terça-feira, 20 de novembro de 2018

Por que às vezes achamos que Deus não está sendo muito justo?


Por Josemar Bessa

Faça um esforço de imaginação e tente visualizar isso: Moisés, de pé no topo de uma montanha, um lindo panorama se estende diante dele. Ele está olhando para a Terra Prometida. Depois de 40 anos sem rumo vagando pelo deserto, parece maravilhoso demais para ser verdade. Ele está esperando este dia há muito, muitos anos. É uma terra que flui leite e mel, uma terra que já vem pronta - já é cultivada e domada. Não é uma terra selvagem. E Deus está preparado para entregá-la ao Seu povo em uma bandeja de ouro.

Se alguém no mundo mereceu este belo capítulo de prosperidade que se aproxima, esse alguém é Moisés. Ele tem sido alvo de tanta reclamação, rebeldia e acusação dos israelitas por tantos anos... toda essa beleza e sonho próximo é o suficiente para levar o homem mais humilde do mundo à vagar em sua imaginação. É o suficiente, na verdade, para desencadear um ataque de alegria desmedida - o tipo de situação em que você grita e grita e bate nas coisas. Mas Moisés era um cara equilibrado. Nas situações mais difíceis Moisés manteve a calma por mais de 40 anos, mesmo conduzindo um povo extremamente difícil, orando por seu povo maltrapilho, guiando-os em obediência e até mesmo intercedendo em favor deles quando Deus ia eliminá-los da face da terra.

Mas em vez de prosseguir para o sonho. Em vez de prosseguir para a Terra Prometida, Deus tem algo completamente diferente planejado para Moisés.

Morte, para ser claro. “Você irá morrer!”

Você já ficou completamente espantado quando está lendo um texto na Bíblia? Eu já fiquei muitas vezes. Essa é uma daquelas histórias que parece nos incomodar quando lemos. Parecia tão “injusto”. Eu diria que Moisés tinha um espírito de mãe, tal a paciência com a qual ele conduziu aquele povo. Deus o colocou no comando de um grupo das crianças mais chorosas que já existiu. E Moisés não estava exatamente pedindo uma oportunidade para ser um líder. Na verdade, ele estava cuidando de seus próprios negócios, cuidando de ovelhas em uma montanha distante, quando Deus lhe deu uma designação que viraria seu mundo de cabeça para baixo.

Agora, vamos voltar para o topo da montanha onde deixamos Moisés olhando para a Terra Prometida extasiado. Deus lhe deu um vislumbre da terra em que estavam prestes a entrar, mas não permitiu que Moisés a desfrutasse. Por quê? Aqui está o que Deus disse a Moisés:

"Depois de vê-la, você também morrerá como seu irmão Arão, pois, quando a comunidade se rebelou nas águas do deserto de Zim, vocês dois desobedeceram à minha ordem de honrar minha santidade perante eles". Isso aconteceu nas águas de Meribá, em Cades, no deserto de Zim... "verás a terra diante de ti, mas tu não irás para a terra que eu dou ao povo de Israel.”

Agora, para entender isso, precisamos voltar, mais uma vez, a outro dia na vida de Moisés, muitos anos antes. Deus estava guiando o Seu povo pelo deserto, cuidando fielmente de todas as suas necessidades, mostrando a Si mesmo a eles uma e outra vez. Mas o povo de Israel ficou com sede em um lugar chamado Meribá. Eles não tinham água, então vieram a Moisés e disseram que desejavam estar mortos. Eu não estou brincando com você.

Moisés tinha acabado de perder sua irmã Miriam e, apesar das aparências externas, logo abaixo da superfície, ele estava fervendo. E quem poderia culpá-lo por isso?

Moisés foi a Deus e caiu prostrado diante dele, e o Senhor disse a Moisés que pegasse seu cajado e fosse à frente do povo e dissesse a uma rocha para produzir água. Então ele pegou seu cajado e reuniu o povo diante desta rocha, como Deus lhe dissera para fazer. Mas então, Moisés perdeu o controle da situação. Ele abriu a boca e eis o que saiu:

''Escutem, rebeldes, será que nós teremos que tirar água desta rocha para lhes dar? " Então Moisés ergueu o braço e bateu na rocha duas vezes com a vara. Jorrou água, e a comunidade e os rebanhos beberam.” - Números 20.10,11

E foi isso. Esse é o pequeno ataque que fez com que Moisés fosse excluído da entrada na Terra Prometida. Pareceu um pouco injusto para mim quando li pela primeira vez há muitos anos. Afinal, Moisés acabara de perder sua irmã. Ele estava de luto. E esses israelitas estavam além do absurdo e ridículo. Eu não sei como alguém poderia aguentar isso. O próprio Deus ficou muito bravo com eles. Moisés estava apenas demonstrando uma pequena indignação justa, certo? E essas pessoas não estavam apenas pecando contra Moisés, mas contra o próprio Deus.

Mas um dia eu estava lendo essa história quando as escamas caíram dos meus olhos. O peso do meu próprio pecado me atingiu com força total quando vi, pela primeira vez, a maldade das ações de Moisés. Você vê, Moisés não estava apenas cansado e com raiva. Ele não apenas atingiu a rocha. Ele não apenas os chamou de rebeldes, uma palavra que certamente se justificava nas circunstâncias. Aqui está o que ele disse:

"Nós devemos…"
Ou: ''Escutem, rebeldes, será que nós teremos que tirar água desta rocha para lhes dar?

