trevas”. Ele também não termina com tom de triunfo, como acontece com outros Salmos que falam de sofrimento e perplexidade. Observe que este Salmo fala de trevas (vv. 5,10,11), da sensação de estar se afogando (vv. 7,16,17), da solidão (vv. 5,8,14,18) e da prisão (v. 8) [1].

Este Salmo nos mostra uma dura realidade, e tem sido a realidade de muitas pessoas.

Quais as lições que podemos tirar deste Salmo para nossas vidas?

1 – A ENFERMIDADE FAZ PARTE DA VIDA.  

No momento que nossos primeiros pais desobedeceram a ordem de Deus, o caos passou a fazer parte de suas vidas e de seus descendentes. A morte entrou e o mundo se tornou um lugar maldito (Gn 3. 17).

Com isso em mente, eu quero destacar duas coisas:  

1º - Deus nunca ocultou essa verdade do homem (Gn 2.15-17; Jo 16.33). A enfermidade faz parte do mal natural, coisas que a natureza projeta contra os homens e os fazem sofrer [2]. Deus deseja que nós saibamos desde o início, que o fato se sermos crentes não quer dizer que nós não vamos passar por sofrimento, dificuldades, angústias, perplexidades e dificuldades nesta vida [3], principalmente por doenças e por fim, a morte. Há vários exemplos bíblicos de pessoas tanto tementes a Deus como ímpias que morreram devido a uma enfermidade. O profeta Eliseu morreu devido a uma enfermidade (2Rs 13.14). Lázaro amigo de Jesus também (Jo 11). Poderíamos fazer uma lista enorme de pessoas tementes a Deus quanto ímpias que morreram devido a uma enfermidade.

Temos doenças físicas e emocionais, que são chamadas de doenças psicossomáticas, que levam a morte.

2º - O não sofrer não é bíblico. Veja o que o Senhor Jesus nos fala em Marcos 8.34: “E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”. Isso não é vida fácil, isso é sofrimento, pois envolve uma escolha extremamente difícil. Implica em abrir mão de minha vontade e abraçar a vida cristã com a vontade do Senhor prevalecendo em nossas vidas. Outro detalhe, nós passamos por lutas e adversidades diariamente pois nascemos em um mundo que jaz no maligno (1Jo 5.19).

O slogan “Pare de Sofrer” que encontramos em muitas igrejas neopentecostais dá a ideia de que o sofrimento é algo que pode ser descartado como um simples querer. No entanto, diante deste Salmo esse slogan cai por terra.

Essa ideia de triunfalismo tem tomado muitos púlpitos, e o pior, tem deixado as pessoas iludidas achando que basta querer que o mal será sanado, quando na verdade isso é uma grande ilusão.

Veja por exemplo quem escreveu este Salmo. Este homem era uma pessoa com sensibilidade, criatividade, um dom que Deus lhe deu. Tinha profunda comunhão com Deus, a ponto de que o seu escrito foi inspirado por Deus e separado para fazer parte da Bíblia [4]. No entanto, nós o encontramos em um sofrimento intenso.  

2 – O QUE ESTE SALMO NOS MOSTRA (Sl 88.1-18).

Apesar de ser um Salmo que nos mostra um homem sofrendo grande tormenta, este Salmo tem muitas coisas as nos ensinar.

1º - O salmista reconhece que a salvação está no Senhor (Sl 88.1a). A expressão “Deus da minha salvação” indica que Hemã havia confiado que o Senhor o salvaria, e o fato de orar dessa maneira mostra que sua fé ainda está viva [5].

Calvino diz que quando o salmista aplica a designação “Deus da minha salvação” ele está pondo, por assim dizer, um freio em sua própria boca, ele restringe o excesso de sua dor, fecha a porta para o desespero e se fortalece e se prepara para suportar a cruz [6].

Deus da minha salvação. Isso nos mostra que a salvação de Deus é pessoal. É como que por entre as nuvens negras se abrisse um pequeno rasgo e entrasse um facho do Sol da Justiça para o consolar. Em meio as trevas que o cercam, ele, por um momento, contempla a graça de Deus sobre ele.  

Esta também deve ser a nossa confiança. Diante das adversidades devemos crer na intervenção divina. Do Senhor vem a nossa salvação.

2º - A aflição do salmista não apagou a sua oração (Sl 88.1b,2,9b,13). A aflição intensificou ainda mais a sua oração. A sua oração era pessoal – não importava quem não tivesse orado, ele o tinha feito; a oração era intensamente fervorosa, e por isso foi descrita como um clamor [7].

O salmista cria que o Senhor estava pronto para ouvi-lo, por isso ele não cessou de orar. Isso para nós é um grande exemplo. Aliás, o Senhor nos ensinou que devemos ser perseverantes em nossas orações (Mt 6.9-13, 7.7-11; Lc 18.1-7). O autor de Hebreus também nos diz que devemos crer que o Senhor atende aos que o buscam com fé (Hb 11.6).

3º - Por que ele ora? (Sl 88.3,4). Hemã ora porque está aflito. Um problema na alma é a alma do problema, disse Spurgeon [8]. Sua alma estava angustiada devido aos problemas que ele vinha enfrentando. Ele não estava suportando mais tanto sofrimento.

A palavra farta de males usada aqui, é também usada para descrever aquela situação em que a pessoa comeu tanto, que não aguenta mais nada, não consegue nem olhar para a comida, que sente enjoo. Hemã usa a mesma palavra aqui. A minha alma está farta, mas não é de alegria, é de males. Não aguento mais sofrer, não suporto mais, já tomei tudo o que tinha de tomar de sofrimento nesse mundo [9].

4º - Ele se vê esquecido por Deus (Sl 88.4). Observe que ele diz que foi o Senhor que o havia colocado no mais profundo abismo. O salmista cria na soberania de Deus. Foi o Senhor que fez isso. No entanto ele não fica ressentido com Deus, diferentemente de muitos que acham que Deus tem a obrigação de nos livrar de todos os males. Que Ele deve nos manter em uma redoma onde nenhum mal nos atinja.

São poucos que têm a maturidade espiritual de falar como Jó falou: “Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2.9,10).

Hemã era um homem em quem a doutrina da soberania de Deus em nenhum momento conflitava com o seu desejo de orar. O mesmo Deus que permitiu o mal é o mesmo Deus que tem poder para retê-lo. Mas observe que Hemã não determina, não decreta e não toma posse. Ele ora (Tg 5.13).

Quantos personagens bíblicos que passaram por momentos de “abandono” de Deus. Ao lermos a história de José vemos isto (Gn 45.5-8); de Jó (1,2, 42.4-6), de Dorcas que ficou doente e veio a morrer (At 9.36-43) e a do amigo íntimo de Jesus, Lázaro (Jo 11). Todos esses, isso sem contar Paulo que terminou seus últimos dias de vida preso e abandonado pelos seus amigos e, posteriormente, decapitado por ordem de Nero (2Tm 4.9-18).

Mas foi esse mesmo Paulo que nos deixou registrado uma palavra de vitória eterna:

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas. Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu” (2Co 4.17,18, 5:1,2).

5º - Ele se vê entre os mortos (Sl 88.5,6). É tanto sofrimento que ele diz que já está contado como alguém que morreu. Atirado entre os mortos, ele foi esquecido, tal como sucede aos soldados mortos em batalha quando as coisas saem erradas para um exército. Os soldados agora estão todos mortos, e quem poderia cuidar deles? Seus cadáveres são despejados na fossa comum, e eles são esquecidos. O próprio Elohim os esquece. Agora não são mais entidades vivas, porque não têm mais respiração nem há sangue circulando em suas veias. Não passam de uma massa de carne podre, terrível, horrenda, fedorenta, inútil, desprezível, digna de comiseração [10]. Essa era a visão que este homem tinha de si mesmo. Ele se sentia um moto esquecido e sem honra em seu sepultamento.

Naquela época, no campo de batalha, quando o soldado era ferido [...], os seus colegas o pegavam pelo pé e pelas mãos, balançavam e jogavam em cima de um monte de cadáveres. Ele poderia até dizer: por favor, estou vivo ainda! Mas seus amigos diriam: nós sabemos que você está vivo, mas é só uma questão de tempo, a sua ferida é mortal, você está contado entre os mortos, a sua ferida é mortal, você está contado entre os mortos, mesmo que que esteja vivo. É assim que Hemã se sentia [11].

Espero que você nunca tenha se sentido assim e nem venha se sentir assim. Mas há muitas pessoas se sentindo assim. Mas não é porque Hemã tinha este sentimento que isso estava acontecendo. Veja o que nos fala Is 41.3: “O SENHOR o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama”.

6º - Ele se vê castigado por Deus (Sl 88.7,14-16). Temos aqui menção à ira de Deus, não no pós vida, mas, sim, administrada nesta vida física, expressa através de alguma enfermidade que o homem carregaria através de toda a sua existência terrena, desde a sua juventude, conforme vemos no v. 15 deste salmo. Poderíamos presumir que o homem lançava a culpa de sua enfermidade sobre um ou mais pecados que tivesse cometido, talvez até pecados desconhecidos para a sua mente consciente. Yahweh era então visto como a Única Causa e, se alguém adoecesse (de acordo com a teologia padrão dos hebreus), tal homem deveria ter pecado em algum ponto de sua vida para merecer tal agonia. Assim também, no livro de Jó, seus “consoladores molestos” voltavam a atiçar, por vezes sem conta, a ideia de que sua enfermidade era um castigo contra o pecado, a colheita do que ele havia semeado [12].

Infelizmente ainda existem muitas pessoas em nossas igrejas que comparam a enfermidade ao pecado que a pessoa cometeu. Os amigos de Jó ainda falam hoje, ainda que muitas vezes calados. E muitas vezes nós caímos nesse erro também. Muitas vezes tentamos justificar um problema que um irmão está enfrentado a algo que ele praticou ou intentava praticar.

Não estou com isso dizer que não existam consequências do pecado, o que quero dizer que é melhor fecharmos as nossas bocas e parar de tentar descobrir o porquê do sofrimento na vida dos outros. Como disse Paulo a Timóteo: Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1Tm 4.16).  

O salmista via a sua enfermidade, que era desde a sua juventude, como a ira de Deus sobre ele. Eu sei que existe consequências do pecado, mas nem toda enfermidade ou problemas que enfrentamos é por causa disso.

7º - Ele fora abandonado pelos seus amigos (Sl 88.8,18). Hemã era um pária na sociedade. É bem provável que Hemã estivesse com lepra, por isso estivesse sozinho, abandonado por todos.

Observe que o texto diz que ele estava preso e não podia sair. Isso nos remete para o vírus que tem atingido o mundo hoje. O coronavírus tem feito com que as pessoas contaminadas fiquem isoladas em casa para não contaminarem ninguém. Outros, devido ao medo extremo, não saem de casa para não serem contaminadas. Se fôssemos trazer para os dias de hoje, esta enfermidade seria comparada ao coronavírus.   

Apesar do salmista está preso em casa, isso não impedia que as suas orações chegassem até o Céu, ao Trono de Deus. Podemos estrar presos a um leito, a uma cadeira de rodas, ou até mesmo, devido ao nosso testemunho cristão, em uma cela, mas nada disso impede a nossa comunhão com Deus.

O apóstolo Paulo escreveu Filemom, Filipenses, Colossenses, Efésios da prisão de Roma e no final da vida ele escreve 2 Timóteo também da prisão. As enfermidades e os problemas da vida não podem nos afastar da presença do Senhor.

8º - Ele limita a glória de Deus somente para esta vida (Sl 88.10-12). O salmista foi limitado em sua perspectiva espiritual porque ele não possuía uma compreensão adequada da vida após a morte. Devido a isso, Hemã argumenta que sua morte privará Deus da grande oportunidade de demonstrar seu poder e glória. Que serventia Hemã teria para o Senhor no sheol? [13]. Na visão de Hemã Deus deixaria de ser glorificado com sua morte. Mas se pensarmos assim nenhum crente fiel deveria morrer.

No entanto, até a morte dos Seus servos glorifica o Senhor. Veja o que nos fala o Salmo 116.15: “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos”.

3 – POR QUE DEUS PERMITE QUE O SOFRIMENTO NOS ACONTEÇAM?

Em cada geração, surgem protestos, dizendo: “Se Deus é bom, não deveria haver dor, sofrimento e morte neste mundo”. Já ouvi esse argumento até de cristãos.

Então, surgem as perguntas: “Por que sofre o justo?”; “Por que o cristão, protegido pelo amor de Deus, padece tribulações?”; “Por que o ímpio, que amaldiçoa e escarnece da divindade parece vencer e prosperar em todas as coisas? (Sl 73). “Como explicar que alguém no vértice de sua comunhão, com Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo, se veja de repente soterrado pela adversidade, pela tragédia e pela destruição?”

Estas perguntas não são novas. Foram sempre a arma maliciosa e cruel que os céticos e materialistas usaram, e ainda usam, para ridicularizar e pôr em dúvida a confiança e a firmeza dos fiéis, ao se encontrarem falidos e desamparados. Estas perguntas têm sido um dilema insolúvel até mesmo para os religiosos mais sinceros de todos os tempos. Nos dias de Jesus, após a realização de uma cura, indagaram-lhe os seus discípulos: “Mestre quem pecou para que este homem nascesse cego, ele ou seus pais?” (Jo 9.2).

Para responder a esses questionamentos vou me valer da resposta dada pelo Reverendo Augustus Nicodemus [14].

1º -  Deus permite o sofrimento na vida dos seus filhos para que eles se lembrem que o céu não é aqui. O Salmo 23 nos mostra essa realidade. Aqui passaremos “pelo vale da sombra da morte”. O que acontece, às vezes, é que acostumamos com este mundo passageiro, com este século. Queremos construir nossas barracas aqui, armar nossas tendas, elevar as nossas casas, fazer nossos negócios, como se fôssemos viver para sempre aqui. Mas veja o que nos fala João em sua primeira epístola: “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2.17).  

2º - Deus permite o sofrimento para que lembremos da seriedade do pecado. A redenção que Deus nos oferece está em Cristo Jesus, mas aqui neste mundo, Deus deseja que seu povo entenda e perceba a seriedade do pecado e as graves consequências do pecado, a pondo de Ele ter que mandar seu Filho para nos redimir, raça rebelde. O sofrimento vem por conta disso.

3º - Deus permite o sofrimento para termos mais comunhão com Ele em oração. A maioria dos crentes só oram quando está passando por tribulação. Veja que Hemã é um homem que está em oração. Como ele aprendeu a orar? Foi no sofrimento. Se tem uma escola que ensina a orar e a ser crente é a escola do sofrimento. Por isso, não jogue fora a sua dor. Como disse John Piper: “Não Desperdice Seu Câncer”.

Não desperdice o seu sofrimento, porque são essas coisas que Deus usa como mestres para criar caráter em você.

4º - O sofrimento de Hemã é um símbolo do sofrimento de Cristo por nós. Tudo isso, e muito mais, Jesus passou sendo inocente. Os sofrimentos de Hemã não são nada, comparados ao sofrimento de Cristo por você e por mim. Por isso, quando você estiver sofrendo, pare de se queixar de Deus, não fique ressentido, tire a mágoa do seu coração e lembre que muito mais o Senhor Jesus sofreu por nós na cruz do Calvário, levando sobre si os nossos pecados. Ele vivenciou o inferno para que hoje nós tivéssemos os nossos nomes escritos no Livro da Vida.

CONCLUSÃO

Eu não posso imaginar o grau de sofrimento que você está sofrendo, e nem quero com essas palavras menosprezar o seu sofrimento. Se Deus está permitindo o sofrimento em sua vida isso não quer dizer que Ele não esteja lhe abençoando com sua presença e com sua graça.

