quinta-feira, 12 de julho de 2012

O SEMPRE DESCONCERTANTE JESUS


“Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais!” (João 8.11)

Por Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho

Todos nós conhecemos bem esta história. Já a lemos e a ouvimos muitas vezes. Ela começa com uma pegadinha dos líderes judeus, para derrubarem Jesus. Trouxeram-lhe uma mulher, “apanhada em adultério”. A Lei mosaica mandava apedrejá-la, dizem eles. Qual seria a posição de Jesus? Esta é a pegadinha.

Quando a pegadinha é uma brincadeira, é suportável. Quando é maldosa é muito desagradável. Se Jesus dissesse que a mulher não deveria ser apedrejada (eles deviam esperar esta atitude de Jesus, pela sua pregação sobre o amor de Deus), eles o acusariam de ser contra a Lei. Se dissesse que deveria ser apedrejada, perguntariam: “E o seu ensino sobre o amor de Deus?”. Qualquer que fosse a resposta, eles o acusariam. Ficaria na situação do personagem de “O alienista”, de Machado de Assis: “Preso por ter cão, preso por não ter cão”.

Fazedores de pegadinha nem sempre são pessoas honestas em sua argumentação. A Lei não dizia para  apedrejar a mulher, e sim os dois (Lv 20.10). Onde estava o homem, se fora um flagrante de adultério? Porque ninguém adultera sozinho.

Ao invés de questionar a atitude deles, Jesus passa a escrever no chão. Como esse ato tem recebido especulações! O que Jesus teria escrito? Não creio que este seu ato tivesse qualquer finalidade de nos levar a perguntar o que ele traçara. Parece tão clara a sua atitude: aquela situação era absolutamente irrelevante para ele. É como quando alguém nos diz alguma coisa a qual não damos valor e vamos fazer outra coisa. Foi isso que ele fez. Como se dissesse: “Ah, será que vocês não têm coisa mais importante para fazer?”.

Mas o pessoal não havia tomado jeito. Já levara alguns “foras” de Jesus, e insiste na pegadinha. Bem, já que querem, vão passar vergonha. “Está certo, já que vocês querem apedrejar, que apedrejem. Quem estiver sem pecado que comece!”, é mais ou menos a resposta dele. Agora, a pegadinha foi feita por ele! Jesus é mesmo desconcertante e sempre inverte os papéis, quando alguém quer deixá-lo em situação incômoda. Quem está sem pecado é um santo completo! Que apedreje! Mas santos completos não apedrejam, porque são pessoas bondosas, cheias de misericórdia. Pronto! Todos se calam e vão saindo de fininho. Vieram para envergonhá-lo e passaram vergonha.

A seguir, ele pergunta à mulher pelos seus acusadores e a manda embora, dizendo que ele também não a condenava. Contudo, não se pense que Jesus fez vistas grossas ao pecado da mulher, tipo “Deixa pra lá!”. Ele afirmou que ela errou: “Vá e não peque mais!”. Ele a perdoou, mas disse que ela pecara.  Dessa atitude dele podemos tirar quatro ensinos muito bons para nossa vida.

O primeiro ensino é que ele não é um Salvador tipo “paizão” que fecha os olhos a todos os erros e nunca os repreende. Hoje se vê muito desse tipo de pai que ao invés de ensinar e corrigir os filhos fecha os olhos para seus erros e os apoia em tudo. Isso pode agradar a filhos que gostam de andar errados, mas não os prepara para a vida. Ele não apoiou a mulher, e sim lhe deu uma nova oportunidade. Fez isso porque é misericordioso. Ele sempre nos dá uma oportunidade de consertarmos a nossa vida, com seu perdão. Jesus perdoa, embora mostre o erro. Ele é nosso advogado (1Jo 2.1), e não nosso acusador. Aliás, o acusador é o Maligno (Ap 12.10.

O segundo ensino é que sua misericórdia é maior que nosso pecado. Ele não disse que Moisés estava errado, mas usou de misericórdia. “Porque a lei foi dada por meio de Moisés;  a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). Ele não veio nos trazer condenação porque já estamos condenados. Veio trazer sua graça. Nenhum de nós, quando erramos e temos consciência disso (a mulher nem protestou porque sabia que era culpada), não precisamos de gente esfregando sal grosso e pimenta em nossas feridas. Precisamos de graça. Jesus usa de graça para conosco! Sua graça cobre nossos pecados.

O terceiro ensino é que sempre pensamos em pecados que não cometemos, quando nos comparamos com os outros. Ficamos indignados quando vemos na vida dos outros algumas coisas que achamos erradas. Usar drogas? Deus me livre, eu não faço isso! Agredir os pais? Que horror, eu nunca faria uma coisa dessas! Sempre nos comparamos aos piores. Mas e a língua grande que responde mal aos pais? Estamos limpos de drogas. Graças a Deus! Mas estamos com o coração limpo? Com a mente limpa? Com a língua limpa? Alguém já disse que quando estendemos nosso dedo indicador para alguém, acusando-o, três dos nossos dedos que ficaram dobrados apontam em nossa direção. Seria bom verificarmos nossos erros e consertarmos a nossa vida, logo, impedindo que ela se estrague.

O quarto e último ensino é muito confortador: inevitavelmente, alguns de nós erraremos bem feio em nossa vida. Muitas pessoas poderão ficar indignadas conosco. E até nos acusarão com muita veemência. Se um dia acontecer isso com você, e você se sentir pra baixo, arrasado, lembre-se: vá até Jesus, confesse, peça perdão e peça forças para continuar sua vida. Ele sempre perdoa: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.8).

Nunca se distancie de Jesus! Mesmo quando estiver errado, procure-o. Ele sempre compreenderá e se vir arrependimento em sua vida, lhe perdoará. Ele é mesmo desconcertante para nossos padrões!

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