Por Maurício Zágari
Ultimamente
tenho meditado muito sobre o amor de Deus. Tenho lido sobre sua graça e
sobre seu perdão, que são frutos de seu amor. Um amor tão
mal-compreendido, tão humanizado em nossos louvores e concepções. Algo
tão acima da capacidade humana - de compreender, aceitar, reproduzir. A
maior e, provavelmente, única forma que o ser humano tem para se
aproximar do amor de Deus é vivenciando, experimentando, sendo alvo
desse amor. E quando conseguimos, quando sua suave presença nos alcança,
sentimos o seu perdão sobre nossa multidão de pecados e a concepção que
temos sobre Cristo e sobre seu relacionamento conosco muda totalmente:
entramos numa nova dimensão na nossa caminhada de fé. E nos tornamos,
creio eu, cristãos melhores.
As
duas passagens principais que falam sobre o amor de Deus são as as
conhecidíssimas João 3.16 e 1 Coríntios 13. Tenho aplicado nos últimos
tempos em minha vida o método de leitura da Bíblia de meditar por vezes
uma semana um único trecho, estudar sobre ele em fontes diversas,
deixar-me "engravidar" daquela passagem e das lições e virtudes ali
contidas. Fiz isso em João 3.16, pois esse versículo é repetido tantas
vezes nas igrejas que sua magnitude se banaliza e chega a passar
despercebida por nós. Leia com atenção e vamos até além, ao normalmente
ignorado versículo 17: "Porque Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o
seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo
fosse salvo por ele". Que extraordinário. Que sublime. Que humilhante.
Deus
amou a mim e a você de tal forma que por isso abriu mão de sua glória
celestial, de estar assentado no trono sendo louvado dia e noite pelos
anjos, para vir à terra, sentir frio, calor, dor, desprezo, acusações,
solidão, a coroa de espinhos, o açoite, a Cruz. E qual foi a única razão
que o levou a isso? Dar a seres pecadores, desprezíveis, falhos,
desobedientes, egoístas e rancorosos a vida eterna. Ou seja: Deus amou a
mim e a você tanto que abriu mão de castigar-nos com o fogo que nunca
se apaga, como seria justo, para exercer a misericórdia, sacrificar-se
e, assim, conceder-nos vida eterna: o direito de passar os bilhões de
anos que virão pela frente junto a Ele. Em outras palavras, o amor de
Deus fez tudo isso para que nós pudéssemos estar juntos por toda a
eternidade, glorificando seu santo nome.
O
Filho, ao encarnar-se, sabia que viria por quem não o merecia. Eu não
mereço o amor do Senhor. Pois pequei e destituído estou da glória de
Deus. Não, não mereço. Mas mesmo assim Ele olhou para este saco de
ossos, pele, defeitos, doenças, podridão que eu sou e... me amou. Quem
entende? Só entende quem compreende a graça. Esqueça as frases feitas
que você responde de bate-pronto: "O que é graça?". "Favor imerecido".
Ok, sabemos disso. Mas vamos tentar parar e refletir mais profundamente
sobre esse conceito.
Graça
é Jesus, o Santíssimo, o Puríssimo, o Cordeiro sem mancha... fazendo-se
como alguém nada santo, nada puro, cheio de manchas, justamente para
trazê-lo para si e dizer: "Apesar de tudo isso, se te arrependeres,
ainda assim terás o meu perdão, esquecerei teus erros, desafiarei como
teu advogado junto ao Pai que atirem a primeira pedra e estaremos juntos
no Paraíso". Chegam a vir lágrimas nos olhos só de pensar nisso. O
conceito de graça desafia nossa inteligência, nosso senso de justiça,
tudo o que é humano. Pois somos ególatras, vingativos, rancorosos,
imperdoáveis. Somos impiedosos. Literalmente: sem piedade. Somos o
contrário exato de Cristo. O pecado que carregamos dentro de nós nos
desfigurou a esse ponto. É por isso que dependemos tanto da soberania do
Senhor: porque somos tão opostos que sem Ele nada podemos fazer.
O
versículo 16 por si só já é magnífico, por revelar o caráter do
Cordeiro. Um caráter traduzido em domínio próprio. Mansidão. Fé.
Bondade. Amabilidade. Paciência. Paz. Alegria. E... amor. E no versículo
seguinte vem a coroação: "Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele".
Isso me emociona. A humanidade é uma desgraça. Eu e você somos
atoleiros de pecados. Somos o vômito do cão. Somos dignos do inferno.
Quem discorda disso não entendeu o que o pecado fez com o gênero humano,
como nos tornou totalmente depravados e como somos o avesso de Cristo.
Merecíamos, todos nós, o veredicto: CULPADO. Não adianta, meu
irmão, minha irmã, eu e você nascemos com esse veredicto escrito em
nossas testas. Nossa sentença deveria ser a mesma do diabo: o lago de
fogo e enxofre. Mas aí... entra em cena o amor de Deus.
E
esse amor diz que Cristo não veio para dar esse veredicto. Que Ele não
veio julgar. Não veio nos condenar. Jesus não veio à terra com prego e
martelo nas mãos para nos executar - como merecemos - e nos crucificar.
Ele veio com as mãos e os pés expostos em oferta para que eu e você
fossemos salvos por ele. Meu Deus, que amor incompreensível! Nós não
sabemos nem dar a outra face, nascemos com gosto de sangue e de rancor
na boca, enquanto Ele estendeu seu amor, como se dissesse: "Não mate o
culpado, mate a mim, o inocente, eu me dou no lugar dele. Eu o perdoo.
Eu não o condeno. E, com isso, eu o salvo. E que creiam nisso, para que
este meu gesto permita o que eu mais quero: estar a eternidade ao lado
dele - desse grande pecador arrependido pela minha graça".
Não
tenho como descrever, definir ou explicar o amor de Deus. Sinto-o
apenas em ação, no perdão que ele me estende. O que eu fiz para merecer
isso? Absolutamente nada. Nem mesmo crer nele é mérito meu, visto que o
arrependimento dos meus pecados é fruto da atividade daquele que
convence do pecado, da justiça e do juízo. Deus me estende a graça. Deus
me dá a fé. Deus me convence do pecado. Deus intercede por mim como
advogado. Deus me regenera. Deus me justifica. Deus me põe de pé. Tudo
vem de Deus. Tudo. A mim resta agradecer, louvar e adorar por esse amor.
Do qual tenho absoluta certeza que não sou digno.
1
Coríntios 13 apenas corrobora tudo isso. Ao contrário do que muitos
pensam, o amor ali descrito não é o humano, é o ágape, o amor de Deus.
Usar 1 Coríntios 13 numa carta para sua namorada, por exemplo, é um erro
de interpretação bíblica. Venha lendo desde o capítulo 12 e no contexto
verá que está sendo falado sobre os dons de Deus. E esse capítulo
descreve o amor de Deus. Nenhum, absolutamente nenhum humano ama ou é
capaz de amar daquela maneira. Só Deus. Só Deus.
Que
o Cordeiro seja glorificado por esse amor, traduzido na graça que nos
permitirá passar a eternidade ao lado dele... amando. Como será a vida
eterna após a morte para os salvos? Não sei com certeza. A Bíblia dá
algumas pistas. Mas de uma coisa tenho certeza: os eleitos de Deus
viverão pelos séculos dos séculos experimentando o amor mais
inexplicável que existe e já existiu em todo o universo. Um amor que
hoje tem forma de Cruz, mas na eternidade terá forma de um homem com
mãos e pés furados e os braços abertos para os arrependidos.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Apenas
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