Quando lemos os Evangelhos encontramos
algo comum em todos eles a crucificação de Jesus e todos os evangelistas
trouxeram palavras que o Senhor proferiu enquanto esteve naquela cruz.
Ao todo o Senhor proferiu sete palavras ou sete brados que para nós tem
uma grande importância, pois foram as suas últimas palavras num dos
momentos mais importantes da história do cristianismo. Foram palavras de
dor, de solidão, mas também foram palavras de graça e perdão. Podemos
dizer que todo o ministério de Jesus se resumiu naquela cruz. Aquela
cruz onde Ele levou sobre si todos os nossos pecados. Aquela cruz que
era minha e também sua, no entanto Ele a tomou em nosso lugar. Aquele
que não conheceu pecado se fez pecado por nós, como nos fala Paulo em
2Co 5.21.
Jesus não só
foi até a cruz, mas Ele ensinou sobre ela. Jesus ensinou que se alguém
quisesse ser seu discípulo deveria negar-se a si mesmo e tomar a cruz
todos os dias (Lc 9.23). Para um homem “negar a si mesmo” totalmente,
deverá renunciar completamente sua própria vontade. A atitude do
cristão é, “Para mim, o viver é Cristo” (Fl 1.21 — honrá-Lo, agradá-Lo, servi-Lo. Renunciar sua própria vontade significa atender à exortação de Filipenses 2.5, “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”, o qual é definido nos versos que imediatamente seguem como de abnegação. É o reconhecimento prático de que “não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço” (1 Co 6.19,20). É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres” (Mc 14:36). Negar-se a si mesmo é deixar Cristo reinar em nossas vidas e aceitar a cruz que nos está imposta.
Tomar minha “cruz” significa uma vida
voluntariamente rendida a Deus. Como o ato dos homens ímpios, a morte de
Cristo foi um assassinato; mas como o ato do próprio Cristo, foi um
sacrifício voluntário, oferecendo a Si mesmo a Deus. Foi também um ato
de obediência a Deus. Em João 10.18 Ele disse, “Ninguém a [Sua vida] tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”. E por que Ele o fez? Suas próximas palavras nos dizem: “Este mandato recebi de meu Pai”. A cruz foi a suprema demonstração da obediência de Cristo. Nesta Ele foi o nosso Exemplo. Uma vez mais citamos Filipenses 2.5: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. E nos versos seguintes nós vemos Jesus tomando a forma de um Servo, e tornando-Se “obediente até a morte, e morte de cruz”.
Agora, a obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão —
voluntária, alegre, sem reservas, contínua. Se esta obediência envolve
vergonha e sofrimento, acusação e perda, não devemos nos acovardar, mas
por o nosso rosto “como um seixo” (Is 50.7). A cruz é mais do
que o objeto da fé do cristão, ela é o sinal de discipulado, o princípio
pelo qual sua vida deve ser regulada. A “cruz” significa rendição e
dedicação a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de
Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1).
Mas nos dias atuais, a cruz tem sido
bastante mal interpretada. Isso pode ser comprovado pelo fato de ser
quase impossível achar alguém que diga algo negativo a respeito dela. A
cruz é usada como pingente por atletas, adeptos do Movimento de Nova Era
e astros de rock. Esse indescritível instrumento de morte e
crueldade é agora símbolo de união, tolerância e espiritualidade de
todos os gêneros. O “escândalo da cruz”, como diz Paulo, há
muito desapareceu, quando a mensagem foi reinterpretada para se adequar à
mente moderna. Muitos dos que usam a cruz no pescoço ficariam
horrorizados se compreendessem seu verdadeiro significado [1].
Imagine alguém trazendo no pescoço como
enfeite uma guilhotina, uma forca ou quem sabe um dos instrumentos de
tortura da Idade Média. Para muitos isso seria uma grande loucura, mas
essas mesmas pessoas não pensam isso a respeito da cruz.
Gostaria de fazer uso de um texto de A.
W. Tozer que nos fala da velha e nova cruz, ele faz uma análise do tipo
de mensagem que se tem pregado hoje em dia a respeito da cruz. Vejamos:
"Sem fazer-se anunciar e quase
despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos
tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as
semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.
Uma nova filosofia brotou desta nova
cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova
técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de
pregação. A velha cruz não fazia aliança com o mundo. A nova cruz não se
opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se
compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo
inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência.
A nova cruz encoraja uma abordagem
evangelística nova e por completo diferente. Busca a chave para o
interesse do público, mostrando que o cristianismo não faz exigências
desagradáveis; mas, pelo contrário, oferece a mesma coisa que o mundo,
somente num plano superior.
A nova cruz não mata o pecador, mas
dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e
agradável, resguardando o seu respeito próprio. A mensagem de Cristo é
manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao
público.
A filosofia por trás disso pode ser
sincera, mas na sua sinceridade não impede que seja falsa. É falsa por
ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.
A velha cruz é um símbolo da morte. A
cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava
completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons
termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava
seu trabalho o homem já não existia.
O evangelismo que traça paralelos
amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à
Bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. Ao nos aproximarmos de
Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na
cruz.
Nós, os que pregamos o evangelho, não
devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para
estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não somos diplomatas,
mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo, mas um ultimato.
Deus oferece vida, embora não se trate
de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um
resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem
quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si
mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.
O que isto significa para o indivíduo, o
homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Ele não deve
encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer
acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado
severo de Deus e reconhecer que merece a morte.
Feito isto, ele deve contemplar com
sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo
nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de
Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre
os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.
Ousaremos nós, os herdeiros de tal
legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis
grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi
mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e
conhecermos o velho poder" [2].
Precisamos com urgência reavaliar a
nossa mensagem para não cairmos nesse mesmo erro que A. W. Tozer está
nos alertando que anda ocorrendo por aí. A velha cruz dá ideia de
ultrapassada, de retrógrada, mas a sua mensagem é exatamente o contrário
de tudo isso. A Velha Cruz nos oferece vida transformada pelo poder do
Evangelho.
A cruz, como evento histórico
necessário, marca o ponto mais alto da História da Redenção, e tem lugar
especial na vida do cristão. Observe alguns aspectos referentes a morte
de Jesus:
- É na morte que a Obra Messiânica de Cristo é encerrada (Jo.19.30).
- É o cumprimento do Antigo Testamento (1Co.15.3).
- A morte de Cristo é a garantia da pureza do cristão, bem como das suas boas obras (Tt.2.14).
- É na morte que ocorre o derramamento
de sangue necessário para a perdão dos pecados (Hb.9.15, 22; cf.
Mt.26.28; Ef.1.7; Cl.1.14).
- É por meio do sangue de Cristo que temos Eterna Redenção (Hb.9.12).
- É através da morte de Cristo que temos acesso a redenção (Rm.3.24)
- Em nome de Cristo deveria ser pregada a redenção de pecados a todas as nações (Lc.24.27)
De acordo com as colocações
supracitadas, não podemos deixar de reconhecer a centralidade da Cruz na
vida e expectativa cristã. De fato, é impossível ser cristão sem
render-se a cruz de Cristo, que representa Sua Morte em nosso favor.
Aliás, cristianismo sem a cruz é mera ideologia ética sem valor.
Portanto, o verdadeiro cristianismo depende intrinsecamente da cruz,
pois esta é o cerne de sua ideologia e fé. Se o que foi dito é
verdadeiro, e o símbolo que deveria representar tal ideia deve ser
compatível a tal colocação, segue-se que a Cruz é a representação
gráfica ideal para o Cristianismo.
E o que significa essa cruz senão nossa
liberdade? Nossa Redenção? A remissão dos nossos pecados? Comunhão com
Deus? É por meio dela que nós somos completamente libertos de nossa
medíocre vida sem significado e passamos a participar da Vida Eterna que
Deus nos concede por meio de Jesus Cristo. Cruz nos lembra a morte de
Cristo, que nos garante a Redenção do pecado, que nos proporciona a
perfeita vida eterna com Deus[3]
A lei de Deus não foi dada a nós para
nos justificar, mas para nos condenar. Deus queria mostrar como era o
homem perante Ele: maldito. Todo homem! Pois “maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las”
(Gl 3.10). Isso é a lei do Antigo Testamento. O Antigo Testamento nos
mostra que somos malditos pecadores; não somos capazes para salvar-nos; o
Antigo Testamento nos mostra que precisamos de um Salvador. E o Novo
Testamento nos mostra quem é este salvador: Jesus Cristo.
Jesus Cristo nos salvou. Ele foi o nosso
substituto. Ele se colocou em nosso lugar para tomar a maldição de
Deus. Nós somos malditos, mas Cristo tomou a nossa maldição. Cristo
sofreu por causa dos nossos pecados; Cristo foi castigado em nosso
lugar. Paulo fala sobre isso, quando ele escreve: “Cristo nos
resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gl 3.13). Veja o que nos diz a Lei: “Se
alguém houver pecado, passível da pena de morte, e tiver sido morto, e o
pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro
durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia; porquanto o
que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás
a terra que o SENHOR, teu Deus, te dá em herança” (Dt 21.22,23).
A nossa salvação está ligada com a cruz
de Cristo. A crucificação de Jesus Cristo não foi um castigo qualquer. A
crucificação foi uma morte maldita. Quem morreu assim foi maldito por
Deus e pelos homens. Pendurada no madeiro, entre o céu e a terra. Isso
quer dizer: maldito pelos homens e por Deus; nem os homens o aceitam,
nem Deus. Cristo foi maldito e a morte dele mostra isso.
Mas assim Ele devia morrer. Ele devia
tomar esta maldição para nos livrar da maldição. Pois Cristo estava
pendurado na cruz, não por causa de um pecado pessoal dele; Cristo
estava pendurado na cruz por causa do oficio dele. Sendo mediador entre
Deus e os homens, representando o povo de Deus, Cristo aceitou
voluntariamente o seu destino. Ele foi mandado para esta terra para
realizar este sacrifício na cruz. Isso foi o seu destino. Os profetas já
falaram sobre isso; os salmos já falaram sobre isso. Veja o Salmo 22,
35 ou salmo 69. Estes salmos já profetizaram sobre a morte do Cristo na
cruz. Jesus devia morrer assim para nos salvar. Devemos nos lembrar
sempre disso.
Notas
1 – Lutzer, Erwin. Os Brados da Cruz. Ed. Vida, São Paulo, SP, 2002: p. 16.
2 – Tozer, A.W. O Melhor de A. W. Tozer. Ed. Mundo Cristão, São Paulo, SP, 2007: p. 151 a 153.
3 – Berti, Marcelo. Conceito de redenção nas Escrituras. http://www.napec.net/reflexoes-teologicas/conceito-de-redencao-nas-escrituras/, acessado em 26/03/12.
Fonte: Napec
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