domingo, 28 de abril de 2013

Herança não é salário!



Por Josemar Bessa

A herança dos que estão em Cristo é incalculável... Somos “herdeiros de todas as coisas”...

Herdeiros da salvação – “Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” - Hebreus 1:14

Herdeiros da vida eterna – “Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna.” - Tito 3:7

Herdeiros da Graça da vida – “...sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida” - 1 Pedro 3:7

Herdeiros da promessa – “Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento” - Hebreus 6:17

Herdeiros da Justiça – “e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé.” - Hebreus 11:7

Herdeiros do reino – “...e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?” - Tiago 2:5 - E muito mais poderia ser mencionado... mas...

O que constitui uma herança? Willian Guthrie (1620 – 1665) diz:

“O pagamento de um soldado não é herança; também não constitui herança os honorários de um advogado ou de um médico; nem lucros do comércio; nem os salários provenientes do trabalho.

As recompensas da fadiga e da habilidade humana são os ganhos das mãos que as recebem. O que é herdado, por outro lado, pode ser a propriedade de um recém-nascido... e assim a herança, o diadema, há muito conquistado pelo braço vigoroso da coragem de outro, e pela primeira vez incluído no brasão de um escudo gasto em combates, agora está sobre o berço do recém-nascido que chora."

Se somos filhos somos herdeiros – Mas somos filhos? Todos os homens em Adão estão mortos em delitos e pecados – “Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), Efésios 2:5“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados” -  Efésios 2:1 – Não podemos e não temos o poder de determinar nosso nascimento... “E vos vivificou!” – “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” -  João 1:13

Nascidos e mantidos vivos soberanamente! Como um defunto não pode herdar uma propriedade, assim uma alma morta não pode herdar o reino de Deus. “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo...” - Romanos 8:17 – Filhos são herdeiros.

Filhos nasceram soberanamente... Filhos são mantidos vivos... Sou filho? O mesmo verso continua: “...se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.” - Romanos 8:17

Filhos tem a mesma natureza. A Verdade é a expressão do caráter de Deus... Seus filhos amam a verdade, seus filhos vivem a verdade... seus filhos não amam o mundo... “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.”  1 João 2:15 – E essa vida não está relacionada a receber um salário, é a vida de Deus se expressando em seus filhos... “...se é certo que com ele padecemos...” – Se o mundo não amou a verdade, não amou a Luz, não amou o Filho de Deus... ser transformado diariamente a Sua imagem nos coloca na mesma situação.

Sou filho? Não é difícil usar a expressão Abba Pai – Mas quando é o Espírito que regenera um homem e faz crescer nele o grito: “Abba Pai” – temos infinitamente mais do que uma crença apenas intelectual... um auto-convencimento... temos uma nova natureza de filhos – “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós...” - Romanos 8:9

Não podemos estar na carne e no Espírito... e as duas situação são inconfundíveis. Todos os filhos de Deus e herdeiros em Cristo são guiados pelo Espírito a uma vida de santidade: “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.” - Romanos 8:14

Todos os co-herdeiros com Cristo serão glorificados com Ele. O que espera você, a herança invisível ao mundo... faz você alegremente enfrentar as dores que restam nesta terra e desprezar os “prazeres transitórios do pecado”? O que você espera a cada dia que o motiva a viver e se deleitar em Deus? Você está cheio de uma esperança além desta vida que faz todos os prazeres presentes parecerem cada vez menores e todos os sofrimentos suportáveis? Isso mantinha os pés do herdeiro Paulo firmes – “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” - Romanos 8:18

Essa tremenda esperança, Paulo diz, é compartilhada por todos os filhos de Deus. A herança que os espera é tão grande que faz com que todos os sofrimentos, e todos os problemas num mundo que despreza Deus, despreza a Verdade, que está sob maldição de Deus, que é marcado por dor... parecer pequeno em comparação a herança... é assim que os filhos e herdeiros vivem. Este é o resultado da nova natureza pulsando em seus novos corações.

Como a justificação é a união e comunhão com Cristo em sua justiça, e a santificação é a união e comunhão com Cristo em sua santidade, ou seu caráter santo, a adoção é a união com Cristo em sua qualidade de Filho.

