terça-feira, 24 de maio de 2011

Sola gratia


Por Rev. Hernandes Dias Lopes

A Reforma Protestante do século XVI voltou à doutrina apostólica da salvação pela graça independente dos méritos humanos. Agostinho de Hipona no século V já havia condenado o Pelagianismo, que ensinava que o homem não está em estado de depravação total e que ele é tão livre quanto Adão antes da queda para escolher o bem e o mal e que o homem tem poder em si mesmo para escolher e fazer o bem. A doutrina da salvação conforme a interpretação romana desviou-se da verdade bíblica, pregando o sinergismo, ou seja, a salvação como resultado de cooperação humana-divina. Essa idéia popularizou-se até mesmo entre o evangelicalismo brasileiro, quando muitos crêem que Deus não negará sua graça àqueles que fazem o que lhes é possível fazer ou seja, “Deus ajuda quem cedo madruga”.

A doutrina bíblica da sola gratia precisa ser resgatada novamente. A igreja evangélica brasileira precisa passar por uma nova reforma. Precisamos voltar novamente às Escrituras e enfatizar alguns pontos fundamentais, como seguem:

1. O homem, morto em seus delitos e pecados não pode jamais escolher a Deus por si mesmo – A salvação do homem é uma iniciativa divina. Tudo provém de Deus. A queda não trouxe apenas alguns transtornos e feridas para o homem, trouxe-lhe morte. O homem não está apenas ferido, mas morto em seus delitos e pecados. O homem em seu estado natural é inimigo de Deus. Ele é escravo do pecado. Ele é prisioneiro de Satanás, do mundo e da carne. Se Deus não tomasse a iniciativa da nossa salvação estaríamos rendidos ao pecado e condenados à perdição eterna.

2. A escolha da graça é soberana e não depende de méritos humanos – Foi Deus quem nos escolheu e não nós a ele. Foi ele quem nos amou primeiro e não nós a ele. Até nossa resposta ao amor de Deus é obra de Deus em nós. É ele quem opera em nós tanto o querer quanto o realizar. Nossa salvação foi planejada e determinada por Deus na eternidade, consumada por Cristo na cruz e aplicada pelo Espírito Santo em nós sem qualquer mérito nosso. O apóstolo Paulo diz: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16). Não depende do desejo nem do esforço do homem, mas da misericórdia de Deus. A Reforma insistia nesse conceito teocêntrico, exaltando a eleição divina contra o livre-arbítrio e o descer divino contra o ascender humano em todas as suas formas.

3. A graça de Deus é suficiente para a nossa salvação – A nossa salvação é resultado da obra única e monergista do Espírito Santo em nós, aplicando em nosso coração os efeitos do sacrifício de Cristo. Não podemos nem precisamos cooperar com obras, sacrifícios ou penitências para sermos salvos ou aceitos por Deus. Somos aceitos no Amado, o eterno Filho de Deus. Qualquer esforço humano para ajudar Deus em seu propósito redentor é uma pretensão tola e um atentado inconseqüente à soberania divina. A salvação é pela graça mediante a fé e isto não vem de nós, é dom de Deus, não de obras para quem ninguém se glorie, diz o apóstolo Paulo (Ef 2.8,9). A salvação é de Deus, é realizada por Deus, é aplicada por Deus, é garantida por Deus, para que a glória seja só de Deus.

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