quarta-feira, 29 de julho de 2015

QUANDO AS BOAS OBRAS SE TORNAM TRAPOS DE IMUNDÍCIA


Por Fabio Campos

Texto base: “... todas as nossas boas ações são como trapos sujos”. – Isaías 64.6b (NTLH)

Quão belo é contemplar alguém caridoso, não é verdade!? Não é para menos, pois além de “glorificar o Pai que está nos céus”, às obras ajudam o próximo e materializa nossa fé, como está escrito: “... foi pelas obras que a fé se consumou” (Tg 2.22b). As boas ações e a caridade não são boas somente para aqueles que delas se beneficiam, mas para aqueles que as praticam.

Mas há um tipo de “boa ação” que é pecado diante de Deus; aquela qual não é feita pela fé, e como está escrito,“tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm 14.23b). A Escritura diz que este tipo de obra é tida por Deus como trapo de imundície. Trapo de imundície, na época, era qualquer pedaço de papo mal cheiroso que fora utilizado para limpar algo impuro, como por exemplo, a “menstruação da mulher” e as feridas de um leproso. Ambos os casos eram considerados impuros no Antigo Testamento e exigiam, até que sarados, o isolamento social (Lv 15.3; 13. 8-10).

É extremamente necessário “examinarmo-nos a si mesmo” todos os dias para saber se de fato fazemos boas ações para glorificar a Deus e ajudar o próximo ou para nos vangloriar do que fazemos e se mostrar aos homens. C. S. Lewis já dizia a respeito do ativismo, o que parece ser fervor pode ser apenas inquietação ou até auto-adulação de quem se considera importante. Por isso algumas motivações tornam nossas boas ações trapo de imundície perante Deus.

Temos, por exemplo, os fariseus hipócritas tão duramente criticados pelo Senhor Jesus Cristo. Para angariar aplausos, se mostravam caridosos, no entanto faziam a vista da multidão tocando trombetas para alardear suas “virtudes”. Muitos agem do mesmo modo! Fazem o bem com mão direita e logo a esquerda já está sabendo. Basta qualquer boa ação, que por um instante traga um conforto a consciência culpada, para uma bela postagem do tal ato no facebook. Tal coisa é contrária ao ensino bíblico, como está escrito: “Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita” (Mt 6.3).

Outra coisa que torna nossas boas ações trapo de imundície é quando fazemos algo para ganhar o favor de Deus. Muitos querem se salvar em seus próprios méritos. Não são caridosos por amor ao próximo, mas porque amam a si mesmos. Quando uma “Testemunha de Jeová” bate na porta da sua casa, o objeto da salvação não é você, mas ele mesmo. Pensa que por suas obras, por aquilo que fazem para Deus serão salvos.

Muitos fazem por medo de Deus e, assim, pela caridade, pensam que estão, com isso, merecendo sua salvação. Boas obras neste intuito, por medo de Deus, para ganhar a salvação e não por amor a Ele, é uma afronta, já que somente em Jesus, e não na caridade, podemos ser salvos (At 4.12). Tal cousa é como um sino que ressoa; não faz sentido. Sem amor, ainda que eu distribua todos os meus bens aos pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se tal coisa não for feita unicamente por amor a Deus, de nada se aproveitará (1 Co 13. 3).

Nossas ações só são consideradas quando a realizamos por fé, pois tudo que não provem da fé, até nossas boas obras, quando são uma tentativa de merecer a salvação, é abominável. Na soberba, diríamos: “A minha própria mão me livrou” (Jz 7.2). Com a mesma soberba do Diabo, assim faz todo homem que se exalta diante de Deus ostentando sua “caridade”. Deus odeia o soberbo, mas concede favor aos humildes (Tg 4.6).

Os argumentos citados acima, geralmente são refutados pelos “cristãos” marxistas e pelos católicos romanos (não todos), com o texto de Mt 25. 31-46. O trecho em questão trata acerca de visitar o preso, dar comida ao faminto, hospedar o forasteiro e vestir aquele que não possui roupa. De fato, não há como ser cristão e faltar nestas coisas.

O problema é que este pessoal faz eisegese, e não exegese do texto. Tiram do contexto! Isolam da temática bíblica qual abrange outros textos para impor suas ideias e construir suas teologias. 

No trecho de Mateus, Jesus trata do julgamento, e antes mesmo de iniciar, já é separado ovelhas dos bodes (v. 31). O que precisa ficar entendido é que ovelha sempre foi ovelha; ela nunca se esforçou para ser ovelha (v. 33). Contudo, tem o outro lado; o pessoal que foi posto a esquerda, estes são bodes. Sempre foram bodes; mas por muito tempo se disfarçaram de ovelhas e tentaram enganar muitas pessoas com sua falsa caridade, como está escrito: “acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores” (Mt 7.15). Geralmente têm aparência de piedade, são caridosos, mas negam a Deus e a salvação em Jesus Cristo (2 Tm 3.5).

Não se deixem enganar, o diabo é muito mais bonito do que muita gente pensa. A Bíblia nos exorta a não ignorarmos os seus ardis (2 Co 2.11). Os filhos das trevas são mais habilidosos do que os filhos da luz (Lc 16.8).

A ovelha verdadeira faz sem saber que fez. O cristão verdadeiro - dá de comer ao faminto; dá de beber aquele que tem sede; hospeda o forasteiro sem saber (Hb 13.2); veste o que está nu e cuida do enfermo - mas ele tem para si mesmo que não está fazendo nada mais além do que sua obrigação. Veja que eles só saberão naquele dia que fizeram o bem, quando perguntarão ao Senhor: “Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber” (Mt 25.37 NVI).

O verdadeiro cristão é como a candeia; sem saber, ilumine os de sua volta. O sol nunca poderá deixar de brilhar; ele não se esforça para tal coisa. Brilha sobre justos e injustos simplesmente porque é sol. Tão logo o cristão verdadeiro faz boas obras, mas se gloria somente em Cristo, porque sabe que fazendo o bem, ainda estará devendo o amor (Rm 13.8).

Não há quem ame o suficiente; e Deus requer que amemos perfeitamente (Mt 5. 48). Se você está devendo o amor, está pecando contra Deus; por isso que por obras ninguém se salvará, mas somente pela fé em Cristo. Mesmo sendo falhos, para Deus, em Cristo, somos perfeitos e santos (Hb 10.14). Isso nos humilha sob a poderosa mão de Deus e nos abate. É como um espinho na carne qual nos ajuda a não se vangloriamos diante do Senhor.

A Bíblia nos exortar a dar esmolas, entretanto, com critério. Ela não endossa a filantropia aos vadios, como está escrito: “... se alguém não quiser trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10). Jesus, no texto usado por aqueles que se vangloriam de suas obras, se refere fazer aos “pequeninos” que lhe pertenciam (v 41,45). Precisamos ter critério.

Precisamos ter prioridades. A Bíblia diz que precisamos cuidar de nossa família. Se você é caridoso com os de fora, mas tem negligenciado sua família, a Escritura diz que você é pior que um descrente (1 Tm 5.8). O Reverendo Hernandes Dias Lopes diz que deixar de socorrer seus progenitores é um escândalo para o cristão, uma contradição, uma negação do verdadeiro cristianismo [1]. A Bíblia também diz para priorizarmos os “domésticos da fé” (Gl 6.10).

