Por Maurício Zágari
Muitos
irmãos sofrem perseguição por sua fé em Cristo - possivelmente você já
sofreu. Ela pode se manifestar de maneiras variadas, da zombaria e
segregação à agressão física e morte. Como devemos lidar com isso? Como
reagir quando alguém pega no nosso pé ou nos destrata pela nossa crença
em Jesus? Revidamos? Abaixamos a cabeça? Há uma forma bíblica de
proceder quando isso ocorre? Sim, há. E para termos convicção sobre ela e
estarmos preparados para reagir biblicamente à perseguição teremos de
percorrer algumas passagens das Escrituras, introjetá-las fundo em nossa
alma e viver da difícil maneira a que elas nos ensinam.
Ao
longo dos 2.000 anos de História do Cristianismo sempre houve
perseguição, em escalas variadas. O martírio sempre foi uma constante.
Nos três primeiros séculos, confessar Jesus era passaporte para ser
estraçalhado por leões, incinerado na fogueira e torturado de formas
inimagináveis. Os séculos se passaram e os cristãos continuaram a sofrer
nas mãos dos mais variados tipos de gente, de islâmicos e cristãos de
outras tradições (católicos nas mãos de protestantes e protestantes nas
mãos de católicos, dependendo da época e do local) a ateus e comunistas.
Ainda em nossos dias, ministérios como a Missão Portas Abertas
se dedicam a denunciar a perseguição a cristãos por todo o mundo e, por
meio de trabalhos como o realizado por eles, sabemos que em cerca de 90
países do mundo existe atualmente perseguição religiosa ativa (saiba
mais AQUI).
No
Brasil somos abençoados. Não existe, por definição, perseguição
religiosa, uma vez que, segundo a Missão Portas Abertas, "o individuo é
perseguido se for privado de qualquer dos elementos fundamentais da
liberdade religiosa". E mais: “Perseguição não se refere a casos
individuais, mas sim, quando um sistema, político ou religioso, tira a
liberdade de um cristão ou o acesso à Bíblia, restringe ou proíbe o
evangelismo de jovens e crianças, atividades da igreja e de missões".
Assim, em nosso país não chegamos a esse ponto. Há uma grande
intolerância, mas não "perseguição".
Só
que, se nos permitirmos fugir dessa definição e nos ativermos ao senso
comum, podemos entender como perseguição até mesmo todo tipo de bullying
que ocorre em muitos lugares. Ser evangélico hoje gera chacota para
muitos. Rejeição da família por outros (conheci uma jovem cujos pais
católicos não permitiam que ela frequentasse uma igreja evangélica).
Piadas estereotipadas em programas de televisão. Proprietários que se
recusam a alugar imóveis para igrejas. Eu mesmo, em certa empresa em que
trabalhei, tive de ouvir que eu "não era criativo devido à minha
religião", simplesmente porque me recusei a editar uma revista
corporativa de uma grande companhia fabricante de cigarros.
Verdade
seja dita: por razões históricas, espirituais ou mesmo por culpa de
certos setores da igreja evangélica e suas práticas questionáveis, hoje
em dia dizer-se evangélico é, para enorme parcela de nossa sociedade,
sinônimo de ser bitolado, massa de manobra, ignorante, ingênuo,
homofóbico, medieval, supersticioso e coisas dessa linha. Eu já tive de
enfrentar muitos desses adjetivos e muitas situações desagradáveis. Você
já?
Feita
essa constatação, voltamos à pergunta: quando nos deparamos com
situações em que nos sentimos discriminados ou mesmo perseguidos devido à
nossa crença em Jesus, como eu e você devemos reagir? Mais ainda: como
devemos nos sentir?
Em primeiro lugar, temos de saber que é previsível que seremos perseguidos: "De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos"
(2 Tm 3.12). Paulo já sabia disso 2.000 anos atrás. E as profecias
dizem que nos últimos dias a perseguição só tende a piorar. Mas isso não
deve ser motivo de temor, se considerarmos que importa mais viver a
eternidade ao lado de Deus sofrendo nesta vida do que viver bem e ter
morte espiritual. O próprio Jesus disse que seríamos "bem-aventurados",
ou seja, "felizes", se fossemos perseguidos por amor a Ele: "Bem-aventurados
os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem,
perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e
regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da
mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês" (Mt 5.10-12).
Sei
que você já leu essa passagem tantas vezes que, de repente, o sentido e
a profundidade das palavras acabaram se perdendo. Então vamos prestar
muita atenção aos detalhes. Repare o que Jesus está dizendo: ser
perseguido por amor a Ele é razão de felicidade. Se você for perseguido
por amor a Cristo - for insultado, ofendido e até mesmo se mentirem
contra você - deve se alegrar. Mais do que isso, deve se regozijar, o
que significa festejar ou ter prazer, contentamento, satisfação, júbilo.
Naturalmente que sua natureza humana recusa-se a sentir isso na hora em
que fazem troça de você, quando te acusam de forma estereotipada,
quando sofre no emprego por ter colegas que pegam no seu pé devido a sua
ética cristã, quando sua família se levanta contra você por se
declarar um servo de Jesus.
Só que... quem disse que ser cristão é agir como nossa natureza humana dita? Ser cristão é agir como a natureza de Cristo
dita. E, se assim o fizermos, "grande é a recompensa" que nos espera
nos céus. E o parâmetro que Jesus estabelece como exemplo são os
profetas perseguidos do passado. A esse respeito, Hebreus 11 é
riquíssimo. Veja, por exemplo, o que se diz acerca do príncipe do Egito
que virou pastor em Midiã: "Pela fé Moisés,
já adulto, recusou ser chamado filho da filha do faraó, preferindo ser
maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado durante
algum tempo. Por amor de Cristo, considerou a desonra riqueza maior do
que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa" (Hb 11.24-26)
E
não para por aí. O autor aos hebreus fala das situações horripilantes
que muitos tiveram de enfrentar por fidelidade a Deus e fé nele.
Transcrevo aqui esse trecho, em forma de tópicos, de forma a pontuar
melhor o que ele diz:
"Alguns foram
1. torturados e
2. recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros
3. enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram
4. acorrentados e colocados na prisão,
5. apedrejados,
6. serrados ao meio,
7. postos à prova,
8. mortos ao fio da espada.
9. Andaram errantes,
10. vestidos de pele de ovelhas e de cabras,
11. necessitados,
12. afligidos e
13. maltratados.
O mundo não era digno deles.
14. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas.
Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido. Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados" (Hb 11.32-40). Aos olhos do mundo, derrotados. Aos olhos de Deus, o mundo não era digno deles.
1. torturados e
2. recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros
3. enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram
4. acorrentados e colocados na prisão,
5. apedrejados,
6. serrados ao meio,
7. postos à prova,
8. mortos ao fio da espada.
9. Andaram errantes,
10. vestidos de pele de ovelhas e de cabras,
11. necessitados,
12. afligidos e
13. maltratados.
O mundo não era digno deles.
14. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas.
Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido. Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados" (Hb 11.32-40). Aos olhos do mundo, derrotados. Aos olhos de Deus, o mundo não era digno deles.
E de modo muito prático? Você que sofre no trabalho por bullying
de colegas, na escola, na universidade, na vizinhança ou em qualquer
outra instância por sua fé em Jesus, como deve reagir? Mandar todo mundo
pro inferno? Orar pedindo que a mão de Deus pese sobre quem te faz mal?
Entrar em bate-bocas, acusações, troca de farpas, vendetas e outras
formas de beligerância? Não. Nada disso. Pois isso, meu irmão, minha
irmã, biblicamente é uma reação carnal e diabólica. O que Jesus nos
ensina mais uma vez é contrário à natureza humana. Pois o homem natural
reage com violência e ira. O homem espiritual segue o que Jesus de
Nazaré ensinou: põe o outro acima de si, aceita as bofetadas e os
açoites (físicos ou morais), suporta a provação e as perdas mas se
recusa a agir com vingança, a se defender ou a devolver na mesma moeda.
Segue em silêncio o caminho do seu calvário pessoal. E não sou eu quem
diz, é ensinamento do próprio Salvador do mundo, do manso Cordeiro
(novamente em tópicos, para captar mais a sua atenção):
"Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhes digo:
1. Não resistam ao perverso.
2. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.
3. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa.
4. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.
5. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado".
Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo:
6. Amem os seus inimigos e
7. orem por aqueles que os perseguem,
para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso!" (Mt 5.38-47).
1. Não resistam ao perverso.
2. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.
3. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa.
4. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas.
5. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado".
Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo:
6. Amem os seus inimigos e
7. orem por aqueles que os perseguem,
para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso!" (Mt 5.38-47).
Mas,
Zágari, não posso revidar quem me persegue nem um pouquinho? Minha
vontade é de acabar com a raça daquele incircunciso! Bem... responda
você mesmo: "Abençoem aqueles que os perseguem; abençoem, e não os amaldiçoem" (Rm 12.14). E mais: "Amados,
nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito:
'Minha é a vingança; eu retribuirei', diz o Senhor. Pelo contrário:
'Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de
beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele'.
Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem" (Rm 12.19-21).
Seremos
perseguidos, isso é um fato bíblico inescapável. O mandamento cristão é
não revidar. Nada de lançar aviões contra os edifícios de quem nos
persegue. Nada de invadir países para matar os inimigos. Nada de
proferir nem sequer uma palavra de maldição contra nossos perseguidores.
Jesus nos ensina a abençoá-los, a amá-los, a orar por eles, a
alimentá-los, a saciá-los, a fazer-lhes o bem, a adotar uma postura
pacificadora, a aguentar os murros na outra face. Quem de nós faz isso?
Pouquíssimos, sejamos francos. A notícia é que esses pouquissimos são os
que estão agindo como Deus deseja. A boa notícia para esses é que
haverá recompensa na eternidade para os que engolirem sua humanidade,
sofrerem perdas e danos por amor a Cristo e tiverem a nobreza de superar
a vontade humana de dar o troco ou agir com violência verbal ou física.
Não é preciso ter nascido de novo para pagar a perseguição na mesma
moeda. Mas só quem nasceu de novo pode, pelo poder do Espírito, suportar
tudo calado, negar-se a si mesmo e carregar a cruz até o dia de sua
morte.
E
esses, Jesus diz, são os bem-aventurados. Os felizes. Você está
sofrendo qualquer tipo de perseguição pela sua fé, meu irmão, minha
irmã? Sorria em silêncio. Você é feliz aos olhos de Deus. E grande será
sua recompensa na eternidade.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Maurício
Fonte: Apenas
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