quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O que causou a Reforma?



Por Nathan Busenitz 

Muitas pessoas tentam responder essa pergunta apontando para Martinho Lutero e suas95 Teses.

Mas se você perguntasse ao próprio Lutero, ele não iria apontar para si mesmo ou para seus escritos. Ao invés, ele daria todo o crédito a Deus e Sua Palavra.

Perto do fim de sua vida, Lutero declarou: “Tudo o que fiz foi destacar, pregar e escrever sobre a Palavra de Deus, e além disso não fiz nada. [...] Foi a Palavra que fez grandes coisas. [...] Eu não fiz nada; a Palavra fez e alcançou tudo”.

Em outro lugar, exclamou: “Pela Palavra a terra tem sido dominada; pela Palavra a igreja tem sido salva; e pela Palavra ela também será reestabelecida”.

Notando o fundamento da Escritura em seu próprio coração, Lutero escreveu: “Não importa o que aconteça, você deve dizer: ‘Há a Palavra de Deus. Isso é minha rocha e âncora. Dela eu dependo e ela permanece. Onde ela permanece, eu, também, permaneço; para onde ela for, eu, também, irei’”.

Lutero entendia o que causou a Reforma. Ele reconhecia que foi a Palavra de Deus, pregada por homens de Deus, pelo poder do Espírito de Deus, em uma linguagem que as pessoas comuns da Europa poderia entender e quando seus ouvidos foram expostos à verdade da Palavra de Deus, ela penetrou seus corações e eles foram mudados radicalmente.

Foi esse mesmo poder que havia transformado o próprio coração de Lutero, um poder que é resumido nas palavras de Hebreus 4.12: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”.

Durante o fim da Idade Média, a Igreja Católica Romana havia aprisionado a Palavra de Deus no Latim, uma língua que as pessoas comuns da Europa não falavam. Os Reformadores libertaram as Escrituras ao traduzi-las. E, uma vez que as pessoas tinham a Palavra de Deus, a Reforma se tornou inevitável.

Vemos esse comprometimento com as Escrituras mesmo nos Séculos anteriores a Martinho Lutero, começando com os Precursores da Reforma:

No Século XII, os Valdenses traduziram o Novo Testamento da Vulgata Latina para seus dialetos franceses regionais. De acordo com a tradição, eles eram tão comprometidos com as Escrituras que as famílias Valdenses memorizavam grandes partes da Bíblia. Dessa forma, se as autoridades Católicas Romanas os encontrassem e confiscassem suas cópias físicas da Escritura, eles seriam capazes de reproduzir toda a Bíblia memorizada depois.

No Século XIV, John Wycliffe e seus companheiros de Oxford traduziram a Bíblia do Latim para o inglês. Os seguidores de Wycliffe, conhecidos como Lolardos, viajaram por todo o interior da Inglaterra pregando e cantando passagens da Escritura em inglês.

No Século XV, Jan Huss pregava na língua do povo, não em Latim, o que fez dele o pregador mais popular de Praga, nessa época. Porém, porque Huss insistia que somente Cristo era o cabeça da igreja, não o Papa, o Concílio Católico de Constance o condenou por heresia e o queimou na fogueira (em 1415).

No Século XVI, conforme o estudo do grego e do hebraico foi recuperado, Martinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, terminando o Novo Testamento em 1522.

Em 1526, William Tyndale completou a tradução do Novo Testamento em grego para o inglês. Em alguns anos, também traduziu o Pentateuco do hebraico. Pouco tempo depois, foi preso e executado como herege – foi estrangulado e depois queimado na fogueira. De acordo com o Livro dos Mártires, de Fox, as últimas palavras de Tyndale foram “Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra”. E foi apenas alguns anos depois de sua morte que o rei Henrique VIII autorizou a Grande Bíblia na Inglaterra – uma Bíblia amplamente baseada no trabalho de tradução de Tyndale. A Grande Bíblia lançou os fundamentos para a famosa versão King James (completada em 1611).

O fio condutor, de Reformador a Reformador, era o firme compromisso com a autoridade e suficiência da Escritura, a ponto de estarem dispostos a sacrificarem tudo, até suas próprias vidas, para levar a Palavra de Deus às mãos das pessoas.

Eles assim o fizeram porque entendiam que o poder da reforma e avivamento espiritual não estava neles, mas no evangelho (Romanos 1.16-17). E eles usavam o termo Sola Scriptura (“Somente a Escritura”) para enfatizar a verdade de que a Palavra de Deus era o verdadeiro poder e autoridade suprema por trás de tudo que fizeram e disseram.

Foi a ignorância da Escritura que tornou necessária a Reforma. Foi o resgate da Escritura que tornou possível a Reforma. E foi o poder da Escritura que deu à Reforma seu impacto marcante, conforme o Espírito Santo levava a verdade de Sua Palavra aos corações e mentes dos pecadores, individualmente transformando, regenerando e dando a vida eterna.

Fonte: Reforma 21

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Resolvido: Nem pastores e nem pastoras! pastor e pastora.


Por Luiz Sayão

Recentemente, a questão do ministério feminino nas igrejas evangélicas veio à tona no cenário religioso brasileiro. Artigos e reportagens têm-se multiplicado, tanto no contexto evangélico como no ambiente secular.

Como avaliar a questão? Trata-se de um desvio ou uma evolução?

O pastorado feminino é um problema ou a grande solução para a igreja? Parece difícil lidar adequadamente com a questão sem reconhecer o distanciamento acentuado entre a perspectiva predominante em nossos dias sobre o pastorado e o enfoque neotestamentário sobre o tema. E a visão geral tem sido prejudicada, já que os que tratam do assunto geralmente são apenas “contra” ou a “favor” do pastorado feminino.

A maioria dos estudiosos do NT reconhecerá que bispos, presbíteros, e pastores são termos intercambiáveis na eclesiologia da igreja do primeiro século (Atos 20.28). Aquela igreja tinha apóstolos, bispos (pastores), e diáconos como funções reconhecidas de modo particular na comunidade, conforme os textos de I Timóteo 5.22 e Tito 1.5. Apesar das evidências de que esses oficiais eram formalmente reconhecidos pela imposição de mãos, isso não recebe muita ênfase no NT.

Mas quem era o pastor do NT?

Qual era sua função? Mesmo que o termo “pastor” mereça menor atenção nas epístolas, onde predomina o uso da palavra “presbítero”, fica claro, em passagens como Hebreus 13.17 ou I Pedro 5.1, que os líderes das igrejas do cristianismo primitivo tinham de cuidar, pastorear o rebanho de Deus. Além disso, esse pastor tinha a responsabilidade de ensinar; portanto, o pastor-mestre deveria ser aquele que ensinava e orientava o povo de Deus.

Já os termos “bispo” e “presbítero” trazem consigo a ideia de liderança e de autoridade. Vários textos deixam isso ainda mais claro, como I Timóteo 3.4,5 e Hebreus 13.17. Portanto, ensino, liderança, e pastoreio parece resumir o ministério do pastor neotestamentário. Todavia, quando pensamos na função pastoral, algumas ênfases do NT parecem ter perdido a força em nossa tradição. Uma delas é quanto à liderança pluralizada da igreja primitiva. Não havia a ideia de uma autoridade tão centralizada – tanto que se fala em “presbíteros da igreja”. Esse é um padrão neotestamentário muito importante, pois reconhece a ação do Espírito na comunidade e divide o poder. Fica claro que a igreja não pode ter a concentração de poder e autoridade em um único indivíduo. Além disso, o pastor neotestamentário, de fato, representa a comunidade. A autoridade não está nele, nem dele procede; era a igreja que elegia e decidia as questões, conforme Atos 6.3-5. Assim, a autoridade do líder procedia da comunidade e dependia de sua fidelidade ao ensino revelado nas Escrituras e em Cristo, ou seja, não vinha do líder em si. Por isso, era preciso tomar cuidado com “lobos” e líderes falsos (Atos 20.29 e Judas 4).

Diferentemente da ideia de um “santo” homem, um sacerdote especial, ou um “dono da igreja”, o pastor do NT é mais descrito como um técnico de equipe esportiva. Ele é uma pessoa comum, que serve a Deus e à igreja. Sua função principal parece ser a descrita em Efésios 4.12: “a preparação dos santos para o ministério”. Tal descrição distancia-se de uma mistificação encontradiça em nossos dias. Outra surpreendente constatação do NT é que não há praticamente menção à ideia de um chamado pastoral, algo tão enfatizado nos dias atuais. O texto de I Timóteo 3.1 enfatiza a decisão do indivíduo, e não um chamado particular: “Se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função”. De fato, o NT usa o termo “chamado” para todos os cristãos, enfatizando o pertencimento a Cristo e ao seu povo, para serem santos, servindo a Deus, como se lê em Romanos 1.6,7 e 8.28; I Coríntios 1.2 e 24; e Efésios 4.1 e 4. Há um nítido contraste entre a ênfase de quem quer servir por amor a Cristo e ao Evangelho e o sacerdotalismo quase mistificado em nossos dias. Muitos dos pastores atuais sentem-se distanciados das pessoas comuns, membros de uma classe diferenciada, mas não é isso que é mostrado no NT.

Outro aspecto fundamental do pastorado da igreja primitiva é o tom voltado para o caráter e as virtudes do bispo-pastor-presbítero. Em vez de concentrar a atenção em suas capacidades intelectuais, como fazem, notadamente, as igrejas históricas de hoje, ou em um potencial carismático, como é a prática dominante nas denominações pentecostais, o enfoque bíblico é na postura e no comportamento pastoral.

O texto de I Timóteo 3, assim como o de Tito 1, é muito claro. Ali, as características enumeradas são a capacidade de ensino, o domínio próprio, o controle sobre a própria ira, o desapego ao dinheiro, a amabilidade, a fidelidade à doutrina e uma vida irrepreensível. Além disso, o pastor deve ser amigo do bem, rejeitar o orgulho, mostrar justiça e uma vida consagrada. Portanto, o pastor do NT é alguém comum, que representa a comunidade, tem a fidelidade do seu ensino como fonte de autoridade, e que deve servir, cuidar dos outros, e exercer a liderança de maneira compartilhada.

O valor da mulher

Em relação à existência de mulheres no pastorado, a primeira grande questão é como se lida com o texto bíblico. Geralmente, com uma lógica muito sistemática, e uma abordagem, onde a riqueza e a dialética de certas tensões neotestamentárias são ignoradas, chegamos a conclusões precipitadas. A verdade é que o NT valoriza muito o ministério feminino, e ao mesmo tempo, o limita. Dentro da lógica hebraica, não é de nada estranho que Jesus não tenha escolhido nenhuma apóstola, mas que, na hora da ressurreição, a proclamação mais importante da história da fé e da teologia tenha sido um privilégio feminino. Quem poderia esperar que o mais teológico dos quatro evangelhos fosse, no seu desfecho, trazer o testemunho apaixonado de uma mulher como Maria Madalena? Era risco demais para uma possível apologética, e qualquer religioso da época rejeitaria esse testemunho. O mesmo tipo de lógica é encontrado no AT. O primogênito é o filho especial, mas Deus age, muitas vezes, através do filho mais novo. Portanto, contra todos que refreiam o ministério feminino, o NT faz questão de enfatizar a importância das mulheres principalmente nos textos de Lucas. O livro de atos dos Apóstolos e as cartas de Paulo – muitas vezes apontado como machista – menciona com naturalidade Lídia, Priscila, Febe, Evódia, Síntique, e Ninfa, entre outras mulheres, sem falar das profetizas. Alguns chegam a sugerir que a “senhora eleita” citada em II João poderia ser uma líder local. Portanto, não há dúvida de que a teologia do Novo Testamento, em geral, quer dar à mulher um lugar de honra, em contraste com o paganismo e o judaísmo da época. Isso fica claro no ensino e na postura de Jesus e dos apóstolos.

Todavia, para os adeptos de um igualitarismo pleno, o NT é bastante incômodo em vários textos. Há uma clara ênfase em algum tipo de submissão feminina, tanto em casa como na igreja. Uma simples busca da palavra “mulheres” nas cartas vai mostrar que a maior parte das ocorrências fala em submissão, como é o caso de: I Coríntios 14.34; Efésios 5.22; Colossenses 3.18; I Timóteo 2.8-15; e I Pedro 3.1. E a simples argumentação contemporânea contra o valor desses textos é de preocupar, já que, geralmente são apenas de natureza sociológica e chegam a desmerecer Paulo (e Pedro). Parece, de fato, que se desconsidera a autoridade dos textos bíblicos. Para apimentar ainda mais a discussão, o “texto-chave” I Timóteo 2.8 a 15, fundamenta a limitação feminina em argumentos teológicos [criação e queda], e não em aspectos culturais ou sociais. O melhor argumento em favor de um igualitarismo pleno entre homens e mulheres seria comparar as limitações femininas à escravidão. Assim como a escravidão acaba por ser rejeitada pela comunidade cristã como decorrência da antropologia neotestamentária, as mulheres deveriam ser plenamente igualadas aos homens. Mas, deve se reconhecer que a maneira como o Novo Testamento trata do assunto é diferente: não há argumentação teológica semelhante no caso da escravidão. Apesar disso, deve-se considerar que todos esses textos têm um contexto específico, como o de Efésios e o de I Timóteo, e que eles foram escritos em função de situação peculiares. É importante dar atenção ao ensino teológico do texto, sem deixar de ver os elementos contextuais que o cercam. O fato é que há, no Novo Testamento, uma ênfase de que homens e mulheres são interdependentes e complementares. Chega a ser interessante o texto difícil de I Timóteo 2.15: “Entretanto a mulher será salva dando à luz filhos – se elas permanecerem na fé, no amor e na santidade, com bom senso”. (NVI) A ideia de que a mulher será restaurada (salva) a uma posição de honra pelo fato de que, apesar de o homem ter sido criado primeiro, todo ser humano procede de uma mulher. A maternidade confere certa igualdade à mulher aqui, enfatizando essa mutualidade.

Servos e servas de Cristo

Diante das Sagradas Escrituras, podemos dizer que as mulheres podem e devem ter parte no ministério pastoral, no sentido de participar do cuidado e do ensino da igreja (Tito 2.3-5 e Atos 18.26), Todavia, elas não devem ser pastoras, no sentido de liderança última teológica da igreja.

Numa igreja neotestamentária as mulheres devem ser encorajadas a participar de funções pastorais, sem serem a liderança última. É inclusive, importante que elas façam parte de uma equipe pastoral, a fim de exercer funções mais adequadas, como o aconselhamento e o cuidado de outras mulheres.

No entanto, é importante ressaltar que a configuração da igreja, não é tão rígida no NT. Por isso, é necessário ter sensibilidade ao contexto. Se, num certo sentido, uma ministra da igreja pode vir a ser chamada de pastora, devemos entender que uma coisa é sê-lo na Suécia, e outra ser pastora no Paquistão. Uma coisa é a mulher de um pastor ser pastora; outra, bem distinta, é ser pastora com marido não envolvido na obra de Deus, ou até mesmo solteira. É preciso ter bom senso e pertinência.

Acima de tudo precisamos lembrar que não é importante ter títulos no NT. A questão do pastorado feminino é válida e significativa, mas periférica na teologia neotestamentária.

Ver divisões e conflitos de origem feminista ou machista na igreja do Senhor é algo de cortar o coração.

Cada igreja local deve ponderar os dois lados da questão e decidir localmente. O problema é que, hoje, ser pastor ou pastora virou coisa de título, cargo importante, função superior. Há uma luta por poder. Se deixássemos Atenas e Roma, e fôssemos para Belém, aí seria possível entender tudo.

A verdade, devo confessar, é que pessoalmente tenho inveja das mulheres, pois elas receberam a recomendação mais sublime do NT: a de serem submissas, ou seja, a qualidade mais importante para quem quer ser semelhante a Jesus.

Na verdade, isso vale para todos, conforme Efésios 5.21. Submissão é a essência de ser cristão. O caminho do ministério é para baixo, é uma descida, e não uma questão de subir, tornar-se importante. Pastores que amam a Jesus e a gloriosa salvação deveriam sonhar em entregar tudo que possuem (títulos, cargos, nome, posição, honra) aos pés do Senhor.

Podemos discordar e questionar acerca de tudo, mas sem nunca deixar de submeter-nos à Palavra, nem de amar os irmãos.

Portanto, o sentido do debate atual não deveria ser a legitimidade do ofício de pastores ou pastoras, mas sim, se estamos dispostos a sermos servos (escravos) de Jesus Cristo.

Não foi dessa maneira que o próprio apóstolo Paulo se definiu em Romanos 1.1? “Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus” (NVI).

Recebido por E-mail

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Perseverando no Caminho: uma advertência em relação aos falsos mestres


Por João Rodrigo Weronka

Sempre existiram falsos mestres. Sempre. O Novo Testamento está repleto de advertências sobre o assunto. As advertências – bíblicas e históricas – são tantas que preocupa como os cristãos de nossos dias ainda conseguem ser tão tolerantes com aquilo que a Bíblia condena. Seja por ignorância ou na conivência com o erro, os falsos mestres e seus falsos ensinos encontram morada na mente e coração de muitos nesta geração.

Mas e então? Como encarar e como se posicionar diante da necessidade de ser firme em tempos de frouxidão? Como tratar a Verdade numa era em que temos vários conceitos e várias ‘verdades’ diluídas na sopa do pluralismo pós-moderno? Acredito que nossa apologética e pregação devam ser humildes e gentis, mas sem perder a firmeza doutrinária que a Bíblia manda e que a história da igreja preservou e onde perseverou. Vejamos a advertência:

Assim como, no passado, surgiram falsos profetas entre o povo, da mesma forma, haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao cúmulo de negarem o Soberano que os resgatou, atraindo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão seus falsos ensinos e práticas libertinas, e por causa dessas pessoas, haverá difamação contra o Caminho da Verdade. Movidos por sórdida ganância, tais mestres os explorarão com suas lendas e artimanhas. Todavia, sua condenação desde há muito tempo paira sobre eles, e a sua destruição já está em processo. 2Pe 2.1-3 – (Bíblia King James Atualizada – KJA)

Muito bem, a advertência é clara, no contexto o apóstolo Pedro fala que os falsos mestres viriam e o cumprimento profético mostra que eles vieram e estão por aí, queira você admitir ou não. Para melhor esclarecimento do contexto bíblico, leia também Judas 4-18.

Em sua primeira carta (leia 1 Pedro), Pedro trabalha no sentido de encorajamento espiritual, ensino doutrinário fundamental e muitos conselhos para o dia-a-dia do cristão. Ele tratou na primeira carta sobre orientações pastorais para que a igreja naquele momento pudesse enfrentar a perseguição que afligia os irmãos da igreja primitiva.

Já nesta segunda carta, também conhecida por “Epístola da Verdade”, Pedro trabalha sobre o problema dos falsos mestres e suas heresias e a necessidade de alerta e combate ao erro. A sabedoria e conhecimento de Deus tratada nesta carta nos leva a reflexão sobre a necessidade de termos uma práxis cristã sadia entrelaçada a uma teologia profundamente bíblica e ortodoxa. Diante deste cenário perigoso, o porto seguro é o conhecimento de Deus. Estar firme no conhecimento da Verdade é o que faz toda a diferença, como diz Hodge:

Os crentes são filhos da luz. Do povo diz-se que perece por falta de conhecimento. Nada é mais característico da Bíblia do que a importância que ela dá ao conhecimento da verdade. Diz-se que somos gerados por intermédio da verdade; que somos santificados pela verdade; e dos ministros e mestres afirma-se que todo o seu dever é manter a palavra da vida. É por essa crença dos protestantes no essencial do conhecimento para a fé que eles insistiam tão energicamente na circulação das Escrituras e na instrução do povo. [1]

Voltando ao foco da análise bíblica de 2Pe 2.1-3, percebe-se que a sagacidade dos falsos mestres e seu falso e destruidor ensino está caracterizado por diversos pontos expostos:

V. 1 – Assim como no passado os falsos profetas (AT) estavam presentes no meio do povo de Deus, a igreja também presenciaria (e presencia) a existência dos falsos ensinos. São traiçoeiros, pois agem de forma dissimulada, lobos com vestes de cordeiro que introduzem heresias destruidoras, assolando a si mesmos e trazendo a ruína espiritual a todos os que os seguem. O cúmulo deste processo é que ao agir dissimuladamente tais falsários negam o Soberano (neste texto aplicado a Jesus Cristo, assim como em Judas 4). Nas palavras de Lloyd-Jones:

As forças do mal mobilizadas contra nós nunca são tão perigosas como quando nos falam como falsos profetas, ou falsos mestres. As forças do mal têm uma quase interminável variedade de maneiras de lidar conosco; mas, de acordo com o Novo Testamento, elas nunca são tão sutis e perigosas como quando aparecem entre nós como profetas, falsos profetas, que se nos apresentam como fiéis e capazes de guiar-nos e de mostrar-nos o caminho do livramento e do escape. [2]

V. 2 – Oferta e procura religiosa. Eis o âmbito deste versículo, pois na mesma medida que os falsos mestres ampliam o alcance das suas heresias, a massa de incautos os segue e recebem tais ensinos como verdade absoluta, mesmo que tais ensinos entrem em choque com as Escrituras. Falando em massa humana, Lloyd-Jones comenta sobre “volumes” de pessoas como algo que “não se pode avaliar verdade espiritual pelos róis; contagem de cabeças não é um método bíblico de verificar se um ensino é certo ou errado”[3]. Por outro lado vemos alguns que encaram a graça como um artifício para mergulhar no pecado, confundindo liberdade com libertinagem e transformando a graça salvadora de Cristo numa “graça barata”. Caminho perigoso e espinhoso este, que além de flagelar o causador, escandaliza o Caminho (“Caminho”, nome antigo da fé cristã, veja Atos 9.2);

V. 3 – Hereges de seitas gerais e falsos mestres de grupos pseudocristãos tem em comum a sórdida ganância, o impulso por explorar seguidores e a ânsia por dinheiro sobre dinheiro. Se a tribuna, púlpito ou altar do local onde você busca a Deus oferece e dedica mais tempo a falar sobre dinheiro e as eventuais benções meramente terrenas e materiais, se o líder/pastor deste local procura mais enfatizar este aspecto que a proclamação do Evangelho e o ensino de uma vida voltada para glória de Deus, cuide-se! Você pode estar sendo tragado por heresias destruidoras, conduzido por uma pessoa gananciosa, exploradora, herege e que por maior que seja sua aparência de piedade tão somente nega a Cristo.

O motivo da heresia é a ‘avareza’ – o ganho financeiro (2.3). Basta apenas analisar as palavras e a fé contidas nas teologias de várias seitas nos dias de hoje, para se entender a relevância e a urgência das advertências de Pedro. Os falsos mestres ganham os cristãos com histórias engenhosas (1.16), um padrão diretamente oposto à verdade que Pedro e os demais apóstolos testemunharam. [4]

E ainda em resumo:

Os falsos profetas são perigosos por três razões: (1) o seu método é traiçoeiro e conduz a meios vergonhosos, levando a fé a ser difamada, (2) o seu ensino é uma completa negação da verdade e (3) o seu destino é causar destruição tanto a si mesmos quanto aos seus seguidores. [5]

O campo de batalha: a vida, a família, o dia-a-dia

À medida que se aproxima o tempo do fim, cresce a apostasia. As advertências são severas quanto a isso. Como dito a pouco, seria possível citar muitos e muitos textos bíblicos sobre o assunto, mas vamos chamar atenção para esta pequena cadeia de versículos:

Jesus nos advertiu sobre o assunto de modo bem claro:

Então Jesus lhes revelou: “Cuidado, que ninguém vos seduza. Pois muitos são os que virão em meu nome, proclamando: ‘Eu sou o Cristo!’, e desencaminharão muitas pessoas… Então, numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Mt 24.4,5,11 – KJA

Paulo alertou sobre o tema:

O Espírito Santo afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e à doutrina de demônios, sob a influência da hipocrisia de pessoas mentirosas, que têm a consciência cauterizada. São líderes que proíbem o casamento e ordenam a abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças pelos que são fiéis e estão bem firmados na verdade. 1Tm 4.1-3 – KJA

João trata sobre movimentos que pervertem a Verdade:

Entretanto, muitos enganadores têm saído pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Esse é o modo de ser do mentiroso e do anticristo. Acautelai-vos, para não destruirdes a obra que realizamos com zelo, mas para que, pelo contrário, sejais recompensados regiamente. Todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas acredita estar indo além dele, não tem Deus; porquanto, quem permanece na sã doutrina tem o Pai e também o Filho. 2Jo 7-9 – KJA

Judas nos “convoca” para a defesa da Verdade:

Amados, enquanto me preparava com grande expectativa para vos escrever acerca da salvação que compartilhamos, senti que era necessário, antes de tudo, encorajar-vos a batalhar, dedicadamente, pela fé confiada aos santos de uma vez por todas. Porquanto, certos indivíduos, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo, infiltraram-se em vossa congregação com toda espécie de falsidades. Essas pessoas são ímpias e adulteraram a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor. A punição eterna dos ímpios. Jd 3-4 – KJA

É preciso admitir que o modo como a recente apologética foi promovida teve suas falhas. Talvez a pior de todas tenha sido apontar o erro e quase nunca apontar o caminho. Gritar e esbravejar sem apontar para Luz pouco ou nada ajuda quem está em trevas.

