Por Pablo Massolar
Sonho com uma igreja onde o discipulado não seja visto essencialmente
como um método de fazer crescer numericamente. Onde não sejam
estabelecidas metas e cronogramas de crescimento e multiplicação, como
fazem os gerentes de marketing das grandes corporações comerciais.
No Evangelho de Mateus, capítulo 10, quando Jesus enviou seus discípulos
pelas cidades para pregar, ele não disse nada sobre quantidade ou taxa
de sucesso. Não estabeleceu nenhuma estratégia de abordagem, a não ser a
de quando entrassem em alguma casa, declarar: "paz sobre esta casa!", e
se houvesse algum filho da Paz ali, ela repousaria sobre a pessoa.
Jesus não fez grandes campanhas publicitárias, não disse nada para
agradar as pessoas simplesmente com a intenção de atraí-las. Embora
Jesus curasse muita gente e expulsasse demônios, não fazia propaganda
disso. Ele apenas disse que era para anunciar a chegada do Reino de Deus
e que haveria lugares que receberiam a Palavra e outros não. Simples
assim.
O discipulado aprendido com Jesus e os apóstolos por todo o Novo
Testamento não tem seu foco ou ênfase na multiplicação do número de
pessoas alcançadas, mas no ensino da Palavra. As "células", ou reuniões
nas casas, aconteciam na igreja primitiva com a finalidade de promover
profunda comunhão e aprendizado prático entre a irmandade. Sim, eram uma
grande família. Estavam mais para grupos de convivência do que simples
reuniões de estudo superficial do texto bíblico e chá com biscoito. Tudo
lhes era comum, inclusive as necessidades que alguns passavam. As
ofertas eram recolhidas não para comprar terrenos, construir templos ou
bancar a vida luxuosa dos líderes, mas para suprir as carências que os
irmãos mais pobres tinham.
Muitos sinais e prodígios eram feitos pelos apóstolos, mas nem os
milagres físicos eram tão prodigiosos quanto o amor vivido e proclamado
naqueles dias pelos discípulos de Jesus, de forma contínua e verdadeira.
Havia profundo temor no coração de todos, era um só o sentimento de
comunhão e o Senhor acrescentava, todos os dias, os que iam sendo salvos.
Não tenho nada contra o crescimento numérico. É claro que eu quero que o
Evangelho alcance muitas pessoas; se possível, todos os que estão a
minha volta. Mas nem sempre os números frios sintetizam realidades
espirituais muito para além das estatísticas. O problema é quando se faz
do crescimento um deus e aí passa a valer qualquer estratégia, qualquer
método e desculpa para atrair as pessoas. O foco passa de pregar o que É certo para pregar o que DÁ certo.
Vejo muitas igrejas cheias, lotadas de gente vazia, escravizadas por
seus próprios interesses e desejos mesquinhos. Crentes não em Deus, mas
no milagre prometido que às vezes demora para chegar, nas correntes
infinitas de orações e sacrifícios pessoais.
São lugares onde as reuniões de oração agora são chamadas de campanha e
têm, em alguns casos, sete dias ou sete semanas para fazer acontecer o
milagre. Quem decreta o milagre não é Deus, mas o "homem de Deus",
emocionado e eufórico. E "Deus" fica como que "obrigado" a realizar o
que pedem através do ato profético e do sacrifício deixado no altar.
Nesses lugares, quem chega, e vai sendo chamado de discípulo, vai
aprendendo a arte do proselitismo religioso/denominacional. São
transformados em corretores da fé na plaquinha da igreja, o que é muito
diferente da consciência de um só corpo e um só batismo pregado pelo
apóstolo Paulo. Este modelo de igreja exige muito entretenimento, muita
mudança exterior e asséptica, muito falso moralismo, mas que pouco tem a
ver com as mudanças mais profundas até alcançar a mente de Cristo.
Será este o fim? Infelizmente, para este modelo de "igreja mercado", não
vejo um futuro diferente. Queria estar errado, mas este modelo vai
crescer muito ainda e se alastrar porque há uma demanda e um propósito
para isso. A intenção é transmitir uma falsa sensação de conversão, sem
compromisso real com a Palavra. As pessoas são carentes deste
misticismo, e quando ele é feito em nome de "Jesus", parece que ganha
validade. Suas mentes estão cauterizadas. São cegos guiando cegos.
Pensam estar agindo em nome de Deus, mas o que é adorado nestes lugares é
o poder dos seus próprios líderes.
Entretanto, a verdadeira igreja é de Deus. É invisível. Não tem
fronteiras. As portas do inferno não prevalecem contra ela. Os
discípulos de Jesus são identificados não pelo nome no letreiro de suas
comunidades, mas pelo amor vivido e praticado visceralmente. O Evangelho
não fica só no discurso, mas é ensinado e pregado com a própria vida,
mesmo que seja preciso perdê-la.
A santidade ensinada não é externa, mas faz sentido e morada na vida, na
caminhada dia após dia, mudando o caráter verdadeiramente. O
compromisso com o outro não é o tapinha nas costas de quem diz: "estamos
juntos", mas não se envolve até as últimas consequências. Este
discipulado não acontece somente entre os que estão debaixo de uma
"cobertura espiritual", não acontece somente na "célula", entre um grupo
restrito ou em uma hora delimitada. O encontro com Deus não está
marcado para um lugar isolado do mundo exterior. O Peniel de verdade é o
Evangelho praticado na rua, no trabalho, na família e também fora da
igreja.
O verdadeiro discipulado se aprende espiritualmente e não emotivamente. O
fruto deste ensino até pode vir de forma numérica também, mas vem
essencialmente na mudança provocada na vida dos discípulos.
O Deus que disse: "vá e faça discípulos de todas as nações" te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!
Fonte: Ovelha Magra
O texto reflete e narra uma realidade incontestável. Por crer que Deus está no comando e que nada escapa ao seu domínio penso que o momento de iniciar uma verdadeira revolução é agora. Precisamos abandonar algumas vaidades e dogmas que tem nos dominado e até impedido de promover o resgate do verdadeiro Evangelho. Enquanto estamos debatendo "quireras" tal qual faziam os "escolásticos" da idade média, a Igreja de Cristo a cada dia deixa de ser uma "Assembléia dos Salvos" para ser uma mera e simples "membresia" de "clubes denominacionais".
ResponderExcluirNo BLOG FIEL há um texto de John Piper intitulado "Como Glorificar a Deus no Trabalho" que nos dá uma ideia da forma de revolução a qual me refiro.
Peço perdão, se por um acaso minhas colocações venham ser ofensivas, mas, entendo que enquanto estivermos domingo após domingo nos fechando entre as quatro paredes de inúmeros templos, jamais poderemos informar ao mundo e seus habitantes que o Reino De Deus é uma realidade, e, continuaremos na ilusão de que nosso SENHOR habita em casa feita pelas mãos do homem.
Abraços.
Fabio, cristaodebereia.blogspot.com
PS: Este texto do irmão Pablo precisa ser compartilhado. Eu inicio agora essa divulgação.
Graça e paz Fábio.
ExcluirAgradeço pela sábia colocação. Precisamos buscar em Deus um avivamemto para seu povo, pois da forma como estão muitas igrejas hoje, as tais não passam de um clube. O Reino já está entre nós e muitos ainda não perceberam isso.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira