Por Robert Randy Booth
Como cristãos reformados, frequentemente somos
questionados por aqueles de fora da Fé Reformada: “O que significa
‘reformado’?”. Muitas respostas breves estão disponíveis, a maioria das
quais enfatiza alguma relação com o movimento protestante europeu do
século XVI e a sua teologia. Mas o que pensamos de nós mesmos quando
pensamos na palavra “reformado”? Há uma tentação entre alguns de nós
quanto a romantizar o período histórico da Reforma e pensar nele como o
nosso ideal. Pode ser um problema para nós pensarmos no termo
“reformado” como antigo e no tempo pretérito. Isso pode levar cristãos
reformados do século XXI a uma visão de certa forma distorcida dos
objetivos atuais da igreja.
Não devemos pensar na Reforma como simplesmente uma foto de alguma
era dourada do cristianismo, que deve ser replicada pelos cristãos e
igrejas do século XXI. Antes, devemos pensar na Reforma como sendo mais
semelhante a um filme ainda em processo de ser filmado. Embora possamos
honrar, admirar e concordar com muitos cristãos reformados que viveram
nos últimos cinco séculos, nosso objetivo como cristãos reformados hoje
não é uma mera duplicação do passado. Crescimento significa mudança, e a
América do século XXI tem mudado consideravelmente em comparação aos
séculos XVI e XVII na Europa. Os princípios e a teologia da Reforma
Protestante têm permanecido relativamente constantes. Contudo, as
questões dos nossos dias e a aplicação desses princípios e teologia
mudaram em muitos aspectos.
Somente a Escritura permanece como a pedra angular da Reforma então e
agora. Ela é “a única regra de fé e prática” para todos os homens, em
todos os tempos e em todos os lugares. Todavia, as Escrituras são
impressionantemente adaptativas no que concerne à aplicação dela a nós
mesmos, nossas famílias, nossas igrejas e nossa cultura. A Bíblia nunca
está fora de moda. Por exemplo, Efésios 5.25 nos instrui: ‘Maridos, amai
vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se
entregou por ela”. É provável que todo marido cristão tenha algumas
formas únicas de demonstrar o seu amor à sua esposa que difiram daquelas
de outros maridos cristãos. Contudo, todo marido cristão, aplicando e
adaptando a Palavra de Deus para satisfazer as necessidades de sua
esposa, pode cumprir as exigências bíblicas de amar a sua esposa. Além
domais, o mesmo é verdadeiro no que concerne a outras áreas da vida e do
ministério. Há multidões de maneiras através das quais podemos honrar e
aplicar a Escritura imutável a um mundo sempre em mudança.
A própria natureza da reforma é que ela é um processo que nunca tem
fim. Há duas razões óbvias para isso. Primeiro, como homens pecadores
estamos frequentemente errados em nosso entendimento da Escritura e como
ela deve ser aplicada. De fato, há somente um significado objetivo da
Palavra de Deus, tendo sido transmitido infalivelmente a homens.
Contudo, embora a transmissão da Bíblia seja clara, sua recepção por
homens caídos, mesmo os redimidos, não é sempre tão clara. Como cristãos
crescemos em nosso entendimento da verdade objetiva da Escritura e
passamos a ver áreas de prática incorreta ou conduta pecaminosa. Como
resultado, devemos continuamente reformar (i.e., conformar aos
padrões escriturísticos). A menos que sejamos perfeitos em nosso
entendimento e conduta, o processo de reforma nunca deve cessar, seja
pessoal ou corporativamente.
Em segundo lugar, a Reforma é um processo que nunca tem fim porque o
mundo ao redor de nós está em estado constante de mudança — somente Deus
não muda. Em princípio “não há nada novo debaixo do sol”; todavia, na
aplicação há novas ideias, práticas, tecnologias, questões e desafios
que continuamente nos confrontam como cristãos. Podemos estar lutando as
mesmas antigas batalhas, mas o inimigo está usando novas táticas e
armas em seu ataque. Se não estivermos atentos a essas mudanças em nossa
cultura, não podemos esperar contemplar uma vitória em nossos dias.
Dentro dos limites das Escrituras, cristãos enquanto indivíduos e as
igrejas devem continuamente reformar suas táticas e práticas sempre que
necessário, a fim de enfrentar os desafios dos nossos dias. Não podemos
voltar aos “bons velhos dias” — Deus os colocou no passado.
Contudo, Deus nos colocou no século XXI como soldados de Jesus Cristo
para lutar as batalhas presentes com armas de ponta. Os Reformadores
dos séculos anteriores usaram as armas de seus dias para alcançar a sua
geração com o evangelho. Palestras, pregação, debates públicos,
universidades e testemunhos pessoais eram todos os meios de comunicar-se
verbalmente com o mundo deles. O uso da imprensa e da distribuição
maciça de tratados, livros e Bíblias foram também meios eficazes de
espalhar a Palavra. Grandes obras de arte surgiram, e até mesmo o
cântico congregacional foi uma inovação da Reforma (Martinho Lutero
escreveu hinos usando a música folclórica popular do seu tempo). Os
cristãos estavam com frequência na vanguarda do uso de novas ideias e
tecnologias.
Da mesma forma, devemos fazer uso desses métodos de comunicar o
evangelho que os nossos irmãos nos legaram. Além do mais, devemos também
fazer uso dos novos métodos que estão disponíveis a nós. Temos áudio,
vídeo, rádio, televisão, computadores, internet e transporte rápido.
Deveríamos encorajar o uso desses meios juntamente com o desenvolvimento
de novas ideias e tecnologias. Como cristãos reformados deveríamos
estar liderando o caminho no desenvolvimento de arte e música bíblicas
que permeiem a nossa cultura com o sal e a luz do evangelho.
O perigo de uma reforma estagnada é real. Mesmo em igrejas reformadas
podemos ser tentados a dizer: “Até aqui e não mais”. A Igreja da
Inglaterra fornece um exemplo vívido desse conservadorismo antibíblico e
sufocante. Quando paramos de reformar paramos de viver e começamos a
morrer. A vida é um processo de constante mudança chamado crescimento ou
maturidade, e reforma é vida porque ela nunca cessa de aplicar a
Palavra viva a todo o mundo ao redor de nós.
Certamente devemos ser cautelosos à medida que avançamos. Não
queremos mudar simplesmente para estar mudando. É possível mudar de algo
bom para algo ruim, ou de algo ruim para algo pior ainda. Toda ideia
deve ser testada pela Escritura somente. Contudo, nem a preferência
pessoal nem a tradição deveriam ficar no caminho da reforma bíblica. O
medo de “ao que isso poderia levar” (a “falácia da ladeira
escorregadia”), ou o fato que outros poderiam abusar da boa ideia muitas
vezes nos impedem de avançar com a reforma e satisfazer as necessidades
e desafios dos nossos dias. Todavia, se a Escritura permanece
firmemente como nosso perímetro, então podemos avançar com segurança,
conhecendo as limitações da nossa mudança. Devemos avaliar os riscos,
tomar as precauções devidas para assegurar a aderência à Palavra de
Deus, e então avançar com expectativa confiante das bênçãos de Deus.
Caso contrário, permaneceremos presos em casa, com medo do futuro.
Se a reforma há de continuar (i.e., viver) em nossos dias, então
devemos permanecer sobre os ombros das gerações de reformadores que
vieram antes de nós e chegar mais alto. Nossa geração deve ser mais do
que tropas ocupacionais. Devemos ser isso, mas deveríamos ser muito mais
— ainda há praias a serem invadidas — a guerra não terminou. As
gerações que nos seguem enfrentarão novos desafios à sua fé e novas
batalhas a serem travadas. Devemos levantá-los e apoiá-los, fornecendo
um firme fundamento sobre o qual eles possam construir. Nossa tarefa não
é subjugá-los, mas dirigi-los e incentivá-los. As implicações da Fé
Reformada para o mundo de amanhã não podem ser vistas por nós. Nosso
mundo muda a uma velocidade ofuscante. A próxima geração de reformadores
não é uma ameaça para nós, mas deveria ser uma ameaça para o mundo de
amanhã.
Lutero disse: “Se declaro com a mais alta voz e a mais clara
exposição cada porção da verdade de Deus, exceto aquela pequena porção
que o mundo e o diabo estão atacando nesse momento, eu não estou
confessando a Cristo, não importa quão ousadamente eu possa professar a
Cristo. O soldado não é constante no campo de batalha se ele foge
naquele único ponto”. A reforma não acabou. Ela continuará até o fim do
mundo. A reforma é sobre o futuro, não apenas sobre o passado, e devemos
olhar para frente, com a expectativa de ver Deus operar em nossos dias
como Ele o fez no passado. Não devemos ser simplesmente reformados, mas
cristãos reformando num mundo em mudança.
Fonte: Monergismo
Mais um excelente post. Obrigado por sempre nos presentear com textos como esse.
ResponderExcluirirmão Silas, gostaria de convidá-lo a visitar meu blog: www.pensologocristo.blogspot.com
Sei que é mais um blog nesse universo de blogs, mas estou aprendendo aki e em outros blogs a postar coisas que realmente edificam e podem fazer diferença.
Um abraço.... na paz de Cristo
Graça e paz Alexandre.
ExcluirObrigado pelas palavras de insentivo. Estarei visitando o seu blog.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira
Obrigado irmão Silas...
ExcluirSua visita em meu blog será uma honra pra mim.
Um forte abraço!!!