quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Oração sob a perspectiva “calvinista”


“Pode a oração fazer com que Deus modifique o Seu plano soberano? Há quem sinta que, a não ser que a resposta a esta pergunta seja sim, não haverá grande valor na oração.”

Na oração reconhecemos a soberania de Deus. Somente Deus é Aquele que pode conceder o reavivamento. Assim, o reavivamento não é algo que está ao alcance dos seres humanos; é algo que só Deus pode prover.

Quando refletimos a respeito da oração, há questões que freqüentemente nos incomodam. A primeira delas é: você pensa que realmente pode mudar a mente de Deus? Isto é, a oração pode fazer com que Deus modifique o Seu plano soberano? Há quem sinta que, a não ser que a resposta a esta pergunta seja sim, não haverá grande valor na oração. Eu não sei qual é a idéia do leitor particularmente em relação a este assunto, mas eu gostaria de dizer que, se você crê que pode mudar a mente de Deus através da oração, espero que esteja sendo prudente. Se esse é o poder que você tem, certamente é uma coisa muito perigosa. Certamente Deus não precisa do nosso conselho para estabelecer aquilo que seja desejável. Certamente Deus, cujo conhecimento penetra todas as mentes e corações, não precisa que nós intervenhamos para dizer-Lhe o que deve fazer. O pensamento de que nós estamos mudando a mente de Deus através das nossas orações é um conselho apavorante.

Eu serei franco em confessar que, se realmente eu pensasse que poderia mudar a mente de Deus, eu me absteria de orar. Eu teria que dizer: Como poderia ter a ousadia, com as limitações da minha própria mente e as corrupções do meu próprio coração – como poderia ter a ousadia de interferir nos conselhos do Altíssimo? É quase como se você fosse mostrar para alguém, completamente ignorante de eletrônica, um painel de armas no qual, ao se apertar certos botões, alguém poderia precipitar uma explosão. Você diz: Vá em frente e aperte os botões. Não se preocupe com o que vai acontecer! Oh, não! Existe conforto para o filho de Deus em ser assegurado que nossas orações não vão mudar a mente de Deus. Isto é o que não está envolvido na oração, e nós não estamos em perigo de provocar explosões por um desejo precipitado de nossa parte.

Mas então as pessoas dizem: se você não pode mudar a mente de Deus, de que adianta orar? Se a oração não muda as coisas, ela é inútil.

Aqui você deve ter notado que eu mudei a fórmula. Eu não disse mudar a mente de Deus, mas mudar as coisas. Eu nunca disse que a oração não muda as coisas. A oração muda as coisas, mas ela não muda a mente de Deus. A razão pela qual a oração muda as coisas mas não muda a mente de Deus é que Ele determinou que a oração fosse um meio eficaz pelo qual realizasse o Seu próprio propósito. Este meio eficaz é essencial para a sua realização. Quando temos um entendimento correto da soberania de Deus, reconhecemos que Deus estabeleceu um plano no qual não somente os efeitos mas as causas também são ordenadas. Não podemos separar as causas dos efeitos ou os efeitos das causas.

Por exemplo, eu ergo um livro diante dos seus olhos. Porque o livro foi erguido no ar, estou em condições de dizer: Deus ordenou que ele estivesse nesse lugar em particular. Ele deve ter ordenado isso porque o livro está onde está. Mas note, Deus não ordenou para o livro se erguer por si mesmo. Ele ordenou que ele se erguesse na ponta dos meus dedos. Ele ordenou que eu tivesse força em meu braço para erguê-lo. Ele ordenou que eu escolhesse este livro em particular para ilustrar este ponto em particular. Há uma conexão entre o erguer do livro e o assunto que desejo desenvolver. Todas estas coisas estão ligadas umas às outras. Se não houvesse uma palestra, não haveria motivo para se ilustrar o poder das causas secundárias. Se não houvesse o desejo de ilustrar o poder das causas secundárias, minha mão teria ficado parada ao meu lado, e o livro não teria se erguido. Deus, entretanto, ordenou que houvesse esta palestra, que houvesse um desejo de mostrar a correlação das causas e efeitos no Seu plano soberano, que esta ilustração específica viesse à minha mente, e que eu a realizasse pela força que Ele me tem dado.

Você não pode dizer: Se você não o tivesse tocado, ele teria se erguido de qualquer maneira, porque Deus não ordenou que ele se erguesse de qualquer maneira. Ele ordenou que ele se levantasse através da minha mão.

É exatamente o caso da oração. Oração é uma causa secundária eficaz que Deus tem relacionado com os efeitos envolvidos. Assim como a atividade dos seres humanos na terra está relacionada com os efeitos que são produzidos, assim como o livro erguido está relacionado com o erguer da mão, assim também os efeitos da oração estão relacionados com a oração que é apresentada. Assim, apesar da oração não mudar a mente de Deus, ela muda as coisas. Deus tem determinado que as coisas mudem através da oração, mesmo que a maneira pela qual a causa é relacionada ao efeito não seja perfeitamente clara para nós.

O fato de que a maneira como isto acontece não está muito clara, não nos dá razões para negar a relação. Nós oramos por cura. Deus concede a cura. Nós não podemos dizer: Teria havido a cura se eu orasse ou não; eu teria melhorado de qualquer maneira. Deus concedeu a cura estando esta relacionada com a oração.

Nós oramos por crescimento no conhecimento de Deus, consagração e dedicação no Seu serviço. Se Deus se agrada em abençoar nossas vidas desta maneira, nós não podemos dizer: Isto teria acontecido se eu orasse ou não. Deus concede sua bênção estando esta relacionada com a oração.
Uma questão final é: Como posso orar se eu não vejo como a oração funciona? Esta não é uma maneira sábia de tratar do assunto, desde que é Deus quem nos diz que a oração faz parte do Seu plano para nós. Não é necessário que tenhamos um entendimento da maneira pela qual os propósitos de Deus são concretizados. Deus tem colocado esses meios à nossa disposição. Ele nos encoraja a orar. Em 2 Cr 7.14 Ele diz: … se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, orar e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. Insistir em que devemos ter um entendimento de como isto funciona é uma atitude muito desarrazoada. Nós não temos que saber como a oração funciona. É suficiente saber que funciona. A oração faz parte do plano soberano de Deus, e é um meio eficaz pelo qual podemos compartilhar com Deus no cumprimento daquele plano. Quando oramos, nós estamos cooperando; estamos trabalhando juntamente com Deus na obra para a qual, em Sua misericórdia, Ele se agradou em nos chamar.

Desde que a oração é parte do plano de Deus, nós não estamos em nenhum instante forçando a mão de Deus pela oração. Nós não estamos intrometendo nossa própria vontade de uma maneira que discorde de Deus ou O incomode. Não precisamos temer que estejamos apertando botões dos quais nada sabemos, que possam trazer um desastre sobre nós e outros. Nós estamos orando em harmonia com os grandes propósitos de Deus. Há muitas coisas que seriam diferentes sem a oração. É pela virtude da oração que elas são o que Deus planejou que elas fossem.

Fonte: (*) Condensado do artigo Oração: o prelúdio do reavivamento publicado no jornal Os Puritanos -setembro/93 - (Monergismo.com)

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