quinta-feira, 31 de maio de 2012

AS FESTAS JUNINAS E A LIBERDADE CRISTÃ


Por Rev. Misael Nascimento

Um cristão protestante pode participar de festas juninas? Três respostas têm sido dadas a esta pergunta. Primeiro, há os que dizem “sim”, uma vez que entendem as festas juninas como celebrações cristãs. Afirma-se, nesse caso, que estamos diante de festejos ligados a personagens bíblicos tais como João Batista, Pedro e Paulo e isso, por si só, legitima tais festas como integrantes do calendário cristão. Essa é a posição defendida pela Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).

Outros respondem com um absoluto “não”. Entendem que o modo como o Catolicismo Romano ensina sobre os santos não é bíblico. A Bíblia não prescreve nenhuma festa ligada aos profetas ou apóstolos, muito menos a nenhum ser humano canonizado pela igreja. Não há espaço para a crença em santos mediadores. Segundo as Escrituras “há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5). Essa é a posição defendida pela maioria dos evangélicos tradicionais.

Uma terceira resposta inicia com um “não”, afirmando que os cristãos protestantes devem afastar-se das comemorações romanistas das festas juninas e, ao mesmo tempo, finaliza com um “sim”, abrindo espaço para a realização de arraiais gospel – festas caipiras evangélicas. Essa posição tem sido defendida por alguns evangélicos.

Aqui é recomendável lembrar as palavras do apóstolo Paulo:

Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo. Porventura, o cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo. Considerai o Israel segundo a carne; não é certo que aqueles que se alimentam dos sacrifícios são participantes do altar? Que digo, pois? Que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes, digo que as coisas que eles sacrificam, é a demônios que as sacrificam e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios. Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. Ou provocaremos zelos no Senhor? Somos, acaso, mais fortes do que ele? (1Co 10.14-22).
Um dos fatos a destacar é que, no texto em questão, Paulo trata da participação dos cristãos em refeições realizadas no contexto de rituais pagãos (Bíblia de Estudo de Genebra, 1. ed., 1999, nota 10.14, p. 1357). Sua convicção é que o cristão não deve participar de coisas ligadas à idolatria; tal ligação, em última instância, corresponde a uma “associação” com os demônios. Para o apóstolo, o problema era que os crentes, ao comer alimentos oferecidos aos ídolos, depreciavam sua comunhão com Deus na Santa Ceia, ou seja, agiam de modo inconsistente com a aliança, e, deste modo, provocavam o “zelo” do Senhor (1Co 10.18-22).

Isso pode ser transposto à questão das festas juninas por meio de um argumento de quatro pontos, qual seja:
  1. A veneração aos santos da ICAR, por ferir não apenas a recomendação de 1Timóteo 2.5, mas também Êxodo 20.3-6, é idolatria.
  2. As festas juninas, ligadas à veneração dos santos romanistas, são idólatras.
  3. O cristão, de acordo com 2Coríntios 10.14, deve fugir da idolatria.
  4. Portanto, o cristão deve fugir das festas juninas.
Anteriormente eu entendia que não havia problema em uma criança participar dos festejos juninos de sua escola. Hoje penso que o melhor é os pais explicarem a essa criança as razões pelas quais ela não participará da festa junina. É mais instrutivo, bíblico e edificante.

Mas, o que dizer da “alma caipira” que reside em nós, que nos motiva a acender fogueira, assar mandioca e batata-doce e comer bolo de fubá? Qual o problema, por exemplo, de realizar uma noite caipira ao som de modas de viola e, quem sabe, até brincar inocentemente de quadrilha evangélica? Ou criar uma “Festa dos Estados”, com barracas de comidas típicas ou algo semelhante, quem sabe até como estratégia para atrair visitantes?

Inicialmente, declaro meu respeito aos colegas pastores e irmãos em Cristo que não enxergam problemas na realização desse tipo de atividade. Eu mesmo já acreditei que isso podia ser feito sem prejuízos para o testemunho cristão e fiz isso de muito boa fé, com a alma sincera diante de Deus. No entanto, mudei de posição. Hoje, creio que a produção de versões evangélicas de festas juninas não é recomendável por algumas razões. Primeiro, porque estamos saturados de versões gospel de tudo: Temos uma quase inesgotável lista de práticas e “produtos” gospel. É preciso compreender que não fomos chamados a imitar o mundo e sim a transformá-lo (1Jo 2.15-17).

Em segundo lugar, há outro problema denominado associação. É possível que, ao participar de uma festa junina gospel, sejam feitas associações com o evento original, de origem e significado idolátricos – queiramos ou não, festas juninas estão ligadas às crenças da ICAR. Cristãos sensíveis podem sentir um desconforto inexplicável diante disso. Visitantes interessados na fé protestante exigirão explicações mais detalhadas sobre as razões da realização de tal noite caipira “calvinista”.

Sendo assim, parece-me mais adequado considerar as festas juninas evangélicas entre aquelas coisas que o apóstolo Paulo chama de lícitas, mas inconvenientes e não-edificantes (1Co 10.23). Nessas questão, pensemos primeiramente nos interesses do corpo de Cristo, e não nos nossos (1Co 10.24). Não sou contra comer bolo de milho, ou canjica, ou pé-de-moleque. Gosto de batata-doce assada na brasa e me delicio com um bom curau e uma música caipira de raiz. Desfrutemos dessas coisas, porém, na privacidade de nossos lares ou fora do contexto de festas caipiras nos meses de junho e julho. Não porque tais iguarias sejam pecaminosas em si, mas para evitar associações indesejáveis.

Somos livres para participar de festas juninas? Não. Ao participarmos de tais festas, nos ligamos em idolatria. Devemos realizar eventos caipiras gospel? Devemos participar de tais atividades? Também não. Nesse segundo caso, não porque haja idolatria envolvida, mas porque há o perigo de associações indesejáveis. O ideal é que fortaleçamos nossa identidade cristã, bíblica e protestante, desvinculando-nos de qualquer aparência do mal (1Ts 5.22).

Fonte: Misael Nascimento Via: Creio e Confesso

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Desgraçados erros bíblicos


 
Por Maurício Zágari

Já fui vítima de alguns desgraçados erros médicos, que me fizeram pensar muito sobre desgraçados erros bíblicos. Vou contar apenas duas histórias para depois chegar ao ponto. Anos atrás comecei a sentir uma dor forte na sola do pé, que mal me permitia andar. Fui a um centro de reumatologia e ortopedia, daqueles de plano de saúde, onde você tem de ser atendido em dez minutos para que se possa atender muita gente e os donos da empresa faturarem muito. Peguei minha senha, sentei na filinha e esperei minha vez. Depois de muito tempo, me chamaram e entrei no consultório. A médica, sem sair de trás da mesa, perguntou o que eu estava sentindo e descrevi o problema. Sem nem ao menos me examinar ou mandar eu tirar o sapato, ela decretou de sua cadeira: "É fascite plantar, você precisa pôr o pé em água gelada e fazer fisioterapia". Ela é a médica, eu sou um leigo, logo obedeci caninamente o que ela disse: passei a pôr o pé todo dia em água gelada e a fazer a fisioterapia. Mas a dor não cedia. Pelo contrário: piorava. E piorava. E piorava. Chegou a um ponto em que, não aguentando mais, paguei uma consulta cara com um médico maravilhoso. Ele gastou tempo comigo. Mandou tirar o sapato e a meia, mexeu, apertou, fez diversas perguntas e diagnosticou: eu não tinha fascite plantar coisa alguma, tinha um músculo contraturado. O tratamento: pôr o pé em água quente, a água gelada fazia o músculo se contrair mais e a dor piorar. Com um dia pondo o pé no calor a dor desapareceu.