Observe a vida do apóstolo Paulo. Quando o espinho passou a ferir a sua carne, a primeira coisa que ele fez foi orar pedindo a Deus que o livrasse daquele mal. No entanto o Senhor se manteve em silêncio diante das suas três orações. Quando o Senhor lhe responde lhe diz o motivo de tanto sofrimento:

E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte” (2Co 12.7-10).

Assim como o Senhor permite o sofrimento na vida do crente, da mesma forma Ele também nos livra de muitos males. Mas independente de estamos vivendo uma vida tranquila ou se estamos passando por tribulação, entenda uma coisa, a graça do Senhor é quem nos sustenta e nos fortalece.

Pense nisso!

Bibliografia

1 – Wiersbe, Warren W. Poéticos, comentário bíblico expositivo, V. 3, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2012, p. 236.

2 – Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Vol. 4, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2001, p. 2324.

3 – Lopes, Augustus Nicodemus. E Se Deus For Contra Nós? Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2018, p. 81.

4 – Ibidem, p. 83.

5 – Wiersbe, Warren W. Poéticos, comentário bíblico expositivo, V. 3, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2012, p. 237.

6 – Calvino, João. Salmos, vol. 3, Ed. Fiel, São José dos Campos, SP, 2012, p. 389.

7 – Spurgeon, Charles. Os Tesouros de Davi, Vol. 2, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2017, p. 614.

8 – Ibidem, p.615.

9 – Lopes, Augustus Nicodemus. E Se Deus For Contra Nós? Ed. Hanos, São Paulo, SP, 2018, p. 87.

10 – Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Vol. 4, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2001, p. 2325.

11 – Lopes, Augustus Nicodemus. E Se Deus For Contra Nós? Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2018, p. 88.

12 – Champlin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Vol. 4, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2001, p. 2326.

13 – Wiersbe, Warren W. Poéticos, comentário bíblico expositivo, V. 3, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2012, p. 237.

14 – Lopes, Augustus Nicodemus. E Se Deus For Contra Nós? Ed. Hanos, São Paulo, SP, 2018, p. 94-100. 

domingo, 16 de maio de 2021

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lucas 8.4-15

INTRODUÇÃO

Esta parábola encontra-se também em Mateus 13 e Marcos 4 sendo que esses dois evangelistas identificam a parábola com um lugar – além do mar da Galileia – enquanto Lucas foca a audiência vindo a Jesus “de várias cidades” (Lc 8.4). Jesus transformava de fato cada encontro em uma oportunidade para ensinar e, quando grandes multidões se reuniam, como aqui, ele, com frequência, ensinava em parábolas [1].

Antes de analisarmos a parábola do semeador devemos responder algumas perguntas:

Primeiro – Quem é o semeador? Lucas 8.1 nos diz: “E aconteceu, depois disto, que [Jesus] andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus”. O semeador dentro desse contexto é identificado como a pessoa de Jesus que estava iniciando seu ministério itinerante pregando de cidade em cidade e de aldeia em aldeia (Mt 13.37). Antes de sua ascensão Jesus deixou essa incumbência com a igreja (Mt 28.19,20; Mc 16.15,16 e Lc 24.46,47).

Segundo – Que semente é esta? A semente é a palavra de Deus, o Evangelho do Reino (Lc 8.11). A semente, que é a Palavra de Deus é boa, a dificuldade dela germinar é devido ao solo que ela cai. Dos quatro tipos de solos que a semente caiu, somente em um ela germinou e deu fruto. A semente quando germina produz frutos que nos são descritos em Gl 5.22,23.     

Terceiro – O que representam esses solos? Esses solos representam os tipos de solos encontrados na Palestina, mas também é uma representação do coração do homem. Jesus deixa claro que a questão não é a mensagem do Evangelho (a semente), nem é a habilidade ou metodologia daqueles que a proclamam. O fator determinante é a condição do coração do ouvinte. No livro de Provérbios lemos: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).

É interessante destacarmos também que o semeador não lança a semente em qualquer terreno; ele quando lança suas sementes ele as lança em terreno preparado. Em terreno já limpo, afofado, adubado e com as covas prontas. Mas aqui, como se trata do terreno do coração, o semeador (a igreja) não conhece o estado do coração dos ouvintes. Ele não sabe se a terra é caminho pisado por pessoas, se é há pedregais, se há espinhos ou se é terra preparada para o plantio é um solo totalmente bom para receber a semente.  

Mas uma coisa nós sabemos, Jesus disse que quem prepara o campo para que a semente da Palavra germine é o próprio Pai. Como Ele nos fala em João 15.1: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Quem lavra a terra do coração para que a boa semente germine é o próprio Deus. É Ele quem prepara o terreno, aduba o solo, faz as covas e faz com que a semente lançada dê muito fruto.        

Quarto – Por que Jesus ensinava por parábolas? As parábolas eram uma forma comum de ensino no judaísmo. A parábola é uma história baseada na experiência do povo, que dava para ilustrar, revelar e lembrar aos ouvintes preparados as verdades espirituais. Sem uma explicação, uma parábola pode significar qualquer coisa ou nada; é pouco mais do que um enigma. Ao apresentar seu ensino em parábolas, Jesus escondeu a verdade aos incrédulos e revelou apenas para seus fiéis seguidores (Lc 8.9,10 conf. Mt 13.13-15).

As parábolas exigem pensamento e seriedade espiritual. Separam o interessado sincero do ouvinte casual [2]. Os Evangelhos registram cerca de sessenta diferentes parábolas de Jesus, a maioria delas em Mateus (17) e Lucas (18), menos em Marcos (13) e nenhuma em João. A maioria das parábolas de Jesus tem a intenção de ensinar algo sobre o reino de Deus, o que ele ilustrava com episódios do dia a dia de pescaria e lavoura, do cuidado da casa e vida familiar, da natureza e banquetes. Elas confrontavam com frequência os ouvintes com o inesperado, confundindo-os e os forçando a perceber as coisas sob uma nova luz [3].

Os ensinamentos de Jesus em parábolas era um cumprimento profético como nos fala Mateus 13.13-16: “Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem” (Mt 13.13-16).   

Por que Jesus contou esta parábola? Porque a maioria daquelas pessoas que seguia a Cristo não produziria frutos dignos de arrependimento. O coração delas era uma espécie de solo pobre [4]. Apesar de ser uma multidão que o seguia, eram poucos os que se interessavam realmente pela verdade do Evangelho.

Jesus descreveu quatro tipos de solo – coração, sendo que três deles não produziram fruto. A prova da salvação encontra-se nos frutos, não apenas em ouvir a Palavra ou em professar a fé em Cristo. Jesus já havia deixado isso claro em seu “Sermão do Monte” (Lc 6.43-49; ver também Mt 7.20) [5].

Vejamos os quatro tipos de solos e a forma como eles reagiram em relação a semente lançada.

1 – O PRIMEIRO SOLO – O CORAÇÃO ENDURECIDO (Lc 8.4,5,12).

Jesus não estava se referindo a uma rua ou estrada, mas estava se referindo os caminhos batidos que separavam as tiras estreitas de terra cultivada. Os agricultores usaram esses caminhos para acessar seus campos arados, e os viajantes usou para viajar pelo interior (cf. Mt 12. 1.). Os caminhos não foram lavrados, e no clima seco, semiárido de Israel que se tornaria praticamente tão duro como concreto. A semente que caiu sobre esses caminhos não tinha nenhuma chance de penetrar no solo duro.

Quais são as características desse coração duro?

1º - Um coração duro a semente nele é pisada (Lc 8.5). A Palavra de Deus é pisada pelas pessoas que caminham por esses trilhos que se formam no coração. Essa semente de vida que o diabo teme é menosprezada por tais pessoas. [Esse é um] coração inquieto e perturbado com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam e todas que passam e, neste coração, é pisada a palavra de Deus [6].

O coração pode ser endurecido por muitas coisas que nele passa. Há certas pessoas e influências que passam na vida de todos nós, criando esses trilhos de terra batida [7]. O que pode endurecer o coração de uma pessoa para não dar atenção a Palavra de Deus?

1 – Amigos e conhecidos. Pessoas que direta ou indiretamente nos influenciam para nos afastar de Deus e darmos a devida atenção a Sua mensagem. Pessoas que pisaram nosso coração no decorrer dos anos nos fazendo pessoas duras e indiferentes as coisas de Deus. Muitas dessas pessoas talvez oriundas de alguma igreja, mas que pelo seu mal testemunho nos influenciaram para longe de Deus e de Sua Palavra.

3 – Mágoas e ressentimentos. Se há algo que endurece um coração são as mágoas e os ressentimentos guardados em nossos corações no decorrer dos anos. Pessoas que passaram por nossas vidas e deixaram o nosso coração ferido e cheio de mazelas. Com isso a pessoa fica com o coração endurecido para novos relacionamentos, não se “afofa” para novas possibilidades, principalmente se o que “pisou seu coração” foi algo ocorrido dentro da igreja. Devido a isso as pessoas se fecham para Deus e Sua Palavra. Mas lembre-se de uma coisa: pessoas nos magoam, mas nós também magoamos as pessoas.  

3 – Pela cultura que estamos inseridos. Todos os dias somos bombardeados por “amigos” mas também pela mídia e pela sociedade que faz de tudo para nos afastar de Deus (a cultura de hoje zomba de Deus de seus servos). Aquilo que lemos e o que assistimos poderá afetar a nossa mente e emoções. Essa cultura é chamada na Bíblia de mundo e os que nele habitam e estão longe de Deus são chamados de anticristos (1Jo 2.15-18).

4 – Pelo pecado. Como disse Jesus em Mateus 15.19: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias”. Um coração não regenerado é pisado pelo pecado, sendo assim, é um coração indiferente as coisas de Deus.

O solo se torna duro quando muitos pés transitam por ele. Aqueles que abrem seu coração para todo tipo de pessoas e influências estão em perigo de desenvolver um coração insensível [8].

2º - Um coração duro a semente nele é roubada pelo diabo (Lc 8.12). No versículo 5 o Senhor diz que as aves do céu a comeram. Essas aves representam o diabo que tira do coração das pessoas a Semente lançada. Isso nos desperta para algo que muitas vezes não atentamos: onde a Palavra de Deus é pregada o diabo irá se apresentar para “comer” a Semente lançada. Por isso que o culto é um campo de batalha.   

Lucas afirma que é o diabo (diábolos) que rouba a palavra ouvida dos corações, Mateus o designa de maligno (ponerós), Marcos o chama de Satanás (satanas). Nesta explicação a atividade do diabo é vista apenas em paralelo com a circunstância. Assim como a semente não acolhida serve de comida para os pássaros, assim a palavra de Deus não acolhida pelo ouvido do coração se apresenta como despojo para o diabo. Para frustrar a eficácia da palavra, o diabo a retira novamente, fazendo com que ela caia no esquecimento [9]. E como o diabo faz isso? Cegando o entendimento dos incrédulos (2Co 4.4).

Curiosamente, essas pessoas de coração duro muitas vezes não são ateus, mas altamente sérias e religiosas. Um bom exemplo foi os líderes religiosos judeus do tempo de Cristo. No entanto, suas mentes estavam fechadas para a verdade de Deus que eles odiavam, faziam oposição e, finalmente, mataram o próprio Messias que eles esperavam (cf. Mt 21.33-46).

2 – O SEGUNDO SOLO – O CORAÇÃO SUPERFICIAL (Lc 8.6,13).

O raso solo rochoso é alguém que faz uma profissão de fé superficial. Essas pessoas parecem à primeira vista, o oposto dos mais duros de coração representados pelo solo de beira de estrada. Longe de rejeitar a verdade quando a ouvem, eles inicialmente recebem a palavra com alegria. Sua euforia pode convencer muitos que sua conversão é real. Eles não são apenas interessados e receptivos, mas também exuberantes e alegres, mas não por muito tempo. O problema é que uma vez que estes não têm raiz firme eles apenas creem por algum tempo.

Podemos destacar três características do coração superficial:

1º - Um coração superficial age somente pela emoção. Lucas nos diz que tais pessoas recebem a Palavra com alegria. A emoção é um elemento importantíssimo na vida cristã, mas só ela não basta. Ela precisa proceder de um profundo entendimento da verdade e de uma sólida experiência cristã [10].

Como disse J. C. Ryle: “As lágrimas de alguns ouvintes do Evangelho e a extravagante alegria de outros não constituem evidências seguras da conversão. Podemos ser ardentes admiradores de certos pregadores favoritos e, assim mesmo, não permanecermos melhores do que os ouvintes comparados a semente que caiu sobre as pedras [11].

2º - Um coração superficial não tem profundidade e nem perseverança. O texto nos fala “mas, como não têm raiz, apenas creem por algum tempo”. Perseverança é a marca genuína fé salvadora. “Se vós permanecerdes na minha palavra”, Jesus disse a alguns que professavam a fé nEle, “verdadeiramente sereis meus discípulos” (Jo 8.31). Paulo escrevendo aos Colossenses diz que a prova de que eles foram reconciliados com Deus era se “permanecerdes fundados e firmes na fé” (Cl 1.23). O escritor de Hebreus lembrou seus leitores: “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até o fim” (Hb 3.14; 4.14; Mt 24.13).

Essa semente cai sobre uma superfície excessivamente fina, assim a palavra anunciada não encontra nesses ouvintes uma incompreensão total, mas uma superficialidade de entendimento, pelo que a palavra não é profundamente refletida e guardada no coração [12].

3º - Um coração superficial não suporta o tempo da provação. O que torna evidente que a fé daqueles que são simbolizados pelo solo rochoso é a superficialidade e não a perseverança na hora da provação. O calor escaldante do sol revela que as plantas no solo rochoso não têm uma estrutura de raiz profunda. Por causa do que eles são incapazes de tirar os nutrientes e umidade do solo que eles precisam para sobreviver. Da mesma forma acontece com a fé superficial, quando vem a tentação (peirasmos – tentação), angústia e perseguição (Mt 13.21), essa falsa profissão de fé não perdura diante das provações.

Jesus falou que essa semente lançada sobre pedras não tinham umidade (Lc 8.6). A perseguição aprofunda as raízes do verdadeiro cristão, mas acaba por expor a superficialidade do falso cristão [13].

Hoje vemos muitas pessoas pregando saúde, prosperidade e sucesso. As pessoas abraçam imediatamente esse evangelho do lucro, das vantagens imediatas, mas elas não perseverarão, porque não têm raiz, não têm umidade, não suportam o sol, não permanecerão na congregação dos justos. Elas se escandalizarão e se desviarão. Muitas das pessoas que gritaram Hosanas quando Jesus entrou em Jerusalém gritaram crucifica-o na mesma semana. O apóstolo João diz que esses que se desviam não são dos nossos (1Jo 2.19); os salvos, porém, perseverarão (Jo 10.27,28) [14].

3 – O TERCEIRO SOLO – UM CORAÇÃO OCUPADO COM AS COISAS DESTA VIDA (Lc 8.7,14).

Devido à variada topografia e geologia da Palestina, parte dela, semiárida, a região era conhecida pela enorme variedade de espinhos, cardos e urzes. Mais de duzentas espécies de ervas indesejáveis tomavam conta das terras cultivadas, competindo com as plantações obtidas com tanto esforço. O agricultor tinha que lutar incessantemente para ter uma boa plantação e conservar seus campos livres de ervas estranhas. Essas ervas – espinhos, abrolhos, cardos e urzes – possuíam a horrível capacidade de se multiplicar demasiadamente, e sufocar a plantação de tal forma, que ela ficava mirrada e abafada. E, praticamente, não havia produção de fruto [15].