“...se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados.” - Romanos 8:17 – Como com Ele, o Herdeiro de todas as cosas, sem cruz, não há coroa. Sem sofrimento, sem herança. E isso inclui tudo. Não apenas o sofrimento por perseguição da verdade... mas sim todo gemido neste mundo caído... dor,  doenças, decepções, morte... que são enfrentados de tal forma que Cristo é glorificado ante aos olhos do mundo e na prazer e deleite de nossos corações em todas essas circunstâncias. Tudo isso perdeu, nos herdeiros, o poder de tirar o deleite pleno em Cristo ou destruir a fé nascida na regeneração. Com que palavras poderosas o Apóstolo Paulo expressa isso:

“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque em esperança fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos.” - Romanos 8:18-25
 
Fonte: Josemar Bessa

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Pastores e seus Críticos: Pastores

Pastores e seus Críticos: Pastores 
Por Gabriel Fluhrer

Com a consciência devida das responsabilidades, gostaria de aventurar-me sobre a fina camada de gelo de como os pastores devem receber – e como os membros devem oferecer – críticas. A razão pela qual eu sinto entusiasmo para fazer isto é que eu tive, nesses anos como ministro, alguns bons críticos e oro para que outros possam trazer benefícios de seus sábios conselhos. Então, irei postar algumas coisas sobre esse assunto.

Em primeiro lugar: como os pastores devem receber críticas? São inúmeros os blogs e artigos sobre esse assunto, e muito deles são úteis. Entretanto, uns podem dar a impressão de que pastores, usualmente, estão inseguros, defensivos e aterrorizados com suas críticas. Talvez muitos estejam. Mas se cremos em nossa teologia como calvinista, esses traços não devem caracterizar um pastor reformado. Além disso, não são apenas os pastores que podem ser culpados. Congregações muitas vezes não conseguem criticar seus pastores de maneiras remotamente cristãs.

Com essas coisas em mente, o pastor deve saber que irá receber críticas, não “se”, mas “quando”. Portanto, que nós, ministros, como diz a Versão Autorizada, “nos portemos como homens” e nos prepararemos para isto. Aqui estão algumas coisas para considerarmos e cingirmos nossas mentes:

1. Reconheça que, como um ministro, em primeiro lugar e acima de tudo, você é pecador. Diga a si mesmo: “Eu não tenho nada para me vangloriar diante de Deus. Eu não estou apenas habitualmente errando, mas inclinado a fazer apenas o que me afasta de sua graça maravilhosa em Cristo”. Cante com o escritor deste hino: “O meu ser é vacilante, toma-o, prende-o com amor”. Comece por aqui e você colocará o machado na raiz de sua postura defensiva.

2. O segundo resulta do primeiro: Se eu sou um pecador como a Bíblia diz que sou (e todos nós somos), de onde vem o orgulho? De onde vem a postura defensiva? Certamente é loucura achar que eu sou notável e que eu estou convencendo outras pessoas a achar que eu sou. Afinal, Deus olha o coração, e isso é uma verdade aterrorizante. Então, sabendo que meu coração é mais traiçoeiro que tudo isso, eu devo receber as críticas com os olhos do meu coração escancarados: a pessoa que traz a queixa contra mim está sendo muito benéfica, não importa o que ele ou ela diga. Ele não sabe nem metade da história. Na verdade, meu coração poderia gerar uma letra de funk que faria um oficial do BOPE carioca corar.¹ Assim, não importam as críticas, há muitas coisas piores que eu penso e com que me divirto do que o que a pessoa trouxe à minha atenção.

Lembre as palavras de Samuel Rutherford quando uma mulher o elogiou depois de um culto no Dia do Senhor: “Mulher, se você conhecesse a escuridão do meu coração, reuniria seus filhos e fugiria”. Certamente isso faria alguém se engasgar numa manhã de domingo, mas seria difícil encontrar palavras mais verdadeiras.

3. Dados os pontos 1 e 2, a terceira coisa, mesmo que pareça clichê, é ir direto a Cristo. O que isso realmente significa? Bem, vou pegar emprestado o título de uma palestra que o Dr. Ryken deu uma vez: significa que realizamos o ministério pastoral em união com o Cristo ressuscitado. Não vamos a um salvador morto, mas a um vivo, que nos ama e nos chamou para o ministério. Portanto, confesse à Ele seu orgulho e aqueça-se em sua graça. O Espírito Santo tem trazido você aqui, sua santificação nessa área é intensamente pessoal. O Deus Espírito te traz aqui e o Deus Filho te limpa!

Ministros são muito bons em serem como fariseus – parecem bons pelo lado de fora, mas dentro são cheios de todo tipo de miséria. Esqueça – Deus vê isso e nos ama de qualquer forma, em Cristo. Ele estilhaça qualquer pretensão de orgulho por lembrar que nós somos simplesmente servos de Cristo.

Coloque isso firmemente em sua mente: nosso trabalho como ministros será facilmente esquecido quando morrermos, menos por umas poucas famílias, amigos e almas que ministramos. Outro irá tomar nosso lugar. Graças a Deus, o próximo irá fazer melhor que nós! E isso será assim até Jesus voltar. Essa não é uma verdade depressiva, mas sim libertadora: já que eu não sou a soma do meu ministério, mas minha vida está escondida com Deus em Cristo, eu sou livre para trabalhar sem preocupação.

A crítica dada em amor e recebida com humildade permite aos ministros uma oportunidade tremenda de crescimento. Nos dá a oportunidade de sermos mais efetivos no avanço do reino de Cristo. E nos lembra o que realmente somos, maus como a Bíblia diz que somos. Então, vamos ouvir com atenção, pesar cuidadosamente nossas respostas e sermos gratos por críticos sábios. A seguir, examinaremos os deveres daqueles que criticam.

¹ N.E.: No original, a letra era um rap e o policial mora em Chicago, mas preferimos contextualizar a piada.

Fonte: Ipródigo

A noite escura da alma

  
Por Rev. Hernandes Dias Lopes
Há momentos em que a noite trevosa desce sobre a nossa vida e os horrores do inferno bafejam nossa alma. Sentimos uma opressão do inimigo, com seu hálito pesado vindo sobre nós. Nossa carne treme, nossos ossos são abalados e nossos olhos se enchem de lágrimas. Não escapamos desses ataques. Não vivemos blindados. Estamos expostos ao sofrimento. Na verdade nos importa entrar no reino de Deus por meio de muitas tribulações (At 14.22). O próprio Jesus saiu do cântico no Cenáculo para o pranto no Getsêmani. O autor da vida suou sangue no Getsêmani (Lc 22.44) e derramou sua alma na morte na cruz (Is 53.12). Ele começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse a seus discípulos: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mc 14.34). Nenhum homem tinha experimentado tristeza tão profunda e ninguém jamais a enfrentaria no futuro. Num sentido único, Jesus foi “um varão de dores”. Aquela fatídica noite no Getsêmani era a noite escura da alma, quando Jesus travou a mais renhida batalha da humanidade. Naquele momento, ele ficou só, dobrado sobre seus joelhos, com o rosto em terra, com forte clamor e lágrimas (Hb 5.7). Ali, submeteu-se à vontade do Pai, foi consolado pelo anjo e saiu vitorioso para caminhar para a cruz, como um rei caminha para a coroação.

Na cruz, o Filho de Deus foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades. Agradou ao Pai moê-lo. Ali, suspenso entre a terra e o céu, sorveu cada gota do amargo cálice da ira de Deus. Na cruz, carregou sobre seu corpo todos os nossos pecados e suportou o juízo de Deus que deveria cair sobre nossa cabeça. Na cruz ele satisfez todas as demandas da justiça divina ao fazer-se pecado e maldição por nós. Na cruz, porém, Jesus adquiriu para nós eterna redenção. A noite escura da alma não foi um acidente na vida de Jesus, mas uma agenda traçada na eternidade. Essa noite desceu sobre sua alma, para que a luz bendita do céu invadisse a nossa vida. Ele bebeu o cálice amargo da ira de Deus, para nos oferecer a água da vida. Ele suou sangue e chorou para que nós pudéssemos experimentar uma alegria indizível e cheia de glória. Ele morreu para nos oferecer a vida eterna.

Saiba que, se a noite escura da alma chegou em sua vida, Deus é poderoso para transformar essas trevas em luz e o seu sofrimento em prelúdio de glória. O apóstolo Paulo, homem que enfrentou apedrejamento, açoites, prisões e naufrágios, afirma com entusiasmo, que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com as glórias porvir a serem reveladas em nós. Disse ainda que a nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, eterno peso de glória, acima de toda comparação.

O sofrimento aqui é inevitável. Ainda não chegamos ao paraíso. Aqui não é o céu. Porém, o sofrimento não hasteará sua bandeira em nosso lar eterno. Lá Deus enxugará dos nossos olhos toda a lágrima. Lá a dor não mais açoitará nosso corpo. Lá desfrutaremos da bem-aventurança eterna. Aqui cruzamos vales escuros, marcharmos por desertos tórridos e atravessamos pântanos perigosos. Mas, lá receberemos um consolo eterno, uma alegria sem fim, uma glória que jamais se contou ao mortal.

Não se desespere diante dos dramas da vida. Não perca a esperança diante das circunstâncias adversas. Não duvide do amor de Deus por causa da dor que assola seu peito. Deus nunca vai desamparar você. Ele está do seu lado como seu refúgio e fortaleza. Você vai caminhar para a pátria celeste de força em força, de fé em fé, sendo transformado de glória em glória. Deus segurará firme a sua mão até receber você na glória. Então, a noite escura da alma desembocará na manhã gloriosa de uma eternidade de gozo e paz!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A enganosa paz da ortodoxia

 
Por Ricardo Wesley Morais Borges 

Observações e registros de viagens a outras culturas e realidades podem servir como ganho de novas perspectivas e, talvez, aprendizado; claro, se estivermos realmente abertos para o desafio de analisarmos nossos próprios conceitos.

Passei por isso em uma recente visita ao castelo onde Lutero e Zwinglio se desentenderam sobre a ceia do Senhor. Na verdade, justiça seja feita, parece que eles caminharam bem até certo ponto. Discutindo sobre quinze pontos de doutrina diferentes, construíram consenso e acordo em quatorze. Mas foi no último ponto, acerca do significado da presença real de Cristo nos elementos da ceia, que uma forte, áspera e crucial diferença os fez caminhar em direções opostas. Hoje é fácil caricaturar uma e outra posição, ainda mais por estarmos longe do tempo e dos contextos em que eles viviam. Também é fato que construir entendimento sempre é mais difícil quando não sei colocar-me no lugar do outro e entender porque sua posição lhe parece tão fundamental em sua concepção de fé.

Na tal visita perguntei a meu amigo alemão (líder ativo em uma posição estratégica de um ministério que cruza as barreiras denominacionais) como vivem hoje os crentes na Alemanha à luz daquela controvérsia do passado. Para minha surpresa, ele me disse que para muitos ela não era tão importante assim. Disse também que líderes de igrejas consideradas luteranas não têm problemas em encorajar seus membros a servir em igrejas identificadas como reformadas, e vice-versa. Que isso é frequente quando se mudam para uma cidade ou região onde as igrejas da outra tradição são mais comuns. Claro, esse é um contexto particular e único, mas também desafiador, porque me recorda que em meu próprio contexto latino-americano muitas vezes diferenças “doutrinárias” menos importantes (claro, estou consciente que para muitos seria indevido chamá-las de “menos importantes”) nos levam a desmedidas divergências, facções e hostilidades.

Penso em possíveis estratégias para que, pelo menos, nos entendamos mais. Talvez a maneira como abracemos a tal “ortodoxia” esteja um pouco desfocada. Lembro-me do que disse o saudoso Dr. Martyn Lloyd-Jones (o ex-médico da realeza britânica que decidiu dedicar sua vida por completo à pregação do evangelho). Ele poderia ser criticado por outras coisas, menos pelo seu zelo com a boa ortodoxia. Mas Lloyd-Jones também reconheceu seus limites: “corremos o perigo de confiar na própria fé, ao invés de confiar em Cristo; de confiar na crença, ao invés de sermos verdadeiramente regenerados. Essa é uma terrível possibilidade”1.

Muito desafiadora essa ideia de que minha fé não deva supor que sua base segura seja uma correta construção mental. Ainda escutando o doutor: “nada é mais perigoso do que depender somente de uma crença correta, de um espírito fervoroso, e então supor que, enquanto estivermos crendo nas coisas certas e formos zelosos, aguçados e ativos acerca delas, necessariamente isso significará que somos crentes”2. Ao depositar toda nossa confiança na doutrina correta, parece que estamos mais susceptíveis ao que Lutero chamou de o “mais secreto dos vícios, o orgulho”3. Para ele, mesmo uma boa obra, por mais digna e honrosa que seja, nos leva ao orgulho se não confiamos somente na graça. Para ele, mesmo a confissão de nosso orgulho poderia nos enganar, quando nos orgulhamos por acusarmo-nos de orgulhosos. Engraçado, não? Mas verdadeiro. E me leva a pensar que igual lógica se aplica ao orgulho da ortodoxia, essa que normalmente associo com o meu próprio grupo. Se me vanglorio de meu credo, em que exatamente estou confiando?

Haveria alguma esperança no fim do túnel, ou após finais melancólicos de reuniões cruciais nos castelos de nossa história? Encontrei alguma, escutando há uns anos o testemunho de um irmão chinês, Patrick Fung, ao falar dos incontáveis cristãos que morreram por causa de sua fé, sem concílios para discutir sua fé, sem ficar famosos, sem que alguém tenha contado suas histórias. Sem nome, sem rosto, mas fiéis até o fim. Sobre eles, em seu testemunho, esse irmão que é autor do pequeno, mas bem interessante livro “Live to be forgotten” (“Viva para ser esquecido”), afirmou: “Alguns dos obreiros mais importantes no Reino, de cara ao século 21, creio eu, serão as pessoas sem nome. Elas fazem a Cristo visível, não a elas mesmas.”

Penso que as palavras do irmão Fung nos oferecem um critério simples, mas importante: se nossas discussões, formulações e doutrinas fazem com que Cristo se torne mais visível ou não. Não viverei para fazer visível a minha própria ortodoxia, nessa paz enganosa e perigosa. Viverei, se a graça me permitir, para que Cristo seja o único visível. Ou como nos foi recomendado nas especiais prescrições do médico pregador, buscarei aprender que mais vale confiar em Cristo do que em minha própria fé.

Notas:
1. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, (São José dos Campos: Editora Fiel, 1984), 539.
2. Ibid., 540.
3. Paul Althaus, A Teologia de Martinho Lutero, (Canoas: Ed. ULBRA, 2008), 165.
Fonte: Ultimato

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Não ouse acrescentar Nada!

Por C. H. Spurgeon

 
A lei do Senhor é perfeita;  (Salmos 19.7) - A referência não é somente à lei de Moisés mas à doutrina de Deus, a todo o conjunto de instruções da Sagrada Escritura. A doutrina revelada por Deus é declarada perfeita, e observe-se que Davi tinha apenas uma pequena parte das Escrituras. Se um fragmento da porção mais obscura e histórica já é perfeito, o que dizer do volume inteiro? Muito mais do que perfeito é o livro que contém a demonstração mais evidente do amor divino, e nos abre a visão da graça redentora. O evangelho é um plano completo ou lei da salvação pela graça; ele apresenta ao pecador tudo o que este precisa para suprir suas terríveis necessidades. Na Palavra de Deus e no plano da graça não há redundâncias nem omissões; por que, então, pintar os lírios que já têm sua cor e dourar o ouro que já foi refinado? O evangelho é perfeito em todas as suas partes, e perfeito como um todo: é crime acrescentar, traição alterar e perfídia retirar algo dele.

E restaura a alma. Ela faz o homem retornar ou ser recuperado para o lugar de onde o pecado o expulsara. O efeito prático da Palavra de Deus é fazer o homem voltar-se para si mes¬mo, para Deus e para a santidade, e a volta ou conversão não é apenas exterior; a alma é tocada e renovada. O maior agente da conversão do pecador é a Palavra de Deus, e quanto mais próximos nos conservamos dela em nosso ministério, tanto maior a possibilidade de sucesso. E a palavra de Deus, e não a interpretação humana dela, que exerce poder sobre as almas. A lei e o evangelho agem diferentemente, mas o resultado é o mesmo, pois pela ação do Espírito de Deus a alma cede e suplica: "Converte-me, e serei convertido." Tente convencer a natureza corrupta do homem com filosofias e raciocínios; ele sorrirá dos seus esforços, mas a Palavra de Deus logo opera uma transformação.

O testemunho do Senhor é fiel. Deus dá testemunho contra o pecado e em favor da retidão; ele testifica a nossa queda e restauração; seu testemunho é claro, decidido e infalível, e deve ser aceito como correto. O testemunho de Deus em sua Palavra é tão exato que nele encontramos sólido conforto, tanto para o presente como para a eternidade, e nenhum golpe contra ele desferido, por mais violento e sutil que seja, poderá diminuir sua força. Que bênção saber que num mundo de incertezas temos algo tão seguro onde nos apoiar! Libertamo-nos, assim, das areias movediças da especulação humana para a terra firme da Revelação Divina.

E dá sabedoria aos símplices. Mentes humildes, puras e ensináveis recebem a Palavra e com ela a sabedoria para a salvação. Coisas ocultas aos sábios e prudentes são reveladas a criancinhas. Os que se deixam persuadir ficam sábios, mas os sofistas permanecem tolos. Como lei ou plano, a Palavra de Deus converte e, a seguir, como testemunha, instrui. Todavia, a conversão é insuficiente; precisamos dar continuidade sendo discípulos. E se temos sentido o poder da verdade, havemos de provar sua autenticidade através da experiência. A perfeição do evangelho converte, mas a certeza a respeito dele edifica; para sermos edificados, não podemos vacilar incrédulos diante da promessa, pois um evangelho de que duvidamos não poderia nos dar sabedoria. Somente uma verdade da qual podemos ter certeza pode nos servir de esteio.

8. Os preceitos do Senhor são retos. Os estatutos e os decretos divinos estão fundamentados na justiça e são compreensíveis para a razão humana. Como um médico prescreve o medicamente correto, e um conselheiro o parecer adequado, assim é a Palavra de Deus. E alegram o coração. Observemos o progresso: o convertido ganha primeiramente sabedoria, e a seguir felicidade; a verdade que torna reto o coração, também lhe concede alegria. A graça traz júbilo ao coração. A alegria que procede deste mundo reside nos lábios e excita as forças do corpo; os prazeres celestiais, porém, satisfazem a natureza interior e preenchem as faculdades mentais até transbordarem. Não há refresco mais agradável do que este, derramado do cântaro das Escrituras. "Para ser feliz, refugie-se e leia a Bíblia."

O mandamento do Senhor é puro. Não há enganos infiltrados que o contaminam, nenhuma nódoa de pecado o polui; ele é o leite não-adulterado, o vinho não-diluído. E ilumina os olhos, ou seja, limpa com sua própria pureza a obtusidade humana que interfere no discernimento intelectual: para os olhos obscurecidos por tristeza ou pecado, a Escritura é um oculista habilidoso que os torna claros e radiantes. Olhe para sol e ele lhe cegará os olhos; olhe para a luz maior da Revelação e ela os abrirá. A pureza da neve provoca uma cegueira no viajante dos Alpes, mas a pureza da verdade divina exerce o efeito contrário e cura a cegueira natural da alma. Convém novamente observarmos a gradação: o convertido tornou-se um discípulo e a seguir uma alma jubilosa; agora ele obtém olhos perspicazes e, como pessoa espiritual, discerne todas as coisas, embora ele mesmo não seja perscrutado pelos outros.

9. O temor do Senhor é límpido. A doutrina da verdade é aqui descrita pelo seu efeito espiritual, ou seja, a consagração interior ou temor ao Senhor; ela é límpida em si mesma e limpa do amor ao pecado o coração onde reina, santificando-o. O Sr. Temente a Deus não se satisfaz enquanto cada rua, estrada e viela, sim, cada casa e cada esquina da cidade de Alma-Humana não esteja varrida da sujeira diabólica que a infesta. E permanece para sempre. A imundície gera decadência, mas a limpeza é o grande inimigo da corrupção. O princípio puro da graça de Deus habitando no coração do homem é permanente e incorruptível; pode ser suprimido por algum tempo, mas não pode ser destruido. Tanto na Palavra como no coração, quando o Senhor escreve, ele repete as palavras de Pilatos: "O que escrevi, escrevi." Deus não faz rasuras, nem permitirá que outros façam. A vontade revelada de Deus é imutável, até mesmo Jesus veio não para destruir mas para cumprir, e até a lei cerimonial foi mudada somente na sua sombra, a substância que nela reside é eterna. Enquanto os governos das nações são abalados por revoluções e antigas constituições são rejeitadas, é confortador saber que o trono de Deus é Inabalável.

Os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente justos. Conjunta e separadamente as palavras do Senhor são verdadeiras; aquela que é boa no detalhe é ótima no conjunto; não há nenhuma exceção para uma frase isolada nem para o livro como um todo. Os juízos de Deus, em conjunto ou em separado, são manifestamente justos, e não precisam de explanações trabalhosas para se justificarem. As decisões judiciais de Jeová, reveladas na lei ou ilustradas na história de sua providência, são a própria verdade e óbvias para toda mente sincera; não apenas seu poder é invencível: sua justiça é inquestionável.
 
10.    São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado. A verdade bíblica enriquece a alma ao mais elevado grau: a metáfora vai ganhando força: ouro - ouro depurado - muito ouro depurado. Ela é boa, melhor, ótima, e merece ser desejada com voracidade maior que a de um faminto. Uma vez que o tesouro espiritual é mais nobre do que a mera riqueza material, ele deve ser desejado e procurado com um ardor cada vez maior. Fala-se sobre a solidez do ouro, mas o que é mais sólido do que uma verdade sólida? Por amor ao ouro as pessoas abrem mão do prazer, renunciam à tranqüilidade e põe a vida em perigo; não devemos estar prontos para fazer o mesmo por amor à verdade? E são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Segundo Trapp: "Aos mais velhos interessa o lucro, aos jovens o prazer; àqueles está reservado o ouro, sim, o ouro depurado em grande quantidade e a estes, o mel, sim, o mel puro que escorre dos favos." Os prazeres resultantes de uma compreensão correta dos testemunhos divinos são da mais preciosa ordem. As alegrias terrenas são totalmente desprezíveis se comparadas a eles. Os deleites mais doces, sim, o mais doce de todos são a parte de quem tem a verdade de Deus por herança.

Fonte: C. H. SPURGEON

terça-feira, 23 de abril de 2013

A religiosidade é contagiante

Sacred-Heart-Roman-Catholic-Church-L

Por Marcelo Berti

É interessante como a religiosidade é contagiante: Ela não precisa de propaganda, não precisa de incentivo, nem mesmo precisa de orientação. Na verdade, parece que a religiosidade é de certo modo inato a cada um de nós. Parece que temos a necessidade de criar regras, modelos, sistemas que tornem nossa “adoração” mais palatável e objetiva.

Entretanto, nos dias de Cristo a religiosidade tinha tudo isso: Propaganda, incentivo e orientação. Os Fariseus eram os modelos da religião e tinham tudo o que era necessário para ensinarem o que era a “verdadeira” religião para o povo.

Eles se distinguiam das outras opções religiosas nos seus dias, por sua crença e apreço pela Lei que Deus havia dado a Moisés, a Torá. Eles também advogavam ser os verdadeiros intérpretes da Lei baseada na tradição oral dos anciões, que posteriormente veio a ser codificada no documento que conhecemos como Talmud.

Segundo Flávio Josefo, grande parte da população da Palestina do primeiro século aceitava sua doutrina (Ant.18.15) de modo que até mesmo os Saduceus (outro grande grupo religioso em Jerusalém) estavam sujeitos aos Fariseus (Ant.18.17).

Os Fariseus eram os homens que levavam a vida religiosa do Templo para casas, sinagogas e para a vida pessoal do judeu comum. Eles eram os heróis da religião. Homens de alta posição social e prestígio em sua sociedade.

Mas, de modo interessante, o Talmud (Mas. Sotah 22b) registra a existência de sete tipos de Fariseus no primeiro século:
  1. O Fariseu “ombro“: Esse é o tipo de fariseu que carrega todas as suas boas ações em seus ombros para que todos possam ver;
  2. O Fariseu “espera só mais um pouquinho“: Esse é o tipo de fariseu que prefere esperar para ver o que vai acontecer antes de agir. Ele sempre tem uma boa desculpa teológica para não realizar uma boa obra.
  3. O Fariseu “machucado“: Esse é aquele que fechava os olhos para evitar olhar para uma mulher, mas por fazê-lo enquanto andava, normalmente tropeçava e caia.
  4. O Fariseu “corcunda“: Esse é aquele que evitava qualquer tipo de tentação por andar olhando para baixo. Há quem diga que isso era também era uma forma de demonstrar publicamente sua humildade.
  5. O Fariseu “exibido“: Como o nome já diz, esse era o fariseu que tinha prazer em contar (numericamente) e contar (publicamente) seus feitos. O objetivo era ter sempre o maior número de boas obras que os outros participantes da religião.
  6. O Fariseu “cheio de medo“: Esse era o fariseu que temia a Deus, não exatamente por causa da sua reverência ou respeito por Deus, mas por medo de Seu julgamento. Em outras palavras, era aquele que por temer o inferno  se certificava de obedecer todos os mandamentos da Lei de Deus, mesmo aqueles criados pela tradição dos anciãos.
  7. O Fariseu “que amava a Deus“: Esse era considerado o fariseu ideal, que obedecia a Deus por amor a Deus. Um grupo minoritário, que poderia ter incluido homens como Nicodemos, José de arimatéia e até mesmo Gamaliel.
Na minha opinião, o mais interessante em ler essa lista é perceber que esse tipo de farisaísmo ainda existe e está firme e forte em nossas igrejas. R.H.Stein está correto quando diz que “nem mesmo o cristianismo está isento dessa infeliz tendência (Stein, R. H. (2001). Vol. 24: Luke, pp. 340–341.).

A verdade é que de alguma forma os fariseus fizeram escola na igreja de tal modo que essa mesma lista poderia ser escrita para descrever sete tipos de cristãos religiosos. Deve ser por isso que também podemos dizer que ainda existe a propaganda, o incentivo e os modelos da religiosidade entre nós. É fato, a religiosidade é contagiante!

Fonte: Teologando

domingo, 21 de abril de 2013

Altar do Bezerro

 
Por  Jesse Campos

Gilbert K. Chesterton apontou que o problema do homem que não crê em Deus, não é que ele tenha parado de crer, mas sim que esse homem crê em qualquer coisa. Moisés subiu ao monte Sinai para receber a Lei de Deus. Mas, como Moisés demorou a retornar, o povo israelita decidiu construir um bezerro de ouro. Ao regressar, Moisés encontrou o povo cultuando tal bezerro (Êxodo 32). O fato é que ou o ser humano cultua a Deus ou ele se devota a algum bezerro que lhe pareça reluzir. Toda pessoa tem um lugar supremo, e apenas um, no centro do seu ser e existência. Esse lugar é na verdade um altar - um altar último. E ao ocupar esse altar o ser humano oferece sua maior devoção - sua vida. A questão não é se alguém tem ou não tem esse altar. A questão é o que está nesse altar - Deus ou um bezerro de ouro?

O ser humano não consegue viver sem algo que dê significado ao seu ser e existência. Ele precisa de algo que lhe provoque uma antecipação de realização e satisfação. A vida se torna vazia e insuportável sem esse valor. O altar não pode ficar vazio. Mas, nessa necessidade inevitável, contida ou expressa, um erro é comumente cometido. O ser humano concede uma dimensão última àquilo que é contingente e fortuito, buscando em algo que é menor que a vida o "atender" o anseio da alma ao invés de buscar no que é maior que a vida... e morte. O ser humano transveste de Deus aquilo que não é Deus. É um trágico equívoco. Da sua profunda experiência com esse drama, Blaise Pascal alertou que o abismo do vazio interior "pode ser preenchido apenas por um objeto infinito e imutável, em outras palavras, por Deus".

Jacques Ellul, professor de Sociologia e História na Universidade de Bordeaux, falecido em 1994, apontou corretamente que a idolatria "não tem desaparecido, mas longe disso... há os deuses secretos que assediam e seduzem muito eficazmente, porque eles não declaram abertamente serem deuses..." Sem Deus, essa sedução sempre acontece. Nenhum ser humano deixa vazio o seu altar supremo. O apóstolo Paulo disse que os seres humanos "dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem..." (Romanos 1:22-23)

No abandonar Deus, a ocupação desse altar é concedida a uma variedade de bezerros. Se para uns é um objeto religioso, para outros, atualmente, são alternativas seculares. Para o adolescente, dominado pela mídia e moda, o ocupante do altar é geralmente um artista ou esportista. Para o adulto, pode ser o dinheiro. Para o devoto da ciência, o ocupante do altar é ela própria. Outros endeusam uma causa, como a ecologia. As opções de deuses se multiplicam em formas tais como poder, profissão, status, romance, família, esporte, sexo, drogas etc. Eis a questão - qual é o bezerro no altar supremo?

Na esfera da religião, o erro do bezerro é um velho conhecido. Por isso, o mandamento antigo proíbe categoricamente a construção de qualquer imagem ligada ao culto - "não farás para ti... nenhuma imagem..." (Êxodo 20:4). É oportuno observar que Deus não deixou nenhum dado sobre a aparência de Cristo. Se houvesse essa informação, absurdos idólatras iconográficos aconteceriam. O coração humano é rápido e sutil na arte de transferir a divindade para um objeto que possa manipular ou possuir, e que se molde às suas expectativas e projeções.

É relevante notar que a narrativa informa que "o povo, ao ver que Moisés demorava a descer do monte, juntou-se ao redor de Arão e disse... faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse Moisés... não sabemos o que lhe aconteceu" (Êxodo 32:1). A demora foi crucial para o erro do bezerro. Moisés foi o líder que Deus escolheu para conduzir o povo. Ainda que Moisés fosse o homem de Deus para aquela tarefa, Moisés não era Deus, mas um homem. No entanto, sem a presença visível de Moisés, o povo desconsiderou Deus. Devido a visão equivocada que tinha de Deus, o povo acabou na miséria de cultuar um bezerro. Eles queriam Deus numa manifestação sob o controle de seus sentidos. Seria um deus condicionado à percepção, manipulação, concepção ou expectativa deles. Na verdade, os deuses no altar humano são consequências do domínio do ego em contraposição ao domínio de Deus. Por isso, o ser humano transfere o seu anseio pelo divino para algo da sua projeção e expectativa, e termina nas mãos daquilo que é imanente e menor que a vida, seja algo religioso ou secular.

O antídoto para esse erro é ter uma compreensão nítida de quem Deus é - Deus que transcende o universo humano. Um Deus acima e além da vida e da morte. É preciso uma visão de Deus que torne irrelevante e desnecessário qualquer bezerro. E somente o conhecer do Deus que transcende a finitude humana pode trazer a satisfação final. 

O fato é que os bezerros de ouro precisam ser abandonados ou não há encontro com Deus, portanto, não há satisfação plena. Pela fé, em arrependimento, o ego humano e suas idolatrias são crucificados com Cristo e o encontro com Deus acontece - o Deus suficiente. E no poder do Cristo ressurreto nasce uma nova vida com Deus. "...Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo..." (II Coríntios 5:19) E um novo cântico e preenchimento chegam à vida.

Fonte: Editora Fiel