Por Maurício Zágari
Qual
é o momento mais importante da nossa caminhada de fé? Para uns, é o
instante da conversão. Para outros, é o dia do batismo. Há também os que
consideram o momento mais importante a hora da morte, quando finalmente
darão o glorioso passo de entrada na casa do Pai. Cada pessoa elege
aquele ponto da trajetória com o Senhor que mais marcou sua vida. Tenho
também o meu. Claro que sei que todos esses momentos são fundamentais e
memoráveis, mas entendo que a conversão e a morte, por exemplo, são os
momentos mais importantes de nossa vida. Mas em se tratando da caminhada de fé,
ou seja, do bom combate, da nossa trajetória de vida com Jesus, há um
dia em que tudo muda e, por isso, o tenho guardado num lugar especial do
coração. É quando cai a ficha e você, como Paulo, exclama: "Miserável
homem que sou!".
Naturalmente,
na hora da conversão existe uma dose dessa percepção. É quando, pela
ação do Espírito Santo, nos enxergamos como condenados ao inferno e
dissociados de Deus e, assim, somos rendidos ao Evangelho da graça. Mas
há uma diferença entre se perceber um pecador perdido e se perceber um cristão miserável.
Pois muitos são convertidos a Cristo, ganham a cidadania do Reino dos
Céus, são adotados como filhos de Deus e, a partir daí, deveriam passar a
viver de acordo com a natureza de Jesus, sendo mansos e humildes. Mas a
realidade nos mostra que muitos e muitos são os que começam a se
considerar quase super-heróis. Mais que vencedores. Vitoriosos. Filhos
do Rei. Tanques blindados. Bombas atômicas a serviço dos céus, prontos
para arrebentar com os ímpios e com os "menos espirituais".
Vestem uma capa de grandeza e passam a considerar o resto da humanidade
parte de um segundo escalão de pessoas. É como se manifesta um pecado
muito comum a nós, cristãos: a soberba espiritual.
Já
vi muitos assim. Arrogantes. Impiedosos. Cujo maior prazer é apontar o
cisco no olho do outro. E confesso: eu mesmo já fui assim. Pois não
entendia que todo homem de Deus é, antes de tudo, também um homem.
Humano. E, como tal, cheio de falhas, crenças equivocadas, arrogância,
vaidade e montes e montes e montes de defeitos. Se você é um cristão
sincero, olhará para dentro de si e verá o quão problemático e falho é.
Mas eu me via como "o eleito", "o escolhido". Algo à parte dos demais,
tão espiritualmente certo em tudo e muito superior aos cristãos "menos
santos". Falava dos que cometiam pecados (diferentes dos meus, pois eu
também sempre pecava) como fracos, frios, fariseus, lobos em pele de
ovelha, crentes em quem não se pode confiar. Eu era o tal. Eles eram o
joio. Que tremendo bobo eu era, só rindo de mim.
Porque
um dia a realidade despencou na minha cabeça como uma bigorna. E foi
quando as escamas caíram de meus olhos e enxerguei que, mesmo sendo
cristão há muitos anos, continuava sendo um miserável. Que não era
melhor do que ninguém. Que meus dons, talentos, ministérios, qualidades,
santidade e tudo o mais que havia em mim não era mérito meu, mas do Pai
das luzes. Ele me concedeu como empréstimo, não sou dono de nada e
posso perdê-los a qualquer hora. Por outro lado, o pecado que cometo é
sim mérito (ou demérito) meu. Ou seja: no dia em que você, como cristão,
vê claramente que tudo o que tem de bom vem de Deus e o que tem de mau
vem de si... aí exclama: "Miserável homem que eu sou!".
Passei a amar muito mais o apóstolo Paulo quando compreendi como nunca antes o que ele diz em Romanos 7.14ss: "Porque
bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à
escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de
agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o
que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto
já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim,
isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está
em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas
o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não
sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer
fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no
tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos
meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me
faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável
homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por
Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a
mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do
pecado".
Prestou
muita atenção ao que leu agora? Paulo - o grande apóstolo Paulo, o
homem que foi arrebatado e viu o Céu ainda em vida - vivenciou esse
magnífico momento: como cristão, mesmo já com anos de convertido,
enxergou o que tantos e tantos em nossas igrejas ainda nãos viram: que
nós...
1. Somos carnais
2. Somos vendidos à escravidão do pecado
3. Agimos de modo incompreensível aos nossos próprios olhos
4. Fazemos o que detestamos e não o que preferiríamos
5. Somos habitação do pecado (que percepção assustadora, pois sabemos que também somos habitação do Espírito Santo)
6. Somos fantoches do pecado, que nos leva a agir contrariando o que cremos e o que queremos viver
7. Temos membros obedientes a uma lei que guerreia contra a lei da nossa mente
8. Somos prisioneiros da lei do pecado que está em nossos membros
9. Mesmo salvos, somos miseráveis - pois vivemos dominados pelo pecado
2. Somos vendidos à escravidão do pecado
3. Agimos de modo incompreensível aos nossos próprios olhos
4. Fazemos o que detestamos e não o que preferiríamos
5. Somos habitação do pecado (que percepção assustadora, pois sabemos que também somos habitação do Espírito Santo)
6. Somos fantoches do pecado, que nos leva a agir contrariando o que cremos e o que queremos viver
7. Temos membros obedientes a uma lei que guerreia contra a lei da nossa mente
8. Somos prisioneiros da lei do pecado que está em nossos membros
9. Mesmo salvos, somos miseráveis - pois vivemos dominados pelo pecado
Em
outras palavras, mesmo cristãos nós somos miseráveis, pois vivemos o
tempo todo sob a sombra de nossa própria pecaminosidade. O dicionário
revela o que "miserável" significa: desprezível, torpe, vil,
insignificante, reles, ínfimo, desgraçado, infeliz, mísero. Uau. Que
soco na boca do estômago de nossa soberba espiritual.
A
percepção dessa realidade é extremamente humilhante, nos põe em nosso
devido lugar e nos conduz a um ambiente espiritual de profunda submissão
a Deus e desapego de nós mesmos. Paulo teve essa percepção: mesmo sendo
cristão era um miservável pecador. Alguém que o Senhor precisava
permitir ser afligido por um mensageiro de Satanás esbofeteador para que
não se exaltasse pela grandeza das revelações que recebeu. Um mero
humano, como eu e você.
Honestamente?
Quanto mais leio as epístolas paulinas, mais admiro Paulo. E mais me
apiedo dos crentes que se apresentam como anjos de santidade. Pois não
chegaram ainda ao sublime ponto de admitir que são miseráveis. Vejo
muitos que são assim. E isso gera em mim um sentimento misto de pena com
tristeza, confesso. Creio ser muito mais digno, bíblico e honesto
reconhecer com a boca no megafone: sou cristão, salvo somente pela graça
imerecida de Deus, mas ao mesmo tempo carrego o corpo dessa morte
amarrado nas costas - o que faz de mim um miserável pecador. Que depende
única e exclusivamente da misericórdia do Senhor para continuar
respirando, quanto mais entrar no Céu. Pois sei o mal que há em mim e
como meu lado sombrio é feio, disforme e animalesco. Como você se
enxerga, meu irmão, minha irmã? Você se orgulha da sua santidade ou se
abate pela sua natureza humana pecadora?
Chega
a ser muito entristecedor ver os "crentes sem mácula" metendo dedos na
cara "dos que pecam", sendo que carregam na alma lodo do pior tipo. Isso
é um dos pecados mais falados e criticados por Jesus: a hipocrisia. Já
vivi nesse mundo, sei de perto o que é. E reconheço esse meu pecado com
temor diante do Pai:
pequei por me achar menos pecador do que os demais pecadores. Miserável
homem que sou. Ah, que bendito dia em que o Espírito Santo me fez
reproduzir essas palavras do apóstolo Paulo! Dia em que enxerguei que
não é porque aceitei Jesus que virei um ser angelical, mas que continuo
sendo um pecador compulsivo e incorrigivel, totalmente dependente da
graça. A diferença é que, sabendo da miserabilidade que existe em mim,
consigo chegar com humildade aos pés do Senhor, banhá-los em lágrimas e
enxugá-los com meus cabelos. No passado, o crentão que eu era ficaria de
pé, nariz levantado, peito estufado, ao lado do Rei dos Reis, e diria:
"E aí, Paizão, tamos numa boa, né? Sou teu eleito, meu chapa, gente boa
igual a mim não há. E vamos lá mandar esses crentes carnais pro
inferno, julguemos juntos, eu e o Senhor, os meus irmãos, pois estou a
fim de ver sangue!".
Sim,
aquele foi o dia mais importante. Pois na conversão eu fui salvo, mas
me sentia o tal por isso. No batismo saí das águas me achando o puro, o
imaculado. Mas no dia em que caí em mim, vi que mesmo salvo continuo
pecando sem parar, caí de joelhos, tremi e murmurei: miserável...
homem... que... sou...
Gosto
de pensar que após a morte irei para o Céu. Não por mim, que não valho
nada, mas pela Cruz. Só pela Cruz. Pela graça. Pelo amor. Pelo perdão.
Por Jesus. E, ao chegar lá, pode ser que eu ouça "bem-vindo, servo bom e
fiel". Mas acredito muito mais que vou ouvir: "Bem-vindo, miserável
pecador. Você não tem mérito algum, mas por causa do sacrifício de meu
Filho eu o porei sobre o muito. Venha e participe da alegria do seu
senhor!".
Paulo
estava certo: somos miseráveis. Eu, você, todos os cristãos. E bendito
seja o Senhor, que pela graça um dia nos chamou para sua maravilhosa luz
e tempos depois iluminou a nossa realidade de cristãos pecadores. Não é
o seu caso? Então clame a Deus, na esperança de que Ele te mostre o
quão miserável você é. Acredite: é uma das maiores bênçãos para a alma
que você poderá receber ao longo de toda a sua vida.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
mz
mz
Fonte: Apenas
Obrigada! Eu precisava ler isso.
ResponderExcluirGraça e paz Jéssica.
ExcluirCreio que todos nós deveríamos ser lembrados disso. Infelizmente, há muitos que não sabem ou não querem se lembrar.
Que o Senhor lhe abençoe.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira