Por Maurício Zágari
Lamento
decepcioná-lo, mas só vou comentar essa pergunta no último parágrafo.
Você poderia diante disso perguntar: “Zágari, então por que você pôs
esse título no post?”. Porque a experiência e as estatísticas têm me
mostrado que muitos irmãos em Cristo que trafegam pela internet estão
muito mais preocupados com assuntos periféricos da fé (como a ingestão
de álcool) do que com o que é mais importante, o que está no epicentro
do Evangelho. E, talvez, se eu pusesse um título como “Abra mão de si
mesmo, tome sua cruz e siga Jesus” ou “Você realmente ama o próximo?”
muitos não se interessariam por ler o texto. Essa constatação é no
mínimo curiosa e nos leva a reflexões importantes. E é exatamente esse
problema que quero tratar neste post: como enorme parcela da Igreja tem
se preocupado com temas menores (embora não desprezíveis) e dá mais
importância a eles do que aos que são vitais.
Alguns exemplos: postei há algum tempo um texto sobre se o cristão deve fazer tatuagem ou não (leia aqui),
algo de importância ínfima para o Evangelho, pois ter ou não tinta na
pele não determina se uma alma sequer vai para o Céu: a graça de Deus,
pelo mérito de Cristo, determina. A Cruz determina. Mas foi um boom
de acessos no blog: 10 mil leituras em 3 dias, quando em média teria
metade disso – e mais de 2.000 compartilhamentos no Facebook. Quando
posto algo sobre questões profundas da fé, a quantidade de leituras
curiosamente despenca. Falei sobre a liberdade cristã, no post Você é um escravo,
fruto de uma extensa pesquisa bíblica: apenas 3.300 pessoas se
interessaram em ler ao longo de dois dias (1.400 no primeiro dia).
Compartilhamentos no Facebook? 68. E tem o post mais acessado na
história do APENAS: sobre o pouco importante Festival Promessas: 6 mil acessos em um dia.
Placar: Tema vital 1.400 x 6.000 Tema superficial. Uma goleada da irrelevância sobre a importância.
Tatuagens,
celebridades, shows, polêmicas e outras superficialidades: será que é
isso mesmo que ocupa a nossa cabeça? São esses o foco maior do nosso
interesse e de nossa preocupação? Bebida alcoólica? Sério? Alguém perde a
salvação por comer um bombom recheado de licor? Um cálice de vinho do
porto é mais poderoso no destino eterno de uma alma do que a obra
redentora de Jesus no Calvário? Realmente esse tema é tão importante
assim que mereça mais atenção do que a Cruz, o fruto do Espírito, o
arrependimento dos pecados? O que ocupa nossa cabeça? O que nos
preocupa? Que assuntos nos interessam? Que tipo de pensamentos buscamos
assimilar? De que filosofias nos alimentamos? Afinal, quando entramos na
Internet… é para absorver o quê em nossos corações cristãos? Será que
gostamos de caminhar em águas rasas?
Um certo website gospel me convidou para escrever reportagens. O
editor foi claro: as pautas tinham que ser sobre algum escândalo, sobre
controvérsias da moda ou sobre algum pastor polêmico da TV ou da
Internet – pois isso é o que dava acessos (e, logo, dinheiro). Não
topei, naturalmente, pois esse tipo de tema não me interessa. Mas esse
episódio me deixou pensativo. “É isso que dá acessos”. Por que não
artigos sobre perdão, estudos sobre amar o próximo ou reflexões acerca
da graça imerecida de Deus?
Escândalos!
Ah, como gostamos deles! Parece que ler um post sobre obras da carne ou
mesmo História da Igreja é menos interessante do que ler sobre o pastor
polêmico, a cantora gospel da moda, aquele tititi que tanto amamos.
Falar sobre fruto do Espírito? Não dá Ibope. Se você é blogueiro,
escreva sobre o pecado dos outros, pois isso dará muitos acessos,
garanto. Ou interessa muito se a cantora rastejou no palco imitando um
leão. Se artistas gospel foram ao Faustão é tema de conversas para uma
semana. A cantora X ou Y vai no Raul Gil e parece que isso fará o
Brasil ser ganho para Cristo. Falar sobre o plano da salvação, graça,
fé, arrependimento, perdão, salvação… parece que isso não é muito
empolgante, deixemos esses temas para seminaristas. O legal é a
polêmica. E salivamos quando surge mais uma história cabeluda…
Ou então namoro. Ah, o amor… Bem, sou obrigado a reconhecer que esse é
um caso diferente. Pois é uma categoria à parte, devido a, de fato, ser
um tema importantíssimo. Não é irrelevante. E é vital, tendo em vista
que o amor é o amálgama de uma família que tem Cristo como alicerce e o
namoro é o primeiro passo da construção de um lar. Só que tem um detalhe
“mercadológico” nessa história: falar de amor arrebata multidões. Falar
sobre namoro então é garantia de milhares de acessos. Criar um site
sobre princesas cristãs esperando seus príncipes prometidos por Deus é
sucesso garantido. Um pastor escreve quase que só sobre isso com enorme
superficialidade e tem mais de 120.000 seguidores no twitter, enquanto
pastores que tratam de temas importantíssimos da fé, como Augustus
Nicodemus Lopes, têm pouco mais de 7.000. Uma prova de que, se você
explora o nicho dos corações carentes, vai ter sucesso nos números. E
uma prova de que números, no que tange à fé, não significam relevância.
