Em outras oportunidades neste mesmo blog já escrevi a respeito da minha mudança de posicionamento teológico com relação às doutrinas da graça, especialmente no que se refere à eleição e predestinação.
Não nego que outrora - há não tanto tempo - essa questão causava-me um certo desconforto, não porque trouxesse comigo ideias substanciais para refutar o calvinismo, mas exatamente pelo contrário: eu nada sabia a respeito dessa teologia, a não ser aquela ideia preconcebida de que os tais pregavam um Deus tirano que faz das suas criaturas robôs.
E talvez por já ter trilhado esse mesmo caminho consiga compreender e relevar tantos arminianos que assim pensam e se colocam em toda e qualquer discussão com calvinistas. Eu diria que sou tolerante. Vou além, acho que é necessário ser tolerante, uma vez que não travamos uma guerra entre facções rivais. Somos irmãos - arminianos e calvinistas - e não ouso imaginar a possibilidade de dizer que nós, calvinistas, tenhamos a exclusividade da salvação. Não temos!
Ora, como poderíamos estabelecer um pensamento tão arrogante a ponto de determinar salvos e réprobos em razão do seu pensamento teológico, baseado-nos em conjecturas, quando somente o Eterno e Insondável fará essa separação através de critérios que somente a Ele pertencem? Quem somos nós para palmilhar tais caminhos? Quem nos revelou o mistério?
Graças ao Deus Triúno, que aprouve revelar-me a verdade sobre a predestinação, eleição, soberania e responsabilidade humana, creio hoje em um Deus que governa, sustenta e mantém toda a criação, determinando todas as ações humanas. Fui resgatado de uma mentalidade humanista , cujo Deus "complementa" as ações das suas criaturas. Porém, para chegar até aqui percorri um longo caminho de "inércia", praticando crenças que hoje reputo errôneas como a capacidade de escolher ter fé.
Sei, por literal disposição bíblica que tanto graça como fé me foram "presenteadas" gratuitamente pelo Maravilhoso Deus da minha salvação (Efésios 2:8-9), que escolheu a mim antes que eu O escolhesse (João 15:16). Mérito não tenho qualquer, uma vez que, se assim fosse, a graça já não seria graça, parafraseando o apóstolo Paulo (Romanos 11:6).
Creio que Deus, na sua Soberania e Poder escolhe e elege os Seus em Jesus Cristo. A verdade se me revelou assim. De posse desta revelação estou autorizado a rejeitar os meus irmãos arminianos que pensam diferente? Tenho que me recolher hermeticamente em um casulo de "pureza" evitando misturar-me a eles, sob a assertiva radical e fundamentalista de que são heréticos? A minha resposta é não! Embora não coadunando com tais princípios, ainda que considere esse pensamento um desvio, destaco que é apenas um "erro de percurso". Tal erro, a meu ver, não é suficiente para afastar alguém da salvação , pois fosse assim (...) "a salvação , se é pela graça, já não é por obras, do contrário a graça já não seria graça "(sic).
Assim como eu obtive a revelação a respeito das doutrinas que hoje não somente cultivo como defendo, espero que tantos outros, assim como eu, a obtenham, chegando à mesma verdade.
Pois bem, como posso ser preconceituoso com os meus irmãos partindo do princípio que eu mesmo demorei tanto tempo para aqui chegar? Como posso cultivar essa visão exclusivista, se participo de uma igreja cujos irmãos são na sua esmagadora maioria arminianos? Penso que a graça de Deus será dadivosamente distribuída entre todos, ainda que pensem que "estão indo por escolha própria".
Um exemplo bem claro sobre isso é o que eu tenho vivido na minha própria casa. A minha esposa é uma crente fiel, cristã fervorosa, crê na soberania de Deus, na graça, mas faz confusão a respeito dessas doutrinas , especialmente quando reflete sobre determinismo e responsabilidade humana. Ela simplesmente não consegue conceber um "Deus tirano" autor do mal e do pecado, ao mesmo tempo em que o quer soberano.
Ontem mesmo, quando citei para a minha esposa Ezequiel 14:9-10, fui prontamente acusado de "procurar cabelos em ovos" , segundo a literalidade das suas palavras (rsrs). Diz o texto bíblico:
"Se o profeta for enganado e falar alguma coisa, fui eu, o SENHOR, que enganei esse profeta; estenderei a mão contra ele e o eliminarei do meio do meu povo de Israel. Ambos levarão sobre si a sua iniquidade; a iniquidade daquele que consulta será como a do profeta".
E o contexto apenas reforça o fato de que Deus responsabiliza o homem, ainda quando é Ele próprio a colocar a operação do erro em seu coração; mesmo quando for Ele a enganar o profeta. E então muitos haverão de perguntar: que Deus é esse, é um Deus injusto (Rm 9:14-16)? Não serei eu a responder, mas a própria Palavra do Deus vivo: "... de modo nenhum! Pois Ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia."
Deus tem critérios perfeitos; Ele é justíssimo. Eu não sei como o Excelso compatibiliza essas coisas, não sei qual é a Sua lógica, porém, não cabe a mim discutir com Ele. Entretanto, há algo que estou plenamente convencido e disso não há quem me demova: Deus é Absoluto, não responde a quaisquer parâmetros, é "O Altíssimo" e não há justiça que conhecemos que possa ser comparada à dEle. Portanto, aos seus filhos cabe obediência à Palavra, ainda que muito do que há nela seja incompreensível à nossa limitada mente.
Continuarei crendo nesse Deus plena e completamente soberano; que se revela a alguns de uma forma e a outros de forma diversa; nesse Deus que elege e salva em meio à diversidade. Crerei no Deus que determina as ações de todas as suas criaturas, até mesmo das inanimadas. Cultuarei Jaweh em toda a sua Eterna Glória: esse Deus maravilhoso e ao mesmo tempo terrível.
Glória ao Seu Nome pela Eternidade!
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