sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Fidelidade de Deus


Por Arthur W. Pink

A infidelidade é um dos pecados mais proeminente nestes maus dias. Com raríssimas exceções, a palavra de um homem não é mais a sua fiança, nos negócios deste mundo. No mundo social, a infidelidade conjugal ocorre por todo lado, sendo que os laços matrimoniais são desfeitos com a mesma facilidade com que uma roupa velha é rejeitada. Na esfera eclesiástica, milhares que se comprometeram solenemente a pregar a verdade, sem nenhum es­crúpulo a negam e a atacam. Nem o autor, como tampouco o leitor, pode arrogar-se completa imunidade deste pecado terrível: de quantas maneiras temos sido infiéis a Cristo, e à luz e aos privilégios que Deus nos confiou. Como é animador então, que indizível benção é erguer os olhos acima desta ruinosa cena e contemplar Aquele que, só Ele, é fiel, fiel em tudo, fiel o tempo todo.

"Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é Deus, o Deus fiel..." (Deuteronômio 7:9). Esta qualidade é essencial ao Seu ser; sem ela Ele não seria Deus. Pois, ser Deus infiel seria agir contrariamente à Sua natureza, o que é impossível. "Se formos infiéis, ele permanece fiel: não pode negar-se a si mesmo" (2 Timóteo 2:15). A fidelidade ê uma das gloriosas perfeições do Seu ser, É como se Ele estivesse vestido com esta perfeição; "O Se­nhor, Deus dos Exércitos, quem é forte como tu, Senhor, com a tua fidelidade ao redor de ti?!" (Salmo 89;8). Assim também, quando Deus Se encarnou, foi dito: "E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a verdade o cinto dos seus rins" (Isaías 11:5).

Que palavra, a do Salmo 36:5 — "A tua misericórdia, Se­nhor, está nos céus, e a tua fidelidade chega até às mais excelsas nuvens". Muito acima de toda compreensão finita está a imutável fidelidade de Deus. Tudo que há acerca de Deus é grande, vasto, incomparável. Ele nunca esquece, nunca falha, nunca vacila, nun­ca deixa de cumprir a Sua palavra, O Senhor Se mantém estrita­mente apegado a cada declaração de promessa ou profecia, faz valer cada compromisso de aliança ou de ameaça, pois "Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se ar­rependa: porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? (Números 23:19). Daí o crente exclama; "...as suas misericórdias não têm fim, Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade" (Lamentações 3:22-23).

Há nas Escrituras numerosas ilustrações da fidelidade de Deus. Há mais de quatro mil anos Ele disse: "Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite, não cessarão" (Gênesis 8;22). Cada novo ano dá-nos um novo testemunho de que Deus cumpre esta promessa. Em Gênesis 15 vemos que Jeová declarou a Abraão; "...peregrina será a tua semente em terra que não será tua, e servi-los-ão... E a quarta geração tornara para cá" (versículos 13-16). Os séculos percorreram o seu curso fatigante. Os descendentes de Abraão gemiam entre os fornos de tijolos do Egito. Deus esquecera a Sua promessa? Certamente que não. Leia Êxodo 12:41: "E aconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exércitos do Senhor saíram da terra do Egito". Por meio de Isaías o Senhor declarou: “...eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel" (7:14). De novo séculos se passaram, mas, "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gaiatas 4:4).

Deus é verdadeiro. Sua Palavra de promessa ê certa. Em todas as Suas relações com o Seu povo, Deus é fiel Pode-se con­fiar nEle, com segurança, Nunca houve alguém que tivesse con­fiado nEle em vão. Vemos esta preciosa verdade expressa em quase toda parte nas Escrituras, pois o Seu povo precisa saber que a fidelidade é uma parte essencial do caráter divino. Esta é a base da nossa confiança nEle, Mas, uma coisa é aceitar a fide­lidade de Deus como uma verdade divina, e outra coisa, muito diferente, é agir com base nisso. Deus "nos tem dado grandíssi­mas e preciosas promessas", mas nós contamos realmente com o seu cumprimento por Deus? Esperamos de fato que Ele vai fazer por nós tudo que disse que fará? Descansamos com implícita se­gurança nestas palavras: “... fiel é o que prometeu" (Hebreus 10:23)?

Há ocasiões na vida de todos em que não é fácil, nem mes­mo para os cristãos, crer que Deus é fiel. Nossa fé é provada dolorosamente, nossos olhos ficam toldados pelas lágrimas, e não conseguimos mais encontrar o rumo dos baluartes do Seu amor. Os nossos ouvidos se distraem com os ruídos do mundo, arruina­dos pelos sussurros ateísticos de Satanás e não conseguimos mais ouvir a doce entonação da voz mansa e delicada do Senhor. So­nhos alimentados foram frustrados, amigos em quem confiávamos falharam conosco, um falso irmão ou irmã em Cristo nos traiu. Vacilamos. Procuramos ser fiéis a Deus, e agora uma trevosa nu­vem O esconde de nós. Achamos difícil, impossível mesmo, à razão carnal harmonizar a Sua sombria providência com as pro­messas da Sua graça, Ah, alma titubeante, companheiro de pere­grinação provado com tanto rigor, procure graça para ouvir Isaías 50:10; "Quem há entre vós que tema a,Jeová, e ouça a voz do seu servo? Quando andar em trevas, e não tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus".

Quando você for tentado a duvidar da fidelidade de Deus, brade: "Para trás de mim, Satanás". Ainda que você não possa harmonizar os misteriosos procedimentos de Deus com as Suas declarações de amor, confie nEIe e aguarde mais luz, Na hora dEIe, certa e boa, Ele fará com que você o veja com clareza, “...o que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás de­pois" (João 13:7). A seqüência dos fatos demonstrará que Deus não abandonou nem enganou Seu filho. "Por isso o Senhor espe­rará, para ter misericórdia de vós; e por isso será exalçado, para se compadecer de vós, porque o Senhor é um Deus de eqüidade: bem-aventurados todos os que nele esperam (Isaías 30:18).

"Não julgues o Senhor por tua mente, porém, confia nEIe por Sua graça. Por trás de uma severa providência Ele oculta um semblante sorridente. Animai-vos, ó santos temerosos! As nuvens que temíveis vos parecem, ricas são de mercês, e irromperão em bênçãos derramadas sobre vós."

"Os teus testemunhos que ordenaste são retos e muito fiéis" (Salmo 119:138). Deus não nos falou apenas o melhor, mas tam­bém não retirou o pior. Ele descreveu fielmente a ruína efetuada pela Queda. Ele diagnosticou fielmente o terrível estado produ­zido pelo pecado. Fielmente fez conhecido o Seu inveterado ódio ao mal, e que ê preciso que Ele o puna. Advertiu-nos fielmente de que Ele é "fogo consumidor" (Hebreus 12:29). Sua Palavra não contém somente numerosas ilustrações de Sua fidelidade no cumprimento de Suas promessas, mas também registra numerosos exemplos de Sua fidelidade em fazer valer as Suas ameaças. Cada estágio da história de Israel exemplifica esse fato solene. Foi as­sim com indivíduos: Faraó, Core, Acã e uma multidão de outros mais, são outras tantas provas. E será assim com você, meu lei­tor, a menos que você tenha buscado ou busque refúgio em Cristo, as chamas eternas do Lago de Fogo serão a tua porção certa e segura. Deus é fiel.

Deus é fiel na preservação do Seu povo. "Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor'" (l Coríntios 1:9). No versículo anterior foi feita a promessa de que Deus confirmará o Seu povo até o fim. A con­fiança do apóstolo na absoluta segurança dos crentes estava ba­seada não na força das resoluções deles ou em sua capacidade para perseverar, mas sim na veracidade dAquele que não pode mentir. Visto que Deus prometeu ao Seu Filho um certo povo como Sua herança, livrá-lo do pecado e da condenação e fazê-lo participante da vida eterna na glória, é certo que Ele não permi­tira que nenhum dos pertencentes a esse povo pereça.

Deus é fiel na disciplina ministrada ao Seu povo. Ele não é menos fiel naquilo que retira, do que naquilo que dá. É fiel quando envia tristeza como quando outorga alegria. A fidelidade de Deus é uma verdade que devemos confessar não somente quan­do a tranqüilidade nos bafeja, mas também quando nos afligirmos sob o castigo mais áspero. Tampouco esta confissão deve ser ape­nas de boca, mas também de coração. Quando Deus nos fere com a vara da punição, é a fidelidade que a maneja. Reconhecer isso significa que nos humilhamos diante dEle, confessamos que merecemos totalmente a Sua correção e, em vez de murmurar, damos-Lhe graças por isso. Deus nunca nos aflige sem algum mo­tivo: "Por causa disto, há entre vós muitos fracos e doentes..." (1 Coríntios 11:30), ilustra este princípio. Quando a Sua vara cair sobre nós, digamos com Daniel; "A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós a confusão de rosto..." (9:7).

"Bem sei eu, ó Senhor, que os teus juízos são justos, e que em tua fidelidade me afligiste" (Salmo 119:75). Problemas e afli­ções não são apenas coerentes com o amor de Deus empenhado na aliança eterna, mas são partes da sua administração. Deus é fiel não só quando afasta as aflições, mas também é fiel quando no-las envia. “Então visitarei com vara a sua transgressão, e a sua iniqüidade com açoites, Mas não retirarei totalmente dele a minha benignidade, nem faltarei à minha fidelidade" (Salmo 89:32-33). O castigo não é apenas conciliável com a benignidade amorosa de Deus, mas também é seu efeito e expressão. A mente dos servos de Deus se tranqüilizaria muito se eles se lembrassem de que a aliança de Deus O obriga a aplicar-lhes correção oportuna. As aflições são-nos necessárias: "...estando eles angustiados, de madrugada me buscarão" (Oséias 5:15).

Deus é fiel na glorificação do Seu povo, "Fiel é o que vos chama, o qual também o fará" (1 Tessalonicenses 5:24). A refe­rência imediata aqui é aos santos serem "preservados inculpáveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". Deus nos trata, não com base em nossos méritos (pois não temos nenhum), mas por amor do Seu grande nome. Deus é constante para consigo mesmo e segundo o propósito da Sua graça, "... aos que chamou... a estes também glorificou" (Romanos 8:30). Deus dá plena demons­tração da constância de Sua bondade eterna para com os Seus eleitos, chamando-os eficazmente das trevas para a Sua maravilho­sa luz, e isto deveria torná-los seguros da certeza da sua conti­nuidade. "... o fundamento de Deus fica firme..." (2 Timóteo 2; 19). Paulo estava firmado na fidelidade de Deus quando disse: “... eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é pode­roso para guardar o meu depósito até àquele dia" (2 Timóteo 1:12).

A percepção desta bendita verdade nos protegera da preo­cupação. Estar cheio de preocupações, ver a nossa situação com prenúncios sombrios, antecipar o amanhã com ansiedade, é ofen­der a fidelidade de Deus. Aquele que vem cuidando do Seu filho através dos anos, não o abandonará quando o filho envelhecer. Aquele que ouviu as orações que você fez no passado, não se negará a suprir suas necessidades na presente emergência. Descanse em Jó 5:19: “Em seis angústias te livrará; e na sétima o mal te não tocará".

A percepção desta bendita verdade calará as nossas murmurações. O Senhor sabe o que é melhor para cada um de nós, e um efeito da confiança nesta verdade será o silenciar das nossas petulantes reclamações. Deus é grandemente honrado quando, sob provação e castigo, temos bons pensamentos sobre Ele, vindicamos a Sua sabedoria e justiça, e reconhecemos o Seu amor mes­mo em Suas repreensões.

A percepção desta bendita verdade gera crescente confiança em Deus. "Portanto também os que padecem segundo a vontade de Deus encomendem-lhe as suas almas como ao fiel Criador, fazendo o bem” (1 Pedro 4:19). Quando confiantemente nos re­signarmos e deixarmos todos os nossos interesses nas mãos de Deus, plenamente persuadidos do Seu amor e fidelidade, tanto mais depressa ficaremos satisfeitos com as Suas providências e compreenderemos que "ele tudo faz bem”.

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