No site Gospel+, onde escrevo uma coluna semanal, vi algum tempo
atrás o número de compartilhamentos no Facebook dos artigos publicados
por um irmão colunista. Havia 3 textos dele visíveis entre os mais
recentes: os dois primeiros, sobre temas bíblicos, tiveram,
respectivamente, 8 e 19 compartilhamentos. O terceiro falava sobre
namoro. Número de compartilhamentos? 705. De novo goleada no placar:
Tema teológico 8 x 705 Namoro. Um massacre.
Então, se você tem um site ou um blog “cristão”, vive dele e depende
de ter muitos acessos para conquistar anunciantes, eis a fórmula do
sucesso: fale sobre polêmicas gospel, celebridades, sacerdotes e
artistas evangélicos controversos, pecados de famosos e temas
secundários mas que chamam a atenção. E, claro, namoro. Pronto: seu site
será um sucesso.
A
experiência de blogar é interessante. Pois nos dá oportunidade de
dialogar com muitos, conhecer gente diferente, que escreve comentários
por vezes mais ricos do que os próprios posts, e faz com que ganhemos
algumas percepções que de outro modo não teríamos. Como recusei os
patrocínios e as propostas de hospedagem que me ofereceram (já que meu
objetivo não é ganhar dinheiro com o blog, ele é missional) fico à
vontade para escrever sobre o que quiser, pois não tenho obrigação de
manter um número X ou Y de acessos por mês – logo, nao preciso me
prender a temas da moda ou a polêmicas. Então já escrevi sobre os mais
variados assuntos nos 197 posts publicados até agora. Assim, pelo APENAS
pude reparar muito claramente o tipo de discussão que interessa e atrai
o cristão, pois o wordpress me dá na área de administração a
possibilidade de ver quantos acessos houve por dia ou quantas leituras
teve um post. Então estou falando de um fato com comprovação
estatística: o que mais interessa o leitor de mídias cristãs têm
sido, infelizmente, as questões periféricas. Não a fruta, mas a casca. E
isso é grave.
Temos dado menos importância a temas que influenciam diretamente nossa
alma, nossa caminhada de fé e nossa relação com Deus, como pecado,
justiça, juízo, arrependimento, perdão, amor e outros conceitos bíblicos
que são fundamentos do cristianismo. Esquecemos que a graça é a coluna
vertebral da salvação e deixamos o comprimento de cabelos, bebida
fermentada ou tinta na pele determinar mais do que o poder do sangue de
Cristo quem vai para o inferno ou não. Só que, me perdoem: almas estão
indo para a perdição eterna enquanto muitos perdem tempo com o que não é
pão. Sei que esse é um post duro. Sei que muitos que acham a ingestão
de álcool, tatuagem, piercing e uso de saia assuntos importantíssimos da
fé cristã vão discordar de mim. Sei que os que usam a carência afetiva
natural do ser humano para ganhar visibilidade vão dizer que namoro é o
tema de João 3.16. Mas é um risco que estou disposto a correr, por amor a
alguns que podem refletir e mudar o enfoque de suas prioridades.
Permita-me, por fim, comentar a pergunta do título, para que ela não
seja propaganda enganosa: nunca a Igreja chegou a um consenso universal
sobre se tomar bebida alcoólica é pecado, uns defendem a abstenção total
e outros a moderação – e assim será pelos séculos dos séculos. Na
Espanha, na Itália, na Alemanha e em outros países frios, pastores e
membros bebem vinho e cerveja sem nenhum problema, enquanto no Brasil o
álcool é visto por muitos como passagem expressa para o inferno. O que a
Bíblia é clara é quanto ao fato de que não devemos nos embriagar.
Respeito a visão de todos no que tange a esse assunto. Se você é
abstêmio ou moderado não cabe a mim julgar. Considero esse um tema
secundário da nossa fé e deixo a questão a cargo da consciência de cada
um, de acordo com a crença da igreja que você segue. É algo a ser
tratado com o pastor de sua congregação local. Desde que você ame a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, estarei feliz –
siga você a linha que seguir.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Maurício
Fonte: Apenas
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