Com uma pequena palavra, nós, Moisés, invertemos a situação. Ele se colocou no mesmo nível de Deus e agiu como se o pecado do povo fosse uma afronta pessoal a ele. Ele agia como se estivesse fornecendo água para eles de uma rocha. “Nós vamos ter que tirar água para vocês desta rocha?” Quando Moisés disse “nós” não está claro se ele estava se referindo a si mesmo e a Arão, ou a si mesmo e a Deus. Mas de qualquer forma, ele está fazendo tudo sobre si mesmo. Nas palavras de Moisés, o pecado do povo é contra ele. E a água vem dele também.

Mas aqui está o que Deus disse a Moisés depois que ele pecou:

"Por que você não honrou minha santidade perante eles?”

E novamente bem antes da morte de Moisés na montanha,

“...Assim será porque vocês dois foram infiéis para comigo na presença dos israelitas, junto às águas de Meribá, em Cades, no deserto de Zim, e porque vocês não sustentaram a minha santidade no meio dos israelitas. Portanto, você verá a terra somente à distância, mas não entrará na terra que estou dando ao povo de Israel". - Deuteronômio 32.51,52

Quando finalmente entendi a natureza do pecado de Moisés, me vi chorando. E aqui está o porquê:

Eu nunca quis ver a natureza do pecado de Moisés porque sou tão culpado desse mesmo pecado. Até onde sabemos, Moisés cometeu esse pecado uma vez. E, no entanto, eu já o cometi tantas vezes.

Quando meus filhos choramingavam quando pequenos e se queixavam ou se rebelavam, eu fazia tudo ser sobre mim. Quando penso que estou exibindo justa indignação, estou realmente me elevando a um nível com Deus. Como Moisés, eu sinto que o lamento deles é a palha final que quebrou as costas do camelo. A gota de água que fez transbordar o copo. Como Moisés, eu penso:

“Depois de tudo que fiz por você, é assim que você me trata? Aqui vamos nós novamente…"

E isso é só um pequeno problema entre outros maiores. Muitas vezes fazemos da luta pela Verdade, pelo Evangelho, pela Sã Doutrina, pela igreja... como se fosse algo sobre nós.

Facilmente eu me justifico por perder a paciência por fazer tudo a minha volta a ser sobre mim. Eu desculpo a mim mesmo e aponto para circunstâncias atenuantes. Eu catalogo todos os pecados dos meus filhos, da igreja, dos irmãos, das pessoas no trabalho, do motorista a minha frente no trânsito... que me trouxeram a este ponto de ruptura. Pior ainda, como Moisés, sou culpado do pecado da incredulidade. Deus me deu instruções sobre como orientar e instruir e viver como seu filho no mundo. Mas eu não creio que Deus irá trabalhar no coração das pessoas, da igreja, dos irmãos, dos meus filhos... e cumprir as promessas que Ele deu sobre eles - que Ele irá suavizar seus corações duros à obediência, que Ele trará água de uma rocha.

Como Moisés, eu tenho a responsabilidade de pastorear as almas de uma multidão heterogênea de pessoas que são frequentemente rebeldes, muitas vezes reclamando... Eu atravesso os movimentos de disciplina e discipulado porque é isso que Deus me mandou fazer. Mas eu não trato Deus como santo no meio do Seu povo quando faço tudo isso ser algo a meu respeito.

Isto não é algum pequeno pecado, algum pequeno lapso de julgamento, alguma fraqueza momentânea. Este é meu orgulho, minha ingratidão, minha rebelião. Isso é uma violação do primeiro mandamento e o terceiro também. Se esse pecado excluiu Moisés da entrada na Terra Prometida, então o que o meu pecado merece?

Quando Deus abre meus olhos para a profundidade da minha culpa, é quando entendo melhor a Sua santidade. Essa é a graça de Deus para mim, para reconhecer e lamentar o meu pecado. Não tememos a Deus como devíamos.

Moisés não conseguiu entrar na Terra Prometida naquele dia. Ele morreu no topo da montanha e foi enterrado lá pelo próprio Deus. Moisés, porém, foi tirado da prova e aperfeiçoado na terra da luz, e não por seu próprio mérito. Se ele não merecia a entrada na Terra Prometida, quanto mais a Terra Prometida final - a Cidade de Deus. E, no entanto, Moisés também foi redimido pelo sangue do Cordeiro, perdoado por seu pecado. Naquele mesmo dia ele se tornou um cidadão do céu.

Graças a Deus que estamos vestidos na justiça de Cristo. Não podemos nos justificar, mas Deus nos justifica. Somos cidadãos indignos do Céu, apesar de nossa incredulidade. Apesar da nossa raiva absurda muitas vezes. Apesar do nosso fracasso em seguir as instruções claras de Deus. Que possamos ter aprendido com Moisés. Não é sobre nós... nunca é. É sempre sobre santificar o nome de Deus em todas as situações. E Deus foi claro, como com Moisés, como devemos fazer.

“Graças a Deus por Jesus Cristo... nosso Senhor!”

Fonte: Josemar Bessa