Por M. Lloyd-Jones
Não examine só o que você alega crer - certamente devemos crer nas coisas certas; você não poderá ser cristão se não crer num mínimo irredutível - mas, examine-se perguntando a si mesmo: "Que parte o cristianismo desempenha em minha vida? Ele me domina, me controla? Ele é a coisa maior na minha vida, ou é algo que eu acrescento?" Bem, no cristão verdadeiro o cristianismo é sempre central; é sempre o fator determinante. O cristão não faz o mínimo, mas o seu desejo é fazer o máximo. Esse é sempre o seu interesse, muito embora ele falhe, ao passo que aqueles que se enganam deliberadamente sempre fazem o mínimo.
E depois, como o nosso Senhor destaca tão claramente na parábola do semeador no capítulo 4 de Marcos, os que se julgam cristãos e não são logo mostram isso por deixarem que os cuidados deste mundo e as diversas outras preocupações e ambições que surgem na vida sufoquem "a palavra". Vejam vocês, todas as sementes nasceram, mas somente num caso havia vida. Nos outros havia uma aparência de vida, mas não era real. E como dizer onde está a diferença? Pois bem, o nosso Senhor disse que "os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra". E esta é outra maneira pela qual a falta de fé verdadeira sempre se trai. Não importa o que eu diga, finalmente é isso que eu faço. Quais são as minhas prioridades? Que coisas me controlam? Quais me dominam? Que coisas mais contam e vêm em primeiro lugar para mim?
A seguir, outra maneira de me provar é ver como eu reajo à perseguição. Você gostaria de saber se é cristão ou não? Eis um teste muito bom: como você reage quando pessoas que o conhecem tendem a ridicularizá-lo porque você é cristão? Você diz: "Eu sou cristão"? Não se dá o caso de que às vezes você tenta ocultar isso para poder gozar boa opinião dos outros, para que os outros o elogiem, ou para que não riam de você? Seria sua fé cristã algo que você tem a tendência de ocultar? Naturalmente você a deseja - sim, mas a seu modo. E quando surge a perseguição, ela murcha e se encolhe (Marcos 4:6,17). Aí estão várias maneiras pelas quais podemos pôr à prova a realidade da nossa fé.
E a maneira final pela qual este homem, Simão, deu prova de que nunca tinha sido cristão está em sua reação à repreensão de Pedro. Pedro o repreendeu e lhe disse: "Ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração55 (versículo 22). E a frase, "o pensamento do teu coração", traz à tona tudo o que tenho tentado dizer. Isso era o que Simão tinha planejado em sua mente, foi o que ele tinha pensado. Mas a sua reação foi: "Respondendo, porém, Simão, disse: orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes venha sobre mim”.
"Que há de errado nisso?”, vocês dirão.
Oh, o que há de errado nisso é que até mesmo aí ele estava interessado na coisa errada! O que o preocupava era o temor da punição; não viu a enormidade do que tinha feito, não odiou este coração enganoso que havia nele. Não perguntou, "Oh, como posso livrar-me disto?” Nada disso. "Orai por mim, para que eu possa escapar do castigo.” E essa tem sido sempre uma das principais características desta falsa espécie de profissão. E um interesse em não ir para o inferno, não um desejo positivo de ir pra o céu. O interesse real está posto neste mundo, porém nós queremos evitar as conseqüências disso. Não há "fome e sede de justiça55, não há anseio por Deus e por conhecer Deus. Não, não, é um temor negativo e um desejo de ser salvo das conseqüências do pecado, ou das conseqüências de uma vida vivida de acordo com a natureza.
Temos aí, pois, as lições que nos são reveladas tão claramente neste caso de Simão, o feiticeiro. Você é cristão? Você está seguro de que é cristão? Não me diga apenas: "Eu creio”. Simão creu. Não diga: "Eu fui batizado”. Ele foi. Não diga: "Eu pertenço à igreja". Ele pertencia. Não diga: "Eu realmente admiro estas coisas". Ele as admirava. Eis a questão fundamental: qual é o estado do seu coração? O que você realmente deseja? Você realmente sabe que tem dentro de si uma alma que durará para sempre? Você se preocupa com essa alma? Qual é o seu real interesse no Senhor Jesus Cristo? Você diz que crê nEle - mas, será que crê mesmo? Estas são as perguntas, e são muito sérias.
Estamos neste mundo, nesta vida, somente uma vez -depois, nunca mais. O nosso destino eterno é determinado neste mundo e nesta vida, e tudo depende da nossa relação com esta Pessoa bendita. Cristo não é apenas uma cobertura para o pecado, não é tão-somente alguém que o desculpa quando você persiste no pecado. Não, não! Ele pregava Alguém a quem se referiu como "Pai santo" (João 17:11), Aquele que tinha dito: "Sereis santos, porque eu sou santo" (Levítico 11:44). Porventura é seu desejo ser santo, pertencer a Deus, ser libertado desta vida de pecado, infelicidade e vergonha, e tornar-se, verdadeiramente, filho de Deus e herdeiro da bem-aventurança eterna e sempiterna? No feiticeiro Simão você vê o fingimento, o embuste, o temporário, o falso, aquilo que não tem nenhum valor para Deus, que vê todas as coisas, pois "todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar" (Hebreus 4:13). Qual é o real desejo do seu coração? E o real desejo do seu coração que proclama o que você é.
Como sou grato a Deus por poder dizer, em conclusão, que, seja qual for a sua posição, se você vê que é errada, que é falsa, faça o que Pedro disse a Simão que fizesse - arrependa-se! Vá ter com Deus reconhecendo o seu erro e peça-Lhe que torne sua fé real, torne-a verdadeira. Ele não recusará isso a você. Mesmo a um homem como o feiticeiro Simão os apóstolos disseram: ore a Deus. Arrependa-se. Lance-se aos cuidados da Sua misericórdia. Não é tarde demais.
Bendito seja o nome de Deus por tão grande, tão maravilhosa salvação que, embora tentemos enganar Deus e enganar a nós mesmos ao mesmo tempo, nem isso nos lança fora definitivamente, se tão-somente nos arrependermos, se tão-somente reconhecermos e confessarmos o nosso pecado, e pedirmos a Deus que nos liberte e que nos dê um coração limpo, um novo coração, um coração puro, um coração que seja correto para com Ele, e não falso. Graças a Deus, esta continua sendo a mensagem do evangelho! Queira Deus abrir os nossos olhos e dar a todos nós a certeza de que somos crentes verdadeiros, nascidos de novo, nascidos do Espírito de Deus, e, portanto, filhos de Deus, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.
Fonte: Martyn Lloyd-Jones
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