sábado, 14 de maio de 2011

As Nossas Melhores Piores Desculpas...


Por Rev. Jáder Borges

…eu nunca ouvi falar de alguém que tenha machucado o cérebro enquanto pensava.

À hora da ceia, enviou o seu servo para avisar aos convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Não obstante, todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me e, por isso, não posso ir. (Lucas 14.17-20)

Eu sempre li esta parábola do Senhor Jesus impressionado com as desculpas ou motivos arranjados para a não participação no banquete. Pareceu que todos os convidados aceitaram e não vimos ninguém que tivesse declinado. O anfitrião enviou a informação que eles poderiam vir, porque estava tudo preparado. Aí foi quando começaram as desculpas. De tantas lições que o texto proporciona, pensei sobre as desculpas que arrumamos para não realizarmos como deveríamos o evangelismo, sendo este pessoal ou nas diversas possibilidades públicas. Creio que no início da caminhada cristã a maioria dos crentes comprometeu-se com o Senhor em evangelizar; em falar do seu amor, do seu poder e da Sua maravilhosa pessoa. E penso que muitos fizeram isso. Mas depois… o evangelismo foi parando, tanto na prática como na ênfase, que nem é mais dada em muitos púlpitos sobre esta importante ação da Igreja e de cada crente. Assim, já percebo de Norte a Sul membros que não evangelizam, ou pior: nem sabem o que venha a ser isto, na prática, como fizeram os crentes de não muito tempo atrás. Será que a liderança e seus pastores não deveriam rever algumas prioridades? Quais seriam algumas das nossas desculpas para não participarmos deste banquete, principalmente quando temos o privilégio de levar comida que alimenta e sustenta a alma dos famintos?

Recife, início dos anos 1980

Augustus Nicodemus, que eu conheci quando ainda não tinha barba, foi um líder de jovens impressionante e que incentivou muita gente. Fez parte da equipe de acampamentos no Palavra da vida Nordeste e ali sempre nos exortava a trabalhar por Cristo. Aí, Augustus iniciou um evangelismo em um bairro de Olinda chamado Ouro Preto, que contava com uma população imensa de jovens e entre estes, muitos drogados ou envolvidos em vícios. Eu ainda era novo convertido e acabara de ler o livro “A Cruz e o Punhal”, do recém-falecido pastor David Wilkerson, de modo que ocorreram quatro coisas que me deixavam “sem saída”: o evangelho de Cristo estava pulsando em meu coração e se espalhando pelas veias; a Organização Palavra da Vida sempre nos incentivava a evangelizar, a leitura do livro de Wilkerson muito me impactara e Augustus nos incentivava, indo conosco, tocando violão e pregado a muitos daqueles jovens de Olinda. Só tinha um “problema”: a evangelização que fazíamos naquelas tardes (e que entrava tantas vezes pela noite) coincidia com o horário do nosso bate-bola, que eu amava tanto. E agora, ir a qual campo?

Fiz a escolha certa e fui ao campo missionário de Ouro Preto, começando a falar de Cristo na minha Jerusalém (Recife) e indo até Samaria (Olinda… e olhe que eu ainda não cheguei até os confins da terra), vendo milagres de salvação e conversão acontecendo entre rapazes e moças, alguns dos mais malucos do pedaço.

Como fez bem à minha iniciante vida cristã sair para evangelizar! Eu nunca orei tanto; dependi tanto do Espírito Santo e estudei tanto a Palavra, pois, eram tantas as perguntas e tantos os conflitos que surgiam, que eu sempre respondia aos que me indagavam com um: “espera aí que eu vou estudar sobre este assunto e na semana que vem em volto”. E voltava, e respondia… e sempre aprendia! Aprendi a confiar em Deus enquanto evangelizava.

Até hoje, passados 30 anos daqueles dias das ruas de paralelepípedos desnivelados de Ouro preto eu procuro evangelizar: no ônibus, em uma fila para pagar uma conta; no avião… sempre que tenho alguém ao meu lado, faço daquela pessoa o meu alvo missionário e daquela poltrona ao meu lado, um campo missionário. Mas, confesso: ando entristecido, pois não estou vendo mais gente evangelizando. Nem pessoalmente, nem de púlpito e nem mais em praça pública. Nós que temos o evangelho da Graça de Deus, andamos nos esquivando… Não estamos falando de Cristo como deveríamos e poderíamos, através dos tantos recursos que temos. E aí, temos que arrumar mesmo desculpas para não evangelizar. Quais são as nossas “melhores”? Eu não sei quais são as suas, mas sejam elas quais forem para não evangelizar, elas serão sempre as piores.