Ou seja: uma médica inconsequente, despreparada, que não fez o seu dever de casa, não só não resolveu meu problema como ajudou a piorá-lo. E ela tinha todo o aspecto de uma pessoa muito bem capacitada, vestia jaleco e roupa branca, ocupava um consultório numa clínica aparentemente muito bem estruturada. Tinha toda a aparência de deter o conhecimento que me auxiliaria, que me mostraria o caminho. Mas piorou a minha vida. Piorou a minha saúde. Cometeu um erro médico sério, que poderia ter causado lesões piores.

O segundo erro que relato foi ainda pior. Pois foi o erro de 4 médicos, todos com aparência de ter todo o conhecimento, alguns famosos, com nome na praça. Uma baixa de imunidade causada por estresse me fez ter candidíase na virilha. Trata-se de um fungo que todos nós temos mas que, quando as defesas do corpo baixam, isso permite que o fungo ataque seu organismo. Com muita coceira e inchaço, procurei um médico. Ele olhou e me receitou uma pomada que "me deixaria bom em 5 dias". Apliquei pelo tempo prescrito mas o local continuava inchado. Erro médico número 1.

Como eu viajaria para passar uma semana numa conferência teológica numa cidade pequena e sem muita estrutura, resolvi procurar uma dermatologista, para não ter surpresas desagradáveis durante a viagem. Ela olhou e disse que realmente a doença ainda não havia cedido completamente. "O outro médico não te receitou nenhum antifúngico oral?", perguntou em tom condenatório. Eu disse que não. Ela então me receitou um comprimido em dose única e mais um antifúngico de aplicação local, que chamarei de X, para aplicar por 14 dias. Foi o que fiz. Erro médico número 2.

Toda vez que aplicava o remédio X sentia o local arder. O 14o dia coincidiu com meu primeiro dia na Conferência, uma 2a feira. No dia seguinte, quando bati os olhos no local da doença fiquei apavorado: estava cheio de bolhas, inchaço, feridas em carne viva e sangrando. Tremi. Descobri junto ao plano de saúde o único hospital da cidade onde havia atendimento de emergência. Corri para lá e fui socorrido por um clínico geral. Contei a história toda. Ele examinou o local e disse que poderia ser herpes. Falou com uma tranquilidade assombrosa que eu poderia ter HIV. Mandou passar somente uma pomada no local "até melhorar", pomada que na verdade é um coquetel de antibióticos e antifúngicos. Erro médico número 3.

Voltei na 6a feira ao Rio e já sábado de manhã procurei um especialista, pois em 5 dias não havia aparência de melhora. Novamente contei a história toda. Ele olhou o local e disse que achava que era herpes. Mandou tomar aciclovir e continuar passando a mesma pomada. Erro médico número 4.
 
Quando chegou na 5a feira seguinte, sem nenhum sinal de melhora, já cansado emocionalmente e cheio de dores, decidi procurar mais um médico. E graças a Deus que o fiz. Contei a via-crúcis inteira, ele examinou o local e disse: "A médica te passou o remédio X? Ela está louca? Ele é usado para micose de unhas! Isso parece ser uma queimadura causada pelo remédio". Eu perguntei sobre a herpes. "Nenhum desses médicos a que você foi pediu um exame de sangue? Não temos que especular, existe um exame para isso, vamos fazer". Depois me pediu para ver a pomada que estava passando. "Essa pomada é uma mistureba que não resolve nada, por isso o local está infeccionado, você tem que passar a pomada Y", e me deu a receita. Saí do consultório, fiz o exame de sangue e passei a usar a pomada Y.

Resultado: no dia seguinte a dor sumiu e as feridas começaram a cicatrizar. O exame de herpes? Deu negativo. Não, eu não tinha herpes. Nem HIV. Tinha feridas provocadas primeiro porque um médico não soube me tratar, o que me levou a uma médica que me passou um remédio errado e piorou o meu problema gerando queimaduras químicas na pele, que um terceiro médico não soube diagnosticar e me receitou uma pomada que não resolveu nada e por um quarto médico que, tendo recursos para fechar um diagnóstico, só especulou, me apavorou e não ajudou em nada. Desgraçados erros médicos.

Quando finalmente encontrei alguém que sabia o que fazer, fiquei bom.

Essas duas histórias mostram o estrago que aparentes especialistas que na verdade são completamente mal-preparados são capazes de fazer com uma pessoa.

O mesmo acontece em nossa vida espiritual.
 
Muitas vezes, tomamos como referências pastores, pregadores, teólogos e até mesmo blogueiros que têm toda a aparência de conhecer Deus, a Bíblia, a Verdade, a sã doutrina. Nos apaixonamos por eles. Os seguimos cegamente. Cada receita que eles nos passam nós cumprimos. Afinal, somos leigos e eles, os detentores do conhecimento, os ungidos, os que sabem apontar o caminho. Falam bonito. Citam poetas. Escrevem coisas lindas em seus blogs e twitters. Gravam vídeos atraentes e bem produzidos no Youtube. São charmosos. Muitos não usam "aquela ultrapassada toga sacerdotal" nem terno e gravata, são in, falam a linguagem de nossos dias. Uns até falam palavrão. Outros citam Vinícius de Morais, Cecília Meirelles e Clarice Lispector.

Há também o que nos conquistam porque falam como machos. Gritam. Poem o dedo na cara dos pecadores. E daí se seus programas de TV só servem para vender produtos de suas empresas e se defender das acusações dos blogueiros pensantes? São nossos porta-vozes. Dizem aos gays o que gostaríamos de dizer. Esbravejam. Batem na mesa. Chamam outros cristãos de "trouxas", "bundões" e adjetivos similares que demonstram como estão cheios de "poder de Deus" ou da "graça de Deus". Os amamos.

Mas o que não percebemos é que muitos deles cometem desgraçados erros bíblicos. E, assim como os erros médicos que fizeram comigo e que tinham a aparência de solução mas só me prejudicaram, esses formadores de opinião arrastam multidões para longe de Deus. Pregam doutrinas de demônios. Receitam práticas, crenças e conceitos "bíblicos" que vão causar bolhas e feridas sanguinolentas em sua alma, meu irmão, minha irmã, e vão deixar sua alma em carne viva. Por isso, é essencial sabermos identificar esses homens.

Se algum pregador que você admira diz que é possível ser salvo por caminhos que não Jesus de Nazaré, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que Deus abriu mão de sua soberania e não age nas tragédias do mundo, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que Deus não controla as forças da natureza e que essa ideia é só influência de ensinos gregos, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que se você der 900 reais ao ministério dele receberá unção financeira, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira traz representantes da Teologia da Prosperidade do exterior para dizer a você em seu programa de TV que você deve dar-lhe dinheiro como forma de semeadura, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira usa palavras torpes - como falar palavrão em púlpito, ofender outros pastores chamando-os de "bundões" ou afirmar que quem oferta para a obra de Deus por amor e não querendo receber dinheiro de volta é "trouxa" - ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira fala sobre graça mas é agressivo ao mencionar outros pregadores, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira manda você "tomar posse da bênção" ou "decretar/declarar a vitória", ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira realiza exorcismos na TV em que o suposto demônio diz que líderes de outras igrejas são guiados por Satanás, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que é a favor do aborto, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira pede dinheiro e com isso compra fazendas ou jatinhos particulares com os recursos sagrados que os fieis dão à igreja, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que é possível viver a fé cristã fora de uma comunidade, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que não tem problema algum ir a shows de artistas do naipe de Ozzy Osbourne, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que irmãos na fé são malditos porque creem em doutrinas em que ele não crê, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira diz que a Bíblia é apenas um conjunto de mitos que revelam uma verdade maior, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira ama mais o dinheiro do que pessoas, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira é visivelmente vaidoso ou arrogante, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira participa de campanha política, ele está te prescrevendo veneno.

Se algum pregador que você admira trai seu chamado sacerdotal e se candidata a um cargo político, ele está te prescrevendo veneno.

E se algum pregador que você admira não admite ser criticado...ele é o veneno.

Desgraçados erros bíblicos. Desgraçados não por ofensa, meu irmão, minha irmã, mas simplesmente porque estão totalmente fora da graça de Deus. E fora da graça de Deus não há salvação.

Deus tenha misericórdia de sua Igreja.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: Apenas

terça-feira, 29 de maio de 2012

A Fragilidade do Apostolado Moderno


É curioso observar como algumas igrejas evangélicas tem facilidade em aceitar novidades. E é triste verificar a falta de empenho dos cristãos em observar as Escrituras e analisá-las com sensatez e cuidado. Triste também é saber que poucas são as igrejas que motivam seus membros ao estudo sistemático da Bíblia, ao aprofundamento teológico, a formação de grupos de estudo e discussão sobre as doutrinas cristãs e que verifiquem na Bíblia se as coisas realmente são como é pregado. Aliás, não é pecado analisar se os ensinos e a pregação estão em conformidade com as Sagradas Escrituras (Atos 17.10-11).

Dentro desta miscelânea de revelações e novidades que temos observado, é importante expressar-se sobre o caráter das revelações: 1) as revelações nunca deverão ser colocadas acima da Bíblia. A Bíblia é a palavra final e autoridade máxima, já que se trata da inerrante Palavra de Deus; 2) Se a revelação está em desconformidade com a Bíblia, descarte imediatamente tal revelação. Deus não é Deus de confusão (1 Coríntios 14.33) As experiências pessoais não podem ser colocadas acima das Escrituras Sagradas, pois estas já contêm a revelação do propósito de Deus ao homem.

Nestes tempos de tantas novidades, algo chama atenção de maneira muito preocupante na história recente da igreja: trata-se do Apostolado Contemporâneo, ou Restauração Apostólica. Muitos têm se levantado como apóstolos nestes dias. Apóstolos ungindo apóstolos e criando uma hierarquia apostólica. Alguns pastores que, talvez por se sentirem menores que seus colegas de ministério que foram ungidos como apóstolos, ungem-se a si mesmos e se auto-proclamam apóstolos. Não há fundamento para o chamado ministério apostólico contemporâneo pelo simples fato do mesmo não possuir respaldo bíblico.

 O termo

Segundo o Dicionário Bíblico Universal, o termo apóstolo “significa mais do que um ‘mensageiro’: a sua significação literal é a de ‘enviado’, dando a idéia de ser representada a pessoa que manda. O apóstolo é um enviado, um delegado, um embaixador” (Buckland & Willians, p. 35) . A Bíblia de Estudo de Genebra também aplica esta descrição, dizendo que apóstolo “significa ‘emissário’, ‘representante’, alguém enviado com a autoridade daquele que o enviou” (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272).

A frágil sustentação

Aqueles que defendem esta frágil posição, têm se sustentado principalmente na má interpretação do texto de Efésios 4.11 para o uso do ministério apostólico para nossos dias. O texto de Efésios 4.11 diz: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”.

A refutação

As regras mais simples de hermenêutica nos ensinam que os textos sagrados nunca devem ser tirados de seu contexto. E no contexto da epístola de Paulo aos Efésios, temos no capitulo 2 o texto que prova que este ministério não mais existe. Antes de citar o texto, é importante refletir: quando um prédio é construído, o que é feito primeiro? As paredes ou a fundação da obra? É obvio que todo alicerce, toda fundação é feita em primeiro lugar. Não é possível construir as paredes e no meio das paredes fazer a fundação. Efésios 2.19-20 diz: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”.

Cristo é a pedra angular e os fundamentos foram postos pelos apóstolos e profetas. Os evangelistas, pastores e mestres são os responsáveis pela construção das paredes desta obra. Como bem explica Norman Geisler “De acordo com Efésios 2.20, os membros que formam a igreja estão ‘edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas’. Uma vez que o alicerce está pronto, ele não é jamais construído novamente. Constrói-se sobre ele. As Escrituras descrevem o trabalho dos apóstolos e dos profetas, quanto à sua natureza, como um trabalho de base” (Geisler, p. 375).

A Bíblia registra o uso do termo apóstolo a outros personagens. Russel N. Champlin explica que “há também um sentido não técnico, secundário, da palavra ´apóstolo´. Trata-se de uma significação mais lata, em que o termo foi aplicado à muitas outras pessoas, nas páginas do NT. Esse sentido secundário dá a entender essencialmente ´missionários´, enviados dotados de poder e autoridade especiais” (Champlin, p. 288, v. 3). Nesse sentido o Ap. Paulo chamou a alguns irmãos por apóstolos seguindo este termo não técnico:

Personagem Texto
Tiago, irmão do Senhor Gálatas 1.19
Epafrodito Filipenses 2.25
Apolo 1 Coríntios 4.9
Andrônico e Junias Romanos 16.7

No contexto de Efésios 4.1, Paulo não estava se referindo a estes homens, mas sim aos 12, Matias (que substituiu Judas Iscariotes), e a si mesmo. Estes compunham, juntamente com os profetas, o fundamento da igreja (Efésios 2.19-20).

Existiam duas exigências fundamentais para que um apóstolo fosse reconhecido para tal função:

1) Ser testemunha ocular da ressurreição de Jesus Cristo (Atos 1:21-22; Atos 1.2-3 cf. 4.33; 1 Coríntios 9.1; 15.7-8);

2) Ser comissionado por Cristo a pregar o Evangelho e estabelecer a igreja (Mateus 10.1-2; Atos 1.26).

Assim como Matias, que passou a integrar o corpo apostólico por ser uma testemunha, Paulo, que se considerava o menor, por ser o último dos apóstolos, contemplou a Cristo no caminho de Damasco (Atos 9.1-9; 26.15-18), onde ocorreu o início de sua conversão. Ou seja, ambos preenchem os pré-requisitos para tal função. No entanto, os que se intitulam apóstolos em nossos dias não se encaixam nos padrões bíblicos que validam o apostolado.