Nestes dias, onde pouco se lê e quase nada se medita nas Escrituras, não é de se estranhar que tantos cristãos tomem o texto da Bíblia a seu bel-prazer criando bizarrices icônicas! Por fim, acabam blindando a mente contra a teologia e contra a apologética, ignoram o contexto social e de decadência moral, não enxergam as mudanças no cenário cultural. Esta venda é cômoda ao passo que se sentem satisfeitos com suas vidas, com a prosperidade material (ou a busca desenfreada por tal), com a satisfação do ego, com as cócegas nos ouvidos (2Tm 4.3).

A firmeza em relação aos valores que Deus espera de seu povo é que faz toda a diferença. Olhando assim, ou estamos anunciando e proclamando o Evangelho de Cristo e sendo a sua igreja que o glorifica e adora, ou somos o contingente que está sendo levando “prá lá e prá cá” pelos ventos de doutrina (Ef 4.14).

A Graça é o caminho a ser sempre apontado e relembrado. Firmeza doutrinária, exposição bíblica, proclamar o Evangelho de Jesus e lembrar que o caminho do amor de Deus está escancarado, um caminho que Ele mesmo nos prepara a trilhar. Se apegue a Palavra. Se apegue a doutrina sadia. Confie em Deus e siga adiante, longe da sedução e engano destes falsos mestres.

Concluindo, pense no seguinte: os membros de sua casa, as pessoas a quem você ama: Cônjuge, filhos, netos, parentes. Estas pessoas precisam receber altas doses de esclarecimento bíblico e doutrinário. Deus conduzirá seu povo em caminho seguro, sua igreja não sucumbirá diante do inferno e seus falsos mestres, mas cabe a nós, embaixadores, proclamar, ensinar, viver para glória de Deus e defender a fé. E isso, como já foi dito, não é novidade, é a “velha verdade” ensinada pela Palavra de Deus.

Soli Deo gloria!

NOTAS

[1] HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Hagnos. São Paulo, SP: 2001. p.1090-1091

[2] LLOYD-JONES, D.Martyn. 2 Pedro: Sermões Expositivos. PES. São Paulo, SP: 2009. p. 164-165

[3] LLOYD-JONES, D.Martyn. 2 Pedro: Sermões Expositivos. p. 168

[4] ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal do NT, vol 2. CPAD. Rio de Janeiro, RJ: 2009. p. 936

[5] CARSON, D.A. (org). Comentário Bíblico Vida Nova. Vida Nova. São Paulo, SP: 2009. p. 2086

Fonte: NAPEC

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O CONTEXTO E O NOSSO PAPEL NESTE CONTEXTO


Por Fabio Campos

Texto base: “Quem poderá subir o monte do Senhor? Quem poderá entrar no seu Santo Lugar?” – Salmos 24.3 (NVI)

“Quem poderá subir o monte do Senhor” é uma pergunta que traz uma preocupação na resposta por todo aquele que quer agradar o Senhor e que deseja com Ele viver para todo sempre. Esta pergunta que o salmista fez, inspirado pelo Espírito Santo, traz uma colheita escatológica, entretanto, sua semeadura é tratada nesta terra. Creio irmãos, que esta meditação poderá ajudar-nos a preservar o nosso coração e a nossa mente face as proposta apresentadas “por este mundo” no seu atual contexto.

O amor de muito têm se esfriado devido ao consumo da iniquidade. Não há mais respeito com o próximo. A guerra está aí. Pessoas injuriando umas as outras sem ao menos entender que o seu “adversário” pode ser uma pai, mãe ou um filho. Não há exortação no amor, mas acusações difamatórias para derrubar o outro somente para tomar o seu lugar.

Mas nós, sal e luz deste mundo tenebroso, temos algo a meditar que é de suma importância: “O que Deus pensa disso e o que Ele quer que façamos”? O Senhor partilhou conosco do Seu Santo Espírito e por meio dEle fez morada em nós. Justamente por isso é que Paulo nos diz que “o homem espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido” (1 Co 2.15). Nós temos a mente de Cristo. Um cristão jamais perderá a sua paz, todavia, ele é alguém aflito consigo mesmo por causa do seu pecado – é alguém inconformado com este mundo – e por ter a mente de Cristo, é alguém que, até certo modo, pensa o que Deus pensa.

O Salmo 24 trata da Soberania de Deus sobre a terra e os seus habitantes (v. 1-2); trata também da responsabilidade do homem dada pelo seu Criador (v. 3-6); tudo porque, no fim, um Rei virá e entrará no templo; não o de Jerusalém, mas é um onde as “entradas são eternas” (v. 7-10).

Tudo é do Senhor, “a terra e os seus habitantes”. Isso deve nos colocar em nosso devido lugar quando estivermos labutando na força de nosso próprio braço, tentando tomar para si a soberania que a Deus pertence. Alguém pode mais do que Aquele que “fundou a terra sobre os mares e a firmou sobre os rios”? Todos os dias é perguntado ao espírito dos que nisso não acredita: Quem fez tudo isso? Será mesmo que a vida termina no cemitério?

Como disse Blaise Pascal, Filósofo francês: “há um abismo dentro da alma humana tão grande que só Deus pode preencher". A intranquilidade na alma de todo homem – a sede por justiça – o desejo pela eternidade – traz o “senso do divino” e a busca por isso. Complementando, Blaise Pascal diz: "Há uma cadeira na alma humana, esperando um hóspede ainda por chegar. Se a natureza não faz nada em vão, Aquele que pode sentar-se nessa cadeira deve existir".

Isso nos leva a busca de algo a mais. Encontramos a nós mesmos quando encontramos a Deus e por Ele somos encontrados. Este mundo é como água salgada; não mata a sede, e quanto mais se bebe, mais sede teremos. Como disse C. S. Lewis: "Se eu descubro em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência deste mundo consegue satisfazer, a explicação mais provável é que eu fui criado para outro mundo".

Mas com o Senhor estaremos!, e com Ele andaremos dignamente desta vocação; “subir no Seu Santo Monte”. Os “limpos de mãos” cujo sua ficha secreta pode ser lida em público sem constrangimentos, este subirá o monte do Senhor. Subirá também os “puros de coração”; aqueles que muitas vezes são taxados de “bobos” por uma sociedade corrompida e perversa. Os que não entregaram sua “alma a vaidades”, ou seja, não se entregaram por aquilo que é efêmero; sua vida não está pautada numa causa vazia; sua motivação é unicamente de agradar Aquele que o arregimentou. Subirá também ao monte do Senhor aquele que “não jura enganosamente”; gente que sustenta de pé o que disse sentado. Pessoas que não voltam atrás em suas promessas ainda que isso lhe custe prejuízos financeiros.

Nossa luta não é contra carne nem sangue. As armas da nossa milícia não são carnais. Elas são poderosas em Cristo Jesus para desfazer todo sofisma (aparente sabedoria com meias verdades). O Senhor virá para vingar toda injustiça. O Dia do Senhor será algo terrível, pois horrenda coisa é cair nas mãos do Deus Vivo. O manso e humildade de coração – o que fora carregado num jumento – aquele foi crucificado e teve uma coroa de espinho – este virá em seu Cavalo Branco com poder e Grande Glória.

O Rei da Glória virá! Mas quem é este Rei da glória? Este é o Senhor dos Exércitos; Ele é o Rei da Glória. Não na figura do Cordeiro, mas do Leão, pois no Céu não haverá pecado para se expiar. Haverá sim um Reino do Seu Rei, qual dirigirá as nações com uma alegria eterna.

Que Deus nos ajude neste contexto e nos guarde na Sua Palavra para fazermos a Sua vontade.

Soli Deo Gloria!

Fonte: Fabio Campos

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uma reflexão sobre o cristão e a política



Por Rev. Hernandes Dias Lopes

Romanos 13.1-7 é um dos textos mais importantes da história sobre a questão política. A palavra de Deus estabelece princípios claros acerca do papel do Estado e da responsabilidade dos cidadãos, a fim de que haja ordem e progresso na sociedade. Destacaremos, à luz do texto, três verdades importantes:

Em primeiro lugar, a origem das autoridades constituídas (Rm 13.1,2). Paulo diz que não há autoridade que não proceda de Deus e as autoridades que existem foram por ele instituídas. Logo, se opor deliberada e formalmente à autoridade é resistir à própria ordenação de Deus. Aqueles que entram por esse caminho de desordem e anarquia trarão sobre si mesmos condenação. É óbvio que o apóstolo Paulo não está dizendo que Deus é o responsável moral pelos magistrados ditadores e corruptos que ascendem ao poder. Deus instituiu o princípio do governo e da ordem e não o despotismo. As autoridades não podem domesticar a consciência dos cidadãos nem desrespeitar a sua fé. Nossa sujeição às autoridades não é submissão servil nem subserviência, mas submissão crítica e positiva. A relação entre a Igreja e o Estado deve ser de respeito e não de subserviência. Deus não é Deus de confusão nem aprova a anarquia. Deus instituiu a família, a igreja e o Estado para que haja ordem na terra e justiça entre os homens.

Em segundo lugar, a natureza das autoridades constituídas (Rm 13.3-5). As autoridades constituídas não devem ser absolutistas. Elas governam sob o governo de Deus. A fonte de sua autoridade não emana delas mesmas nem mesmo do povo. Emana de Deus através do povo. Portanto, a autoridade é ministro (diákonos) de Deus, ou seja, é servo de Deus para servir ao povo. Aqueles que recebem um mandato pelo voto popular não ascendem ao poder para se servirem do povo, mas para servirem ao povo. Não chegam ao poder para se locupletarem, mas para se doarem. Não buscam seus interesses, mas os interesses do povo. Esse princípio divino mostra que o político que sobe ao poder pobre e desce dele endinheirado não merece nosso voto. O político que usa seu mandato para roubar os cofres públicos e desviar os recursos que deveriam atender as necessidades do povo para se enriquecer ilicitamente deve ter nosso repúdio e não nosso apoio. O político que rouba ou deixa roubar, que se corrompe ou deixa a corrupção correr solta, que acusa os adversários, mas protege seus aliados, não deve ocupar essa posição de ministro de Deus, pois Deus abomina a injustiça e condena o roubo.

Em terceiro lugar, a finalidade das autoridades constituídas (Rm 13.4-7). Deus instituiu as autoridades com dois propósitos claros: a promoção do bem e a proibição do mal. O governo é ministro de Deus não só para fazer o bem, mas, também, para exercer o juízo de Deus sobre os transgressores. Portanto, devemos sujeitar-nos às autoridades não por medo de punição, mas por dever de consciência. Cabe a nós, como cidadãos, orar pelas autoridades constituídas, honrá-las, respeitá-las e pagar-lhes tributo, uma vez que seu chamado é para atender constantemente à essa honrosa diaconia, de servir ao povo em nome de Deus. Quando, porém, as autoridades invertem essa ordem e passam a promover o mal e a proibir o bem, chamando luz de trevas e trevas de luz, cabe a nós, alertar as autoridades a voltarem à sua vocação. Se essas autoridades, porém, quiserem nos impor leis injustas, forçando-nos a negar a nossa fé, cabe-nos agir como os apóstolos: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29).

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

AMAM MAIS AS TREVAS E POR ISSO REJEITAM A LUZ


Por Fabio Campos

Texto base: “Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas”. – João 3.20 (NVI)

Não tenho dúvidas e por isso ratifico minha total confiança na Bíblia Sagrada que diz: “nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis” (2 Tm 3.1). As coisas não estão fáceis. O pior de tudo são os ideais malignos travestidos de bem e de liberdade. Desde o início desta semana tenho refletido acerca da “Luz x trevas”. A conclusão que tive é que os filhos da luz são uma grande ameaça aos filhos das trevas.

Os homens amam as trevas. É a noite que se consumam os fatos planejados a luz do dia. Por que a luz incomoda? Porque a luz desnuda as trevas! Quem pratica o mal odeia a luz, pois teme que suas obras sejam manifestas. A maioria das vezes o erro está com a multidão, pois muitos são os que entram pelo caminho largo o qual leva a perdição. Estão cegos, pois o “deus deste século” tapou seus olhos (2 Co 4.4). São prisioneiros no reino de satanás e lá se encontram sob seu domínio, alimentando-se apenas de “comida de porcos” na consumação dos seus desejos desenfreados (At 26.18).

Não é fácil remar contra a maré, amados. Mas nosso Senhor nos disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.10). Não há outro jeito – agradar a Deus é desagradar o mundo. O contrário também é certo: agradar o mundo, é desagradar a Deus, como bem disse Nosso Senhor: “Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês” (Lc 6.26 NVI).

Nesta semana pude me alegrar um pouco mais. Minhas convicções incomodaram muita gente, e dos homens, ao invés de ter recebido elogios, fui injuriado por ter “lançado luz nas trevas”. Certa vez disse Martyn Llod-Jones: “Que os homens não te ouçam, não te amem e nem te louvem. Mas, que importa isso? É o Senhor quem te aprova”. Essa turma pensa que nunca vai morrer. Quero ver no dia do juízo, diante do Todo Poderoso, alguém levantar e aplaudi-los ou sair em sua defesa. A todos nós chegará um dia que não haverá 24hs. E toda ideologia - todo “achismo” e filosofia ficarão por aqui. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus Vivo e Justo.

Louvado seja Deus que enviou o Seu Filho Jesus para destruir as obras do Diabo (1 Jo 3.8). O mundo e o Diabo já estão julgados, e nenhuma parte há deles com o Filho de Deus. O Diabo vive pecando desde o principio. Ele quem induz o homem a chamar o “bem de mal” e o “mal de bem” (Is 5.20). Ele é mentiroso e pai de toda mentira.

Hoje somos filhos da luz (Ef 5.8), e por isso incomodamos os filhos das trevas. Somente com a Luz de Deus poderemos ver a Luz verdadeira (Sl 36.9). Estamos na luz porque estamos em Jesus, o qual é a luz do mundo (Jo 8.12). Quem anda na luz não tropeça nos obstáculos escondidos nas trevas (Jo 11.10). Precisamos estar munidos da armadura da luz, como diz o apóstolo: “Comportemo-nos com decência, como quem age à luz do dia, não em orgias e bebedeiras, não em imoralidade sexual e depravação, não em desavença e inveja. Pelo contrário, revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.13-14 NVI).

Não há comunhão entre trevas e luz (2 Co 6.14). Não estou falando que você deva se afastar dos incrédulos. O que estou dizendo é para não se “conformar com este mundo” (Rm 12.2). Quer ser de fato um visionário, idealista e revolucionário? Submeta-se a Deus e a Sua Palavra! Fora disto só há anarquia, bagunça e rebeldia; pra isso não precisa de muito esforço, pois a natureza humana assim conduz naturalmente os homens, visto que estas coisas são “virtudes” da maioria. Todavia, aos que submetem a Deus, até o Diabo foge deles.

Nossa vida não deve estar pautada em uma "teologia" (porque há várias) - ou em uma filosofia - ou em uma ideologia - mas sim em uma Pessoa. Pois ninguém até hoje pôde me dizer, a não ser Jesus, "vinde a mim você que está cansado e sobrecarregado" (Mt 11.28-30).

Portanto, amados, ser diferente é o desafio. Ser da luz com as obras dignas deste caminhar é estar contra a grande maioria. Vão te injuriar, te difamar e dizer todo tipo de mentira contra a sua pessoa. Se o Senhor Jesus passou por isso, o que dirá de nós que somos servos inúteis? Ainda que o Diabo e os seus anjos se levante contra nós, saiba que o nascido de Deus, aquele que guarda a si mesmo, o maligno não o toca (1 Jo 5.18).

Guardemos o nosso coração!

“A noite está quase acabando; o dia logo vem. Portanto, deixemos de lado as obras das trevas e vistamo-nos a armadura da luz”. – Romanos 13.12 NVI

Considere este artigo e arrazoe isto em seu coração,

Soli Deo Gloria!

Fonte:  Fabio Campos

O conhecimento secular e a obra do Evangelho


Por Denis Monteiro

Sempre quando pensamos na obra do Evangelho nos vem à mente: Evangelismo. Não está errado pensar desta forma, pois Cristo, antes de ascender aos céus, designou os seus discípulos a cumprir a Grande Comissão (Mateus 28.18-20; cf. Marcos 16.15-20). Porém, o outro ponto é o conhecimento secular e a sua relação com o evangelismo, como por exemplo, quando Lutero respondeu a um sapateiro que era convertido, quando perguntou a ele “de que forma poderia servir a Deus da melhor maneira”, Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda por um preço justo”.

Portanto, surge a pergunta: De que forma, com o nosso conhecimento secular, podemos servir a Deus? Será que o conhecimento secular que adquirirmos pode nos ajudar no Reino de Deus?

Em rápidas palavras, mostrarei neste artigo dois exemplos de personagens bíblicos para mostrar como usar o nosso conhecimento secular para a glória de Deus.

O primeiro é Paulo. A Bíblia mostra, na defesa diante dos judeus (Atos 22.3), que Paulo nasceu em Tarso e que fora instruído aos pés de Gamalieu. A cidade natal de Paulo, Tarso, era famosa por sua universidade e, também, a cidade era considerada um centro cultural e intelectual filósofos e estoicos. Não se sabe ao certo se Paulo teve influência e educação nesta cidade. No entanto, em suas cartas é bem visível de que Paulo teve certa educação que não fora judaica. Vemos isso pelo seu domínio no grego e suas citações da literatura grega: Em Atos 17.28 Paulo faz uma citação de um poeta do século IV antes de Cristo, Epiménedes de Cnossos; Em 1Co 15.33 Paulo faz uma citação de um provérbio retirado de um poema grego, Menandro; E em Tito 1.12 Paulo diz que o poema de Epiménedes de Cnossos era profético. Mas a educação de Paulo não para por aí, segundo o texto Paulo fora instruído aos pés de Gamalieu. E quem foi Gamalieu? Segundo a história Gamalieu era neto de Hilel, que fundara uma das duas grandes escolas do pensamento judaico onde Gamalieu, possivelmente, se tornou o dirigente. Segundo Emil Shurer, o ensino consistia em familiarizá-los cabalmente com a ‘lei oral’ muito ramificada e verbosa. A instrução consistia num contínuo e persistente exercício de memória. O instrutor apresentava aos seus alunos diversas questões legais para as resolverem, e deixava-os responder ou ele mesmo as respondia. Permitia-se também aos alunos fazer perguntas ao instrutor [1]. Logo, podemos perceber que o apóstolo Paulo não teve uma mera educação, mas que sua educação foi privilegiada e que houve grande repercussão, como por exemplo, Festo disse a Paulo que “as muitas letras te fazem delirar” (Atos 26.24) e quando a Escritura mostra o primeiro convertido de Paulo, o oficial procônsul de Chipre Sergio Paulo elogiando a Paulo como “homem inteligente” (Atos 13.7). Segundo o livro História social do protocristianismo, mostra que o procônsul fazia parte da nobreza senatorial romana o qual, possivelmente, fazia parte da aristocracia Romana [2]. Logo, para um homem como este procônsul chamar Paulo de inteligente, é porque Paulo esboçava grande inteligência.

Outro exemplo a ser mencionado é Apolo, o cooperador de Paulo. Apolo era natural da cidade egípcia de Alexandria, possivelmente um judeu helenizado. Alexandria era considerada capital do centro bancário do Egito, centro manufatureiro de roupas, vidro e papiro, porto prospero e centro cultural como o principal centro do pensamento greco-romano com a principal universidade da época e uma enorme biblioteca. Foi nesta cidade que viveu o filosofo Filo e que, também, de onde foi produzida a tradução do Antigo Testamento hebraico para a Septuaginta (LXX) [3]. E o fato de Lucas mencionar de que Apolo era “homem eloquente” e “poderoso nas Escrituras” (Atos 18.24), pode-se dizer de que Apolo deve ter estudado tanto retorica como dialética e, também, um estudioso da Septuaginta. E assim, Apolo colocou suas habilidades intelectuais e analíticas a serviço do Reino de Deus: “tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam. Porque com grande veemência, convencia publicamente os judeus, mostrando pelas Escrituras que Jesus era o Cristo” (Atos 18.27b-28).

Conclusão

Todos os conhecimentos provêm de Deus, pois foi o próprio Deus que nos criou e nos fez à Sua imagem. Claro, essa imagem, mesmo existente, está corrompida pelo pecado. Paulo mostra que o mundo, por sua sabedoria, não conhece a Deus (1Co 1.21). Mas este conhecimento pode servir ao Reino quando chamado pelo o Evangelho. Uma prova de que todo tipo de conhecimento provem de Deus, é Salomão: “E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. E era ele ainda mais sábio do que todos os homens, e do que Etã, ezraíta, e Hemã, e Calcol, e Darda, filhos de Maol; e correu o seu nome por todas as nações em redor. E disse três mil provérbios, e foram os seus cânticos mil e cinco. Também falou das árvores, desde o cedro que está no Líbano até ao hissopo que nasce na parede; também falou dos animais e das aves, e dos répteis e dos peixes. E vinham de todos os povos a ouvir a sabedoria de Salomão, e de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria” (1 Reis 4.29-34). Segundo Gene Edward Veith Jr, Salomão era de acordo com a descrição do texto: filósofo, poeta, músico e cientista natural [biólogo] [4]. Portanto, podemos ver que Deus é a fonte de todo conhecimento verdadeiro e habilidade intelectual e que tais dons podem ser usados para o crescimento do Reino, defesa da fé cristã, ação social, produção de bons materiais cristãos, como: música, arte, cinema, pintura, literatura, e etc.

Que Deus nos ajude a cumprir o Seu mandato e honrar e glorificar a Deus com aquilo que Ele nos dotou.

Notas:
[1] SHURER, Emil. History of the Jewish People in the Time of Jesus Christ. Disponível aqui. Acesso: 29/04/14.
[2] Cf. A História social do protocristianismo – Os primórdios no judaísmo e as comunidades de Cristo no mundo mediterrâneo, p 346. Disponível aqui. Acesso: 29/04/14
[3] Cf.: Dicionário Bíblico Vida Nova. Editor: Derek Wlliams. – São Paulo: Vida Nova, 2000. Págs. 8,9
[4] VEITH Jr, Gene Edward. De todo o teu entendimento. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 19

Fonte: NAPEC

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

ALEGRAI-VOS SEMPRE NO SENHOR



Por Pr. Silas Figueira

Texto base: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Fl 4.4).

O apóstolo Paulo quando escreve esta carta está preso em Roma. Mas mesmo estando nessas condições, ele permanece alegre no Senhor, ou seja, Paulo não estava atrelando sua alegria nas circunstâncias ao se redor, mas no Senhor. Pois ele mesmo declara que havia aprendido a viver contente em toda e qualquer situação (Fl 4.11), ou seja, a sua alegria era ultracircunstancial.  Por isso que esta carta é conhecida como a carta da alegria, não que Paulo não tivesse problemas, mas porque a sua alegria procedia da ação do Espírito Santo em seu coração. 

Observe que ele diz que esta palavra é uma ordem e não um pedido. Ele não diz que se possível for sejam alegres, mas pelo contrário ele ordena que a alegria esteja presente sempre em nossas vidas. Mas como isso é possível? 

Eu quero refletir com você porque podemos estar alegres mesmo diante das circunstâncias adversas em nossa vida. Porque o apóstolo Paulo fala isso com tanta convicção. Eu gostaria de destacar cinco pontos principais porque podemos estar sempre alegres:

Em primeiro lugar, porque o cristão tem o seu temperamento controlado pelo Espírito Santo (Fl 4.5a). “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens”. A palavra moderação no grego é Epieikeia, é a qualidade da pessoa que é justa em suas atitudes, mas que se utiliza da misericórdia diante da justiça. É a pessoa que prefere sofrer injustiça que cometê-la. A pessoa que age assim é feliz porque tem a sua consciência tranquila diante de Deus. Ela ama a justiça, mas prefere abrir mão dela para não prejudicar alguém.

Vou lhe dar um exemplo que ocorreu com uma pessoa que conheço. Algum tempo atrás esse conhecido estava indo gravar um programa de TV. Quando estava indo de carro para o estúdio um ônibus bate na lateral de seu carro amassando bem, no entanto o ônibus nada aconteceu. O erro foi do motorista do ônibus, mas quando esse meu conhecido soube que o motorista do ônibus corria o risco de perder o emprego por ter sido imprudente no trânsito, ele ficou com prejuízo e mandou o motorista embora. Mas antes do motorista ir embora ele orou por ele e pediu que o Senhor lhe desse um término de trabalho tranquilo. Quando ele terminou de orar o motorista do ônibus disse que o conhecia e sabia que ele era pastor. Esse meu conhecido disse que se tivesse feito um escândalo e exigido os seus direitos certamente teria o carro concertado, mas a sua consciência estaria muito pesada por saber que o motorista do ônibus pudesse perder o emprego. A justiça deveria ser feita, mas ele optou por ser misericordioso.

Esse termo também dá a ideia de autocontrole. É a pessoa que não se deixa levar pela situação, mas procura analisar as coisas antes de tomar qualquer atitude e entre a justiça e a misericórdia ele opta pela misericórdia.

Em segundo lugar, porque o Senhor está perto de nós (Fl 4.5b). Essa atitude pacífica diante das circunstâncias adversas e não lutar pela justiça a todo custo, mas sendo misericordioso também, é porque a pessoa crê que o Senhor está perto, ou seja, não o desamparará em hipótese alguma. Quem age assim crê na providência divina. Tal pessoa não se vê desamparado em momento algum (2Tm 4.16-18).

Tanto que o termo “perto”, que na verdade é um advérbio, no grego Engys, quer dizer que o Senhor está perto quanto ao lugar e quanto ao tempo, ou seja, Ele está ao nosso lado em toda e qualquer situação. Nas horas mais felizes quanto nas horas mais tristes. Veja por exemplo a viagem de Paulo a Roma em At 27. Chega um determinado momento em que eles haviam perdido toda a esperança de salvamento (At 27.20), mas foi nessa hora que o Senhor enviou um anjo para falar com Paulo que todos se salvariam (At 27.22-24). E ele diz com toda convicção: “Porque, esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo” (At 27.23). Deus está perto, seja para salvar ou para nos consolar.

Li alguns anos atrás a história de um pastor que estava em viagem com sua família. Ele estava longe de casa; para ser mais exato, ele estava em outro estado. Durante a viagem ele começou a sentir um grande vazio e começou a orar pedindo a Deus que tirasse aquele mal estar espiritual de seu coração. A viagem continuou até que sua esposa viu de longe um posto de gasolina e lhe pediu para parar um pouco, pois as crianças – seus dois filhos – estavam com fome e queriam ir ao banheiro.
Ele encostou o carro, mas não quis comer nada, ficando do lado de fora da lanchonete do posto. Nesse momento ele percebe que havia um telefone público tocando, mas não havia ninguém perto para atendê-lo e o frentista estava longe atendendo um carro que havia acabado de encostar para abastecer.

Aquele telefone o estava incomodando a ponto dele atendê-lo. Ele pega o telefone e diz: Alô! Para sua surpresa ele ouve a voz da telefonista dizendo que o telefonema era para ele e cita o seu nome. Mas como poderia ser para mim se eu estou em outro estado e ninguém sabia que ele estava ali? Pensou ele. Ele pensou que era alguma pegadinha de TV. No entanto enquanto ele tentava dizer para a telefonista que ele não estava em seu escritório e muito menos em sua cidade ele foi interrompido por uma voz de uma mulher dizendo que queria falar com ele. Ao perceber o desespero na voz dessa mulher ele parou de tentar se justificar e a ouviu atentamente.

Esta mulher lhe contou que estava com um copo de veneno na mão, pois estava passando por uma crise muito grande e queria dar cabo da vida por causa disso. Mas antes dela beber o veneno lhe veio a mente a imagem dele e ela se lembrou de que já o havia visto na TV. Diante dessa lembrança lhe veio também um número de telefone. Por isso que ela havia ligado para ele.

Ele a ouviu atentamente, pois ele percebeu que aquilo não era uma pegadinha, mas a mão de Deus guiando aquela pobre mulher para conversar com ele e lhe falar do amor de Deus para ela. Ele assim o fez. Ele a aconselhou a abandonar tal ideia, mas confiar no Senhor e entregar a sua vida aos Seus cuidados e orou por ela. Ela se acalmou e recebeu o Senhor Jesus como Seu salvador pessoal abandonando assim a ideia de se suicidar.

Quando ele desligou o telefone ele estava sentindo tanto a presença de Deus em seu coração como nunca havia sentindo antes. Nisso veio a esposa com os filhos da lanchonete. Ele olha para sua esposa e lhe diz com os olhos cheios de lágrimas:

- Bárbara você não sabe da maior: “Deus sabe onde eu estou! Deus sabe onde eu estou!” 

O Senhor não só sabe onde estamos, mas também sabe o quando a Sua presença em nosso coração é importante e quanto necessitamos senti-la.

Em terceiro lugar, porque Ele ouve as nossas orações (Fl 4.6). Entenda uma coisa: a oração é o melhor remédio para acalmar as nossas preocupações e amenizar a nossa ansiedade.

Através da oração passamos a nos dirigir Àquele que pode acalmar a tempestade do nosso coração. Àquele que pode tirar toda ansiedade que nos sufoca. Através da oração, renovamos a nossa confiança na fidelidade do Senhor, ao lançarmos sobre Ele os nossos problemas, pois o Senhor tem cuidado de nós (Mt 6.25-34).

Tiago em sua carta nos ensina a respeito da oração. Ele nos diz que a oração de um justo vale muito em seus efeitos (Tg 5.16b). Ele é bem enfático em relação à oração quando nos diz duas coisas:
1º A oração ameniza a aflição. Ele nos diz se alguém está aflito: ORE (Tg 5.13a). Simples, objetivo e claro. Ore.

2º Ele nos dá um exemplo da oração de Elias. Ele nos fala de Elias que era homem sujeito as mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses não choveu. E orou outra vez, e o céu deu chuva (Tg 5.17,18).

O poder não está em quem ora, mas a quem dirigimos a nossa oração, no caso em questão a Deus. Ele ouve a nossa oração e não nos deixa sem resposta. Mas Tiago também nos faz um alerta em relação à oração quando nos diz por que muitas vezes as orações não são ouvidas, porque oramos mal (Tg 4.2b,3):

“Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres”.

Uma oração egoísta o Senhor não ouve. Um pedido que é para própria glória o Senhor não atende. Uma oração que é para se deleitar e se mostrar melhor que as outras pessoas o Senhor não irá responder.

Mas existe uma oração que o Senhor não deixa de atender, a oração feita segundo a Sua vontade. Veja o que nos fala o apóstolo João em sua primeira carta:

“E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1Jo 5.14).

E a vontade de Deus está em Sua Palavra. Se orarmos de acordo com a Sua Palavra Ele irá nos ouvir.
Por isso o apóstolo Paulo nos ensina a orar, pois o Senhor está sempre pronto a nos ouvir. Preste atenção numa coisa: Quando estamos aflitos e não oramos a ansiedade toma o nosso coração e já não olhamos para o Senhor, mas miramos somente o problema. A maior causadora de doenças psicossomáticas é a ansiedade.

A oração pode não resolver de imediato o problema ao nosso redor, mas trás ao nosso coração o consolo do Espírito Santo, pois uma das maiores causas da ansiedade é a falta de fé. E o Espírito Santo renova a nossa fé e nos mostra que o Senhor está no controle da situação, ainda que não estejamos vendo.

A ansiedade é algo tão sério que o Senhor Jesus falou a respeito dela (Mt 6.25-34). Paulo nos fala nesse texto também sobre a ansiedade (Fl 4.6) e o apóstolo Pedro também nos falou a respeito (1Pe 5.7). Isso mostra que a ansiedade não é um mal que nos atinge somente hoje em dia, mas é algo que está impregnado no coração do homem desde a antiguidade.

O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que a ansiedade é um parasita que suga a seiva da nossa alma e nos deixa vazios de esperança. A ansiedade estrangula nossas emoções e atormenta a nossa mente com muitas inquietações. Onde a ansiedade reina, a paz não desfila com liberdade.

O Senhor não quer que vivamos assim, por isso Ele nos fala através desse texto de Paulo aos Filipenses que devemos orar para não andarmos ansiosos.

Em quarto lugar, porque Ele enche o nosso coração de paz (Fl.4.7). Essa paz que excede todo entendimento é o resultado da oração. Não é uma paz de cemitério. Não é calmaria nem ausência de luta. Mas algo que é proveniente da ação do Espírito Santo no coração do aflito.   

Quando invocamos a Deus, com um coração posto em Cristo e na Sua Palavra (Jo 15.7), a paz de Deus transborda em nossa alma aflita. Através da oração a paz de Deus ocupa o lugar que antes a ansiedade tomava conta.

O apóstolo Paulo destaca três características dessa paz:

1º Essa paz não é natural. É paz procede de Deus. Essa paz é aquela paz que o Senhor Jesus havia deixado com os discípulos (Jo 14.27). Não é a paz que procede do mundo e muito menos a ausência de guerra ou de problemas. Essa paz vem ao nosso coração exatamente diante das circunstâncias adversas. É quando está de ponta cabeça que desfrutamos dessa paz. Essa paz não é calmaria, mas o descansar em Deus na hora da aflição.

2º Essa paz excede a compreensão humana. Porque essa paz está dentro do coração, pois é onde a verdadeira tempestade se manifesta. Essa é a paz que os cristãos sentem diante da morte ou mesmo, diante do martírio. Essa é a paz que o apóstolo Paulo sentiu quando estava para morrer por ordem de Nero:

“Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2Tm 4.6-8).

3º É a paz que guarda o nosso coração e o nosso entendimento. A ideia aqui é de um guarda que está de sentinela e não permite que o inimigo se aproxime ou avisa quando ele se aproxima. Essa paz é como um exército que guarda dos nossos problemas internos e externos. Não que eles não virão, mas que teremos as emoções controladas pela paz de Deus. Entenda que os problemas são reais e inevitáveis, mas maiores que os problemas externos são os internos que nos perturbam a alma. Como nos diz o Salmo 46.1-3, 10,11:

“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam. Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. O SENHOR dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio”.

Um dos importantes elementos sociais do período helenista foi o guarnecimento militar de muitas cidades da Grécia e da Ásia Menor, pelos sucessores de Alexandre, o Grande. Os leitores de Paulo certamente estavam familiarizados com a proteção militar oferecida às cidades. Ora, Deus oferece-nos a Sua proteção às nossas almas. A paz é a sentinela que garante que tudo vai bem. No mundo temos tribulação, mas em Cristo temos paz.

Em quinto lugar o resultado disso, um pensamento correto (Fl 4.8). Paulo conclui seu pensamento dizendo para os Filipenses: “Finalmente irmãos”. Ele está concluindo seu pensamento dizendo para esta amada igreja que já que temos o nosso temperamento controlado pelo Espírito Santo; que o Senhor está perto de nós; que Ele ouve as nossas orações e enche o nosso coração de paz, devemos ocupar os nossos pensamentos com o que realmente tem valor. Pois pensamento errado leva a comportamento errado, e comportamento errado leva a um sentimento errado.

Não estamos falando aqui de pensamento positivo ou algo nesse nível, mas estamos falando de parar de se deixar levar pela situação adversa e levar todo pensamento cativo à obediência de Cristo (2Co 10.5).

É não se deixar abater já que o Senhor tem cuidado de nós como vimos anteriormente. É isso que o apóstolo Paulo está nos dizendo aqui. É ser coerente em nossa maneira de pensar e não se deixar levar pelos maus pensamentos, que geralmente procede do diabo.

Não é fazer de contas que o problema não existe, não é isso. É não se deixar levar pela fatalidade e confiar no Senhor.

Se somos aquilo que registramos em nossa mente, então devemos arquivar em nossa mente somente coisas boas, pois de lá tiraremos coisas preciosas. Por isso, devemos ocupar o nosso pensamento com o que vale a pena pensar.

O apóstolo Paulo nos dá uma lista do que devemos ocupar nossos pensamentos:

Em primeiro lugar ele diz que devemos ocupar a nossa mente com o que é verdadeiro. Não devemos ocupar a nossa mente com coisas infundadas. Com coisas que nos leva a pensar o mal dos outros muitas vezes.

É como a história de um homem que saiu de carro e quando estava na estrada o pneu do seu carro furou. Quando ele abre o porta malas descobre que estava sem o macaco, e sem ele não tinha como levantar o carro. Mas qual foi a sua surpresa, pelo lado de baixo da estrada havia uma casa e tinha um carro estacionado próximo a ela. Ele pensou: vou pedir o macaco emprestado e trocarei o pneu do carro.

Mas à medida que ele descia em direção a casa para pedir o macaco emprestado ele começou a imaginar como iria pedir emprestado o macaco. Ele então começou a pensar:

- Bom dia meu amigo! Eu estou com meu carro na estrada e furou o pneu e eu estou sem o macaco para levantar o carro. O senhor poderia me emprestar o seu?

Aí ele imaginou o homem lhe respondendo:

- Bom dia – secamente. Como que o senhor sai de casa e não verifica se todos os acessórios necessários do carro estão nele?

- É que eu emprestei o macaco para um amigo e me esqueci de pegá-lo de volta.

- O senhor é uma pessoa muito relaxada e imprudente. O senhor deveria ser mais cuidadoso e não sair em viagem dessa forma.

O camarada começou a imaginar uma discussão acalorada e o ódio começou a subir ao seu coração nessa conversa imaginável.

Nisso ele chega à casa da pessoa que tinha o carro. Bate na porta e um homem muito simpático abre-a e lhe dá bom dia. Nisso o camarada que estava imaginando toda aquela discussão lhe dá um soco na cara e lhe diz:

- Pode ficar com o seu macaco, não preciso dele. E virou as costas e foi embora.

Esse talvez seja um dos maiores problemas que temos visto na vida de muitas pessoas. Uma imaginação muito fértil, mas para o mal. Só pensam de forma negativa. Por isso que o apóstolo Paulo nos diz que devemos pensar naquilo que realmente é importante e que nos motivará a nossa fé.

Em segundo lugar, devemos ocupar a nossa mente com o que é respeitável. A nossa mente deve ser um culto a Deus, mas se eu só penso naquilo que me afasta de Deus, automaticamente eu estarei pecando contra Ele. Devemos ocupar a nossa mente com o que honra a Deus.

Em terceiro lugar, devemos ocupar a nossa mente com o que é justo. Devemos ser justos em nossos pensamentos e atitudes.

Em quarto lugar, devemos ocupara a nossa mente com o que é puro. O sentido aqui é de pureza moral. Pureza nos motivos e nas atitudes.

Em quinto lugar, devemos ocupar a nossa mente com o que é amável. É ser sempre agradável com as pessoas.

Em sexto lugar, devemos ocupar a nossa mente com o que é de boa fama. É não pensar e não falar palavras torpes e que desonrem os outros.

Em sétimo lugar, devemos ocupar a nossa mente com o que tem alguma virtude ou se tem algum louvor. Paulo aqui resume dizendo que o nosso pensamento com aquilo que glorifica o nome do nosso Senhor.

Ocupe o pensamento com o que tem valor e deixe de pensar o que não convém. Como disse alguém: o passarinho pode voar sobre a sua cabeça só não pode fazer ninho. O pensamento pode ser ruim, mas não deve ocupar a minha mente.

CONCLUSÃO

O cuidado de Deus é tão grande para com cada um de nós que devemos viver felizes em todo o tempo. Vimos através desse texto que é possível ser feliz, desde que tenhamos realmente a fé firmada em Cristo, assim como Paulo tinha. Os problemas são reais, as adversidades da vida é um fato, mas a vida com Cristo é uma vida com significado, com sentido é a verdadeira vida.

O apóstolo Paulo nos diz nesta carta que aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação (Fl 4.11). Ele aprendeu por duas razoes principais: por ter passado por várias experiências e por ter o Senhor ao seu lado ouvindo as orações, enchendo o seu coração de paz, controlando os suas emoções, tirando de sobre si o peso da ansiedade.

Assim como o Senhor Jesus fez tudo isso por Paulo e ele falou para os Filipenses, assim o Senhor fala com cada um de nós também hoje. O Senhor não mudou e nem o homem em sua essência. Somos todos dependentes da graça e da misericórdia de Deus todos os dias.


Pense nisso!