Muitos usam o texto de Mateus (conforme citei anteriormente) para se apoiar em suas boas ações, cantando em alto e bom som a sua “bondade” aos homens. Contudo, vão visitar os presos (por justa causa) e alimentar os pedintes (que não querem trabalhar). Lógico que todos os seres humanos por serem a imagem e semelhança de Deus precisam ser respeitados na sua singularidade e tratados com dignidade. No entanto, aqueles que defendem este pessoal usando este texto, erram na sua interpretação. Estão justificando suas obras-mortas (já que delas se vangloriam) em algo que Deus não as considera.

No tempo de Jesus, na Palestina, os desfavorecidos só conseguiam recursos unicamente através de esmolas. Não tinham acesso com facilidade a um trabalho digno e nem sequer poderiam recorrer a pensão de um salário mínimo. Estes são os “pequeninos” que Jesus sinalizou. Os forasteiros eram aqueles que foram lançados em prisões por motivos injustos. Era comum também tomar o estrangeiro por escravo. Por isso que junto da viúva e do pobre, o estrangeiro está entre a classe que Deus tem mais ciúmes.

No mundo antigo, as pousadas eram notoriamente sujas, notoriamente caras e notoriamente imorais. Portanto, aqueles que abriam seu lar aos pregadores itinerantes prestavam um importante trabalho à custa do evangelho[2]. Jesus disse que aquele recebe um profeta e der a ele algo de beber, ainda quer for um simples copo d’água fria, pelo o fato de pertencer ao Senhor, tal pessoa de maneira alguma perderá o seu galardão (Mt 10.40-42).

Outro texto muito usado por aqueles que querem se apoiar em sua caridade é o de Tiago, que diz: “A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1.27 NVI). Até o cuidado para com as viúvas deveria ter seus critérios. A Bíblia diz para honrarmos as viúvas piedosas (1 Tm 5.3), e não aquelas que se entregam a prostituição (1 Tm 5.6). Nunca estaremos isentos das boas obras, pois os “pobres sempre estarão conosco” (Jo 12.8), entretanto, tudo precisa ser feito com critério através da “fé que opera pelo amor” (Gl 5.6).

Portanto, não perca o galardão de Deus em busca dos aplausos dos homens. Faça boas obras e seja caridoso, mas nunca perca de vista que para Deus você ainda é um “servo inútil” (Lc 17.10). Se você quiser se vangloriar de suas obras, lembre-se que tropeçando num só ponto da lei, também será réu de todos os outros (Tg 2.10). Eu pergunto: O seu amor é perfeito? Você já deixou de fazer o bem mesmo tendo como fazê-lo? Se sim!, a Bíblia diz que você pecou, pois certamente você deixou de fazer a um dos pequeninos de Jesus (Tg 4.17).

Não divulgue suas boas ações e seus atos caridosos; tente fazer o possível para que ninguém as descubra, pois caso comece a divulgá-las, tudo se tornará trapo de imundície para Deus, e o seu galardão será somente a adulação hipócrita dos homens. Faça tudo por amor a Deus; certamente Ele se alegrará de ti. Tudo mais que você fez no secreto, O Senhor te honrará perante os homens.

Termino dizendo: Você tem obras por que não tem fé; ou você tem fé e a demonstra por meio das obras? Deus se alegrará das suas obras se primeiro encontrar fé! Você tem fé para isso? Não deixe suas boas obras virarem trapo de imundice; faça por gratidão e não para ser agraciado.

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!

Referências bibliográficas:

[1] LOPES, Hernandes Dias. 1 Timóteo; o pastor, sua vida e sua obra. Hagnos, 2014. São Paulo, SP, p. 118.[2] Ibid, p. 120.

Fonte: Fabio Campos

Você não pode impressionar Deus! Esqueça então a barganha ou reivindicações!


Por Josemar Bessa

Impressionar a Deus é uma tarefa possível ao homem? Claro que não!! Então por que se perde tempo tentando? Deus é Onipotente e por isso o esforço humano em impressioná-lo é fútil, pois a grandeza dos homens não pode impressionar um Deus de grandeza infinita.

Com a nova vida implantada no homem pelo Espírito, honrar a Deus é possível, não impressioná-lo, mais isso não é uma boa notícia para os que acham que podem de alguma forma barganhar com o Deus Eterno. Devemos largar de definitivamente a tentativa fútil de impressionar a Deus e começar a honrá-lo já. Mas qual é a única maneira que de fato nos leva a honrá-lo?

Deus não se impressiona com o que nos impressionamos. Muitas vezes medimos de forma equivocada mesmo aquilo que supomos ser espiritual. Deus exige algo que nós costumamos não levar em conta. Em I Crônicas 13.8 está escrito: “Davi e todo o Israel alegravam-se perante Deus com todas as suas forças, com cânticos, com harpas, com alaúdes, com tamborins, com címbalos e com trombetas”.

Para muitos esta seria a descrição perfeita do louvor e da adoração que exalta a Deus. Mais do que isso – descrição do que impressiona Deus. Nós nos acostumamos a nos impressionar com os números. Ali estava uma multidão. Multidões impressionam a Deus? Torna aceitável algo para Ele? A Bíblia diz que Deus conta o número das estrelas e as chama pelos nomes. Assim Ele vê todo o universo criado.

A Terra, onde vivemos, é um pequeno planeta que gira em torno de uma estrela que chamamos de Sol. Esta estrela tem o volume um milhão e trezentas vezes maior do que a Terra. Mais existem estrelas milhões de vezes mais luminosas que o Sol. Só na nossa galáxia existem cem bilhões de estrelas. A Via Láctea tem cem mil anos-luz de extensão (Um ano luz equivale a 299.792.458 Km/s) – O sol precisa de duzentos milhões de anos para cumprir apenas uma órbita em volta da nossa galáxia. Existem milhões de galáxias além da nossa. E Deus chama cada estrela individualmente por um nome próprio, é o que o livro de Salmos diz. Deus chama o Sol por um nome que não conhecemos, e faz o mesmo com trilhões e trilhões de estrelas espalhadas nas incontáveis galáxias. Dá ordem e todas lhes obedecem.

Uma multidão na rua como descrita em I Crônicas 13.8, pode impressionar você, não a Deus.

Ali estava Davi com uma multidão de pessoas que supostamente louvavam a Deus – milhares e milhares. Sabe o que este texto nos ensina?

AS MULTIDÕES NÃO ASSEGURAM A BENÇÃO. Acreditamos que se reunirmos uma multidão em “nome de Deus” – Ele se empolgará e isso moverá o Seu coração. O que aquela multidão junto com Davi estava fazendo? Cantavam!! Imagine o som de uma nação inteira “louvando” a Deus. O ajuntamento, o alcance daqueles cânticos – Deus não pode deixar de se impressionar, pensamos. É com isso que sonhamos – multidões se juntando para cantar – jovens, velhos, crianças, homens, mulheres... Havia uma grande quantidade de músicos – Cântico poderoso acompanhado por harpas, trombetas, tambores... O que esta multidão nos ensina?

CULTOS SUNTUOSOS NÃO SÃO GARANTIA DE GRAÇA. Não são garantia do olhar gracioso de Deus. Não são garantia de Sua aceitação. Deus não é “pragmático” como tendemos a ser – Se uma multidão se juntou numa grande celebração a Deus – o que mais importa? Isso pode impressionar você, não a Deus.

