Por Josemar Bessa
Judas Iscariotes parece
uma escolha totalmente improvável para ser um dos discípulos de Cristo.
Descobrimos com o desenrolar da história que ele acabou por ser um ladrão, um
traidor e uma homem em quem a graça de Deus nunca transformou.
Isso é chocante, tão
próximo ao Deus encarnado, junto a tantos outros que se tornaram o instrumento
de Deus para a revelação final sobre Ele (Novo Testamento)... Mas Jesus não
cometeu nenhum erro ou colocá-lo ali, Jesus não agiu em ignorância... Na
verdade a Bíblia diz claramente que Jesus não necessitava que alguém
testificasse sobre qualquer homem que seja, porque Ele sabia o que havia no
mais profundo do coração de cada homem: “E
não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que
havia no homem.” - João 2:25
Ele sabia o que estava
no coração de Judas, ele sabia que no tempo certo ele iria revelar-se um
ladrão, ele sabia que no tempo adequado Judas o trairia, ele sabia, sendo Deus,
que Judas jamais havia nascido de novo. Novo nascimento é ação soberana de
Deus: “Os quais não nasceram do sangue,
nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” - João 1:13
Não podemos ter nenhuma
dúvida que na escolha de Judas como um
dos 12, o Deus eterno, o Filho do Homem... sabia o que e porque estava fazendo.
Como tudo que Cristo fez, isso foi feito deliberadamente e com sabedoria
infinita.
Quanta coisa isso nos
ensina, isso deve nos encher de humildade, como disse J. C, Ryle. Os ministros
do evangelho, por exemplo, não podem supor que simplesmente uma ordenação
necessariamente transmite graça, ou que uma vez ordenado o homem não deve
mostrar em sua vida sempre e sempre os sinais de um homem que de fato foi
regenerado.
Pelo contrário, mostra
que não uma igreja, mas que um homem ordenado pelo próprio Cristo era um
hipócrita miserável... todos nós então devemos nos manter humildes, não
confiando em ordenações externas, mas focados naquilo que Pedro diz fazer firme
– demonstrar a realidade – da nossa Eleição: “E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa
fé a virtude, e à virtude a ciência, E à ciência a temperança, e à temperança a
paciência, e à paciência a piedade, E à piedade o amor fraternal, e ao amor
fraternal a caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não
vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se
esquecido da purificação dos seus antigos pecados. Portanto, irmãos, procurai
fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto,
nunca jamais tropeçareis.” - 2 Pedro 1:5-10
Judas Iscariotes nos dá
um terrível aviso (Para líderes principalmente) a não confiarmos em nossos
dons, trabalho, quaisquer serviço, qualquer sucesso... como prova e certeza da
aceitação divina – que as marcas verdadeiras são indispensáveis, “a santidade,
sem a qual ninguém verá o Senhor!”
Outra lição devemos
tirar aqui. Podemos ficar chocados e achar estranho que entre os 12
discípulos a quem Cristo chamou
pessoalmente e enviou para chamar os pecadores ao arrependimento, incluísse um
homem não convertido... mas não se espante se achares muitos pregadores não convertidos
nos púlpitos de hoje. Em meio a verdades como essa, Deus quer nos mostrar que
nada disso é surpresa para Ele e nem pode frustrar o seu plano Eterno e
perfeito. Judas Iscariotes não pôde, acabou tendo um papel dramático no
propósito de Deus, sua maldade não frustrou Deus...Deus, apesar dos dias
escuros e tristes que vivemos, quer nos ensinar que Cristo ainda é o chefe, o
Cabeça de sua Igreja; e que Ele ainda está governando sobre tudo e que tudo que
acontece no tempo, tem sido “preordenado por Deus” – com Paulo diz em Efésios
1.11: Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o
conselho da sua vontade”
Quão poderoso são os
desígnios de Deus: “O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da
ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os
seus caminhos!” - Romanos 11:33 – Deus mostra claramente que mesmo o pecado
humano e o intento maligno de Satanás (que é totalmente anti-Deus) não frustrarão e terão que cooperar com seu
propósito eterno. Assim o determinado conselho de Deus estava envolvido, não só
na crucificação de Cristo, mas também em todos os eventos que levaram a ela –
incluindo a escolha de Judas como um discípulo, sua traição ao seu Mestre, a
crueldade da cruz romana... ainda que em todos esses eventos, o pecado fosse
inteiramente fruto do coração mau do homem natural e tivesse motivações
completamente contrárias a Deus – teriam que servir ao Seu propósito: “A este que vos foi entregue pelo determinado
conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos
de injustos;” - Atos 2:23
Cristo estava no pleno
controle (Como está hoje e por toda eternidade passada e futura) no controle de
todos esses eventos. Não importa o quão viciosa ou diabólica oposição que Ele
tenha encontrado aqui, enquanto andou por este mundo, nunca houve eventos que
começassem fora da espiral do seu controle absoluto e soberano. O que acontece
também neste exato momento. Que paz isso traz ao coração regenerado. “Deus
reina” mesmo nos momentos mais escuros e que parecem de total fracasso, como a
cruz.