Os ouvintes que correspondem a esse tipo de solo não se opõem à proclamação da palavra com dura incompreensão nem com superficialidade de entendimento, mas existe neles uma discrepância do coração, uma dicotomia dos sentidos. Tendências pecaminosas secretas, como preocupações ou ambições de riqueza ou prazeres da vida preenchem o coração e não são eliminadas. A semente cresce nesse solo contaminado, mas não atinge a maturação porque os espinhos crescem viçosos com ela, sufocando as plantas [16].

O terreno espinhoso representa aqueles cujas vidas estão tão ocupadas que as coisas de Deus não têm lugar nelas. Devemos recordar sempre que as coisas que afogam os melhores não são más necessariamente. Pode ser que em si mesmas sejam muito boas. O pior inimigo do melhor é o bom [17].

Quais são as características de um coração ocupado?

1º - Um coração ocupado dá atenção demasiada as coisas deste mundo (Mt 13.22). Em Mateus lemos: “mas os cuidados deste mundo... sufocam a palavra, e ela fica infrutífera”. Esse ouvinte chegou a ouvir a Palavra, mas os cuidados do mundo prevaleceram. O mundo falou mais alto que o evangelho. As glórias do mundo tornaram-se mais fascinantes que as promessas da graça. A concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida tomaram o lugar de Deus na vida desse ouvinte. Ele pode ser chamado de crente mundano. Ele quer servir a dois senhores. Quer agradar a Deus e ser amigo do mundo. Quer atravessar o oceano da vida com um pé na canoa do mundo e outro dentro da igreja [18].

2º - Um coração ocupado está ansioso demais com as preocupações da vida. Podemos falar de “preocupações corrosivas”, isto é, preocupações que devoram pouco a pouco a alma de uma pessoa. A preocupação não só desfibra a resistência à enfermidade, abreviando assim a vida, mas também impede que alguém se concentre nas bênçãos que Deus está constantemente provendo. Jesus disse muitas coisas preciosas sobre esse assunto (Lc 12.4-12, 22-34; cf. Mt 6.25-34; 10.19, 20, 28-31) [19]. Podemos chamar de ansiedade excessiva com os problemas da vida, sejam eles reais ou imaginários.

3º - Um coração ocupado é seduzido pelas riquezas (Lc 8.14). Paulo escreveu sobre essas pessoas, “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína” (1Tm 6.9). O apóstolo João advertiu seus leitores:

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2.15-17).

Esse ouvinte dá mais valor à terra que ao céu, mais importância aos bens materiais do que à graça de Deus. O dinheiro é o seu deus. A fascinação da riqueza fala mais alto que a voz de Deus. O esforço para conseguir uma posição social, por meio de posses e segurança material traz ansiedade tal que sufoca as aspirações por Deus [20].

4º - Um coração ocupado está sufocado com os deleites da vida (Lc 8.14). O apóstolo Paulo disse que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos porque os homens serão “mais amigos dos deleites do que amigos de Deus” (2Tm 3.4).

Não há nada de errado em desfrutar das coisas que Deus nos oferece graciosamente (1Tm 6.17). A prioridade, no entanto, é a de “buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Aqueles que entendem o verdadeiro valor do Evangelho estão dispostos a abrir mão de tudo para possuir o Reino de Deus, isso era o que o Senhor estava mostrando para os seus discípulos (Mt 13.44-46).

5º - Um coração ocupado não produz frutos perfeitos (Lc 8.14). Quem tem um coração cheio de espinhos chega perto da salvação, mas, ainda assim, não produz “frutos perfeitos” [21]. Como um câncer que prolifera gradualmente mata o corpo, ou como um parasita destrutivo pouco a pouco destrói aquilo que o alimenta, assim esses “espinhos” lentamente, porém com constância, submergem a alma daquelas pessoas que lhe dão as boas-vindas. Tais indivíduos jamais amadurecem. Não chegam a produzir fruto “para a vida eterna” (Jo 4.36). “Demas me abandonou, porque se afeiçoou do presente mundo” (2Tm 4.10; cf. lJo 2.16) [22].

4 – QUARTO SOLO – UM CORAÇÃO FRUTÍFERO (Lc 8.8,15).

Em contraste com os primeiros três solos, a semente em boa terra produz salvação genuína. Este último solo representa aqueles que ouviram a palavra em um coração honesto e bom, sem duplicidade. Eles são aqueles que entendem a palavra (Mt 13.23), que a aceitam (Mc 4.20), e a obedecem (Lc 11.28; Jo 14.15, 21; 15.10). Ao contrário do solo de beira de estrada, onde a semente nunca penetra, o solo rochoso onde brota de forma breve, e o solo espinhoso onde é sufocada, o bom solo é devidamente preparado. A semente vai crescer em plantas maduras que dão fruto com a perseverança que marca a fé genuína.

Quais as características de um coração frutífero?

1º - Um coração frutífero guarda a Palavra (Lc 8.15). Como disse Davi: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119.11). Essa parábola nos ensina a fazer três coisas: ouvir, receber e praticar. Nesses dias tão agitados, poucos são os que param a fim de ouvir a Palavra. Mais escasso são aqueles que meditam no que ouvem. Só os que ouvem e meditam podem colocar em prática a Palavra e dar frutos [23].  

2º - Um coração frutífero é perseverante (Lc 8.15). Eles não apenas retêm a palavra ouvida, mas permitem que ela amadureça. Os verdadeiros ouvintes, que conservam a palavra, evidenciam-se como persistentes, constante e fiéis na produção de frutos, de modo que haja frutos cada vez mais ricos [24]. O que distingue esse campo dos demais é que nele a semente não apenas nasce e cresce, mas o fruto vinga e cresce. Lucas diz que ele frutifica com perseverança. Jesus está descrevendo aqui o verdadeiro crente, porque fruto, ou seja, uma vida transformada, é a evidência da salvação (2Co 5.17; G1 5.19-23). A marca do verdadeiro crente é que ele produz fruto (Jo 15) [25].

3º - Os inimigos que impedem a frutificação. No coração endurecido, Satanás mesmo rouba a semente; no coração superficial, os enganos da carne através do falso sentimento religioso impedem a semente de crescer; no coração ocupado, as coisas do mundo impedem a semente de frutificar. Esses são os três grandes inimigos do cristão: o diabo, a carne e o mundo (Ef 2.1-3) [26].

Outro ponto importante que devemos destacar é que [muitas pessoas pensam que] o solo não pode ser responsabilizado pela constituição diversa do terreno. Por outro lado, não foi sem decisão consciente da vontade que o ouvinte veio a ter a forma atual de terreno em seu coração. Por isto, a responsabilidade do ouvinte permanece sempre e integralmente válida diante da palavra de Deus [27]. O solo representa o estado do coração de cada pessoa. Isso nos mostra mais uma vez que sem a graça de Deus ninguém alcançará a salvação.

CONCLUSÃO

O semeador saiu a semear a Palavra. A Palavra é boa e frutifica quando cai em um solo preparado para ela – a boa terra. Nesse solo a semente produz a cento por um. No entanto, devemos entender que o problema da não frutificação não está somente no solo ruim, mas também no tipo de semente que se tem plantado. Como disse John MacArthut: “alguns alteram a semente ou fabricam semente sintética. Tentam atualizar a mensagem, amenizam o escândalo da cruz, deixam as patres difíceis ou impopulares para lá. Muitos simplesmente substituem o evangelho por uma mensagem completamente diferente [28].

Vivemos dias que muitos “semeadores” estão semeando uma falsa semente. Há muitos semeadores que semeiam doutrinas de homens, e não a Palavra. Semeiam o que os homens querem ouvir, e não o que eles precisam ouvir. Semeiam o que agrada aos ouvidos, e não o que salva a alma. Essa semente pode parecer muito fértil, mas não produz fruto que permanece para a vida eterna.

Outros pregadores pregam palavras de Deus, e não a palavra de Deus. O diabo também pregou palavras de Deus, mas ele usou a Bíblia para tentar. Palavras de Deus na boca do diabo não são a palavra de Deus, mas palavra do diabo.

Quem tem ouvido para ouvir ouça a Palavra de Deus e viva através dela.

Pense nisso!

Bibliografia

1 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 310.

2 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p.142.

3 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 311.

4 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 230.

5 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 258.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 230.

7 – Keller, W. Phillip. Fruto do Espírito Santo, Ed. Betânia, Venda Nova, MG, 1981, p. 17.

8 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 230.

9 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 124.

10 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 233.

11 – Ryle, J. C. Meditação no Evangelho de Lucas, Ed. Fiel, São José dos Campos, SP, 2002, p. 121,122.

12 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 124.

13 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 259.

14 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 233,234.

15 – Keller, W. Phillip. Fruto do Espírito Santo, Ed. Betânia, Venda Nova, MG, 1981, p. 40,41.

16 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 125.

17 – Barclay, Willian. O Evangelho de Lucas, O Novo Testamento Comentado, p. 88.

18 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 235.

19 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 571.

20 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 236.

21 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 259.

22 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 571,572.

23 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 236,237.

24 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 125.

25 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 237.

26 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 237.

27 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 125.

28 – MacArthur, John. As Parábolas de Jesus, Ed. Thomas Nelson, Rio de Janeiro, RJ, 2018, p.55.

Recomendo a leitura do livro As Parábolas de Jesus comentadas por John MacArthur da Editora Thomas Nelson. 

sábado, 8 de maio de 2021

JOQUEBEDE, UMA MÃE QUE PRESERVOU A VIDA DE SEU FILHO

Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Êxodo 1.8-22, 2.1-10

INTRODUÇÃO 

No livro de Êxodo capítulo 2.1-10, conta a história de Joquebede, uma mãe de muita coragem. Joquebede (Heb. “O Senhor é glória”). Descendente de Levi, nasceu na época em que os israelitas estavam no Egito. Foi esposa de Anrão (seu sobrinho) e mãe de Miriã, Arão e Moisés (Êx 6.20). Seu filho caçula nasceu na época em que Faraó decretara a morte de todas as crianças israelitas do sexo masculino (Êx 1.15-22). Ela guardou o filho por quase três meses, até que ele ficou muito grande e não tinha mais onde escondê-lo em casa. Joquebede então adquiriu um cesto feito de juncos, o qual calafetou com betume e piche; colocou o menino dentro, levou o cesto à margem do rio Nilo e depositou-o entre a vegetação.

A filha do Faraó desceu ao rio para banhar-se e encontrou o bebê; ao perceber que se tratava de um hebreu, ficou com pena dele (Êx 2.5,6). Miriã, irmã de Moisés, recebera instrução para vigiar o cesto; ciente do que acontecia, correu até a princesa e apresentou-lhe Joquebede, a própria mãe do menino, para cuidar dele e amamentá-lo! “Sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adotou. Ela lhe pôs o nome de Moisés, e disse: Das águas o tirei” (Êx 2.10) [1].

1 – O PERIGO RONDA A NOSSA CASA (Êx 1.15,16,22).

O livro de Êxodo 1.8-22 nos mostra que o novo Faraó que havia se levantado não conhecia José. O Faraó que tinha favorecido a José provavelmente era um dos reis hicsos. Aquela foi uma dinastia de invasores semitas, e não de nativos camitas. Na história, eles são conhecidos como reis pastores. O Egito, porém, acabou libertando-se dos estrangeiros. Talvez o novo rei tenha sido o primeiro monarca forte da 19ª Dinastia, Ramsés II. Ele representava uma nova era. José tinha sido uma grande bênção para o Egito. Agora, porém, Israel tornara-se uma ameaça aos olhos dos egípcios. Ramsés II reinou de 1290 a 1224 a. C. Na esperança de recuperar seu perdido império asiático, os faraós mudaram sua capital de Tebas, conforme tinha sido na 18ª Dinastia, para o delta do rio Nilo [2].

O Senhor no controle da história. Assim lemos em Romanos: “Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (Rm 9.17). A visão humana da história é muito limitada, muitas vezes nos esquecemos das histórias passadas e não planejamos o futuro. Nós cristãos ao lermos a Bíblia não deveríamos nos surpreender com os fatos ao nosso redor temendo pelo nosso futuro. Assim como Deus agiu no passado, está agindo nos dias de hoje. Observe o que está escrito em Romanos 9.17, esse texto deixa claro que o Senhor continua com as Suas mãos firmes no leme guiando a história para o fim por Ele planejado.

Sob o governo de Amósis I, que expulsou os hicsos, os hebreus perderam as regalias desfrutadas durante o domínio dos reis pastores. Nessa época, não trabalhavam mais com a plena liberdade de antes, pelo contrário, eram obrigados a executar os serviços mais pesados como os demais estrangeiros por serem semitas e vistos como inimigos. Não é possível asseverar precisamente quando começou a escravatura cerrada; mas acredita-se que a situação do povo hebreu agravou-se à medida em que ocorriam as sucessões dos faraós. Tudo indica que Ramessés II foi o mais cruel deles [3].   

Diante desse fato, Faraó começou a perceber que o povo de Deus estava mais numeroso e forte que o seu povo (Êx 1.9) e ficou com medo de que no caso de uma guerra os Hebreus se unissem com os inimigos do rei e batalhassem contra eles (Êx 1.10) então determinou que as parteiras da época matassem todos os bebês hebreus que nascessem do sexo masculino, dessa forma o povo pararia de crescer e prosperar. As parteiras temeram a Deus e não obedeceram ao rei, então ele deu uma nova ordem dizendo a todo o povo que todos os filhos que nascessem dos Hebreus deveriam ser jogados no Rio Nilo, mas as meninas poderiam viver (Êx 1.22).

Os pais de Moisés esconderam-no o máximo que puderam. Sem dúvida as casas das famílias israelitas eram vasculhadas pelos homens do desesperado Faraó. Eventualmente, sua existência chegaria à atenção de alguma autoridade, ou até mesmo um vizinho qualquer poderia jogá-lo no rio Nilo, em obediência ao decreto do Faraó (Êx 1.22) [4].

Vivemos dias tenebrosos, os Faraós de ontem são os mesmos de hoje, e querem matar os nossos filhos para que eles não cresçam e se tornem missionários, se tornem libertadores, se tornem grandes líderes usados por Deus. O espírito maligno que atuava em Faraó e Herodes para matar as crianças continua atuando no mundo.

Ilustração: AS CRIANÇAS JOGADAS NO RIO

Certa vez, dois pescadores estavam sentados à beira de um rio, pescando. De repente, ouvem gritos fortes. Olhando para a parte de cima do rio, veem duas crianças descendo pelas águas e pedindo socorro. Mais que depressa, jogam-se na água e salvam as crianças.

Mal conseguem salvá-las, ouvem mais gritos. Agora são quatro crianças que vêm, debatendo-se nas águas correntes. Pulam no rio e conseguem salvar duas delas.

Aturdidos, os pescadores ouvem pela terceira vez gritos ainda mais fortes. Desta vez são oito crianças vindo na correnteza.

Um dos pescadores vira as costas para o rio e começa a ir embora. O amigo exclama:

- Você está louco? Não vai me ajudar? Sem deter os passos, o outro responde:

- Faça o que puder. Vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.

Existem duas necessidades básicas que temos que observar: a primeira é tentar salvar nossos filhos da morte no rio da perdição e a segunda, é tentar descobrir quem e como que nossos filhos estão sendo jogados no rio.

