segunda-feira, 2 de maio de 2011

Teologia Para Além da Teoria


Por Christopher Marques

No período que cursei o seminário teológico deparei-me com um divórcio incabível – teoria x prática. Alguns pensavam muito bem teologicamente, mas a vida não estava coadunada com o conhecimento. De qualquer forma, não entendo a separação da vida com a mente. Quando o conhecimento é saudável ele não gera dificuldades na sua exposição. Portanto, o bom conhecimento é tranqüilamente transmissível por intermédio de uma vida coerente.

Conheci um professor no seminário que escreveu um livro assim chamado: “Teologia Para que?”. Por que estudar teologia? Tem algum propósito nisso? Lembro-me das palavras de alguns colegas que diziam – para que vou usar a teologia no ministério?

Existe um problema de reduzir este estudo tão rico ao ambiente acadêmico. A teologia se aplica a cada área da vida. O teólogo haverá de responder questões complexas, delicadas e dolorosas da vida. O pastor deve ser um exímio teólogo. Por isso, resolvi pontuar algumas convicções que devem ser aplicadas e compreendidas na teologia prática.

Teologia como experiência de vida

A minha pequena caminhada de estudos levou-me a refletir o grande desafio da integração entre teoria e prática. Esta convicção se deve ao fato de que minhas experiências práticas tenham sido em contextos em que a vida não estava presente. Passei por alguns estágios na graduação de teologia com pessoas de nível social desfavorecidas. Freqüentei casas que não podem receber o nome de lar. Tinha que levar uma palavra de vida e esperança. Pessoas que dividiam o espaço com as suas próprias fezes. Certa feita, num enterro, eu tive que reconhecer o corpo no IML (situação horrível). Depois tive que vestir o cadáver (situação complicada e fora dos padrões higiênicos). Foi nesse ambiente – “morte-vida” – que comecei a entender o propósito rico da teologia.

São exatamente esses momentos difíceis que trazem a reflexão necessária – como a graça de Deus pode dar sentido a tudo isto? Perguntas infindáveis surgem. A leitura sobre a vida e a teologia de homens como Lutero, Calvino, William Cowper, David Brainerd, Jonathan Edwards, Abraham kuyper e Dietrich Bonhoeffer foram às ferramentas de Deus para modelar a minha prática teológica, pastoral e educacional numa teologia que além de exalar vida tenha a própria vida como experiência.

Teologia como experiência de paixão

No período dos meus estudos e no meu envolvimento com as pessoas e com a igreja de Cristo, uma descoberta de caráter singular em minha vocação veio à tona: não consigo amar pela metade. O contexto da dor é capaz de deixar marcas indeléveis na vida. Isso faz com que o amor seja mais profundo. De fato o amor é fonte de cura. Algo que aprendi e me fez crescer é que em algum momento as palavras e as formulações teológicas irão faltar. Descobri então neste momento de falta de respostas que o amor é necessariamente suficiente.

Uma vez que você se lança e se entrega à vida algo das pessoas passa a fazer parte da sua vida. O grande teólogo Santo Agostinho de Hipona, através de suas “Confissões”, revela que teologia, paixão e amor deveriam andar de mãos dadas.

Teologia como experiência de Silêncio e de Mistério

É parte da tradição teológica a dimensão da fé, da transcendência que extrapola os conceitos, mas não os anula. Justamente aqui reside a problema do ser humano – necessidade de explicar tudo. Na própria manifestação de Cristo está o mistério. A compreensão da encarnação do verbo deve ser um ensinamento para que venhamos a exercitar o silêncio.

Num velório não há palavras. Para um câncer não há conselhos pretensiosos. Para uma família destruída pelo vício não há outra opção a não ser o choro. A experiência de se calar deve ser exercida com mais freqüência. Há situações em que o próprio Deus se cala. Ele sabe muito bem exercer o silêncio. Que ele seja o grande mestre nesta tarefa.

Teologia como experiência de Serviço e humildade

Na Trindade o Pai serve o Filho, o Filho serve o Pai, o Espírito Santo é vínculo de amor, comunhão e serviço na Trindade. Jesus traz esta realidade para a vida humana. Não existe um momento sequer na vida de Jesus em que a palavra serviço não esteja inserida. Inspirado na integralidade da vida de Cristo um desafio surge – trabalhar a teologia como experiência de serviço. Como teólogo do serviço, a vida de Jesus traz a lembrança constantemente o cuidado para não usar o conhecimento teológico como instrumento de arrogância ou veículo que torna as pessoas dependentes incondicionais de minhas verdades. Por esse viés, a teologia começa a ocupar um lugar privilegiado na vocação do serviço. Toda formação intelectual está em função do serviço.

Teologia como experiência de Deus

Essa teologia é da escuta. Poucas pessoas sabem deste dom – ouvir. Muitos falam e poucos ouvem. Na escuta é possível encontrar Deus. As pessoas irão falar sobre o que Deus tem feito em suas vidas. As confissões dos recém convertidos trarão luz para uma compreensão sobre Deus que até então era inexistente.

Fonte: Blog Fiel

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