Aquela multidão não estava cantando sem forças, desanimadas, empurradas, arrastadas... Aquela multidão estava cheia de energia, se aplicando ao máximo ao que estava fazendo. O texto diz: “Alegravam-se perante Deus com todas as suas forças” – Não era uma adoração maçante, sem graça, sem vida. Era um culto brilhante, cheio de entusiasmo contagiante, cheio de vida e animação, cheio de alegria – Não pequena alegria, eles cantavam com todas as suas forças e se alegravam com todas as suas forças. No entanto, tudo acabou no mais retumbante fracasso. A multidão que cantava alegremente e fazia aquele culto suntuoso e brilhante, não o fazia segundo as ordens de Deus. Num tempo como o nosso é bom recordarmos que uma multidão cantando com vibração... Não pode tornar a sua vontade o padrão daquilo que Deus aceita, nem impressioná-lo. Aquele culto prestado por aquela multidão vibrante não levou em conta a Palavra de Deus, por isso não podia ser aceitável a Ele, e o número de pessoas envolvidas, e o culto brilhante que celebram, não podia mudar esse fato. A Arca da Aliança, símbolo da presença de Deus não estava sendo honrada – como Deus havia mostrado claramente na sua Palavra. A ideia de que podemos cultuá-lo da nossa maneira, e de que quanto mais gente envolvida, mais o coração de Deus se moverá, é um erro estúpido. E estupidez sempre leva a ruína.

O TEMOR - Naquele dia um homem morreu – seu nome era Uzá. Esse nome deve sempre nos lembrar que os paradigmas do nosso tempo estão errados e podem levar muitos a morte. Fazer algo certo mais à nossa maneira torna tudo em erro. Em desagrado e desonra a Deus. Não importa se a multidão está alegre, cantando com todas as suas forças, e alguns quem sabem, até se divertindo. Não importa se uma multidão foi atraída.

A terrível morte de Uzá causou um grande temor.Um temor que acabou com os cânticos naquele dia e dispersou a multidão. Um temor que deixou as ruas vazias e casas cheias de pessoas perplexas. Um temor que perdemos nos nossos dias. Dias em que confundimos qualquer multidão cantando e se “alegrando” em Deus, como algo que realmente O honra. Achando que nossas luzes e fumaças podem impressionar o Criador do Universo.

Deve haver em nós um senso de indignidade ao nos aproximarmos de Deus para um trabalho tão santo como a verdadeira adoração. Não pode ser do nosso modo, não pode ser para divertir e alegrar as pessoas, não pode ser apenas um chamariz para as multidões ávidas por entretenimento.

Naquele dia Davi ficou perturbado: “Então Davi se desgostou porque o Senhor havia irrompido contra Uzá” – Mas Davi logo percebeu que ficar desgosto com a demonstração da ira de Deus não era o caminho a ser seguido. Cheio de temor, Davi se perguntou – “Como trarei a mim a arca de Deus?” – A resposta é – DO MODO DE DEUS. Deus tinha registrado em sua Palavra como devia ser feito. Quiseram inovar, quiseram ser criativos, esqueceram os velhos preceitos de Deus. Deus tinha dito que a Arca seria carregada por sacerdotes através de varas postas nas argolas que estavam sobre Arca – que seria carregado nos ombros. Mas a criatividade diz, porque não usar um carro de bois? É mais prático. Por que fazer tantos sacrifícios? Vamos nos alegrar em Deus e “fazer do nosso jeito” – Não é a cara da mente que norteia os nossos dias? Uzá e Aiô guiavam o carro – os bois tropeçaram, a Arca tombou, Uzá tentou segurá-la – a festa acabou!!

Uzá estava morto.

UMA MULTIDÃO CANTANDO E SE ALEGRANDO – não pode mudar o pensamento de Deus. A Bíblia diz: “Temeu Davi ao Senhor” – Ele foi esmagado por um temor santo. Por não vermos “Uzás” caindo mortos em meio ao cântico das multidões, seguimos em frente achando que o culto brilhante da multidão cativa o coração de Deus. Davi se voltou para a Palavra de Deus para descobrir de que maneira as coisas deviam ser feitas. Fez uma pausa longa, até ter certeza que não faria mais nada segundo sua própria opinião.

A Arca foi deixada na casa de um homem chamado Obede-Edom. Ninguém morreu lá. Um homem e sua família ficaram com a Arca e agradaram a Deus. Deus que rejeitou a multidão com sua própria opinião de como cultuá-lo. Quebrando em nós a ideia tola de que o erro feito por uma multidão (mesmo que num suposto culto a Deus) – pode por causa disso, impressionar e ter a aceitação de Deus. Deus se agradou de um homem que o obedeceu. Entre a multidão com sua própria opinião e Obede-Edom com sua obediência, Deus ficou com um único homem e rejeitou a multidão. “Assim ficou a arca de Deus com a família de Obede-Edom, três meses em sua casa, e o Senhor abençoou a casa de Obede-Edom, e tudo o que ele tinha”.

A MENTE DE DEUS É O QUE IMPORTA – Davi entendeu isso. Ele adequou-se à mente de Deus: “E os levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros, pelas varas que nela havia. Como Moisés tinha ordenado, conforme a Palavra do Senhor” – Nossas mentes, nosso métodos, nossos cultos devem ser governados por Deus. Termos consciência do chamado santo ao qual nós fomos chamados: “Assim santificaram-se os sacerdotes e os levitas, para fazerem subir a arca do Senhor Deus de Israel”.

Outro rei de Israel já tinha ouvido: “Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios ( culto ) quanto que se obedeça à sua palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado de feitiçaria, e a arrogância como o mal da idolatria. Assim como você rejeitou a Palavra do Senhor, ele o rejeitou como rei” (I Samuel 15.22,23). Saul quis prestar um culto a Deus com todo o seu exército com o fruto da sua desobediência, de sua ganância, de seu materialismo... como isso se parece com o que chamamos culto hoje.

Essas histórias são antigas, desbotadas pelo tempo. Mas a propensão humana em desobedecer e querer prestar culto a sua maneira continua a mesma. Achar que grandes ofertas, grandes multidões, grande alegria... torna o erro em algo certo, o inaceitável em aceitável ao Deus santo, soberano e que não pode ser impressionado com nada que achamos grande.

Samuel disse três coisas a Saul:

· Obedecer é melhor do que todos os tipos de sacrifícios (cultos).
· Rebelar-se é semelhante a envolver-se com satanismo.
· Desobedecer nos coloca no mesmo patamar de quem adora outros deuses.

Talvez você esteja substituindo qualquer outra coisa no lugar da ordem clara de Deus em Sua Palavra – Não o faça mais – Não espere mais – OBEDEÇA!

Talvez você se junte a multidão num espírito teimoso que leva você a se rebelar contra a direção de Deus – Não cultive o hábito de resistir a Deus. Lembre de Uzá, lembre de Saul. Não se rebele mais – OBEDEÇA!

Talvez você ache que o que uma multidão faz se torna certo e Deus não pode rejeitar. Não se engane mais – OBEDEÇA!

Não podemos impressionar o Deus Onipotente. O Criador do Universo – Não podemos barganhar com o dono de todas as coisas. Não há nenhuma prova de amor a Deus a não ser a obediência... nada mais, nada menos. OBEDEÇA!!!!

Deus tem prazer naqueles que desfrutam do gozo de saber que Deus é Deus – que esperam nele silenciosos – Deus tem prazer nessas pessoas. Mesmo quando sozinhas, mesmo se nunca fizerem parte de uma multidão aqui na terra. Ele se agrada daqueles que esperam no imensurável poder dele. Não tente impressioná-lo!

Fonte: Josemar Bessa

quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Autor e os Objetos da Predestinação


Por Louis Berkhof

1. O AUTOR. Indubitavelmente, o decreto da predestinação é, em todas as suas partes, um ato concomitante das três pessoas da Trindade, que são uma só em Seu conselho e em Sua vontade. Mas, na economia da salvação, como nos é revelada na Escritura, o ato soberano de predestinação é atribuído mais particularmente ao Pai, Jo 17.6, 9; Rm 8.29; Ef 1.4; 1 Pe 1.2. 

2. OS OBJETOS DA PREDESTINAÇÃO. Em distinção do decreto geral de Deus, a predestinação só diz respeito às criaturas racionais de Deus. Mais frequentemente se refere aos homens decaídos. Todavia, o termo é empregado num sentido mais amplo, e aqui o utilizamos no sentido mais abrangente, para incluir todos os objetos da predestinação. Esta inclui as criaturas racionais, isto é: 

a. Todos os homens, bons ou maus. Não meramente como grupos, mas como indivíduos, At 4.28; Rm 8.29, 30; 9.11-13; Ef 1.5, 11. 

b. Os anjos, bons e maus. A Bíblia fala não somente de anjos santos, Mc 8.38; Lc 9.26, e de anjos ímpios, que não conservaram o seu estado original, 2 Pe 2.4; Jd 6; mas também faz explícita menção de anjos eleitos, 1 Tm 5.21, implicando com isso que também há anjos não eleitos.Surge naturalmente a questão: Como podemos conceber a predestinação dos anjos? Para alguns, significa simplesmente que Deus determinou de modo geral que os anjos que permanecessem santos seriam confirmados num estado de bem-aventurança, ao passo que os demais estariam perdidos. Mas isto de modo nenhum se harmoniza com a ideia bíblica de predestinação. Esta na verdade significa que Deus, por razões para Ele suficientes, decretou dar a um certo número de anjos, em acréscimo à graça de que foram dotados pela criação e que incluía grande capacidade para permanecerem santos, a graça especial da perseverança; e privar desta os demais. Há pontos de diferença entre predestinação dos homens e a dos anjos: (1) Enquanto se pode pensar na predestinação dos homens como infralapsária, a dos anjos só pode ser entendida como supralapsária. Deus não escolheu certo número de anjos dentre uma multidão de anjos decaídos. (2) Os anjos não foram eleitos ou predestinados em Cristo como Mediador, mas, sim, como Chefe, isto é, para estarem em relação ministerial (de serviço) com Ele. 

c. Cristo como Mediador. Cristo foi objeto da predestinação no sentido de que: (1) um amor especial do pai, distinto do Seu usual amor ao Filho, estava sobre Ele, desde toda eternidade, 1Pe 1.20; 2.4: (2) em Sua qualidade de mediador, Ele era objeto do beneplácito de Deus. 1 Pe 2.4 (3) como Mediador, Ele foi adornado com a imagem especial de Deus, `a qual os crentes devem conformar-se, Rm 8.29; e (4) o Reino, com toda a sua glória, e os meios conducentes `a sua posse, foram ordenados para Ele, para que Ele os passasse aos crentes, Lc 22.29 

As Partes da Predestinação. 

A predestinação inclui duas partes, a saber, eleição e reprovação, a predeterminação tanto dos bons como dos maus para o seu fim definitivo, e para certos fins próximos, que servem de instrumentos para o cumprimento do seu destino final. 

1. ELEIÇÃO 

a. A ideia bíblica da eleição. A Bíblia fala de eleição em mais de um sentido. Há (1) a eleição de Israel como povo, para privilégios especiais e serviço especial, Dt 4.37; 7.6-8; 10.15; Os 13.5. (2) A eleição de indivíduos para algum ofício, ou para a realização de algum serviço especial, como Moisés Ex 3, os sacerdotes, Dt 18.5, os reis, 1 Sm 10.24; Sl 78.70, os profetas, Jr 1.5, e os apóstolos, Jo 6.70; At 9.15. (3) A eleição de indivíduos para serem filhos de Deus e herdeiros da glória eterna, Mt 22.14; Rm 11.5; 1 Co 1.27, 28; Ef 1.4; 1 Ts 1.4; 1 Pe 1.2; 2 Pe 1.10. Esta última é a eleição aqui considerada como parte da predestinação. Pode-se definir como o ato eterno de Deus pelo qual Ele, em Seu soberano beneplácito, e sem levar em conta nenhum mérito previsto nos homens, escolhe um certo número deles para receberem a graça especial e a salvação eterna. Mais resumidamente, pode-se dizer que a eleição é o propósito de Deus, de salvar certos membros da raça humana, em Jesus Cristo e por meio dele. 

b. Características da eleição. As características da eleição e as dos decretos em geral são idênticas. O decreto da eleição é: (1) Uma expressão da vontade soberana de Deus, do beneplácito divino. Significa, entre outras coisas, que Cristo como Mediador não é a causa impulsora, motriz ou meritória da eleição, como alguns têm asseverado. Pode-se lhe chamar causa mediata da concretização da eleição, e causa meritória da salvação para a qual os crentes foram eleitos, mas Ele não é a causa motriz ou meritória da eleição propriamente dita. Isso é impossível, visto que Ele mesmo é objeto da predestinação e eleição, e porque, quando se incumbiu da Sua obra mediatória no Conselho de redenção, já fora fixado o número dos que Lhe foram dados. A eleição precede logicamente ao Conselho de paz. O amor eletivo de Deus precede ao envio do Seu filho, Jo 3.16; Rm 5.8; 2 Tm 1.9; 1 Jo 4.9. Ao dizer-se que o decreto da eleição se origina no beneplácito divino exclui-se também a ideia de que ela é determinada por alguma coisa existente no homem, como a fé ou as boas obras previstas, Rm 9.11; 2 Tm 1.9. (2) É imutável e, portanto, torna segura e certa a salvação dos eleitos. Deus executa o decreto da eleição coma sua própria eficiência, pela obra salvadora que realiza em Jesus Cristo. É Seu propósito que certos indivíduos creiam e perseverem até o fim, e Ele assegura este resultado pela obra objetiva de Cristo e pelas operações subjetivas do Espírito Santo, Rm 8.29, 30; 11.29; 2 Tm 2.19. É o firme fundamento de Deus que permanece, “tendo este selo: o Senhor conhece os que lhe pertencem”. E, como tal, é fonte de abundante consolação para os crentes. Sua salvação não depende da sua obediência incerta, mas tem a garantia do propósito imutável de Deus. (3) É eterna, isto é, desde toda a eternidade. Esta eleição divina jamais deve ser identificada com alguma seleção temporal, seja para o gozo da graça especial de Deus nesta vida, seja para privilégios especiais e serviços de responsabilidade, seja para a herança da glória por vir, mas, antes, deve ser considerada eterna, Rm 8.29, 30; Ef 1.4, 5. (4) É incondicional. 

A eleição não depende de modo algum da fé ou das boas obras humanas previstas, como ensinam os arminianos, mas exclusivamente do soberano beneplácito de Deus, que é também o originador da fé e das obras, Rm 9.11; At 13.48; 2 Tm 1.9; 1 Pe 1.2. Desde que todos os homens são pecadores e perderam o direito às bênçãos de Deus, não há base para essa distinção neles; e desde que até a fé e as obras dos crentes são fruto da graça de Deus, Ef 2.8, 10; 2 Tm 2.21, mesmo estas, como previstas por Deus, não podem fornecer a referida base. (5) É irresistível. Não significa que o homem não possa opor-se à sua execução até certo ponto, mas significa, sim, que a sua oposição não prevalecerá. Tampouco significa que Deus, na execução do Seu decreto, subjuga de tal modo a vontade humana que seja incoerente com a liberdade da ação humana. Significa, porém, que Deus pode exercer e exerce tal influência sobre o espírito humano que o leva a querer o que Deus quer, Sl 110.3; Fp 2.13. (6) Não merece a acusação de injustiça. O fato de que Deus favorece alguns e passa por alto outros, não dá direito à acusação de que sobre Ele pesa a culpa de agir com injustiça. Só podemos falar de injustiça quando uma parte pode reivindicar algo de outra. Se Deus devesse o perdão do pecado e a vida eterna a todos os homens seria injustiça se Ele salvasse apenas um número limitado deles. Mas o pecador não tem, absolutamente, nenhum direito ou alegação que possa apresentar quanto às bênçãos decorrentes da eleição divina. De fato, ele perdeu o direito a essas bênçãos. Não somente não tem direito de pedir contas a Deus por eleger uns e omitir outros, como também devemos admitir que Ele seria perfeitamente justo, se não salvasse ninguém, Mt 20.14, 15; Rm 9.14, 15. 

c. O propósito da eleição. I propósito desta eleição eterna é duplo: (1) O propósito próximo é a salvação dos eleitos. A palavra de Deus ensina claramente que o homem é escolhido ou eleito para a salvação, Rm 11.7-11; 2 Ts 2.13. (2) O objetivo final é a glória de Deus. Mesmo a salvação dos homens está subordinada a esta finalidade. Em Ef 1.6, 12,14 dá-se muita ênfase ao fato de que a glória de Deus é o supremo propósito da graça da eleição. O evangelho social dos dias atuais gosta de salientar que o homem é eleito para servir. Na medida em que isto vise negar que a eleição do homem é para a sua salvação e para a glória de Deus, é claramente contrário à Escritura. Entretanto, entendida pelo que ela é em si mesma, sem segundas intenções, a ideia de que os eleitos foram predestinados para servir ou para as boas obras, é inteiramente escriturística, Ef 2.10; 2 Tm 2.21; mas esta finalidade é subserviente às finalidades já indicadas.

Fonte: Teologia Sistemática, Louis Berkhof, Ed. Cultura Cristã

terça-feira, 7 de julho de 2015

O problema de Mateus 11.12


Por Clóvis Gonçalves

Introdução

A salvação é pela graça ou depende do esforço pessoal? Boa parte dos cristãos responderiam com um enfático “Sola Gratia!”. Alguns, porém, diriam que é pela graça cooperando com esforço humano. E ainda alguns poucos afirmariam que depende fundamentalmente do empenho pessoal. Nestes dois últimos casos, pode-se buscar apoio em Mateus 11:12 que diz:

“Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele.” (Mt 11.12, ARA).

Porém não é ponto pacífico que Mateus 11:12 resolve a questão em favor da tese do esforço pessoal, pois o texto é de considerável dificuldade de tradução e está envolto em grande disputa quanto à interpretação de suas declarações.

Compare-se algumas das traduções existentes em português. Algumas dizem que “o reino dos céus é tomado à força” (NVI, 2000; TB, 2010), outras que “o reino dos céus é tomado por esforço” (ARA, 1993), que “se faz violência ao Reino dos céus” (ARC, 1968; ARC, 1969; ARC, 1995), que “o reino dos céus tem sido assaltado com violência” (APC, 1991) e que “o Reino do Céu tem sido atacado com violência” (NTLH, 2000). Sobre a identidade dos que tomam o reino é dito que são “os que usam de força” (NVI, 2000), “os que se esforçam” (ARA, 1993; TB, 2010) ou ainda “os violentos” (APC, 1991; NTLH, 2000). Há boas razões para se optar por uma ou outra tradução, mas não podem todas estar igualmente corretas.

Objetivos

Diante das variações nas traduções disponíveis, deve-se estudar o significado dos termos[1] biazetai e biastai para determinar a expressão que mais se aproxima do original grego. Então será possível fazer considerações sobre se o reino exerce ou sofre a ação descrita pelo verbo, e no segundo caso, se a ação sofrida é de natureza favorável ou desfavorável. A partir disso pode-se investigar a identidade dos que exercem a ação referida na segunda cláusula. Finalmente uma resposta ao problema apresentado na introdução é fornecida.

O significado de biazetai e biastai

O termo traduzido para a expressão “tomado por esforço” ou suas alternativas é biazetai, verbo defectivo que ocorre na voz média e mais frequentemente na passiva. O termo é derivado de biazo, que significa “usar a violência, aplicar a força; forçar, infligir violência em” (STRONG, 2002).

Na Escritura Grega o termo só ocorre aqui e em Lc 16:16. Porém cognatos de biazetai traduzem, na Septuaginta, os termos patsar, “empurrar, pressionar” (Gn 33:11; Jz 19:7), harac, “derrubar, demolir, romper” (Êx 19:24), chazaq, “ser forte, ficar forte, prevalecer (sobre)” (Dt 22:25), taphas, “pegar, agarrar, prender, capturar, segurar (a fim de) manusear” (Dt 22:28) e parats, “irromper, romper, derrubar, abrir uma brecha, arrombar” (2Rs 13:25,27). De forma exatamente igual a Mt 11:12, biazetai só ocorre no apócrifo 4Macabeus 2.8, traduzindo o termo kabash, que significa“aprisionar, tornar subserviente, dominar, forçar, violentar, subjugar, dominar, pisar” (STRONG, 2002).

O verbo biazetai ocorre ordinariamente na voz passiva, porém há registro do mesmo na vez média (BULLINGUER & LACUEVA, 1985). A voz ativa somente é encontrada em Homero e no grego tardio, enquanto que a voz passiva não é incomum nos escritos de Tucídides, Demóstenes e Filo (CREMER, 1895). Embora alguns sigam LADD (2006) e HENDRIKSEN (2007) no entendimento de que em Mt 11:12 biazetai seja melhor interpretado como voz média, parece quase consensual que a voz aqui é passiva (VINCENT, 1887; HANNA et all, 1993; LOGOS, 2011; WALVOORD & ZUCK, 1995; etc.), apesar da forma de escrita ser idêntica nos dois casos. O fato de em Lc 16:16 o verbo estar na voz média não representa problema para a voz passiva de Mt 11:12, haja vista que num mesmo livro Tucídides usa promiscuamente tanto a voz passiva como o depoente médio (CREMER, 1895).

“Os que se esforçam” da Almeida Revista e Atualizada é tradução de biastai, substantivo que significa “forte, impetuoso, que faz uso da força, violento” (STRONG, 2002), “o que emprega a violência, pessoa impetuosa” (TUGGY, 2003) e “uma pessoa que apela para a violência para alcançar os seus objetivos” (LOUW & NIDA, 2013). O termo só ocorre em Mt 11:12 e na forma em que aparece é desconhecido no grego clássico e só podemos inferir o seu significado a partir de seus cognatos. O substantivo bia indica “uma força intensa e destrutiva” (At 5:26; 27:41) indicando capacidade de machucar ou de causar estrago, biaios, “violento, forte, intenso” (At 2:2) denotando uso de força intensa ou violenta, biazomai, “ser atacado com violência, sofrer ataques violentos” ou “ser violento, apelar para a violência” (LOUW & NIDA, 2013). No grego extrabíblico, bia é traduzido por “violência”, biazo como “forçar” eparabiazomai como “prevalecer sobre” (LOGOS, 2011).

A natureza de biazetai e biastai

Uma questão que surge na análise de biazetai e biastai é se são usados de uma forma favorável ou desfavorável, ou seja, se denotam algo bom ou mau.