Essa história parece sem sentido para alguns, mas veja a matéria que saiu com Karla Tenório em depoimento a Marcelle Souza no dia 07/05/2021 04h00, na Universa UOL. A chamada da matéria diz: “Eu sou Karla Tenório, tenho 38 anos, sou atriz, escritora, tenho uma filha de 10 anos e sou uma mãe arrependida”. Transformei minha angústia em um movimento para amparar mulheres como eu: que não gostam da maternidade. Sou criadora do “Mãe Arrependida”, que visa a libertação da voz das mães que não são felizes como mães, que sofrem e sentem culpa por conta da maternidade. Palavras dela: “Eu sou a titular do cuidado físico da minha filha até que ela consiga se virar sozinha, mas, para a sociedade, não é só isso. A mãe é a responsável por aquela alma até o fim da vida, um arquétipo de santa, que está nos abençoando onde quer que a gente esteja. E eu não quero assumir esse papel, quero apenas ser feliz”. “Hoje eu sou uma pessoa que está se curando da culpa, desse arrependimento. Hoje sei que o amor incondicional não existe, ela passa por mim como uma brisa, sou tocada poucas vezes por esse êxtase, porque eu tive que desenvolver uma relação, sou obrigada a cuidar de uma pessoa”. [5].

Esta mulher é uma entre milhares que têm filhos, mas que não os amam e os veem como um empecilho em suas vidas. Por isso que as feministas lutam tanto para aprovar o aborto em nosso país. Mulheres que lançam seus filhos no rio para servirem de alimento aos crocodilos. O Egito é aqui!  

2 – DIANTE DO PERIGO JOQUEBEDE OUSOU ESCONDER SEU FILHO (Êx 2.1; Hb 11.23).

Aconteceu que nessa época de perigo de morte para os meninos hebreus que nasceu o filho de Joquebede, um menino lindo. Na língua original hebraica Ki tov que quer dizer que o menino era bom. Esta foi a mesma expressão usada por Deus no dia em que Ele fez a luz. Assim Joquebede pressentia que aquele menino simbolizava a aurora e representava uma nova era para o povo Hebreu.

A família conseguiu esconde-lo por três meses e quando viu que não podia mais escondê-lo colocou-o em um cesto de junco e depositou o cesto preso nos juncos à margem do rio Nilo. Sua outra filha Miriã acompanhou o menino até que ele foi encontrado pela filha do Faraó. Logo a irmã do bebê foi até a princesa e disse que conhecia uma mulher que poderia cuidar da criança pra ela. A princesa mandou chamar a mulher, deu o menino para que ela cuidasse e ainda lhe pagou um salário por isso. Quando o menino cresceu, a filha do Faraó o adotou como filho e colocou-lhe o nome de Moisés, que significa “retirado das águas”.

Joquebede foi a única escrava da história bíblica a receber um salário para criar o seu próprio filho. Nisso vemos a provisão de Deus cuidando dessa família e do ainda infante Moisés.

Podemos aprender muitas lições com as escolhas e atitudes de Joquebede.

1ª – Joquebede foi uma mãe corajosa (Êx 2.1,2; Hb 11.23). Diante do decreto de Faraó ela ousou esconder seu filho. Seu marido, Anrão passava o dia fora de casa, sujeito ao trabalho árduo, pois era escravo. Deus concedera temor às parteiras (Êx 1.21) para o seu filho viver, mas ele não estava livre da morte como lemos em Êx 1.22: “Então ordenou Faraó a todo o seu povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as filhas guardareis com vida”.

Diante disso, Joquebede não desistiu de lutar pela vida de seu filho, assim como seu esposo, apesar de estar ausente no trabalho. Ambos decidiram enfrentar Faraó e o seu maldito decreto (Hb 11.23).

Imagino quantas mães que perderam seus filhos nessa época. Umas porque os filhos lhes fora tirado à força, outras simplesmente porque obedeceram ao decreto de Faraó jogando seus filhos no rio Nilo (Êx 1.22). Talvez você fique surpreso com isso, mas não tem sido diferente hoje. Quantas mães que estão entregando seus filhos para Satanás fazer deles o que bem entende. Veja como muitas famílias “modernas” acham normal criarem seus filhos sem gênero – as famílias que seguem esse tipo de criação dão nomes neutros aos filhos e não informam o sexo. Essas famílias buscam por uma criação em que a criança possa ser mais independente, além de querer que seus filhos tenham a liberdade de poder escolher com que gênero se identificam mais. Tanto a mídia quanto a sociedade têm adotado essa ideia.

Saiu uma reportagem recentemente com esse título: “Maior congresso de sexualidade cristã do Brasil quer “restaurar” LGBTQI+”. Tem o nome de “cristã”, mas bem sabemos a quem pertence.

Os Faraós estão aí tentando matar os nossos filhos, por isso, precisamos ter cuidado para que tais ideias não entrem em nossas casas e “matem” nossos filhos. Precisamos ter coragem para desafiar Satanás e expulsá-lo de nossos lares.

2ª – Joquebede foi uma mãe criativa (Êx 2.3). Quando Joquebede viu que não havia mais como esconder o seu filho, ela buscou uma solução para salvá-lo.

O que ela fez? Tomou um cesto de junco. A expressão hebraica poderia ser traduzida “um cesto de papiro”: a única outra ocorrência do termo descreve a arca de Noé (Gn 6) e pode ser relacionado à palavra egípcia “tebet”, “arca” ou “baú”. O cesto de Moisés foi revestido com betume (Gn 11.3; 14.10) para que ficasse impermeável e possivelmente para que tivesse uma proteção extra contra o calor do sol. Pôs nos juncos à margem do rio. Os juncos cresciam junto à margem, em águas rasas, onde a corrente não levaria embora o cesto, com menor perigo de crocodilos do que num banco de areia ou numa praia. Os juncos ofereceriam ainda alguma proteção contra o sol [6].

Diante dessa atitude de Joquebede, podemos destacar duas coisas:

a) Chegará um momento em que os nossos filhos deixarão o nosso lar para encarar as águas do “rio” (a sociedade, a escola, a faculdade, o mundo). Não podemos mantê-los seguros para sempre em nosso lar, mas nem por isso deixaremos de vigiá-los (Êx 2.4). Vigiamos nossos filhos em oração e com os olhos. Joquebede não ficou sentada lamentando a situação, esperando uma solução vinda de fora. Ela sofria com a possibilidade de perder o filho e fez tudo o que estava ao seu alcance para salvar a vida do bebê.

b) Joquebede preparou o cesto em que Moisés ficaria de forma que nem o sol e nem as águas lhe causassem mal. Da mesma forma é responsabilidade dos pais prepararem os “berço” em suas casas. A expressão: “Educação vem de berço” mostra que é responsabilidade dos pais educarem seus filhos para viver em sociedade. Sendo canal de bênção num mundo que jaz no maligno. Mostrando que no mundo há pessoas boas, mas há também muita maldade. Os educando a serem simples como as pombas, mas prudentes como as serpentes (Mt 10.16).

3ª – Joquebede foi uma mãe de fé e estrategista (Êx 2.4). Joquebede sabia qual era a rotina da princesa e, estrategicamente, colocou o menino preso entre os juncos à margem do rio onde a princesa, junto com as suas donzelas, se banhava. Mulheres são muito emotivas e, provavelmente, se seu plano desse certo seu filho não seria morto.   

Acreditar que Deus é um Deus de milagres não nos isenta de agirmos segundo a direção do Espírito Santo. Para fazer o que fez Joquebede precisava acreditar num milagre vindo dos céus, pois só pela interferência Divina o menino poderia se salvar. E o milagre veio completo, como Deus é maravilhoso! O menino foi achado nada mais nada menos do que pela filha do Faraó, ela viu graça na criança mesmo percebendo que era do povo hebreu, Miriã (irmã mais velha de Moisés) viu a princesa pegando o bebê, a princesa aceitou a sugestão de Miriã e a criança voltou exatamente para o seio de sua família. Agora já não precisavam mais se preocupar porque a criança estava sobre a proteção da princesa do Egito e a família ainda receberia um salário para cuidar da criança. Quando vivemos pela fé, Ele nos dá muito mais do que pedimos e pensamos (Ef 3.20).

Quando entregamos nossas vidas nas mãos de Deus, Sua vontade é muito maior que simplesmente “ironias do destino”. Quando pensamos na nossa vida hoje, vemos que cada dia é um grande milagre de Deus. Nossos filhos não estão boiando em um rio cheio de crocodilos, mas estão em um mundo cheio de violência, doenças, perigos e más influencias. Hoje nos vemos cercados de “crocodilos” modernos, mas as Mãos de Deus operam milagres diários em nossas vidas protegendo a nós e a nossos filhos, assim como fez com Moisés.

4ª – Joquebede nos ensina é a importância da cumplicidade familiar (Êx 2.4-9; Hb 11.23). Na família o problema de um é o problema de todos. Isso é família. Quando temos uma dificuldade com os filhos, todos os membros devem participar ativamente. Devem saber sobre o que está acontecendo e cada um fazer a sua parte na solução do problema.

Observe como Miriã, também foi de grande apoio e cumplicidade quando decidiu seguir o irmão e depois em ir falar com a filha do Faraó, ela se sentiu corresponsável pela situação e fez a parte dela para resolver o problema da família. Infelizmente hoje vemos muitas mães sobrecarregadas com todas atribuições, dentre elas resolver os problemas dos filhos sozinhas. Umas agem assim por serem centralizadoras e crerem que somente elas são capazes de resolver as situações adversas, outras porque a própria família (marido e filhos) não querem se comprometer. Mas a experiência de Joquebede nos ensina que se é um problema de família, deve ser resolvido através da família.

Ilustração – Há uma foto que circula na internet de um menino japonês carregando o irmão morto. Essa foto foi tirada por Joe O’Donnell em Nagasaki. Joe fora enviado pelo exército dos Estados Unidos para documentar os estragos causados pelos ataques aéreos com as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no mês de agosto de 1945.

Durante meses o fotógrafo viajou pelos vilarejos e cidades japonesas narrando a devastação junto à população. O relato incluiu uma vasta documentação escrita e por negativos a respeito dos efeitos da radioatividade, dos ferimentos que foram causados, quantidade de mortos, órfãos etc.

Em um dos negativos de sua máquina fotográfica se encontrava a poderosa foto de um menino com semblante sério, cumprindo seu dever de honra. A jovem criança, que devia ter menos de 10 anos de idade, carregava nas costas o irmão mais novo morto em decorrência dos ataques atômicos.

Nas palavras de Joe O’Donnell:

“Os homens com máscaras brancas se aproximaram dele e calmamente começaram a tirar a corda que segurava o bebê. Foi quando eu vi que o bebê já estava morto. Os homens o colocaram sobre o fogo e o menino permaneceu ali sem se mover em linha reta, observando as chamas. Ele estava mordendo o lábio inferior com tanta força que brilhou com sangue. A chama queimou baixo como o sol vai para baixo. O menino virou-se e caminhou em silêncio para longe”.

Tudo indicava que aquele menino havia perdido toda a família, mas fez o que a tradição ensina que era honrar os mortos e ele o fez com o seu irmão.

Essa história deve servir de exemplo para todos nós. Devemos fazer o que está ao nosso alcance para honrar os nossos familiares.

5ª – Joquebede criou seu filho sabendo quem ele era (Êx 2.11). Moisés tinha consciência de que não era um egípcio, mas um filho dos hebreus.

Devemos olhar para esse exemplo deixado por essa família na vida de Moisés. Nossos filhos precisam ser criados dentro de expectativas realistas e não fantasiosas. Ainda que nossos filhos tenham mais oportunidades que os pais, eles não devem se esquecer de sua origem, não devem se envergonhar de seus pais, muitas vezes humildes. Não devem se envergonhar, principalmente, de sua formação religiosa.  

As mães cristãs devem ter o cuidado de dar a educação espiritual necessária para que seus filhos aprendam a temer, amar a Deus e servi-lo com fidelidade. É um privilégio e uma alegria quando podemos ser instrumentos do Senhor para levar nossos filhos ao conhecimento e à fé em Jesus Cristo, ensiná-los a orar diariamente e buscar direção para suas vidas na Palavra de Deus. Deus preserva a vida de nossos filhos para Sua honra e glória.

3 – MOISÉS UM TIPO DE CRISTO NO ANTIGO TESTAMENTO.

Não foi à toa que Faraó queria matar os filhos dos Hebreus. Satanás sabia que em breve nasceria aquele que seria o libertador do povo Hebreu e que representaria a Pessoa de Cristo como libertador de Seu povo.

Moisés tipificava a Cristo, sobretudo como: 1 – um líder; 2 – um profeta; 3 – um legislador. E adiciono aqui alguns detalhes sobre a questão:

1) Moisés, tal como Cristo, foi divinamente escolhido (Êx 3.7-10; Atos 7.25; João 3.16).

2) Ambos foram rejeitados por Israel (Êx 2.11-15; Atos 7.25; 18.8; 28.17 ss.; João 1.11).

3) Durante seus períodos de rejeição, obtiveram ambos uma esposa gentílica (Êx 2.16-21; Mt 12.14-21; Ef 5.30-32).

4) Ambos tomaram-se libertadores de Israel (Êx 4.29-31; Rm 11.24-26).

5. Ambos tiveram os mesmos ofícios: como profetas (Atos 3.22,23); como advogados (Êx 32.31-35; 1Jo 2.1,2); como líderes ou reis (Dt 33.4,5; Is 55.4; Hb 11.27).

6) Um contraste: Moisés era apenas um servo na casa de outrem; Cristo era Filho adulto em Sua própria casa (Hb 3.5,6) [7].

CONCLUSÃO

Muitas mães têm se identificado com Joquebede e com muitas outras mães na Bíblia.  Joquebede ousou lutar pela sobrevivência do seu filho. Ana ousou consagrar o seu filho Samuel para Deus. Eunice educou o filho Timóteo pelo exemplo e pelo ensino. Maria foi a mãe do nosso Salvador. Todas essas mulheres aqui citadas foram mães que lutaram pelos seus filhos.

Essas, foram mulheres que se empenharam e se dedicaram no papel que lhes foi dado por Deus, de serem mães. Essas santas de Deus fizeram tudo que estavam em seu alcance para serem mães de excelência. No entanto, de uns anos para cá nós temos presenciado coisas que foge a lógica humana. Mães que são verdadeiros monstros, que geraram seus filhos e os mataram com rigor de crueldade. Os jornais e os sites de notícias nos mostram isso sempre. Sobre essas não devemos tomar nosso tempo.

Mas para você mãe que teme a Deus, que o Espírito Santo lhe abençoe ricamente nesse dia e lhe dê a graça de ver seus filhos na presença do Senhor. 

Pense nisso!    

Bibliografia

1 – Gardner, Paul. Quem é Quem na Bíblia Sagrada, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1999, p. 375.

2 – Champlin, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado, Versículo por Versículo, Ed. Hagnos, São Paulo, 2001, p. 305.

3 – Cohen, Armando Chaves. Comentário Bíblico: Êxodo, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 1998, p. 20.

4 – Champlin, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado, Versículo por Versículo, Ed. Hagnos, São Paulo, 2001, p. 308.

5 – Souza, Marcelle. Minha História, Karla Tenório em depoimento a Marcelle Souza, https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/05/07/sou-uma-mae-arrependida-desde-o-parto-da-minha-filha-diz-atriz.htm, acessado em 08/05/21.

6 – Cole, R. Alan. Êxodo, Introdução e Comentário, Ed. Vida e Nova e Ed. Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1981, p. 55.

7 – Champlin, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado, Versículo por Versículo, Ed. Hagnos, São Paulo, 2001, p. 308.