domingo, 7 de outubro de 2012

Como os cristãos devem lidar com os Santos dos Últimos Dias


Por Russell D. Moore

Cristãos eventualmente se perguntam por que os Mórmons acreditam em um sistema tão inacreditável: tabuas de ouro traduzidas ao se colocar os “óculos mágicos”, uma sociedade avançada de antigos índio-israelitas americanos que não deixaram nenhuma evidência arqueológica, uma “revelação” sobre poligamia que foi revertida quando Utah precisou assim fazer para se tornar um Estado, uma “revelação” barrando Mórmons negros de exercer o sacerdócio, mudada após o triunfo do movimento dos direitos civis, uma eternidade de bebês espirituais que produzem divindades, e roupa intima com proteção especial.

O que nós precisamos entender é que os Santos dos Últimos dias (SUD) acreditam nessas coisas pela mesma razão em que pessoas em todo lugar acreditam nas coisas que acreditam: elas querem acreditar nisso. Poucos convertidos ao Mormonismo são convencidos do trabalho profético de Joseph Smith por argumentos racionais. De fato, missionários Mórmons não pedem por isso, pelo contrário, se apoiam em um “ardor no peito” para comprovar que as afirmações de Smith são verdadeiras.

Para entender o atrativo do Mormonismo, evangélicos deveriam ler os escritos dos Santos dos Últimos dias que explicam porque eles amam sua religião.

Coke Newell, um convertido à igreja dos SUD em sua adolescência, expõe o porquê um vegetariano usuário de drogas iria achar a igreja SUD atraente. Ao fazê-lo, ele exalta os antigos mistérios da cosmologia e escatologia Mórmon: de um Deus e uma Deusa que produzem uma prole para um futuro no qual seres humanos divinizados irão governar um vasto cosmos. Newell deixa claro que ele não está simplesmente convencido por causa das afirmações de Joseph Smith; ele está convencido porque ele ama a figura da realidade que eles retratam.

Isso não deveria ser uma surpresa para os Cristãos que leram a revelação do apóstolo Paulo sobre as raízes da idolatria humana no primeiro capitulo de Romanos.  Seres humanos caídos têm afeições e inclinações, que eles então apoiam em crenças, se convencendo de que seu sistema é verdadeiro.  Sendo esse o caso, evangélicos devem ter mais do que apenas uma abordagem genérica para derrubar as afirmações dos Mórmons.  Devemos apresentar também uma história que entre em contrapartida à história Mórmon: uma que ressoa com a beleza da verdade e da santidade.

Sermões evangélicos de “como fazer” não vão alcançar os nossos vizinhos SUD.  Tampouco as igrejas anti-teológicas que focam na experiência cristã e na piedade, desconectadas de conteúdo doutrinário.  Pelo contrário, nós devemos apresentar o evangelho da maneira que os apóstolos fizeram após o Pentecostes: como um “mistério” que agora explica  tudo nos termos dos propósitos de Deus em Jesus Cristo.

Como exemplo de como proclamar o evangelho aos Mórmons, nós devemos prestar atenção à proclamação de Paulo para uma sociedade cultural que se assemelha a de Salt Lake City: o território pagão de Éfeso. Paulo apresentou Jesus como chave para o entendimento do plano cósmico de Deus, como a razão para a existência humana , adoração humana,  paternidade humana e até mesmo sexualidade humana. Paulo não se envergonha de falar do que nós intuitivamente parecemos saber que é verdade: que existe uma antiga guerra na qual as questões humanas são apenas uma parte.

O apóstolo entende que para os Efésios, e para os Mórmons, e para todos nós distantes de Cristo, o fascínio da falsidade é porque a falsidade é parasita da verdade. Nós precisamos não apenas perguntar para os Mórmons se eles acreditam em coisas que são perigosas e que não são verdadeiras; eles acreditam. Nós precisamos perguntar também porque eles acreditam nessas coisas, e confrontá-los com a verdade revelada.

Santos dos Últimos dias não precisam de uma visão anti-Biblíca e insatisfatória da esperança Cristã que não é muito mais do que uma eterna repetição na prática. Pelo contrário, nossos vizinhos SUD (e todos nós) precisamos ouvir da glória Bíblica e do universo restaurado no qual seres humanos irão governar com Cristo sobre todas as coisas, um universo no qual a própria natureza está livre da maldição e no qual a amizade, o amor e a comunhão entre os seres humanos continuará a crescer para sempre. Famílias SUD não precisam apenas ouvir que nós somos pro-família. Eles precisam entender que nós somos pro-família porque a família reflete a Paternidade de Deus (Efésios 3.14), uma Paternidade que acha sentido, não em bebês espirituais pré-mortais, mas na filiação de Jesus Cristo (Romanos 8.15).

Sim, nós precisamos de apologética direcionada a Mórmons.  E, independente do que alguns líderes evangélicos podem dizer, nós não devemos dar as costas para a triste realidade de que o Mormonismo não é nem remotamente Cristão. Mas nós devemos nos lembrar de que nós não iremos convencer os Mórmons somente com argumentos racionais.

Isso significa que nós não podemos nos apoiar em tentativas óbvias de apontar discrepâncias no Livro de Mórmon, ou provas arqueológicas contra a civilização Nefita, ou buracos filosóficos na cosmologia Mórmon. Todas essas coisas são importantes, mas nós devemos lembrar que, no fundo de seus corações, Mórmons temem que Joseph Smith esteja errado. Eles, como nós antes da conversão, estão “suprimindo a verdade” (Romanos 1.18).

O Espirito pode vencer sobre esse tipo de enganação, e Ele o faz pela Palavra da Verdade.  Isso não significa argumentar por meio de versículos-chave, necessariamente. Significa apresentar a grande imagem da Escritura, culminando tudo no auge de toda a verdade, Jesus de Nazaré. Esse não é o subjetivo, irracional “queimando no peito” dos nossos amigos missionários Mórmons.  Mas vamos nos lembrar onde eles encontraram essa linguagem de “queimação no peito”.

Quando Jesus estava andando com os discípulos desanimados para Emaús, ele lhes mostrou por toda a Escritura como Cristo era o foco de toda ela. Depois que ele os deixou, eles disseram um para o outro: “E disseram um para o outro: Porventura não se nos abrasava o coração, quando pelo caminho nos falava, e quando nos abria as Escrituras?” (Lucas 24.32).

Este não foi, e não é, o relativismo anti-proposicional da epistemologia pós-moderna, nem tampouco o misticismo irracional no ocultismo da Nova Era. Esse é o coração humano criado à imagem de Deus, livre pelo Espírito, ressoando com a verdade. Isso é o que o apóstolo João quer dizer quando escreve que nós conhecemos o espírito da verdade pelo espírito do erro porque aquele que é de Deus “nos ouve”, os instrumentos profético-apostólicos da revelação divina (1 João 4.6).

Nós devemos nos lembrar disso quando chamarmos nossos vizinhos SUD para jantar em nossas casas, ou quando amavelmente passarmos uma tarde com diligentes missionários Mórmons. Quando a revelação divina é apresentada em toda sua Cristocêntrica glória, há um anseio dentro de nós por isso. Isso porque é verdade. E mais do que isso, é a verdade, o caminho e a vida. Essas são as boas novas para os Santos dos Últimos Dias, e para antigos pecadores como nós.
 
Traduzido e cedido por Julyana Néris
 
Fonte: Ipródigo

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