…“Não tenho tempo” – Tempo nós temos. O que estamos fazendo com ele é outra coisa! A verdade é que temos perdido muito tempo e, com isso, muitas vidas. Vejo hoje, por exemplo, muitos pastores jovens querendo “conquistar” diplomas, procurando títulos, como mestrado, doutorado, etc e tal. Meu querido pastor jovem, o seu melhor diploma são vidas salvas. Seu melhor mestrado? No campo e na prática. É praticando que a gente vai afiando a espada e fiando a fé em Cristo, sempre. Vejam bem, vocês, que eu não sou contra o estudo. Sou contra o fazer do estudo, do título, do diploma uma obsessão; um ídolo, pois, no final, é isso que ele é ou termina sendo. Infelizmente conheço jovens pastores – e pastores velhos, também – que têm mais diplomas na parede do que filhos na fé. Não ter tempo para evangelizar é um mau início de ministério. “Ah Jáder, mas espere aí? Eu sou pastor-mestre e não, evangelista!” E eu lhe diria: antes de ser pastor eu sou crente, salvo, perdoado e comissionado. Eu não preciso ser pastor para falar de Cristo. Mas, como pastor eu também devo falar de Cristo aos perdidos. Como pastor, eu devo sair com as minhas ovelhas ao campo, para que elas falem de Cristo. Um dia desses eu tive o privilégio de sair com as crianças da nossa UCP (União de Crianças Presbiterianas) pelo bairro, distribuindo folhetos. Fomos com uma turma de 30 pessoas (um adulto para cada 4 crianças) e distribuímos porções da Palavra de Deus. Foi tão bom! Fizemos contato com tanta gente! E muitos vizinhos agradeceram. Portas foram abertas. Querido irmão, seja você pastor ou não, todos deveríamos evangelizar mais. E melhor! David Livingstone dizia que ‘Deus tinha um único Filho e fez dEle um missionário’. E Jesus mesmo dizia: “vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim” (Mc 1.38). E o texto segue dizendo que o Senhor Jesus foi por toda a Galiléia…(Mc 1.39). Enfim: crente – seja ele quem for – que não tiver tempo para evangelizar, deve urgentemente rever a sua agenda e as suas prioridades, pois está é perdendo tempo.

…“Não tenho recursos” – Tem. Todos os que precisa para evangelizar. Vivemos em um país livre! Saturado de ‘mercadores da Palavra’, é verdade, mas totalmente carente do evangelho de Cristo. Você sempre encontrará alguém carecendo do evangelho de Cristo, muito mais do que um sedento carece de um copo d’água. E não demorará muito. É só começar. Não espere ter meios, julgando com isso, equipamentos, recursos financeiros, equipe de música, etc. O melhor meio você já tem: a Palavra de Deus. Abra, pregue, ouça as pessoas, fale… e você verá como a espada do Espírito é apta para chegar ao coração e trazer discernimento para todos que a ouvem e a quem o Senhor quer salvar! (Hb 4.12).

…“Vou dar oportunidade para outras pessoas”… – Tinha um membro de uma igreja que eu pastoreei que sempre vinha com esta desculpa: “pastor, agora eu vou dar oportunidade para outra pessoa”, quando queria largar a sua função na Igreja. Só que não tinha esta “outra pessoa”. Aí, ele entrava com a sua segunda e bem surrada desculpa: “...é que eu ando muito cansado”. E eu dizia: “irmão, e quem foi que disse que aqui é lugar de descanso?” Todos os verbos que eu vejo para aqui e para agora são: “arar”, “semear”, “combater”, “ir”, “defender”… “Descansar é um verbo nesta nossa causa aqui na terra”, dizia eu àquele irmão, “só para o Céu, meu querido. Aqui, é guerra. E em uma guerra eu vou com dupla missão: resgatar os feridos e arrebentados pela vida e fazer retroceder o inimigo. E isso não para nunca”!

Paremos nós com essa desculpa. A oportunidade foi Deus quem deu a mim e a você. E tome cuidado, pois o diabo “ama” crente que não evangeliza; “ama” crente que se acomoda e “aplaude” crente que se acovarda. Estes são os seus “crentes preferidos”… e se você não aproveita oportunidades, elas poderão ser desperdiçadas, e o sangue de muitos cairá sobre a terra e você destes terá que prestar contas ao Senhor (ver, Ez 3.18). “Ah, mas evangelizar dá muito trabalho”. Dá. Dá um trabalho enorme! Mas, quem foi que disse que no Reino de Deus não haveria trabalho certo? E mais: crente que não trabalha, acaba é dando trabalho.

…“Preciso me especializar mais em evangelização”. – Que bom que seja isso mesmo! Então, a melhor especialização em evangelização pessoal que eu conheço, é na prática. E não conheço outro e melhor meio e método. É ali que eu acerto ou erro; que eu vou me aprimorando, e orando, e estudando e decorando as Escrituras. Claro: leia o que puder, faça cursos… mas faça entre intervalos de evangelização. Eu mesmo conheço “um monte” de doutores em missiologia – para citar outro exemplo – que nunca foram ao campo missionário. Então, evangelizar é uma santa e doce prática, muito mais na prática! E quando a gente começa e pega gosto… que gosto bom tem na boca o falar de Cristo! E que alegria toma o coração da gente quando um pecador ora com a gente, entregando a sua vida a Cristo.

Evangelizar não é questão de diploma. É questão de diplomacia! De ir em nome do Senhor, como embaixador do Rei (ver, 2 Co 5.18-21;6.1,2).

…“Não estou evangelizando porque preciso ensinar doutrina” – Precisamos de doutrina, é verdade, principalmente nesses dias confusos. Como obreiros zelosos, muitos de nós denunciamos que quase ninguém mais prega sobre temas como “santidade”; “santificação”, “pecado”, “Céu e Inferno” e é verdade. Muitos sermões por aí são, no máximo, de ‘auto-ajuda’ ou pragmatistas em nome de uma religiosidade confusa e tantas vezes, oca. Mas eu não vejo como dissociar doutrina de evangelização. Os dois são aspectos muito importantes na vida, saúde e prática da Igreja. E pergunto: quando foi que as ovelhas na sua igreja ouviram uma pregação sobre a necessidade da evangelização? Ou, quando foi que com igual fervor, denunciamos a falta de sermões evangelísticos e que também orientassem os nossos irmãos a tal prática? A propósito, quando foi o seu último sermão evangelístico? Ah, precisamos de mais homens como George Whitefield em nossos púlpitos.

“…Vou orar”. – Que lindo! Mas que grande desculpa pode ser esta, quando fica só nisso: “vou orar” e nunca agir. Uma das formas que eu acho bonita na oração é que esta palavra em Português é bem significativa. Ore mesmo e ore muito, e nunca saia para evangelizar sem orar. Oração é primordial. Agora, é assim no evangelismo em nosso idioma: Ora… ação!

Ore e dependa. Ore e fale, Ore por aqueles com quem você compartilhou a sua fé em Cristo recentemente. Fale de Cristo em tempo e fora de tempo. Será sempre o melhor tempo este para o pecador, pois perdido, poderá ser achado. Culpado, poderá ser perdoado. Inimigo, poderá ser filho! E quem não gostaria de ouvir sobre isso?! Vá e pregue; vá e fale. Tem muita gente nesta cidade que Deus lhe colocou para falar de Cristo. Em tempo… qual foi o seu último filho/filha na fé? Quanto tempo faz que você ganhou alguém para Cristo? Quem você evangelizou esta semana?

Não se entristeça com as minhas palavras. Antes, tome fôlego e faça três coisas: a) ajoelhe-se e ore; b) volte à pratica deste amor por evangelização e missões e saiba: c) o Senhor Deus colocará alguém bem perto de você, quando você menos esperar, e este será o seu campo missionário.

Fale com sabedoria da Soberania de Cristo. E deixe os resultados com o Espírito Santo. É Ele quem convence e converte. Mas é você quem Ele quer e pode usar para testemunhar de Cristo. Você sabia que evangelizar é um mendigo contando a outro onde foi que ele encontrou pão? E o que não falta ao nosso redor são mendigos famintos.

A grande verdade é que não temos desculpas para não evangelizar. Falar de Cristo, este é o nosso maior privilégio. Para nós que somos salvos, e para os perdidos que poderão ser salvos por Deus.

Falemos de Cristo, Ele é o Salvador,
Senhor tão singular, do mundo o Criador.
Ele foi nos preparar, mansões celestiais.
Falemos de Cristo, mais e mais.

Fonte: Blog Fiel

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