É interessante que, enquanto o Ap. Paulo refere-se a si mesmo como “o menor dos apóstolos” (1 Coríntios 15.9), os atuais apóstolos tem por característica a fama e a ostentação do título. Tudo é apostólico! A unção é apostólica! Os eventos são apostólicos! As músicas são apostólicas! Nem de longe se assemelham com a humildade dos apóstolos bíblicos. Eventos, cultos e seminários se tornam mais interessantes quando a presença do Apóstolo Fulano é confirmada. É um chamariz: “venha e receba a unção apostólica diretamente do Apóstolo Beltrano”. Tais apóstolos têm se colocado como super-crentes, uma nova e especial classe da igreja, a elite cristã dos tempos modernos. Hoje existe de tudo um pouco neste balcão mercantil da fé: Apóstolo do Brasil, Apóstolo da Santidade, Apóstolo do Avivamento e até mesmo o mais popular apóstolo brasileiro, chamado por muitos por “Paipóstolo”.

Existem hoje ministérios com características apostólicas, no sentido das missões (envio) e no estabelecimento de igrejas. No entanto, isso não faz de ninguém um apóstolo nos padrões bíblicos. A forma como Wayne Grudem explica esse fato é muito esclarecedora: “Embora alguns hoje usem a palavra apóstolo para referir-se a fundadores de igrejas e evangelistas, isso não parece apropriado e proveitoso, porque simplesmente confunde que lê o Novo Testamento e vê a grande autoridade ali atribuída ao ofício de ‘apóstolo’. É digno de nota que nenhum dos grandes nomes na história da igreja – Atanásio, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley e Whitefield – assumiu o título de ‘apóstolo’ ou permitiu que o chamassem apóstolo. Se alguns, nos tempos modernos, querem atribuir a si o título ‘apóstolo’, logo levantam a suspeita de que são motivados por um orgulho impróprio e por desejos de auto-exaltação, além de excessiva ambição e desejo de ter na igreja mais autoridade do que qualquer outra pessoa deve corretamente ter”. (Grudem, p. 764).

É equivocado aplicar o termo “apóstolo” para ministros contemporâneos. A Bíblia de Estudo de Genebra concluí que “Não há apóstolos hoje, ainda que alguns cristãos realizem ministérios que, de modo particular, são apostólicos em estilo. Nenhuma nova revelação canônica está sendo dada; a autoridade do ensino apostólico reside nas escrituras canônicas” (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1272).

Tamanho o fascínio que os crentes possuem por essa Restauração Apostólica, gera preocupação nas lideranças mais sóbrias. Vale citar as sábias palavras de Augusto Nicodemus Lopes: “Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos auto-nomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira.” (Lopes, cf. blog do autor).

Conclusão

Os ofícios que o Novo Testamento expõem para a igreja, para aqueles que compõem sua liderança, são: Apóstolos, Pastores (ou Presbíteros, ou Bispos – já que todos os termos representam a mesma função/ofício – Tito 1.5-7; Atos 20.17,28) e Diáconos. Esta Restauração Apostólica não encontra subsídio bíblico ou histórico, portanto, levando em conta este contexto, e considerando principalmente que Paulo foi o último apóstolo, conclui-se que não existem apóstolos em nossos dias. Cabe a igreja de nossos dias, exercer suas funções sem invencionices e modismos, seguindo o puro e verdadeiro Evangelho.

Referências:
 Buckland, AR. e Willians, L. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: 2001. Editora Vida
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo: 1999. Editora Cultura Cristã
Geisler, N. e Rhodes, R. Resposta às Seitas. Rio de Janeiro: 2004. CPAD.
Champlin, RN. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, v. 3 e 4. São Paulo: 2002. Hagnos
Grudem, W. Teologia Sistemática. São Paulo: 1999. Edições Vida Nova.
AGIR – Agência de Informações Religiosas – www.agirbrasil.com
Augusto Nicodemus Lopes – http://tempora-mores.blogspot.com

Fonte: Napec

A tentação de olhar para trás



O processo começa com uma sensação de perda. Uma impressão de que o quê ficou para trás era muito mais valioso do que aquilo que está a sua frente. Uma sensação de que talvez, no último cruzamento o caminho a ser tomado era o outro. Ou então que você não devia ter saído do asfalto e se aventurado por esta estrada de chão.

O medo também tem seu lugar neste processo. A sensação é de que se você não olhar para trás alguma coisa vai te apanhar de surpresa. Te apanhar desprevenido. Nada mais justo do que se proteger. Conhecer o seu perseguidor, dar ritmo a mudança. Será que o meu passo está adequado? Será que não preciso me apressar um pouco mais? Ilusão. Pura ilusão. Tudo parece trabalhar de forma orquestrada para que você olhe para trás.

Os sinais deixam de fazer sentido. Mesmo com sua cidade em vias de ser destruída, ainda que os avisos e sinais apontem para o final breve, apesar de tudo e de todos. Só uma olhadinha. Não vai fazer mal. Você já viveu lá por tanto tempo. Uma olhada apenas para se despedir. Depois você promete que não olha mais.

Então, como se por espasmo, você começa a olhar para os lados. Parece que seu pescoço precisa dar uma giradinha, quase uma espreguiçada, um relax diria eu. Efeitos físicos da tentação. Uma espiada de canto de olho. Você não se contenta. Não dá para enxergar direito assim. É preciso parar, girar o corpo e fixamente olhar para o que ficou lá.

Pronto. Você olha. Era só isso que você precisava. Não doeu nada. Agora você pode se virar novamente e seguir em frente.

Mas aquela visão te hipnotiza. Aquela vista familiar e saudosista te prende a atenção. Você fixa o olhar e aos poucos não consegue mais se mexer. Subitamente um gosto salgado te enche a boca e o calor da salvação dá lugar ao frio costumeiro da sua antiga casa, sua antiga cidade.

Olhar para trás não é mais uma opção, é um castigo. Seus olhos permanecerão eternamente abertos para ver o que você deveria ter deixado para trás.

E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal. Gênesis 19:26

Fonte: Napec

Insatisfação - Uma Enfermidade dos Nossos Dias



Por Norbert Lieth

Grande parte das pessoas no Ocidente teria motivos mais que suficientes para estar satisfeita. Mas, muitos não estão. Eles vivem descontentes e por isso muitas vezes estão mal-humorados, carrancudos ou sofrem do estômago. Eles vivem em paz, em liberdade e gozam do bem-estar, mas acham que tudo poderia ser ainda melhor.

Foi a insatisfação que sempre fez com que os israelitas se revoltassem contra Moisés, Arão e contra o próprio Deus. Foi a insatisfação que lhes impediu a entrada na Terra Prometida e os fez andar errantes durante 40 anos pelo deserto, longe de uma terra que manava leite e mel. É a insatisfação que destrói casamentos e famílias, são cônjuges resmungões que dificultam a vida do companheiro. A insatisfação não só deforma o rosto, mas também estraga o ambiente no trabalho, na vizinhança ou na comunidade. A insatisfação faz uma sociedade ficar exaurida e um povo tornar-se corrompido. A insatisfação leva às manifestações violentas e produz greves, e tudo isso custa milhões. O fruto da insatisfação é a discórdia, e a insatisfação surge quando o homem não tem paz. Assim ele se encontra constantemente no círculo vicioso dos seus sentimentos negativos. A Bíblia fala disso em Lamentações 3.39: "Por que, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados." Em Judas 16 está escrito acerca dos insatisfeitos: "Os tais são murmuradores, são descontentes, andando segundo as suas paixões." A Bíblia Viva diz: "Esses homens são exploradores constantes, eternos insatisfeitos, fazendo todo o mal que lhes dá vontade..."

A insatisfação tem sua raiz no fato de não se ter paz com Deus, e quanto mais um povo se afasta de Deus, mais insatisfeito fica. Paulo, que havia entregue sua vida de modo incondicional ao Senhor Jesus, podia dizer: "entristecidos, mas sempre alegres; pobres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo" (2 Co 6.10). Portanto, aquele que entregou sua vida ao Senhor Jesus e se arrependeu da sua insatisfação experimentará a verdade de Filipenses 4.7: "E a paz de Deus, que excede a todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus."

domingo, 27 de maio de 2012

A teologia destrói a fé



Um dia desses fui procurado por um jovem obreiro que me abordou com o seguinte argumento: professor aprendi em minha antiga igreja que a teologia destrói a nossa fé. Hoje, estou em outra denominação e tenho desejo de estudar teologia, mas tenho medo! O jovem então definiu me perguntando: é verdade que a teologia destrói mesmo a fé das pessoas?

Subitamente lhe respondi: Sim meu irmão, a teologia destrói a fé das pessoas! E prossegui: a teologia destrói sua fé medíocre e flácida e lhe dá uma fé verdadeira e ampla. A teologia destrói a sua fé sem base e sem vida e lhe dá uma fé avivada e contagiante. A teologia destrói a sua fé duvidosa, limitada, frágil, anêmica e temerosa e lhe proporciona uma fé superior e fortalecida.

Infelizmente algumas pessoas herdaram um conceito de teologia tão desequilibrado que chega a se tornar até mesmo antibíblico.
É importante saber que a causa da existência de principais vitalidades na esfera cristã, se deu justamente por causa de teólogos com fervor espiritual e de uma teologia comprometida com a Verdade.

Quero aqui apresentar os três gigantes momentos da questão em destaque:  

A Reforma Protestante, A Bíblia para todo o povo e a Expansão do Evangelho de Cristo.

Se hoje existe a Igreja Evangélica, os Movimentos Evangélicos, Os Grupos Musicais na Igreja, As Agências Missionárias, Os pastores, Ministros e tudo que envolve o protestantismo, a causa e efeito maior foi justamente a ação de teólogos, que movidos pelo poder de Deus e conhecimento profundo nas Escrituras Sagradas, denunciaram na época a decadência da Igreja Romana, e buscaram a restauração da Igreja de Cristo, que estava num caminho de podridão, desvio doutrinário e decadência espiritual por parte da visão deturpada de seus “líderes”. Os nomes que fizeram parte dessa grande “reação” foram de Martinho Lutero (1483-1546), John Calvino (1509-1564), Úlrico Zwínglio (1484-1531), John Knox e muitos outros que incrivelmente eram Teólogos com a mais acadêmica formação em teologia.

Lutero era Doutor em Teologia e professor de uma grande universidade, Calvino foi um teólogo tão expressivo que se tornou responsável pela sistematização doutrinária e pela expansão do protestantismo reformado. Zwínglio foi considerado o “pai do protestantismo reformado”. John Knox por sua vez se tonou o teólogo da Escócia. Estudou teologia e foi ordenado sacerdote, possivelmente em 1536.

Todo esse mover de Deus por meio dos Teólogos e da teologia ficou conhecido como Reforma Protestante. As igrejas evangélicas (históricas, pentecostais, neopentecostais, comunidades cristã, etc.) são todas dessa mesma raiz, salvo é claro os pequenos movimentos desde a Idade Média, que bem antes rejeitavam as práticas romanas.

Como pode então a teologia destruir a fé das pessoas?

Outra grande verdade que exponho aqui é a questão das Traduções da Bíblia. Elas chegaram a nossas mãos! A Igreja Romana havia proibido a leitura da Bíblia aos leigos, ao povo. Por centenas de anos a Bíblia era uma exclusividade dos bispos, padres e autoridades do clero. Nem mesmo a Escritura nas diversas línguas era possível, pelo contrário, um ato desse seria uma grande “blasfêmia”, “heresia” de acordo com a Igreja Romana.

Mais uma vez homens dotados de teologia e de profundo conhecimento bíblico se colocam á disposição de Deus para serem instrumentos de bênçãos para o mundo. Deus começa então um novo mover, as várias traduções da Bíblia se tornam um marco na história da Igreja Evangélica.

Os reformadores defendiam as Escrituras Sagradas como única regra de fé e prática para todos os cristãos. Bem antes da Reforma Deus já havia iniciado essa grande obra, movendo o coração de um homem chamado John Wycliffe (1328-1384). Esse era professor da Universidade de Oxford e Teólogo de expressiva erudição, considerado um dos precursores da Reforma Protestante. Wycliffe trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe. A tradução de Wycliffe foi perseguida, ironizada, ridicularizada pelo romanismo, mas Deus levantou adiante outro teólogo chamado Willian Tyndale. A obra na pára.

Lutero mesmo traduziu as Escrituras para o alemão. A sua tradução foi tão importante para o povo do seu país que estudiosos têm considerado Lutero como o pai da língua alemã. Um primo de Calvino traduziu a Bíblia para o Francês. A famosa versão King James, considerada a mais “perfeita” tradução foi produzida na Inglaterra, o sínodo de Dort, na Holanda, promoveu a tradução para o holandês. Meio século mais tarde, mas ainda como fruto da Reforma, João Ferreira de Almeida traduziu a Bíblia para a língua Portuguesa. Desde então, centenas de línguas têm recebido o texto Sagrado.

Tudo isso está interligado á expansão do Evangelho de Cristo em todo o mundo. Por meio de uma igreja saudável e doutrinariamente ortodoxa, cheia de vida, restaurada, o poder de Deus e da chama do Evangelho pelas nações do planeta têm sido vistos a cada dia.

Isso foi o poder de uma Teologia verdadeiramente fiel e bíblica. Ela jamais destruirá a fé das pessoas, mas as conduzirá como sempre fez, ao compromisso e conhecimento do Deus Verdadeiro. A única teologia que destrói a fé das pessoas é aquele que fere a Verdade, é a teologia interesseira, sem vida e sem os propósitos da Palavra.

No demais, lembremos das palavras de Calvino: “Os erros jamais podem ser arrancados do coração humano, enquanto não for nele implantado o verdadeiro conhecimento de Deus.” [João Calvino, As Institutas – edição Clássica, Vol I, pag. 74, Ed Cep].

Fonte: Napec

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Por que Jesus morreu na cruz?



A cruz de Cristo não foi um acidente, mas um apontamento de Deus desde a eternidade. Cristo veio para morrer. Ele foi morto desde a fundação do mundo. Ele nasceu para ser o nosso substituto, representante e fiador. A cruz sempre esteve incrustrada no coração de Deus, sempre esteve diante dos olhos de Cristo. Ele jamais recuou da cruz. Ele marchou para ela como um rei caminha para a coroação. O amor de Deus por nós é eterno. A causa do amor de Deus está nele mesmo.

Em sua mensagem no dia de Pentecostes, Pedro afirmou esta verdade quando disse que Jesus fora “entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (At 2.23). Pedro se achava presente quando tudo aconteceu; ele sabia que o Calvário não foi uma surpresa para Jesus. Anos mais tarde, quando escreveu a sua primeira epístola, Pedro chamou Jesus de Cordeiro que foi “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo” (1Pe 1.20). Pode alguma coisa ser mais clara? [1].

Apesar de Jesus ter se dado em nosso lugar, e isso é claro como temos visto até aqui, no entanto nós somos culpados por sua morte na cruz. É muito fácil culpar o povo judeu, Herodes, Pilatos e até os soldados romanos, mas saiba de uma coisa, se nós estivéssemos no lugar deles teríamos feito a mesma coisa. Deveras, nós o fizemos. Pois sempre que nos desviamos de Cristo, estamos “crucificando” para nós mesmos o Filho de Deus, e o “expondo à ignomínia” (Hb 6.6). Nós também sacrificamos Jesus à nossa ganância como Judas, à nossa inveja como os sacerdotes, à nossa ambição como Pilatos. Estávamos lá quando crucificaram o meu Senhor. Não apenas como espectadores, mas também como participantes, participantes culpados, tramando, traindo, pechinchando e entregando-o para ser crucificado. Como Pilatos, podemos tentar tirar de nossas mãos a responsabilidade por meio da água. Mas nossa tentativa será inútil quanto foi a dele [2]. 

A pergunta persiste, porque Cristo morreu na cruz?

Em primeiro lugar Cristo morreu na cruz do Calvário para nos dar vida. Jesus no Evangelho de João 10.10 nos diz que Ele veio para nos dar vida e vida em abundância. Só necessita de vida quem está morto e o apóstolo Paulo nos fala em Ef 2.1: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados”. A condição do homem sem Deus é desesperadora. O diagnóstico que Paulo faz se refere ao homem caído em uma sociedade caída em todos os tempos e em todos os lugares. Esse é um retrato da condição humana universal. O pecado não é uma dessas enfermidades que alguns homens contraem e outros não. É algo em que todo ser humano está envolvido e de que todo ser humano é culpado [3]. A Bíblia nos fala que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23a), e não há graus de morte, só graus de decomposição. O pecador perdido que diz: “Não sou tão mau quanto outras pessoas”, não está captando a mensagem. A questão não é decadência, é morte [4]. Jesus morreu para que tivéssemos vida! Mas se o salário do pecado é a morte, nos diz Rm 6.23b que “o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. O pecado paga salários a seus escravos – e o salário é a morte. Deus nos dá, não salário, mas algo melhor e muito mais generoso: por sua graça, ele nos dá a vida eterna como dom – a vida eterna que nos pertence por nossa união com Cristo [5]. A palavra grega Charisma, por sua vez, é uma dádiva da graça de Deus. Portanto, se estamos prontos a receber aquilo que merecemos, só pode ser a morte; já a vida eterna é uma dádiva de Deus, inteiramente gratuita e absolutamente imerecida. Ela se alicerça unicamente na morte expiatória de Cristo, e a única condição para recebê-la é que nós estejamos em Cristo Jesus nosso Senhor, isto é, unidos pessoalmente a Ele pela fé [6].

Em segundo lugar Cristo morreu na cruz do Calvário para vivermos para Ele. No momento em que me uno a Cristo eu estou me rendendo a Sua vontade, como disse o apóstolo Paulo em Gl 2.19,20: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. Uma coisa é ter Cristo como Salvador outra é tê-lo como Senhor. Um bom exemplo disso nós também encontramos em 2Co 5.14,15: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. Porque Cristo morreu por nós, agora devemos viver para Ele. Isso é serviço. O Salvador não morreu por nós para vivermos uma vida egoísta e centrada em nós mesmos, mas morreu para vivermos para Ele. Obviamente, não servimos a Cristo para sermos salvos, mas porque já fomos salvos. As nossas boas obras não são a causa da nossa salvação, mas sua consequência [7].

Em terceiro lugar Cristo morreu na cruz do Calvário para que pudéssemos viver com Ele. O céu sempre foi real para Jesus, “o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb 12.2). Foi a sua visão do céu que o sustentou quando a caminhada se tornou árdua. Séculos antes, a garantia do céu encorajou Abraão, Isaque e Jacó. Eles mantiveram os olhos fixos na cidade e país que Deus estava preparando para eles (Hb 11.13-16) [8]. Jesus em seu ministério sempre procurou renovar no coração de seus discípulos essa viva esperança.

Notas
[1] Wiersbe, W. Warren. O Que As Palavras da Cruz Significam Para Nós, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2001: p. 11.
[2] Stott, John R. W. A Cruz de Cristo. Ed. Vida, São Paulo, SP, 9ª impressão 2002: p. 51.
[3] Lopes, Hernandes Dias. Efésios, Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010: p. 48.
[4] Wiersbe, W. Warren. O Que As Palavras da Cruz Significam Para Nós, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2001: p. 25.
[5] Lopes, Hernandes Dias. Romanos, o evangelho segundo Paulo. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010: p. 254.
[6] Stott, John R. W. Romanos. Ed. ABU, São Paulo, SP, 2007: p. 222.
[7] Lopes, Hernandes Dias. 2 Coríntios, O triunfo de um homem de Deus diante das dificuldades. . Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008: p. 134.
[8] Wiersbe, W. Warren. O Que As Palavras da Cruz Significam Para Nós, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2001: p. 40.

Fonte: NAPEC

O Pentecostes e a ganância urbana

“Todos se encheram do Espírito Santo e começaram a falar...” (Atos 2.1-11)
 
Por Derval Dasilio
 
A pluralidade do mundo atual reflete-se nas cidades gigantescas de nossos dias. Complexidade é a palavra identificadora. Um grande problema urbano. Transporte, trabalho, saneamento, esgotos, hospitais, escolas, logradouros, lazer, etc.. Pluralidade de ideias, de estilos de vida, de culturas, de etnias e línguas. Incompreensão e intolerância marcam o comportamento urbano. A maioria apresenta um cenário desfocado, que nenhuma ditadura, subordinação, ordenação regulamentar, lei, consegue controlar. Construir uma nova ordem a partir da cidade, com políticas públicas razoáveis, igualitárias, é o sonho do administrador eleito. As responsabilidades sobre o governo, porém, estão com os habitantes, levando-se em conta as complexas relações sociais, uma rede desprotegida, desamparada, desarmada e exposta à violência em toda parte. Consagração completa da ruptura humana.
 