E nesses momentos de escuridão e perplexidade ( como na cruz – o evento mais cruel da história, a maldade humana em seu ápice – “matamos” Deus), por mais difícil que seja para nós reconhecermos o fato, tudo aconteceu para a glória de Deus. Salvando por graça, mostrando sua justiça, mostrando a maldade completa do coração humano: “...a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.” - João 3:1 – mostrando sua ira contra todo pecado, mostrando que tudo está sobre seu domínio completo...
Na escolha de Judas
podemos ver, como disse Matthew Henry, que não precisamos ficar surpresos ou
desanimados se em qualquer tempo, os mais vis homens surgirem no meio daqueles
que deviam ser baluartes da Verdade.
Em dias de apostasia e
heresias como os nossos, podemos estar certos de que nunca houve, nem nunca
haverá, um momento em que o Rei dos reis não estará no controle de todos os
eventos.
Paulo foi inspirado a
colocar por escrito um aviso para os crentes de Tessalônica ( para todos nós,
na verdade), sobre determinados eventos na história nos quais a igreja deve
esperar, e não se surpreender quando os vê: “Ninguém de maneira alguma vos
engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o
homem do pecado, o filho da perdição, O qual se opõe, e se levanta contra tudo
o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no
templo de Deus, querendo parecer Deus.” - 2 Tessalonicenses 2:3-4
A “apostasia” aqui descrita,
é gradual, e de dentro da igreja para fora. As heresias e a apostasia são
coisas terríveis com quais temos que conviver em nossa geração e combatê-las
como bons soldados de Cristo. Mas como no passado, o Senhor determina e nos
coloca em dias assim deliberadamente, deliberadamente e com profunda sabedoria.
Amamos a verdade? Nossa geração nos dá mil oportunidade ( dentro da igreja
visível e no mundo ) para termos uma constatação se de fato a amamos.
Toda a corrupção da
igreja nos dias da Reforma, forneceu o contexto para uma exibição do poder da
graça de Deus – ainda que as pessoas que estivessem vivendo naqueles dias, a
princípio tivessem uma compreensão limitada da providência de Deus em operação.
Perseguição, martírio... todos contextos onde a graça se mostrou suprema,
soberana e invencível. Então o poder da graça nos anima na batalha pela verdade
em nossos dias: “...tive por necessidade
escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.”
- Judas 1:3
Vivemos numa época de
grande e longo período de declínio espiritual, secularização da igreja,
mundanismo... os deuses da cultura sendo adorados na “igreja” no lugar do Deus
vivo... A Bíblia sendo rejeitada como totalmente suficiente, a mente humana,
suas estratégias, seu pragmatismo... sendo pregado como se evangelho fosse...
tantos púlpitos traidores da verdade...
Você pode perguntar,
porque Deus está permitindo isso? Por que o falso evangelho se expande...? Por
que o secularismo se tornou o “evangelho” das multidões? Deus quer que fique
claro para você e para mim, que toda a situação, como em todo tempo na
história, não está fora do controle de Deus. Ele ainda reina. Ele ainda está
trabalhando seus propósitos eternos para Sua glória e a manifestação de tudo
que Cristo é.
Quando as águas do
Dilúvio destruíam tudo, quando a Arca parecia completamente vulnerável e
indefesa diante de tão grande torrente, alguém poderia pensar que tudo aquilo
estava fora de controle. Mas Noé e sua família estavam em segurança e salvos,
Deus controlava toda aquela torrente poderosa. Assim estão aqueles que de fato
estão em Cristo, que são igreja de fato.
É verdade hoje como
sempre foi, que tudo que nos assombra, coopera para o propósito do Deus
Todo-Poderoso: “O SENHOR se assentou sobre o dilúvio; o SENHOR
se assenta como Rei, perpetuamente. O SENHOR dará força ao seu povo; o SENHOR
abençoará o seu povo com paz” - Salmos
29:10-11
Olhe para o Dilúvio de mundanismo, heresia, apostasia... que invadiu a igreja visível de nossos dias como as águas cobriam o mundo de Noé. Como Noé, os filhos de Deus tem motivos para confiar nele e adorá-lo por seu agir, por sua sabedoria com a qual Ele governa sobre tudo, na igreja e no mundo. A situação atual, moral, espiritual... a situação da igreja visível... Fale como Isaías que viveu também dias de apostasia, heresias... como nós: “Eis que Deus é a minha salvação; nele confiarei, e não temerei, porque o SENHOR DEUS é a minha força e o meu cântico, e se tornou a minha salvação” - Isaías 12:2
Fonte: Josemar Bessa
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