quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ló, o Sobrinho de Abraão — Apesar de Tudo, um Santo de Deus


Por Ron Riffe

Não se deve julgar um livro pela sua capa!! Como vemos registrado em Gênesis 11:27, o patriarca Abraão tornou-se tio quando seu irmão Harã teve um filho. A criança recebeu o nome de Ló (que em hebraico significa "cobertura") e no verso 28 ficamos sabendo que seu pai morreu antes de a família se mudar de Ur dos caldeus (uma cidade que estaria situada no atual Iraque). A partir do relato do capítulo 12 em diante, parece que Abrão assumiu o papel de pai de Ló:

"Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra." [Gênesis 12:1-3; ênfase adicionada].

Precisamos observar que o chamado de Deus a Abrão (a quem Deus renomeou como Abraão) precedeu a mudança original da família da cidade de Ur para a terra de Canaã [11:31]. No verso 1 do capítulo 12, Deus disse a Abrão para deixar sua terra, sua parentela e a casa de seu pai. Mas, aparentemente, quando Abrão informou seu pai Terá de sua intenção de partir, Satanás entrou no quadro! Por que digo isso se a narrativa nada diz? Simplesmente por que as ações subseqüentes de Terá "telegrafam" essa mensagem. Pense nisto — Terá teve três filhos, o mais novo dos quais está agora morto (Harã) e o mais velho (Abrão) recebeu a visitação de um "deus" (como o pagão Terá deve ter imaginado) e está agora decidido a deixar toda a família para trás e se mudar para um lugar distante mais de 1.500 km! Assim, para lidar com esse dilema, Terá decide também deixar tudo para trás — incluindo Naor, o filho do meio e a família dele — e partir com Abrão para um futuro muito incerto. Dizer que isso vai contra o senso comum seria uma suavização. Em seguida, Terá (cujo nome, de forma muito apropriada, significa "atraso") atrapalha Abrão indo somente um pouco mais da metade do caminho para onde Deus o estaria levando. Seguindo a rota conhecida como "crescente fértil", que era regada pelos rios Tigre e Eufrates — áreas verdes no meio de regiões áridas — eles chegaram até as nascentes e Terá decidiu parar e se estabelecer naquele local.

Então, uma vez que eles armaram suas tendas, parece provável que o velho homem deu ao novo local de residência um nome em homenagem ao seu filho que tinha morrido. Embora eles já tivessem viajado uma boa distância — ainda estavam bem longe do local em que Deus desejava que Abrão se estabelecesse. Abrão tinha sido especificamente escolhido dentre todos os homens e Satanás certamente tomou nota disso. O objetivo de Deus de prover um Salvador foi revelado no Jardim do Éden [Gênesis 3:15] — naquilo que os teólogos chamam de "proto-evangelho" — o protótipo da mensagem do evangelho. Se olharmos com atenção, descobriremos que em todo o Antigo Testamento, Satanás fez muitas tentativas para estorvar esse plano, estando este incidente claramente entre eles.

Quanto tempo eles passaram em Harã não é indicado no texto bíblico, mas sabemos que Abrão tinha 75 anos quando finalmente reiniciou sua jornada após a morte de seu pai [12:4]. Não há dúvidas que o atraso veio como resultado da obediência à vontade de seu pai terreno, mas os anos em Harã foram desperdiçados por que a obediência ao chamado celestial estava incompleta. Somente quando fazemos exatamente aquilo que Deus nos diz é que podemos esperar receber um galardão completo. E não se engane a respeito disto — o Diabo usará nosso amor à família para se opor à vontade de Deus para nossas vidas, se permitirmos que ele faça isso.

Finalmente, Abrão reuniu sua família — incluindo seu sobrinho Ló — e continuou o processo de separação, conforme Deus o tinha instruído anos antes. Veja: o povo de Ur, a cidade natal de Abrão — bem como seu pai e a família ampliada — não eram adoradores de Jeová. Eles eram politeístas, pois adoravam muitos deuses e rotineiramente se inclinavam diante deles. Portanto, o intento de Deus era afastar Abrão desse ambiente espiritualmente decaído para o lugar de bênçãos — a terra de Canaã.

À medida que a jornada de Abrão continuou, vemos que ele cresceu espiritualmente à medida que lapsos de discernimento ensinaram-lhe preciosas lições. Mas, em geral, sua vida foi caracterizada pela retidão. [Gênesis 15:6]. Entretanto, quando consideramos seu sobrinho Ló, encontramos um agudo contraste no modo como eles viveram suas vidas! Como muitos cristãos hoje em dia, Ló amava as coisas deste mundo e fazia tudo o que podia para "ser alguém". Em vez de imitar o exemplo de seu tio piedoso e depender do Senhor para suprir todas suas necessidades, ele exibia uma atitude de ingratidão. Os versos 5 e 6 do capítulo 13 nos dizem que Ló foi grandemente abençoado enquanto permaneceu com Abraão:

"E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens eram muitos; de maneira que não podiam habitar juntos." [Gênesis 13:5-6].

Mas logo ele quis mais e quando Abrão gentilmente permitiu que ele escolhesse que parte da terra ele queria, Ló aproveitou-se da oportunidade e escolheu a melhor — "a campina do Jordão", que o verso 10 chama de "jardim do Senhor" por causa de sua beleza comparável ao Jardim do Éden. Entretanto, existiam espinhos naquela bela rosa que Ló não reconheceu! As cidades extremamente ímpias de Sodoma e Gomorra estavam situadas ali e em breve "Ló armou suas tendas até Sodoma". [verso 12].

Como alguém já disse: "Deus opera de formas misteriosas suas maravilhas" e nos versos 14-18 encontramos uma pista que nos mostra que a separação de Ló de Abrão era a vontade de Deus — por que a aliança de Deus só foi estabelecida depois que Ló partiu:

"E disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o lado do norte, e do sul, e do oriente, e do ocidente; porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre. E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o pó da terra, também a tua descendência será contada. Levanta-te, percorre essa terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a ti a darei. E Abrão mudou as suas tendas, e foi, e habitou nos carvalhais de Manre, que estão junto a Hebrom; e edificou ali um altar ao SENHOR." [Gênesis 13:14-18].

Essa promessa feita a Abrão (a quem Deus mais tarde renomeou como Abraão) é chamada de "Aliança com Abraão" e é incondicional. Não existiam "cordões amarrados" com base em Abrão ser um bom menino e comer seus legumes. Não, isso significa exatamente aquilo o que diz e é uma aliança eterna e incondicional prometida à maior de todas as sementes de Abraão — Jesus Cristo e todos os Seus eleitos — começando com os eleitos entre os judeus. (E o remanescente eleito de crentes judeus hoje — juntamente com os eleitos entre os gentios — ambos estando "em Cristo" [Efésios 1:4] — agora são herdeiros da terra de Canaã, que o mundo chama de Palestina!)

"Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo." [Gálatas 3:16].

"Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego." [Romanos 1:16; ênfase adicionada].

"Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego." [Romanos 2:10].

Em seguida, no capítulo 14, ficamos sabendo que Ló e sua família foram tomados cativos pelos exércitos de quatro reis confederados que atacaram Sodoma e Gomorra. Quando Abrão ficou sabendo o que tinha acontecido, imediatamente reuniu 318 de seus servos e perseguiu os invasores até que os alcançou em Dã — uma localidade situada no extremo norte de Canaã. Abrão dividiu seu pequeno "exército" em duas unidades e surpreendeu a força muito superior atacando-a à noite. Os reis foram mortos e todos os cativos e seus bens foram recuperados, mas Ló obviamente não aprendeu a lição — porque voltou direto para Sodoma! Na próxima vez que o encontramos, o texto diz que ele estava na porta da cidade [Gênesis 19:1]. Há um velho adágio que diz mais ou menos assim: "Uma vez que o camelo ponha seu nariz para dentro da tenda, a próxima coisa que você saberá é que poderá encontrar o camelo dentro da tenda!" Ló começou a "armar suas tendas até Sodoma", que é uma metáfora para dizer que ele cobiçou as coisas do mundo. Em seguida, ele continuou se aproximando cada vez mais com o passar do tempo, até que finalmente se mudou e se estabeleceu naquela cidade extremamente ímpia. E agora, pelo fato de estar sentado à porta da cidade, podemos saber que ele tinha se tornado um político — um líder daquela comunidade! Havia um costume de os anciãos assentarem-se à porta da cidade para ouvir e julgar as disputas jurídicas entre o povo. Assim, nosso amigo Ló é agora uma figura importante naquela cidade e está totalmente integrado na vida secular de Sodoma. Mas o que ele ignora é que Deus tinha aparecido anteriormente a Abrão (no capítulo 18) e dito que as cidades de Sodoma e Gomorra seriam destruídas por causa de sua impiedade. Bem, Abrão ainda ama seu sobrinho e tenta imediatamente interceder com Deus em um esforço de salvar Ló e sua família da destruição. Ao negociar com Deus como seu amigo [Tiago 2:23], ele consegue fazer Deus dizer que pouparia a cidade se encontrasse apenas dez justos nela.

Sabemos que a família de Ló consistia de pelo menos dez pessoas por causa do número final que Abrão buscou — (Ló, sua mulher, duas filhas ainda solteiras, e pelo menos duas filhas casadas [19:14 — em que "filhas" está no plural] e seus maridos, e talvez filhos?). Mas, de qualquer maneira, os eventos subseqüentes provam que os dez justos não foram encontrados — e esse fato fala muito claramente sobre a falta de testemunho de Ló com sua família. Quando ele advertiu seus genros a fugirem, foi tido por zombador aos olhos deles. [verso 14].

Assim, os anjos que foram enviados para destruir as cidades então apressaram Ló para pegar sua mulher e as duas filhas e fugir para salvarem suas vidas. "Sendo-lhe o Senhor misericordioso" (verso 16), os anjos literalmente os pegaram pelas mãos e os tiraram da cidade — instruindo-os a escaparem para o monte para que não perecessem com as cidades. E para mostrar a gravidade do declínio espiritual de Ló, em vez de escapar para o monte, ele pede permissão para fugir para a pequena cidade de Zoar, que estava ali perto. Exasperado, o anjo concorda em poupar Zoar para que Ló e sua família possam se abrigar ali (verso 21). Em seguida, no verso 22, encontramos um tremendo princípio da Palavra de Deus:

"Apressa-te, escapa-te para ali; porque nada poderei fazer, enquanto não tiveres ali chegado. Por isso se chamou o nome da cidade Zoar." [Gênesis 19:22; ênfase adicionada].

Os anjos vingadores de Deus não estavam autorizados a executar o julgamento até que aqueles que estavam sob a proteção de Deus fossem postos em segurança. Mas era essa proteção unicamente devido à intercessão de Abrão? Fique ligado...

Anteriormente, os anjos tinham instruído Ló e sua família a não olharem para trás (verso 17) e eles fugiram para Zoar. Assim que Ló entrou na cidade — "o SENHOR fez chover enxofre e fogo, do SENHOR, desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra" — destruindo totalmente as cidades da planície, com a única exceção de Zoar, escolhida como refúgio por Ló e sua família. Mas a irresistível atração daquilo que o pecado tem a oferecer dominava a mulher de Ló e ela não conseguia deixar de pensar em seus bens que ficaram em Sodoma. Por causa dessa desobediência, ela foi instantaneamente convertida em uma coluna de sal [verso 26]. O livramento estava tão perto, mas por cobiçar as coisas do mundo ela também pereceu.

O que aconteceu em seguida é repugnante, mas retrata vividamente como Ló tinha ensinado pouco à sua família sobre os valores espirituais — as coisas que ele sem dúvida alguma aprendeu quando viveu com seu piedoso tio Abrão — mas deixou de transmitir para seus próprios familiares.

Temendo por sua vida, Ló levou suas duas filhas para o monte e foi morar em uma caverna. Algum tempo depois, a filha mais velha "teve uma idéia" (e sabemos com quem essa idéia se originou, não sabemos? — o mesmo que quis atrapalhar quando Abrão tentou se separar do mundo e de sua parentela em Ur dos caldeus!) Ela disse à irmã mais nova que as possibilidades de elas se casarem e terem filhos eram remotas, de modo que para a árvore genealógica da família sobreviver — elas teriam de agir com suas próprias mãos. Assim, ela planejou embriagar seu pai naquela noite e manter intercurso sexual com ele. O plano funcionou e Ló estava tão bêbado que não percebeu quando ela veio nem quando saiu de sua cama. Na noite seguinte a irmã mais nova fez a mesma coisa, com os mesmos resultados. Ambas engravidaram de um relacionamento incestuoso com o próprio pai e eu fico imaginando quanto tempo levou para Ló descobrir todos os detalhes de como aquilo tinha acontecido!

Esse incidente me faz lembrar uma passagem das Escrituras que diz:

"Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna." [Gálatas 6:7-8].

Ló amou o mundo e deu corda para seus desejos carnais. Ele claramente colheu os frutos das "sementes" que plantou em suas filhas. Ambas tiveram meninos. A mais velha chamou seu filho de Moabe e a mais nova chamou seu bebê de Ben-Amí. Mais tarde, esses dois meninos cresceram e tomaram mulheres gentias como esposas, e assim deram origem aos povos moabita e amonita — ambos amargos inimigos de Israel em toda sua história!

(Antes que nos esqueçamos de Abrão neste mesmo departamento, vamos lembrar que ele tentou "ajudar Deus" a prover o filho que foi prometido e tomou Hagar, a serva egípcia, como sua mulher. Ela deu à luz Ismael — o pai dos povos árabes, e eles também têm sido um espinho na carne de Israel até o dia de hoje.)

O que podemos então concluir a respeito desse homem, Ló? É remotamente concebível que devamos esperar encontrar esse sujeito pecaminoso e mundano no reino eterno de Deus? Com base nas evidências apresentadas no livro de Gênesis, receio que a maioria de nós tenha sérias dúvidas! Mas, louvado seja o Senhor, a salvação não depende das opiniões dos homens e o apóstolo Pedro dissipa todas as dúvidas quando diz:

"E condenou à destruição as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinza, e pondo-as para exemplo aos que vivessem impiamente; e livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis (porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, vendo e ouvindo sobre as suas obras injustas)." [2 Pedro 2:6-8; ênfase adicionada].

Ló não podia acusar ninguém, somente a si mesmo, e seus próprios pecados o torturaram a cada dia enquanto ele viveu entre aquele povo vil e ímpio de Sodoma. Mas ele também será um dia julgado pelo Senhor Jesus Cristo — juntamente com todos os indivíduos eleitos do Antigo Testamento — e receber uma repreensão por ter sido um servo inútil parece que será uma possibilidade muito distinta para ele. Entretanto, devemos meditar naquilo que a inspirada Palavra de Deus diz por meio do apóstolo Pedro — Ló era inegavelmente um filho eleito da graça de Deus e seus pecados não comprometeram de modo algum sua salvação. Destarte, para aqueles de vocês que estão convencidos que alguém pode perder a salvação, o que mais poderia Ló ter feito para perdê-la??!!

Fonte: A Espada do Espirito

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