Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
“Vós
sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de
restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado
fora, e ser pisado pelos homens” (Mt 5.13).
Quando era criança, este autor foi vítima de uma brincadeira de 1º de
abril, feita por sua irmã, também criança. Ela lhe fez um cafezinho, o
primeiro cafezinho que fez na vida. E deu para o irmão, que, todo prosa,
o bebeu. Puxa, era o primeiro café feito pela irmã, e ela fez para ele!
Mas ela o havia temperado com sal. Bebi e cuspi, imediatamente, ao
primeiro gole. Que coisa horrível! Café com sal! O café, depois que ela
adoçou outra xícara com açúcar, estava bom. Mas o sal estragou a
primeira xícara.
Neste texto Jesus não quer dizer que devemos estragar o mundo. Ele não
falou de colocar sal no café dos outros. Mas o episódio do autor ajuda a
entender o que Jesus disse. O sal é marcante. Não é neutro. Deixa seu
sabor onde é colocado. O sal não fica com gosto do arroz, mas o arroz
fica com sal. Jesus pediu e esperava que seus discípulos deixassem
marcas no mundo ao invés de serem marcados por ele. Hoje, infelizmente,
muitos seguidores de Jesus trazem mais traços do mundo em sua vida que
deixam seus traços cristãos na vida do mundo. Isto é muito triste. Não é
o propósito do Senhor Jesus para os que são seus. Não deve ser assim
conosco.
O SAL – VALOR NA COMIDA, NÃO NO SALEIRO
Muitos
pensam que seguir a Cristo é louvar, adorar, cantar dentro de um
prédio, isolados do mundo, como se vivêssemos em um gueto. Para essas
pessoas, basta ir a uma igreja e se soltar no culto. Pronto! Já fez o
que se espera de um cristão! Mas a maior parte dos ensinos de Jesus se
deu na rua, e seu propósito era que seus seguidores exercessem
influência na sociedade, marcando-a com seus valores. Cantar e adorar a
Deus não são errados. São certos. Devemos fazer isso. O erro é pensar
que seguir a Cristo seja só isto, e viver o evangelho só no culto. A
verdadeira cristã não é a que acontece no templo, mas a que se mostra no
nosso caráter, na rua, em casa, na escola, e que deixa clara a presença
de Jesus em nossa vida.
O
valor do sal não é no saleiro ou num saquinho, mas no seu uso,
temperando a comida. Da mesma maneira, o grande valor do cristão não
está no que ele faz num prédio chamado igreja, mas no que ele faz fora
da igreja. Mais que ouvir nossos cânticos, o mundo precisa ver o
evangelho em nossas vidas.
O SAL – UMA EXPLICAÇÃO
A argumentação de Jesus é muito bem construída. Ele faz uma declaração
(“vós sois o sal da terra” ), e joga com uma possibilidade que muitos
julgam ser impossível (“se o sal se tornar insípido”) e faz uma
aplicação obvia, mas profunda: se o sal não salgar, deve ser jogado
fora. Na afirmação, o “vós” é enfático. Os discípulos são sal, e devem
ter utilidade, ele acentua com firmeza. Se não, que valor eles têm? De
que serve para o reino de Deus um seguidor de Jesus que age como se
fosse um incrédulo? Ele é insípido, como o mundo. Sem gosto algum!
É uma figura para ser bem pensada. Jesus ensina que o menor pode agir
sobre o maior. A quantidade de sal é menor que a do alimento que ele
deve salgar. Não se usam três xícaras de sal para três xícaras de arroz!
Basta uma pitada. Não se põe um quilo de sal num quilo de carne. Quem a
comeria? Basta pouco sal.
As
figuras mais usadas por Jesus dão a idéia do menor agindo sobre o maior
(sal, luz, fermento e chave). Não precisamos ser maioria. Devemos ser
marcantes e influenciar a maioria. Devemos marcar o mundo e não sermos
omissos ou marcados por ele. E não devemos nos intimidar porque somos
minoria. Jesus nunca pensou que seríamos maioria: “Entrai pela porta
estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à
perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a
porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a
encontram” (Mt 7.13-14). Não é a quantidade, mas o caráter do seguidor
de Jesus que importa.
O SAL – A NEGAÇÃO
O sal, se perder sua salinidade, perde o valor, para nada presta. Muita
polêmica se travou sobre esta declaração de Jesus. Alegou-se que o sal
não perde seu sabor, por causa do cloreto de sódio. Mas o sal dos
charcos, pântanos e rochas próximos ao Mar Morto tem um alto teor de
gipsita e de outras impurezas. Ele perde seu sabor e se torna arenoso.
Assim, era usado como areia, jogado nas ruas enlameadas das cidades da
Palestina, para diminuir a lama. Como se fosse areia. Ao invés de salgar
o mundo, era pisado por ele. Triste figura do cristão sem bom
testemunho.
Mas
também acontece que substâncias estranhas adicionadas ao sal levam-no a
perder a sua característica. Que lição para nós! Tudo aquilo que é
estranho ao caráter cristão e que deixamos adicionar a nossa vida
faz-nos perder nossa identidade e nossa capacidade de marcar o mundo!
Por isso, nada de assumir valores morais do mundo como nosso padrão de
conduta! Muitos seguidores de Jesus têm fracassado neste ponto. A
pretexto de não serem ultrapassados, fanáticos ou preconceituosos,
acabam aceitando todo o padrão moral de um mundo perdido, e se acostumam
(o pior é quando até praticam!) com as obras do mundo.
Precisamos ser cautelosos. Não é necessário ser um eremita, alguém vivendo na Idade Média, mas não podemos nos tornar como as pessoas que não conhecem a Jesus nem seu evangelho. Não podemos agir e viver como o mundo! Perderemos nosso sabor! E sal insípido só serve para ser jogado fora. Deixa de marcar e se torna pisado.
O SAL – A APLICAÇÃO
O valor primário do sal, naqueles tempos, não era temperar, mas
preservar (como se faz com o charque, hoje). Os seguidores de Jesus
devem ser obstáculo à corrupção do mundo. Devem viver de maneira que
sinalizem aos demais a presença de Cristo em suas vidas. Devem viver os
valores do reino. Nossa presença no mundo é uma bênção que o mundo,
infelizmente, não reconhece! Devemos ser um freio à maldade, à
corrupção, à presença do maligno nesta sociedade (1Jo 5.19). Um cristão
prejudica o mundo quando cede às pressões do mundo. Porque só ele pode
salgar um ambiente insosso, impedindo que ele se estrague.
A epístola a Diogneto, um documento cristão do segundo século, diz que o
mundo seria destruído se não fosse a ação dos cristãos (cps. 5-6). O
evangelho salvou o mundo de uma catástrofe. Precisamos ter isto em
mente. O evangelho não é repressivo, como pessoas sem Deus gostam de
dizer. O evangelho mostra por onde andar para não se frustrar mais
tarde. Não é um par de algemas, mas uma trilha que orienta por onde
caminhar.
Por
causa desta necessidade que o mundo tem de modelos de vida equilibrados
e sensatos, é que devemos testemunhar com o nosso caráter, com boas
obras e com uma vida reta. Isto é muito necessário para o mundo. É
possível viver uma vida reta diante de Deus! Temos que mostrar isto com
nossa conduta.
Compreendemos com esta metáfora o que Jesus espera de nós? E
compreendemos também que, sem um bom testemunho a nossa vida cristã é
inútil?
CONCLUSÃO
Seguir a Jesus não é um chamado para ter uma vida de contemplação
mística, e viver enfurnado num prédio, mas é um chamado a agir no mundo.
A verdadeira fé não é a que manifestamos nos cultos, mas é aquela que
marca nossa vida e depois aparece em nossos relacionamentos sociais.
Somos sal. Temos que preservar e temos que dar o sabor a este mundo. Se
não o fizermos, o mundo não terá sabor e se corromperá mais
rapidamente. E, se não o fizermos, perderemos nossa utilidade.
Seja sal. Deixe suas marcas onde você estiver. Seja o tempero de um
mundo insosso. Você é um cristão. Deve salgar. E cuidado: não seja sal
sem sal.
Fonte: Isaltino Gomes Coelho Filho
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