Por Maurício Zágari
O rapaz se drogou. Num ímpeto de descontrole e irracionalidade,
assassinou a facadas os pais adotivos. Partiu dessa forma trágica o
bispo da diocese de Recife, da Igreja Anglicana do Cone Sul da América,
Dom Robinson Cavalcanti – sacerdote, ativista, articulista – junto com
sua esposa, Miriam. Na entrega do Prêmio Areté de excelência em
literatura deste ano ele recebeu uma homenagem póstuma. Sim, muitos se
lembrarão dele. Muitos falarão de seus escritos, de suas polêmicas, de
suas atitudes. Mas não ouço ninguém falar sobre o que o assassino está
sentindo, pensando e vivendo hoje. Ele deixou de ser humano, agora é
apenas “o assassino”. “O pecador”. Um bicho.
Não quero justificar seu ato bárbaro e desumano. Ele errou feio.
Pecou terrivelmente. Só que, passado o efeito da droga, quando a
realidade despenca na sua cabeça com o peso do mundo, como você convive
com o erro? Já imaginou como o rapaz (foto) viverá o resto da
vida, sabendo, agora lúcido e sóbrio, que ele chacinou o homem e a
mulher que lhe deram amor, estudo, teto, futuro, carinho, agasalho, uma
vida? Você ao menos se lembra do nome dele?
Duvido.
Não, ninguém quer saber de quem errou. Crucifica-o!!!, bradamos com
sede de sangue e vingança. Mas não tenho como medir as consequências com
que esse ser humano terá de conviver o resto de sua vida pelo erro que
cometeu. E tenho certeza absoluta que, se ainda não pensou, o filho
adotivo e assassino de Dom Robinson Cavalcanti um dia pensará – imerso
em tristeza, arrependimento e sofrimento – aquilo que todo mundo que
erra pensa: “Ah, se eu pudesse voltar atrás…”.
Todos nós erramos. Em escala maior ou menor erramos. A maioria de nós
não mata os pais, é verdade. Mas mata amizades, oportunidades,
possibilidades, consciências… por causa de erros que cometeu. “Ah, se eu
pudesse voltar atrás…”. Frase que suponho que passou pela mente de
muitos homens e mulheres descritos na Bíblia.
Negar Jesus três vezes. Trair o bom Mestre com um beijo. Perseguir
cristãos antes de conhecer Cristo na estrada de Damasco. Mandar à Cruz
um inocente com medo da reação da multidão e ainda lavar as mãos. Mandar
cortar a cabeça de João Batista porque os olhares ao redor cobravam o
cumprimento de uma promessa feita. Dizer que Sara era irmã e não esposa
com medo de faraó. Vender José como escravo. Murmurar contra Deus no
deserto. Tomar Bateseba. Matar Urias. Pesar a mão sobre o povo por ouvir
o conselho dos jovens e não o dos anciãos. Sentir inveja por Davi
receber a aclamação do povo e tentar matá-lo por pura vaidade. Erros.
Erros. E mais erros. A Bíblia está repleta deles, desde Gênesis, quando
Adão e Eva comem do fruto, até Apocalipse, quando João se prostra
perante um anjo. E nós?
Nós em nada somos diferentes. Erramos. O lamentável é que muitas
vezes erramos sabendo que estamos errando e ainda assim persistimos no
erro. Que, aliás, é a forma que todo cristão erra. Por alguma razão que
depois nos parece incompreensível. Mas a verdade é que há uma força
descomunal dentro de cada um de nós que nos impulsiona para o erro. Seu
nome é pecado. E isso ocorre com não cristãos mas também com
cristãos. Senão ao sermos convertidos ao Evangelho nos tornaríamos
automaticamente inerrantes. Mas não. A natureza adâmica e pecaminosa
grita dentro de nosso peito: “Não tenha fé!”. “Não segure a língua!”.
“Não diga não!”. E, assim, mesmo sendo habitação do Espírito Santo,
continuamos errando. E Deus se entristece. “Ah, se eu pudesse voltar
atrás…”. Quando Jó conversa com os seus amigos, afirma que ele e tão
somente ele é responsável por erros que cria ter cometido: “Embora haja
eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro.” (Jó 19.4). É
extremamente doloroso reconhecer isso.
O erro do cristão tem duas origens básicas: distanciamento das
verdades bíblicas e falta de fé que o Deus que criou os céus e a terra é
poderoso para fazer o impossível se tornar possível. Isso fica claro
nas palavras de Jesus: “Não provém o vosso erro de não conhecerdes as
Escrituras, nem o poder de Deus?” (Mc 12.24). Em outras palavras, das
duas uma: ou esquecemos o que Deus é capaz de realizar ou ignoramos o
que Deus é capaz de realizar. Damos-lhe as costas. Tentamos resolver por
nós mesmos e deixamos a fé sem a qual é impossível agradar Deus
esquecida num canto empoeirado qualquer de nossa religiosidade. “Fé? É
uma palavra bonita mas não funciona para mim”. E aí…erro. “A Bíblia diz
isso? Mas vou fazer do meu jeito, que é mais garantido”. Cegos se
orgulhando de sua cegueira. Erro. “Ah, se eu pudesse voltar atrás…”.
Só para você saber, o nome dele é Eduardo – o filho e assassino de
Dom Robinson Cavalcanti e Miriam. Não sinto raiva dele: sinto compaixão.
Uma alma que será prisioneira pelo resto da vida não de barras e muros,
mas das consequências do erro que cometeu. Assim como tenho pena e
misericórdia de quem erra sem se dar conta de que está errando. “Não tem
mais como voltar atrás”, “Não consegui me segurar”, “Não tinha outro
jeito”. Erros. E depois: “Ah, se eu pudesse voltar atrás…”.
Eduardo. Olhe-se no espelho e saiba que este é teu nome.
Mas há um porém. Tudo o que escrevi até aqui tem um único objetivo:
lembrá-lo, meu irmão, minha irmã, de que, se você está prestes a cometer
um erro e sabe que é um erro… você ainda pode voltar atrás.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Gospel Mais
Muito interessante o ponto onde fala sobre o distanciamento das verdades Bíblicas. É um alerta para que nós nos mantenhamos firmes na Palavra,e somente nEla.
ResponderExcluirGraça e paz Geraldo.
ExcluirMuitas vezes nós nos esquecemos que o arrependimento é algo que os outros também podem demonstrar, por pior que seja o seu pecado e o Senhor nos perdoa.
Que este homem possa se arrepender!
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira