Por Alex Belmonte
“Se alguém entre vós cuida ser
religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a
religião desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é
esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se
da corrupção do mundo”. Tiago 1.26, 27.
Certo pregador em uma empolgante
mensagem exclamou com firmeza na voz: “A religião para nada serve, ela é
má! A religião afasta o homem de Deus! Seja crente, mas não seja
religioso!”. Afinal, em que contexto o pregador estava posicionando a
Religião? Em que sentido a religião “para nada” serviria se tornando má?
Como algo que religa (raíz da palavra) pode muito bem “re-desligar”? Então devemos abandonar nossa religião?
Etimologicamente falando a palavra Religião do latim “religio” usado na Vulgata de Jerônimo, que significa “ligar novamente”, ou simplesmente “religar”
pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo
que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e
transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que
derivam dessas crenças.
Em nossa linguagem a palavra portuguesa religião deriva justamente da palavra latina religio, mas desconhece-se ao certo que relações estabelece religio com outros vocábulos. Aparentemente no mundo latino anterior ao nascimento do cristianismo, religio referia-se a um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão.
Esclarecendo a atitude de algumas
pessoas para com a religião, posso entender que existe uma grande
confusão na má aplicação do termo, ou mesmo na ótica definiva da
palavra. Tudo ficaria bem esclarecido se a religião fosse entendida pelo
menos em três de algumas de suas esferas: A Religião como
espiritualidade interior, Religião como Sistema e Rito, e Religião como
filosofia.
Para início de compreensão podemos nos
apossar das palavras de Tiago quando diz: “Se alguém entre vós cuida ser
religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a
religião desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é
esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se
da corrupção do mundo”. Tiago 1.26, 27.
O texto está corretamente nos guiando a
essa compreesão das esferas propostas aqui, mas revelando ainda duas
facetas: A religião interior e a exterior.
No primeiro versículo Tiago está se
referindo á religião interior quando diz “engana o seu coração”. Mas,
parte da exigência do escritor não fica apenas aqui, pois no segundo
versículo vem declarar a religião exterior, quando diz: “A religião pura
e imaculada… é visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e
guardar-se da corrupção do mundo”. É a religião que do interior surge
com grande efeito no exterior, ou seja, Tiago fala que a religião não
pode existir apenas como teoria mas como prática também. Então
exploramos agora os três pontos:
1. A Religião como espiritualidade interior
revela que todo homem é religioso por natureza. Isto é, o ser humano já
nasce com a inclinação para as coisas espirituais. Desde as eras mais
primitivas isso já se manifestava com a busca por respostas, com o medo e
as incertezas para com a vida após a morte, com a busca do
autoconhecimento e outras questões interiores. Na religião como
espiritualidade interior podemos presenciar o nascimento do sentimento
religioso antes mesmo que a própria religião. Antes de nascer a religião
nasceu o desejo da religião.
Dessa forma podemos ter certeza que a
Religião é de suma importância na vida de qualquer pessoa, visto que
interiormente há um efeito em cada ser humano. O escritor russo Liev
Tolstói (1828-1910) disse: “O homem pode ignorar que tem uma religião,
como pode também ignorar que tem um coração; mas sem religião e sem
coração, não pode viver.”
2. Na Religião como Sistema e Rito
temos as deficiências no processo e criação de liturgias, formas de
adoração, a particularização religiosa e em muitos casos a religião
partidária. Essa é a religião falha, perigosa, infiel e que pode levar o
homem a uma religiosidade artificial. A Religião como Sistema tem muito
mais as ações do homem do que as ações do divino, do superior, mas
observe que essa religião como sistema vai surgir a princípio por um
possível desenfreio da religiosidade interior.
Então quando mencionamos a insuficiência
da Religião para promover o bem-estar e a salvação do homem por algum
caminho, como mencionou “nosso” pregador, devemos lembrar que se trata
unicamente da Religião no status de Sistema e Rito, o que não explicou o
pregador, e, dessa forma a religião pode ser sim, realmente má. Na
religião como Sistema encontramos também alguns conflitos humanos, como a
própria “escravidão religiosa”, o fator da intolerância, e certamento a
negligência doutrinária da raíz religiosa.
3. A Religião como filosofia
por sua vez é a grande influência que a mesma tem na vida das pessoas, a
ponto de mudar condutas, propor regras, elevar a convivência, unir
famílias e fazer a sociedade repensar seus principais valores. A
religião como filosofia leva-nos as reflexões da vida fazendo-nos voltar
para a real espiritualidade. Como bem lembrou o filósofo e escritor
suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), “O esquecimento da religião
conduz ao esquecimento dos deveres do homem.”
A Religião como filosofia além de
trabalhar como um fenômeno individual, se torna também um fenômeno
social. A igreja e o Judaísmo, são exemplos de doutrinas que exigem não
só uma fé individual, mas também adesão a um certo grupo social, de um
círculo.
Enfim, como podemos compartilhar, a
religião tem um poder impressionante, fazendo parte da vida humana
nessas três e outras esferas. Mais que isso, a religião é parte da
existência do homem, é parte da vida e do cotidiano.
Mas precisamos entender que a pior das
ações religiosas, seja de que direção vir, não parte da própria religião
(etimologicamente falando), mas de indivíduos que num espírito de
“religiosidade extrema” transformam a religião num mecanismo de ódio e
caminho tortuoso, levado ao fanatismo e á irracionalidade acerca da real
missão de Deus para com o mundo: Resgatar a humanidade da maldição do
pecado. E para isso, em se tratando de religião com propósitos, parte
daqui um único convite: abraçar, explorar e, sem nenhum medo, mergulhar
nas águas límpidas dessa religião chamada Cristianismo.
Fonte: Napec
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