Por Mauricio Zágari
Quando
alguém se casa, é comum que diga que seus votos valem "...na alegria e
na tristeza, na saúde e na pobreza...". Em outras palavras, os votos
devem valer nas horas boas, alegres, quando tudo vai bem; ou na barra
pesada, na tristeza, no desemprego, na doença, quando está tudo ruim.
Interessante é que em nossa aliança com Deus isso parece que não vale.
Para muitos de nós, quando tudo vai bem é festa na igreja, louvores de
mãos erguidas, glória e aleluia. Mas quando as circunstâncias da vida
desandam, passamos a culpar Deus e nos afastamos dele. Ou murmuramos. Ou
agimos como quem não tem fé no Senhor. Qual é, afinal, a postura que o
cristão deve ter quando tudo vai mal?
A resposta é: fazer tudo ao contrário do que dá vontade.
Como
assim? A proposta do Evangelho é contracultural. É nadar contra a
correnteza. É seguir na contramão. Portanto, quando dá vontade de
reclamar, a proposta da Cruz é "em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco"
(1 Ts 5.18). Devemos sempre ler a Bíblia com um olho no microscópio, ou
seja, atentando para os menores detalhes. No caso, importa reparar na
palavra "tudo". Se é para em "tudo" darmos graças, ou seja, em "tudo"
agradecermos, o que Paulo nos ensina é que devemos ser gratos a Deus
também quando tudo vai mal.
Estranho,
não é? Mas... se pararmos para pensar, o Evangelho é estranho. Deus se
fazendo homem? Deus querendo sofrer por quem não merece? Deus perdoando a
escória da humanidade? Quem entende? Só que, quando compreendemos que "todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28), entendemos que, mesmo quando tudo vai mal, esse mesmo tudo está cooperando para o nosso bem. E isso nos desperta gratidão a Deus.
As tribulações também proporcionam benefícios. "Também
nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz
perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência,
esperança" (Rm 5.3,4). Isto é, quando tudo vai mal Deus está fazendo crescer em nós perseverança (fundamental para "perseverar até o fim e ser salvo"
- Mt 24.13), experiência (úteis em muitas circunstâncias e para
podermos ajudar o próximo) e esperança (essencial para nos manter de pé
nas piores horas).
Mas quando tudo vai mal o que é preciso fazer? O segredo Paulo nos diz em sua epístola aos Romanos: "Regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes"
(Rm 12.12). Ter paciência. E "paciência" é a "capacidade de tolerar
contrariedades, dissabores, infelicidades; é o sossego com que se espera
uma coisa desejada". Tolerância. Sossego. Persistência. Paz. Assim, o
cristão que tem fé demonstra tolerância com os problemas, permanece
sossegado na adversidade, espera com paciência Deus decretar o fim do
período de duras provas, sabendo que depois tudo irá bem.
Fazer
tudo ao contrário do que dá vontade. Logo, na pobreza devemos doar. Na
tristeza, glorificar. No choro, agradecer. No sofrimento, esperar. Na
decepção com o próximo, amar. E, em tudo isso, ter uma certeza: "Por
isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior
se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia.
Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso
de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se
vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e
as que se não vêem são eternas" (2 Co 4.15-18).
Se
Deus permite que tudo vá mal hoje é para que tudo vá bem na eternidade.
Por quê? Não faço ideia. O que meu desemprego e as dificuldades
financeiras vão gerar de benefícios? Não sei. O que as dores que inundam
meu corpo farão de bem por mim? Ignoro. O que ser vilipendiado por quem
me chamava de "amigo" traz de vantagens? Só o Senhor sabe. O que
amargar desamor de quem você menos esperava somará na sua vida? Difícil
entender.
Fazemos
festas surpresas para quem amamos, damos presentes fora de uma data
especial para entes queridos, deixamos inesperados recados em batom no
espelho do banheiro para nossos cônjuges. Eles não sabem que serão
surpreendidos. Mas nós sabemos. Deus também gosta de nos fazer
surpresas. E elas virão na eternidade. Hoje, tudo vai mal. Na vida
eterna, a surpresa nos espera: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co 2.9).
Prepare-se
para encarar momentos nada surpreendentes de angústia nesta vida. E
prepare-se para ser surpreendido com maravilhas na eternidade.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Maurício
Fonte: Apenas
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