Instalam-se na periferia ou nos bairros mais pobres, as regras caóticas que dominam os centros urbanos. É impossível resistir à lógica da cidade, onde dominam critérios e racionalidades inspiradas em negócios, competição, disputa e dominação. A cidade não é o lugar onde prevalece o desejo claro de se receber o sustento e alcançar qualidade de vida coletiva. É só observar as diferenças entre os núcleos habitacionais populares, a elitização da moradia dentro da geografia urbana, e os lugares preferidos, shopping centers e “thematical parks”. 
 
Carências, provações, também são temas que acompanham esta cultura. Nas periferias das cidades e metrópoles milhões conhecem os mesmos sofrimentos, as mesmas doenças, as mesmas desigualdades. Cooptados pela propaganda que incita à ganância, ao consumo, as classes bem-postas fecham os olhos para os desgraçados, financiadas pelo sistema bancário, na “indústria da felicidade aparente”, e seus inúmeros postos de venda. Não importa se o dinheiro é imundo, o sistema financeiro manipula-o para seus fins. 
 
A rede de atendimento aos “famintos de felicidade” tornou-se um negócio rendoso, e os usuários, para mantê-la, exigem mais exploração dos que já são super-explorados. Os jovens são mantidos em excitação permanente. Ecstasy, Viagra e “fast-food” são sinalizações orientadoras. Alguma coisa semelhante a uma imensa jaula onde se prende e se controla a fé através da ganância, templos gigantescos propõem as possibilidades de um grande mercado, uma grande produção de fieis à mercê de personalidades midiáticas também disponíveis no melhor lugar das salas evangélicas e católicas. 
 
Os valores da vida são fluidos e dispersivos. A luta, a competição, o esforço pela supremacia, porém, são sólidos e constantes, citando Sigmunt Baumann. Cada dia é um verdadeiro calvário, na busca de altos níveis e qualidades aceitáveis para os que habitam nossas cidades, incluindo moradias, locais “próximos de tudo”. Que tudo é esse? O problema maior, no entanto, são os valores veiculados em substituição aos tradicionais, sobre amor, solidariedade, compaixão e cuidado com o outro.
 
Ideias voyeuristas expõem o ser humano como mercadoria barata, afirmando isoladamente a falta de importância do mesmo. Vive-se uma cultura sitiada pelo dinheiro, segundo Jurandyr Freire. Todos ficam felizes em falar de moral, ciência, religião, política, esportes, amor, filhos, saúde, alimentação saudável, esteira rolante, eletrocardiograma, mamografia, ultrassom, próstata, colonoscopia, e mesmo assim, nas palavras de Woody Allen, chega o dia inevitável.
 
Um fantasma assombra quem vive na cidade calcada na confiança nas tecnologias que a “salvarão”. Repercussões do racionalismo instrumental. De um lado os gordos e bem alimentados, “joging” e academias de ginástica; os que procuram espaços públicos como formigas, gozando da escassa natureza; aqueles que absorvem doses cavalares de solidão, carentes de comunhão diante de “palm-tops” e “tablets”. Comem de tudo e em qualquer lugar, barris de pipocas, hambúrgueres de três andares. Nos aeroportos, nas ruas, no teatro e no cinema, nos templos... 
 
Entram nas farmácias procurando calmantes, medicamentos contra a tensão cotidiana, drogas que serão consumidas em pilhas de caixas. De outro lado o imenso contingente de pobres e carentes. Os famintos, alvos do nojo da cidade, os que comem lixo e sobras, pivetes, crackeiros, viciados, moradores de rua. Na periferia e favelas um contingente monumental, nem ousamos falar de suas carências.
 
Paradigma perfeito da torre de Babel, “portal dos deuses”, na tradução mais próxima da verdade linguística. Ultimamente, a religião gananciosa, pentecostal “soft”, carismática, pretende ocupar o lugar da torre símbolo da cidade. A cidade pentecostal é símbolo da desordem na linguagem; da ganância, do desespero da própria humanidade, que quer uma torre para projetos egoístas e individualistas, aos privilegiados que nela poderão subir, utilizando como escada ou elevadores os ombros e as costas dos outros.
 
O ser humano quer a divinização de si mesmo, nas maiores alturas, galgando os céus. Há uma premência de invadir a área do divino, um projeto de controle e dominação do mundo. Ter, acumular, consumir. Enquanto a Divindade é bajulada, é também pressionada para atender desejos egoístas e gananciosos. Por isso, para reintroduzir a linguagem do reinado de Deus, que é a da solidariedade, do amor, da dignidade, do cuidado, da misericórdia, e da compaixão (Gn 11.1-9: “E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala”; At 2. 1-11: “... e numa só linguagem, ouvirmos falar das grandezas de Deus”), a cidade caótica e desordenada precisa de Pentecostes. E não do oportunismo midiático “pentecostal”. Mais que isso, precisa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, juntos, de uma só vez, como anuncia o Evangelho.
 
Fonte: Ultimato

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A injustiça é cega

 
Por Maurício Zágari

Uma das coisas que mais ferem minha alma são as injustiças. Não sei explicar, sempre foi assim, desde criança. Certa vez sumiu um montante de dinheiro da bolsa de minha mãe e, nem me lembro por que, ela cismou que eu tinha pego. Eu chorava, dizia que não tinha sido eu, mas ela insistia. No final lembrou que tinha posto embaixo do telefone. Eu devia ter uns 7 ou 8 anos, mas a agonia da injustiça daquele evento me marcou tanto que me recordo até hoje. Outra vez, ainda nessa época, houve uma festa de aniversário na minha casa e duas coleguinhas da escola ficaram por último. Resolvemos brincar de "gato mia", em que as pessoas se trancam num quarto escuro e alguém tem que entrar e achar quem está escondido. Coisa inocente e boba, sem nenhuma maldade. Meu avô chegou e começou a gritar conosco, arrastou a mim, a meu irmão e as duas meninas para a sala e nos sentou em sofás separados. Nos olhávamos os quatro com cara de "o que está acontecendo?". Naquela época, nunca poderíamos desconfiar que aos olhos de meu avô adulto estávamos engajados em alguma atividade sexual dentro do quarto. Era uma criança. Nem sabia o que era aquilo. No dia seguinte, minha mãe veio falar sobre a história, perguntando se tínhamos feito alguma coisa e explicou o quê. Foi quando entendi, dentro do que eu compreendia. Desabei no choro, me sentindo acusado de algo que não tinha feito. Lembro até hoje. Pois injustiças marcam.

Jesus foi injustiçado. Acusado falsamente. Cordeiro sem mancha indo para o abatedouro. Não é à toa que transpirou gotas de sangue: injustiça rasga nossa pele. Rasga nossa alma. Se o Verbo encarnado passou por isso, quanto mais nós, meros mortais. Seremos alvos de falsas acusações. Seremos acusados do que não fizemos nem pensamos. Desconfiarão de nós. Você dará pães e peixes e receberá de volta açoites. Prepare-se, um dia isso vai acontecer com você. E não será no mundão não: será dentro da igreja. De supostos irmãos. De gente que se chama pelo nome do Senhor. E você ficará ainda mais ferido por causa disso. Quem acusou Jesus foi um de seus apóstolos: Judas. Com um beijo. O traidor acusou Jesus de trair o status quo e, assim, o inocente virou réu de cruz. Imagino o que se passou no peito do Inocente na hora em que recebeu aquele beijo. Meu Deus... deve ter doído. Principalmente porque a injustiça veio da parte de alguém que Jesus chamava "amigo":

"Dirigindo-se imediatamente a Jesus, Judas disse: 'Salve, Mestre!', e o beijou. Jesus perguntou: 'Amigo, o que o traz?' Então os homens se aproximaram, agarraram Jesus e o prenderam" (Mt 26.49,50).

Muitas vezes, assim como Jesus, somos aprisionados em injustiças. E, como Jesus, não nos darão chance de defesa. Nossa probidade será açoitada, nossa honra será cuspida, porão uma coroa de espinhos em nossa verdade e pregarão nossas boas intenções numa cruz de vergonha e dor. Não se engane: vai doer. Você vai sofrer por isso. E Deus não afastará de você esse cálice.

"Eis o homem!", dirão. E você só poderá se calar, carregando nas costas o peso da sua inocência perante as acusações falsas, a desconfiança, o desamor.

Sofrer injustiça tem seus efeitos. Você sentirá sede de justiça e muitas vezes o que receberá será algo amargo como vinagre para saciar essa sede. Precisará de uma palavra de conforto e os que estão ao teu redor te porão ainda mais para baixo. Implorará a Deus por socorro e se sentirá abandonado. É o que João da Cruz chamou de "a noite escura da alma". E como você estará cravado nessa cruz de desconfiança, não terá o que fazer. Vão lhe insultar a honra, balançando a cabeça, e você estará sem ar nos pulmões para se defender.

Mas aí você pergunta: "Zágari, e o que fazer então diante de um cenário tão pessimista? Não há justiça para a vítima de injustiça?" A solução, querido, querida, está em fazer o que Jesus fez: primeiro, mantenha-se íntegro como você sempre foi. Mantenha-se cristão. Ou seja: siga o exemplo do Cristo. Primeiro, perdoe quem te pôs no banco dos réus. "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo", deve ser sua primeira atitude. O verdadeiro cristão não é o que revida, aprendi isso com um bom homem de Deus. Sofra calado. E perdoe os que te injustiçam e te acusam de intenções inexistentes. Fale apenas com o Pai, chore em oculto. E, em seguida, continue fazendo como Jesus fez: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Ou seja: entregue a situação nas mãos de Deus.
 
Quando te acusarem injustamente, desconfiarem de tua honra, puserem tua hombridade em xeque, perdoe quem te injustiçou, sofra calado e entregue a situação. E se você achar que isso é pouco, que deveria berrar e espernear para provar que é inocente, saiba que Deus é Justo. Logo, a injustiça dos homens jamais poderá se equiparar à Justiça de Deus. Se você tentar se defender, Deus permitirá que o faça, mas não interferirá. Mas se você der um passo para trás e deixar o Senhor Bom e Justo tomar conta da situação, chegará o momento em que haverá um grande terremoto, a pedra que oculta a verdade rolará e a verdade virá à luz.

Se neste momento você está sendo alvo de injustiça, meu irmão, minha irmã, saiba que a sua dor e a sua angústia podem durar uma noite ou mesmo três dias. Mas se você depositar a situação aos pés de Jeová Tsidkenu, o 'Senhor Justiça Nossa", Ele não deixará que tua carne permaneça na corrupção. E você sairá da sua tumba de vergonha e dor com as roupas resplandecentes, a alma limpa e a honra alva, mais que a neve.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: Apenas

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Aceitando o "Não" como Vontade de Deus



Por R.C Sproul

Ficamos abismados de que, mesmo à luz de registros bíblicos tão claros, alguém ainda tenha a audácia de sugerir que é errado para aqueles que sofrem no corpo ou na alma, expressar suas orações por libertação em termos de: "Se for da tua vontade." Dizem que quando a aflição chega, Deus sempre deseja a cura. Que ele não tem nada a ver com sofri­mento, e que tudo que devemos fazer é reivindicar a respos­ta que buscamos pela fé. Somos exortados a exigir o "Sim" de Deus antes que ele o pronuncie.

Fora com tais distorções da fé bíblica! Ela são concebi­das na mente do Tentador que deseja nos induzir a transfor­mar fé em mágica. Nem todo o amontoado de discurso pie­doso pode transformar tal falsidade em doutrina verdadeira.

Às vezes Deus diz não. Às vezes ele nos chama para sofrer e morrer, mesmo quando desejaríamos exigir o con­trário.

Nunca outro homem orou mais veementemente que Cristo no Getsêmani. Quem acusará a Cristo de não ter ora­do com fé? Ele colocou seu pedido diante do Pai suando sangue: "Passa de mim este cálice."

A oração de Jesus era direta e sem ambigüidades. Ele gritou por alívio. Ele pediu que o cálice terrivelmente amar­go fosse removido. Cada centímetro de sua humanidade se encolhia diante do cálice. Ele implorou a seu Pai que o libertasse do seu dever. Mas Deus disse não. O caminho do sofrimento era o plano de Deus. Era a vontade de Deus. Era sua vontade pura e inalterada. A cruz não era uma idéia de Satanás. A paixão de Cristo não foi resultado de contingên­cias humanas. Não foi uma maquinação acidental de Caifás, Herodes ou Pilatos. O cálice foi preparado, entregue e ad­ministrado pelo Deus Onipotente.

Jesus qualificou sua oração: "Se for a tua vontade..." Jesus não "apresentou e reivindicou." Ele conhecia seu Pai muito bem para saber que esta poderia não ser a sua vonta­de. A história não termina com as palavras: "E o Pai se arrependeu do mal que havia planejado, afastou o cálice e Jesus viveu feliz para sempre."

Tais palavras se aproximam da blasfêmia. O evange­lho não é um conto de fadas. O Pai não entraria em acordos sobre o cálice. Jesus foi chamado para tomá-lo até a última gota. E ele o aceitou. "Contudo, não se faça a minha vonta­de, e, sim, a tua" (Lc 22.42).

Este "contudo" é a suprema oração da fé. A oração da fé não é uma ordem que colocamos diante de Deus. Não é a presunção de um pedido atendido. A autêntica oração da fé é aquela que se assemelha à oração de Jesus. É sempre apre­sentada num espírito de submissão. Em todas as nossas ora­ções devemos permitir que Deus seja Deus. Ninguém diz ao Pai o que deve fazer, ninguém, nem mesmo o Filho. Orações devem sempre ser pedidos feitos com humildade e submissão à vontade do Pai.

A oração da fé é a oração da confiança. A própria es­sência da fé é confiança. Confiamos que Deus sabe o que é melhor. O espírito de confiança inclui o espírito de disposi­ção para fazer o que o Pai deseja que façamos. Este tipo dè confiança foi personificado em Jesus no Getsêmani.

Embora o texto não seja explícito, é claro que Jesus deixou o jardim com a resposta de Deus para o seu pedido. Não há nenhuma blasfêmia ou amargura, sua comida e sua bebida eram fazer a vontade do Pai. Desde que o Pai disse não, estava resolvido. Jesus se preparou para a cruz. Não fugiu de Jerusalém, mas entrou na cidade com o semblante determinado.

Fonte: O Calvinismo