“Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais!” (João 8.11)
Por Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho
Todos nós conhecemos bem esta história. Já a lemos e a
ouvimos muitas vezes. Ela começa com uma pegadinha dos líderes judeus,
para derrubarem Jesus. Trouxeram-lhe uma mulher, “apanhada em
adultério”. A Lei mosaica mandava apedrejá-la, dizem eles. Qual seria a
posição de Jesus? Esta é a pegadinha.
Quando a pegadinha é uma brincadeira, é suportável. Quando é maldosa é
muito desagradável. Se Jesus dissesse que a mulher não deveria ser
apedrejada (eles deviam esperar esta atitude de Jesus, pela sua pregação
sobre o amor de Deus), eles o acusariam de ser contra a Lei. Se
dissesse que deveria ser apedrejada, perguntariam: “E o seu ensino sobre
o amor de Deus?”. Qualquer que fosse a resposta, eles o acusariam.
Ficaria na situação do personagem de “O alienista”, de Machado de Assis:
“Preso por ter cão, preso por não ter cão”.
Fazedores de pegadinha nem sempre são pessoas honestas em sua
argumentação. A Lei não dizia para apedrejar a mulher, e sim os dois
(Lv 20.10). Onde estava o homem, se fora um flagrante de adultério?
Porque ninguém adultera sozinho.
Ao invés de questionar a atitude deles, Jesus passa a escrever no
chão. Como esse ato tem recebido especulações! O que Jesus teria
escrito? Não creio que este seu ato tivesse qualquer finalidade de nos
levar a perguntar o que ele traçara. Parece tão clara a sua atitude:
aquela situação era absolutamente irrelevante para ele. É como quando
alguém nos diz alguma coisa a qual não damos valor e vamos fazer outra
coisa. Foi isso que ele fez. Como se dissesse: “Ah, será que vocês não
têm coisa mais importante para fazer?”.
Mas o pessoal não havia tomado jeito. Já levara alguns “foras” de
Jesus, e insiste na pegadinha. Bem, já que querem, vão passar vergonha.
“Está certo, já que vocês querem apedrejar, que apedrejem. Quem estiver
sem pecado que comece!”, é mais ou menos a resposta dele. Agora, a
pegadinha foi feita por ele! Jesus é mesmo desconcertante e sempre
inverte os papéis, quando alguém quer deixá-lo em situação incômoda.
Quem está sem pecado é um santo completo! Que apedreje! Mas santos
completos não apedrejam, porque são pessoas bondosas, cheias de
misericórdia. Pronto! Todos se calam e vão saindo de fininho. Vieram
para envergonhá-lo e passaram vergonha.
A seguir, ele pergunta à mulher pelos seus acusadores e a manda
embora, dizendo que ele também não a condenava. Contudo, não se pense
que Jesus fez vistas grossas ao pecado da mulher, tipo “Deixa pra lá!”.
Ele afirmou que ela errou: “Vá e não peque mais!”. Ele a perdoou, mas
disse que ela pecara. Dessa atitude dele podemos tirar quatro ensinos
muito bons para nossa vida.
O primeiro ensino é que ele não é um Salvador tipo “paizão” que fecha
os olhos a todos os erros e nunca os repreende. Hoje se vê muito desse
tipo de pai que ao invés de ensinar e corrigir os filhos fecha os olhos
para seus erros e os apoia em tudo. Isso pode agradar a filhos que
gostam de andar errados, mas não os prepara para a vida. Ele não apoiou a
mulher, e sim lhe deu uma nova oportunidade. Fez isso porque é
misericordioso. Ele sempre nos dá uma oportunidade de consertarmos a
nossa vida, com seu perdão. Jesus perdoa, embora mostre o erro. Ele é
nosso advogado (1Jo 2.1), e não nosso acusador. Aliás, o acusador é o
Maligno (Ap 12.10.
O segundo ensino é que sua misericórdia é maior que nosso pecado. Ele
não disse que Moisés estava errado, mas usou de misericórdia. “Porque a
lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio
de Jesus Cristo” (Jo 1.17). Ele não veio nos trazer condenação porque já
estamos condenados. Veio trazer sua graça. Nenhum de nós, quando
erramos e temos consciência disso (a mulher nem protestou porque sabia
que era culpada), não precisamos de gente esfregando sal grosso e
pimenta em nossas feridas. Precisamos de graça. Jesus usa de graça para
conosco! Sua graça cobre nossos pecados.
O terceiro ensino é que sempre pensamos em pecados que não cometemos,
quando nos comparamos com os outros. Ficamos indignados quando vemos na
vida dos outros algumas coisas que achamos erradas. Usar drogas? Deus
me livre, eu não faço isso! Agredir os pais? Que horror, eu nunca faria
uma coisa dessas! Sempre nos comparamos aos piores. Mas e a língua
grande que responde mal aos pais? Estamos limpos de drogas. Graças a
Deus! Mas estamos com o coração limpo? Com a mente limpa? Com a língua
limpa? Alguém já disse que quando estendemos nosso dedo indicador para
alguém, acusando-o, três dos nossos dedos que ficaram dobrados apontam
em nossa direção. Seria bom verificarmos nossos erros e consertarmos a
nossa vida, logo, impedindo que ela se estrague.
O quarto e último ensino é muito confortador: inevitavelmente, alguns
de nós erraremos bem feio em nossa vida. Muitas pessoas poderão ficar
indignadas conosco. E até nos acusarão com muita veemência. Se um dia
acontecer isso com você, e você se sentir pra baixo, arrasado,
lembre-se: vá até Jesus, confesse, peça perdão e peça forças para
continuar sua vida. Ele sempre perdoa: “Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar
de toda injustiça” (1Jo 1.8).
Nunca se distancie de Jesus! Mesmo quando estiver errado, procure-o.
Ele sempre compreenderá e se vir arrependimento em sua vida, lhe
perdoará. Ele é mesmo desconcertante para nossos padrões!
Fonte: Isaltino Gomes Coelho Filho
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