Por Magno Paganelli
O comportamento de muitos cristãos de
hoje não endossa a fé que dizem sustentar. Aspectos que regem a prática
cristã são encontrados, evidentemente, na Bíblia, e orientam atitudes
simples e primárias como falar.
Um cristão pode se notabilizar pelos conhecimentos que tem, mas pode colocar tudo a perder se não moderar o seu vocabulário. Esse risco é previsto no Antigo e no Novo Testamento, mas como insinuei acima, muitos dos indicadores primários da fé cristã têm sido deixados para trás e substituídos por rotinas e expedientes das pessoas que não têm qualquer compromisso com a fé em Jesus Cristo.
Num texto clássico sobre o tema, Jesus
advertiu: “Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão
estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão:
‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o
risco de ir para o fogo do inferno” (Mateus 5.22). Essa orientação não
caducou. Então vejamos o seu sentido. Jesus escolheu o termo grego Γακά (raká). Não sabemos o que ele significa, mas uma pesquisa nos ensina que raká, para os falantes daquela época, era um termo abusivo. Entre os seus significados mais prováveis estão: tolo, cabeça-oca ou mesmo burro.
Na sequência do versículo lemos “louco”. Aqui Jesus empregou o termo Μώρέ (Môré), outra palavra que pode ser traduzida por tolo, ou insípido, insensato; considere que os cristãos são advertidos por Jesus a que sejam o contrário de insípido: sejam sal, e não insípidos.
Noutro documento do Novo Testamento,
Efésios 4.29, Paulo diz: “Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês,
mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a
necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem”. Torpe é a tradução
de σαπρός (saprós). Figurativamente ela transmite a ideia de mau, ruim, imprestável. No contexto de Mateus 7.17, onde Jesus fala dos frutos da árvore, ela significa podre.
E finalmente em Colossenses 3.8, a
expressão “… abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade,
maledicência e linguagem indecente no falar.” Essa “linguagem indecente”
é a tradução de αισκρολογιαν (aiskrologian), uma junção de duas palavras para formar o que naqueles tempos era entendido por palavra indecente, obcenidade ou mesmo fala abusiva. Esta é a única passagem no Novo Testamento onde aparece aiskrologian.
Que devemos entender aqui? Que embora
estejamos imersos numa sociedade que não zela pelo modo mais decente de
expressar-se, que não faz qualquer esforço para ser gentil, educada e
mesmo decente no uso da fala, essa tendência natural das pessoas que não
professam a mesma fé que nós não pode engolir o nosso modo correto de
falar, de agir e de nos mostrarmos na mesma sociedade. Chamar irmãos de
“trouxas”, “imbecis” e “otários”, como vemos até mesmo em programas de
televisão, não passa perto de qualquer padrão saudável no cristianismo
bíblico. A inteligência do cristão deverá elaborar argumentos
suficientemente fortes ao ponto de dispensar o uso de expressões chulas e
vocabulário que possa ser equiparado a dos mais desprezíveis pecadores.
Para muitos isso parece difícil; mas
seguramente é possível. Talvez seja esse o motivo porque Tiago dedicou
boa parte de sua epístola (Tg 3.1-12), e mesmo o livro de Provérbios, a
tratar da questão. O menor membro do corpo derruba a mais consagrada
celebridade, mas o exercício persistente poderá ajudar a cada um de nós
na eliminação de outros vícios que atrapalham o aprofundamento da mais
simples espiritualidade.
Fonte: Napec
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