O sentido de harpazo poderia fornecer algum subsídio à elucidação da questão, contudo não é decisivo. O verbo significa “pegar, levar pela força, arrebatar, agarrar, reivindicar para si mesmo ansiosamente, arrebatar” (STRONG, 2002) e num primeiro momento parece indicar um sentido desfavorável. De fato, boa parte das passagens apontam nesse sentido: roubar os bens de alguém (Mt 12.29), arrebatar a semente da Palavra do coração (Mt 13:19), arrebatar as ovelhas como o lobo faz (Jo 10:12) e tirar o crente das mãos do Senhor (Jo 10:28-29). Mas o termo também é usado num sentido neutro e até mais claramente positivo: arrebatar alguém para fazê-lo rei (Jo 6:15), transportar pelo Espírito para outro lugar ou para o céu (At 8:39; 2Co 12:2,4; 1Ts 4:7) e regatar ou livrar de perigo (At 23:10; Jd 23; Ap 12:5). Parece-nos que o caráter de harpazo tem que ser determinado pelo sentido de biazetai e biastai, e não o inverso.

Resta-nos tentar inferir o sentido favorável ou desfavorável de biazetai e biastai deles mesmos. Como vimos,biazetai está na voz passiva, o que significa literalmente que o reino “é forçado, vencido, superado, tomado pela tormenta” (VINCENT, 1887). De acordo com CREMER (1895), a voz passiva de biazo só ocorre no sentido de uma subjugação hostil ou violenta, portanto, mau. O autor reforça que embora biastai não ocorra fora de Mt 11:12, biastesocorre em Filo, e sempre num mau sentido. HENDRIKSEN (2007) concorda que se o verbo for considerado na voz passiva, então o sentido da expressão é desfavorável, talvez por isso advogue a voz média. Uma vez que o termobiazetai implica o uso de força, e até de violência, e que a voz passiva aponta para o sentido de que o reino sofre violência (HANNA et all, 1993), a natureza desfavorável parece-nos a mais provável, embora nem todos os comentaristas estejam de acordo, como veremos.

Interpretação

Considerando os significados das palavras no grego e especialmente a voz do verbo, várias interpretações têm sido oferecidas para essa difícil passagem. Um primeiro conjunto delas defende que o reino é que vem com a força de uma tormenta. Um outro grupo defende que o reino sofre violenta perseguição. A depender de qual dessas duas posições é assumida, os que tomam o reino são identificados como Jesus, João Batista, os discípulos ou os inimigos do reino dos céus.

Antes de se fazer referência a essas interpretações e se indicar qual aparenta ser a mais acertada, deve-se rejeitar a interpretação de que o verso não é o registro das palavras de Jesus, mas uma nota adicionada pelo redator do evangelho. E especialmente desconsiderar sugestões como a de BARCLAY (2001), de que Mateus e Lucas entenderam de maneira diferente o dito de Jesus e que tanto um como o outro a reproduzem de maneira equivocada. Não se deve atribuir nossa dificuldade de entender alguma passagem a erro de inspiração dos autores.

O reino de Deus vem com força

Este ponto de vista é defendido por HENDRIKSEN (2007), que por não ver nada no contexto que sugira um sentido desfavorável, mesmo admitindo que o termo se ajusta melhor à voz passiva que sugere que o reino dos céus “está sendo tomado de assalto” e que “homens ávidos estão se apoderando dele” prefere a voz média, que sugere que o reino “está avançando vigorosamente”. LADD (2001) defende uma perspectiva dinâmica do reino, destacando a soberania de Deus sobre a missão de Jesus, pela qual Deus encontra-se operando poderosamente entre os homens. Desse ponto de vista, através da pregação do Batista e de Jesus, o reino dos céus está avançando vigorosamente, com força, o que fica claro pelo fato dos enfermos serem curados e os leprosos purificados, os mortos ressuscitados e os pecadores recebendo vida eterna, tudo isto nunca visto antes (HENDRIKSEN, 2007). Outros defendem que as palavras de Jesus devem ser tomadas num sentido metafórico, denotando a irrupção violenta do reino dos céus, uma descrição figurada da grande era que havia começado (LANGE & SCHAFF, 2008).

O reino de Deus está sendo atacado num sentido favorável

A maioria dos estudiosos defendem a voz passiva para o verbo biazetai, porém não necessariamente num sentido negativo. Alguns não admitem que o reino dos céus seja vencido (KITTEL et all, 2002), portanto rejeitam a possibilidade de que pessoas violentas se apossem dele com culpa e consideram mais plausível que as pessoas o tomem por força num bom sentido, ou seja, usando uma resolução radical para entrar nele. Para HENRY (1999), Jesus elogiou João dizendo que Deus honrou seu ministério e fez com que tivesse uma eficácia admirável para romper a indolência e estimular o povo a entrar esforçadamente no reino dos céus. Segundo o autor puritano, Jesus disse que desde o começo da pregação de João o reino dos céus sofre violência no sentido de que é tomado pela força, como a um país ou cidade conquistada por invasão súbita, e que os violentos o arrebatam, não inimigos, mas os que abrigam um desejo apaixonado e tomam uma resolução indomável de começar uma vida cristã e seguir firmes nela.

Seguindo essa linha, mas com alguma variação, outros entendem que Jesus teria usado metaforicamente o zelo de revolucionários como os zelotes, que queriam um reino estabelecido pelo poder das armas, para passar a ideia do compromisso necessário para entrar no reino dos céus (KEENER, 2004). Os seguidores de Jesus seriam, então, zelotes espirituais, que com o uso de violência se apegam ao reino com mão impetuosa, com um verdadeiro agarrar (KRETZMANN, 1924).

O reino de Deus está sendo atacado num sentido desfavorável

A leitura mais natural do texto é a que diz que desde o tempo de João o reino de Deus e seus trabalhadores sofrem violência da parte de seus inimigos, que tentam evitar ou usurpar o governo divino (BARRY et all, 2012). O grego indica que o reino está sendo atacado e que homens violentos estão tratando de impedir que outros entrem, conforme HERNÁNDEZ (2003) acentua. Em vez de receber o reino dos céus com alegria, o Israel liderado por homens violentos quer destruir o Rei e Seu reino (PORTER, 1986), estendendo seu ataque aos mensageiros do reino. CARSON et all (2000) reforçam essa interpretação apontando as diferenças entre Mt 11:12 e Lc 16:16, afirmando que o significado mais natural é que o reino dos céus tem sido submetidos à violência e os homens violentos o atacam, numa referência à oposição violenta que a obra verdadeira de Deus sempre desperta. Destacam que a prisão de João e a rejeição e execução de Jesus, a acontecer em breve, corroboram essa interpretação

Uma variação deste ponto de vista mescla o ataque culposo ao reino com uma reação forte, mas favorável, dos discípulos. WALVOORD & ZUCK (1995) parafraseiam as palavras de Jesus da seguinte forma: “o reino dos céus sempre experimentará violência. Sempre haverá homens que tentarão desbaratá-lo e destruí-lo. É assim que somente entrará nesse reino aquele que de todo coração o busque, aquele a quem a violência da devoção se equipare a, ou supere a violência da perseguição”. RÍOS (1994) acompanha esse pensamento dizendo que as palavras de Jesus tanto haviam sido uma advertência à violência que viria como um desafio a que haja devoção mais forte que a violência. Assim, o dito de Jesus teria um duplo propósito, advertir a seus seguidores da violência que deveriam suportar e desafiá-los a cultivar uma piedade corajosa, que fosse muito mais poderosa que essa violência (BARCLAY, 2001).

Quem são os violentos

A identificação dos biastai dependerá em grande parte de qual das três posições acima é adotada. Os que defendem que o reino vem com violência entendem que Deus exige uma reação igualmente poderosa (LADD, 2001). Referindo-se a participantes de um reino que se manifesta poderosamente, o termo não pode significar homens violentos, e sim, homens vigorosos (HENDRIKSEN, 2007). Em que pese o encaixe ao contexto imediato, essa interpretação tem pouco apoio textual e não se coaduna com o que é dito logo a seguir em Mt 11:25-28.

Os que adotam a posição de que o reino é tomado de forma positiva, apontam Jesus e João Batista como os que tomam o reino pela força, o primeiro iniciando e o segundo completando a conquista (LANGE & SCHAFF, 2008), ou os discípulos de ambos, cobradores de imposto e gentios, que tomados de santo zelo e sinceridade, se apossam logo da misericórdia oferecida no evangelho, e, desta forma, arrebatam o reino, como que à força, daqueles doutores ilustres que reivindicam para si os melhores lugares neste reino (CLARKE, 1997). Somam-se a estes os que veem um duplo sentido nas palavras de Jesus, para os quais os que reagem ao ataque inimigo são os filhos do reino dos céus.

Finalmente, os que entendem o ataque ao reino como uma ação inimiga, identificam os violentos com os líderes religiosos dos dias de Jesus, que reclamavam por conta próprio um direito sobre o reino (WALVOORD & ZUCK, 1995) ou os grupos revolucionários que pretendiam um reino terreno, como os zelotes e outros ativistas (CARRO et all, 1993).

Conclusão

Os argumentos em favor do reino sofrendo violência por parte dos inimigos do evangelho parecem mais consistentes. A voz passiva do verbo biazetai é determinante para indicar que o reino sofre violência, da parte de Herodes e dos líderes judeus. O primeiro prendeu João e iria executá-lo em seguida, enquanto que os outros se oporiam à mensagem do reino e perseguiriam a Jesus. No capítulo anterior, quando Jesus enviou os doze dizendo “pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus” (Mt 10:7) advertiu-lhes “eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos”(Mt 10:16), acrescentando “acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas…” (Mt 10:17) “e odiados de todos sereis por causa do meu nome” (Mt 10:22). No capítulo 12, a perseguição anunciada no capítulo 10 e implícita no capítulo 11, começa a tornar-se explícita: “E os fariseus, vendo isto, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado” (Mt 12:2) e logo em seguida “os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem” (Mt 12:14).

Os violentos, então, não são discípulos determinados, mas inimigos que tentam arrebatar o reino pela força, não entrando e tentando impedir que outros tomem parte dele. Os discípulos de Jesus são descritos no mesmo capítulo, não como homens violentos ou valentes, mas sim como pequeninos e oprimidos: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11:25-27).

Se esta interpretação estiver correta, o uso de Mt 11:12 para defender o esforço humano na obtenção da salvação é impróprio. Aliás, advogar a interpretação de que o reino de Deus é conquistado por pessoas esforçadas levanta sérios problemas com o ensino claro e inequívoco de que salvação é unicamente pela graça e pelo poder de Deus.

Referências bibliográficas

BARCLAY, William. The Gospel of Matthew. Westminster John Knox Press, 2001.

BARRY, John D.; HEISER, Michael S.; CUSTIS, Miles; MANGUM, Douglas; WHITEHEAD, Matthew M. Faithlife Study Bible. Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2012.

BULLINGER, Ethelbert W; LACUEVA, Francisco. Diccionario de figuras de dicción usadas en la Biblia. Terrassa (Barcelona): Editorial CLIE, 1985.

CARRO, Daniel; POE, José Tomás; ZORZOLI, Rubén O. Comentario bı́blico mundo hispano: Mateo. 1. ed. ed. El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano, 1993.

CARSON, D. A.; FRANCE, R. T.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Nuevo comentario Bı́blico: Siglo veintiuno. Miami: Sociedades Bíblicas Unidas, 2000.

CLARKE, Adam. Commentary on the Bible.Thomas Nelson Incorporated, 1997.

CREMER, Hermann. Biblico-Theological Lexicon of New Testament Greek. Edinburgh: T. & T. Clark, 1895.

HANNA, Roberto; ARROYO, Karen Suárez; ÁLVAREZ, Edgardo. Ayuda gramatical para el estudio del Nuevo Testamento griego. Segunda edición. ed. El Paso, TX : Editorial Mundo Hispano, 1993.

HENDRIKSEN, William: Comentario al Nuevo Testamento: El Evangelio según San Mateo. Grand Rapids, MI : Libros Desafío, 2007

HENRY, Matthew; LACUEVA, Francisco. Comentario Bı́blico de Matthew Henry. TERRASSA (Barcelona): Editorial CLIE, 1999

HERNÁNDEZ, Eduardo A. Biblia de estudio: LBLA. La Habra, CA: Editorial Fundacion, Casa Editoral para La Fundacion Biblica Lockman, 2003.

KEENER, Craig S. Comentário Bíblico Atos: Novo Testamento. Belo Horizonte, MG: Editora Atos, 2004.

KITTEL, Gerhard; FRIEDRICH, Gerhard; BROMILEY, Geoffrey W. Compendio del diccionario teológico del Nuevo Testamento. Grand Rapids, MI: Libros Desafío, 2002.

KRETZMANN, Paul E. Popular Commentary of the Bible Old Testament. Concordia Publishing House, 1924.

LADD, George Eldon. Reino de Dios. In: HARRISON, E. F. et all (org). Diccionario de Teología. Grand Rapids, MI: Libros Desafío, 2006.

_____. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001.

LANGE, John Peter; SCHAFF, Philip. A commentary on the Holy Scriptures: Matthew. Bellingham, WA : Logos Bible Software, 2008.

The Lexham Analytical Lexicon to the Greek New Testament. Logos Bible Software, 2011.

LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene A. Léxico grego-português do Novo Testamento baseado em domínios semânticos. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

PORTER, Rafael: Estudios Bı́blicos ELA: ¿Listos para el rey? (Mateo). Puebla, Pue., México: Ediciones Las Américas, A. C., 1986.

RÍOS, Asdrúbal. Comentario bı́blico del continente nuevo: San Mateo. Miami, FL: Editorial Unilit, 1994.

STRONG, James. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

TUGGY, Alfred E. Lexico griego-español del Nuevo Testamento. El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano, 2003.

VINCENT, Marvin Richardson. Word studies in the New Testament. New York: Charles Scribner’s Sons, 1887.

WALVOORD, J. F.; ZUCK, R. B. (org): El conocimiento bíblico, un comentario expositivo: Nuevo Testamento, tomo 1: San Mateo, San Marcos, San Lucas. Puebla, México : Ediciones Las Américas, A.C., 1995.

NOTA:

[1] Optamos pelo uso transliterado dos termos gregos βιάζεται, βιάζω e βιαστός para facilitar a leitura dos que não estão familiarizados com o alfabeto grego. O mesmo procedimento foi adotado para os termos hebraicos.

Fonte: NAPEC

As sutis e “onipresentes” tentações da vida.


Por Josemar Bessa

Satanás usa sempre e basicamente duas armas, ele acusa e ele tenta. Suas acusações estão sempre focadas no pecado que já cometemos... e seu propósito último e nos tentar a cometer o pecado que ainda não cometemos. Olhemos a segunda.

Satanás tem uma capacidade gigantesca de adaptar suas tentações ao nosso temperamento e circunstâncias peculiares. Na juventude, por exemplo, ele tanta nos seduzir pelo prazer, esperanças vivas de prosperidade mundana... Quando adultos ele nos leva a enterrar todas as nossa perspectivas nos cuidados da vida. Na velhice somos tentados a indulgência e obstinação teimosa... “é muito tarde para mudar... velho demais para a batalha...” – e por aí vai. Adaptação é algo no qual ele é mestre.

Na prosperidade ele trabalha para inchar nossos corações com orgulho em “linkar” tudo isso a nossa capacidade, esforço... nos levando a auto-confiança, desprezando claramente por esta atitude, tudo que Deus é.

Na pobreza e necessidade, nos leva a auto-comiseração, excita todo descontentamento, desconfiança da bondade de Deus, falta de gratidão, murmuração...

Se somos propensos a um temperamento melancólico, ele então busca azedar tudo amplificando a melancolia, promovendo mau humor como hábito e o desânimo.

Se naturalmente somos alegres, somos sutilmente levados a indulgência e leveza inconsequente que nos afasta da seriedade do nosso chamado, disciplina...

Em nosso momento diário de devoção privada, ele sempre está entre nós e Deus para nos impedir de perceber sua presença Santa e conhecermos a profundidade da comunhão disponibilizada a nós em Cristo, tentando nos cegar para tudo que Deus é em Cristo para nós agora e para todo o tesouro e sorte de bençãos espirituais que temos em Cristo.

No culto público ele perturba as nossas mentes com imaginações tolas... hoje, por exemplo, basta direcionar nossa atenção para as bugigangas tecnológicas “onipresentes” em nossas vidas... ou viagens sutis em nossas mentes divagando...

Quando temos um tempo confortável e um feliz estado de espírito, ele desperta o orgulho em nosso corações, nos levando a confiar em nossa própria bondade, esquecendo a rocha e fonte de nossa salvação tão somente por graça e nada mais.

Até os momentos da mais profunda humilhação espiritual, ele toma como oportunidade de despertar orgulho espiritual... Se atos de abnegação e compromisso cristão tomam nossas vidas, ele desperta em nossos corações um espírito ufanista...

Se vencemos e superamos qualquer corrupção de nossos corações, ou triunfamos sobre qualquer tentação, ele logo excita em sentimento secreto de auto-satisfação e auto-prazer...

Ele até mesmo induz os nossos corações com algum esquema para fazer “o bem”, tendo o devido cuidado que nosso ego seja excitado pelo sentimento e consciência disso.

Quando o quadro que estamos vivendo é ruim, ele então incitará os ânimos e sentimentos mais profanos de nossos corações, nos levando a amargura, rabugice, mau humor, aspereza, grosseria, raiva...

Não existe nenhuma graça cristã que Satanás não possa falsificar. Ele pouco se importa quanto sentimento “espiritual” temos, ou quantas ações consideradas boas praticamos, contanto que ele possa nos manter com motivações impuras e motivos egoístas no interior invisível.

Satanás por vezes, se transfigura em anjo de luz. Ele é autor, muitas e muitas vezes, de confortos, justificações, alegrias falsas... tudo isso muito semelhantes a algo realmente gracioso. Satanás tem poder e capacidade enorme de trazer a Escritura para nossa mente, e ele a aplica com destreza, como vimos ele fazer ao tentar o Salvador. Junte isso ao fato de nossos corações serem enganosos e a corrupção ainda residente em nós... e temos uma terrível parceria em direção a queda. Como facilmente ele pode enganar nossas almas com falsa paz e alegrias egoístas e infames diante dos olhos de Deus.

Satanás, sem qualquer sombra de dúvida, pode trazer as promessas mais doces e preciosas de Deus para as mentes daqueles que ele deseja enganar. Mas sempre ele aplica mal as promessas, como tentou fazer com Jesus: “Jogue-se daqui, pois Deus disse que daria ordem aos seus anjos a teu respeito...”. Ele nos diz: “Se aproxime do pecado, brinque no lugar da tentação... Deus não deixará seu servo tropeçar...”

Sutileza e habilidade são sua especialidade. Satanás pede tão pouco no início, que, a menos que nossas consciências sejam muito sensíveis a Palavra, não suspeitaremos.

Somos susceptíveis à tentação do mundo exterior e nas corrupções internas do coração. Elas se juntam poderosamente: “Os que desejam ficar ricos caem em tentações e ciladas”, diz Paulo. Dinheiro, prazer, honra, modas... inimigos “belos” da piedade séria: “Cada um é tentado, quando atraído e seduzido pelos seus desejos...” – é como Tiago expressa. O maior mal que nos aflige, por fim, é a corrupção restante em nós. As tentações de Satanás por si só, seriam leves, sem o peso do conflito interior na luta dos desejos do próprio coração. E Satanás usa contra nós ambos os meios de tentação para realizar seu fim último. Tentações exteriores e os traidores internos. Então você encontra uma aliança secreta entre as mentiras externas e as corrupções de seu próprio coração. Não é pecado ser tentado, mas é pecado dar lugar à tentação: “Não deis lugar ao diabo!”

Poucas coisas são mais enfatizadas na Bíblia e tão desprezadas: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." "Olhai, vigiai e orai". "E o que eu vos digo, digo a todos: Vigiai." "Vigiai, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente”. "Orai sem cessar, com toda oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança. " "Vigiai e sejamos sóbrios." "Vigiai, pois, em todas as coisas ." "Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha..."

E a tentação é multifacetada e de todo tipo imaginável. Não basta pensarmos em comportamentos imorais. Pense, por exemplo, no câncer e sua capacidade de tentação em destruir a sua fé na bondade infinita de Deus. Pense em como uma dor insuportável é fonte poderosa de tentação... a perda de antes queridos, doença de filhos, dificuldades, tensões no casamento, conflitos, desastres naturais, crises financeiras, crime, violência... A palavra em grego – PEIRASMOS é a mesma para prova e tentação.

A Palavra de Deus nos dá força para vencer o mal, porque através dela, pelo poder infinito da graça de Deus, através da atuação do Espírito Santo, ela liberta nossas mentes de todo poder da mentira operando neste mundo tenebroso, como diz Paulo. “Conhecereis a verdade , e a verdade vos libertará” – João 8.32. “Santifica-os na verdade; a Tua Palavra é a verdade” – João 17.17. A Palavra de Deus nos faz fortes para vencer o mal, não de uma forma “mística” – ela faz isso porque satura a nossa mente com a verdade sobre Cristo e sua obra perfeita, a verdade sobre a cruz, sobre o Espírito, sobre a Justificação, sobre a fé, sobre quem nós somos em Cristo, sobre o sentido da calamidade, doença... sobre a Soberania absoluta de Deus...

Só neste instante a oração é eficaz. Na Bíblia, Deus nos fala, e na oração, nós falamos a Deus. Essas duas coisas, ser cheio da Verdade, ter mentes saturadas da Verdade e dela fluindo oração – são completamente interdependentes em sua eficácia. A Palavra nos ensina a orar e nos mostra o que orar e como orar. A Palavra nos dá base para a oração e nos enche de completo ânimo que nas bases descritas por Deus, Ele ouve nossas orações. A verdadeira oração aplica as Escrituras a nós e aos outros. A Palavra e somente ela transforma o que falamos a Deus em verdadeira oração... e nessa oração pedimos mais compreensão da Palavra e capacidade para viver a Palavra. Assim, oração e Palavra são interdependentes na operação da transformação de cada um de nós na imagem de Cristo, o que é a única fonte de vitória contra todas as sutis e “onipresentes” tentações da vida.

Fonte: Josemar Bessa