quarta-feira, 25 de maio de 2011

Porque amo a Igreja


Por Igor Miguel

Em tempos quando muita gente anda insatisfeito com suas igrejas e comunidades locais, acho que sigo a contramão da tendência. Ando aos amores pela Igreja e por expressões comunitárias de culto e especificamente por minha Igreja Local. Não somente eu, minha esposa anda as voltas pela experiência comunitária também, nada que boa doutrina e leitura não façam.

Vivo dias de suspiro por esta comunidade que chamam Igreja, e não me refiro aqui à Igreja Invisível. Refiro-me a algo bem visível, concreto e humano, refiro-me à Igreja Local, com endereço físico, com estrutura litúrgica formalmente organizada, com pastor, com canções, salmos, pregação, ceia, ofertório e confissão de fé. Dirijo minha gratidão a Deus por àquelas pessoas, com corações fixos em cada música, cada partícula de pão mastigado e o gosto cítrico do vinho da ceia. A comunidade que entoa junto cânticos de gratidão, que não exalta nada além da grandeza do Deus criador, que se revelou redentor em Jesus Cristo.

Sim, desde o livro de James K.A. Smith, Desiring the Kingdom, tenho procurado viver uma espiritualidade na comunidade, por isto, menos individualista, intimista e pietista. Eis o motivo de alguns textos aqui escritos sobre orações, a docilidade da vida comunitária e outras gotas de louvor e gratidão por tudo que tenho aprendido.

Mas, de verdade, o livro de Kevin DeYoung & Ted Kluck, intitulado "Por que amamos a Igreja", me surpreendeu por sua simplicidade e objetividade ao apresentar a possibilidade amarmos a Igreja Local novamente. Em dias em que todo mundo quer dar uma resposta à "crise evangélica", encontramos boas opiniões a respeito, mas também péssimas soluções.

Muitas das "soluções" ou são pós-modernas de mais, como o caso do movimento "Igreja Emergente", ou primitivistas de mais, como o caso do restauracionismo judaizante que insiste no dualismo "Jerusalém x Roma" como a tensão, quando na verdade a crise da Igreja evangélica está em sua rejeição a algo muito mais simples: O EVANGELHO (JESUS CRISTO).

Entre primitivistas, encontramos também soluções radicais, como a galera que quer "desinstitucionalizar" a Igreja, sustentado que estruturas formais de organização eclesiásticas são um problema para a "espiritualidade". Pura abobrinha.

A Igreja se visibiliza na reunião formal do santos, e certamente, onde os santos se reúnem, existirão viúvas, crianças, missões, discipulado, horário de reunião, coletas e por aí vai. Impossível que esta estrutura se mantenha sem uma mínima organização institucional. Entretanto, a instituição serve à Igreja, e não o contrário. Só este detalhe que falha as vezes, e por esta falha, já assumem a filosofia "nós vamos quebrar tudo" e voltar pra Jerusalém, pra Igreja Primitiva... (aff...). Voltemos ao evangelho, Jesus Cristo é mais que suficiente, foi Ele mesmo, a causa primeira e última de todas as reformas, curas e renovações da história da Igreja.

Cito Bob Kauflin, citado por Kevin DeYoung, cantor cristão que assumiu seu orgulho:
"Durante anos, considerei as tradições religiosas como um impedimento à espiritualidade bíblica. Associava orações repetidas, recitação conjunta dos credos, confissão pública do pecado, leitura das Escrituras, calendário litúrgico e ordens de culto a legalismo e servidão. Propus-me a repensar a adoração coletiva a partir do zero. Buscaria apenas as Escrituras e não dependeria de nada que as pessoas tivessem feito nos séculos anteriores. Achei que estava sendo original. Na verdade, estava sendo apenas ignorante -- e orgulhoso." (DeYoung, p. 121).
Muita gente anda decepcionada com a Igreja Local, alguns com motivos, outros por transferência psicológica, ou por um idealismo quase platônico de Igreja. Idealismo refletido em um modelo de "Igreja Apostólica Pura". Pura? A Igreja do I Século era cheia de problemas identitários, tensões apostólicas, incursões heréticas de movimentos pré-gnósticos, judaizante etc. Muitos já resolvidos pelo consenso comunitário da Igreja. Deus nos livre de um retorno a problemas já resolvidos.

No idealismo, esquecemos, que a Igreja continua caminhando, e por isso é uma Igreja no tempo e na história. Temo, que no desejo de uma Igreja Ideal, esquecemos de amar a Igreja Real, aquela que temos agora. Preocupação que compartilho com o grande mártir cristão moderno Dietrich Bonhoeffer que afirmou certa vez:
"Qualquer um que amar mais o sonho da comunidade que a comunidade cristã em si (com todos os seus defeitos) torna-se destruidor desta, ainda que a devoção àquela seja impecável e suas intenções sejam extremamente honestas, sérias e sacrificiais."
A Igreja tem pecadores igual lá fora dela (o mundo), talvez com uma diferença: na Igreja você encontrará pecadores assumidamente pecadores, por isso, dentre eles, vários arrependidos. Arrependidos, que se voltaram para Cristo e seu evangelho, encontrando cura para suas vidas em uma caminhada de progressivo crescimento espiritual rumo a consumação desta magnífica salvação.

Então vou resumir a opera: amo viver em Igreja. Quando muitos querem viver na "Igreja Cristo em Casa", eu quero viver Cristo com outros. Quero estapear meu individualismo me expondo e olhando para os rostos. Quero me arriscar, me lançar aos olhares alheios, as vezes amorosos, as vezes nem tanto.

Mas... é bom, bom de mais segurar o pão da ceia e olhar pra ele e saber que é um pedaço do mesmo pão que minha comunidade segura simultaneamente. Muito bom recitar confissões cristãs milenares junto com minha comunidade ao final do culto, aquelas que afirmam claramente o senhorio, missão universal e divindade de Jesus. É muito bom ouvir um sermão bem preparado por meu pastor. Há! Pastor... bem lembrado.

Pois é, enquanto todo mundo corre de pastor, eu amor ser pastoreado. Dizia ao amigo Aender Borba: descobri que mais do que querer ser um pastor (coisa que não sou), vivi estes 1/3 de minha vida procurando ser bem pastoreado. Ufa! Como tenho aprendido meu pastor.

Então, enquanto muitos correm da Igreja Local, eu corro pra lá. O lugar onde recitamos salmos, cânticos espirituais, bebemos da doutrina apostólica, da suficiência e centralidade de Jesus Cristo. Uma comunidade onde ninguém é exaltado, nem nossa comunidade e nossa visão comunal é exaltada, apenas Jesus. Pois nEle, por Ele para Ele são todas as coisas (Rm 11:36).

Infelizmente, as vezes o que encontramos é compensação afetiva disfarçada de falso vínculo religioso. Falsa comunhão, fruto de uma unidade sentimental desprovida da iluminação de Cristo. Convívio social travestido de espiritualidade. Na verdade, relacionamento recreativo retroalimentado por orgulho e narcisismo. Se Cristo não for o núcleo de nossa vida comunitária, esquece, é clube, mas não é Igreja.

Enfim, a Igreja Invisível, universal, não-institucional, santa e sem mácula, se visibiliza na Igreja Local, com seus dilemas e virtudes (não muito diferente das Igreja exortadas por Cristo em Apocalipse), mas ainda amadas por Cristo, e por isso, dignas de seu amor e severidade. Se Cristo ama a Igreja, certamente também a amo.

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