Por Josemar Bessa
A definição da palavra
contextualização na igreja hoje tende a ser obscura e muito aberta. É um
daqueles jargões populares que é definido de forma diferente a cada vez que
alguém o explica ou tenta defender.
Inicialmente,
contextualização geralmente começa por um ponto óbvio, que para atravessar
barreiras linguísticas e culturais de forma eficaz, precisamos traduzir e
ilustrar nossa mensagem de forma que seja adequada para a compreensão das
pessoas ou grupos que desejamos alcançar. Ou seja, que contextualização implica
em nada mais do que a tradução e ilustração – se fosse apenas isso toda a
discussão seria supérflua e a palavra contextualização não seria defendida com
uma paixão que as palavras, regeneração, expiação, justificação... não são.
Hoje ela significa
muito mais do que a tradução e ilustração das verdades bíblicas.
Num primeiro momento, a ideia
de contextualização ganhou força entre os evangélicos no campo da tradução da
Bíblia, e é fácil perceber o porque. Por exemplo, se você pregar a palavra de
Deus a uma cultura esquimó, onde eles não tem ideia do que são ovelhas, você
precisa ( pelo menos essa é a ideia ) encontrar uma maneira de explicar todas
as referências em termos pastorais que os esquimós possam entender. Por exemplo
o Salmo 100.3 – “Nós somos o seu povo e ovelhas do seu pasto” – Um esquimó
teria dificuldade de visualizar, algo que outros povos não teriam.
Então, em um caso real,
um grupo de tradutores da Bíblia trabalhando na língua esquimó traduziram a palavra
“ovelha” como “caribus”... em toda a Escritura. Apesar disso, como explicar
exatamente o Salmo 23 dessa forma? Seria mais fácil ensinar aos esquimós o que
são ovelhas. Eu por exemplo, nasci no Rio de Janeiro e não tinha contado nenhum
com neve na minha vida. Meu pai para me ensinar que Deus tornaria o meu
pecado mais alvo que a neve, simplesmente me ensinou o que era neve. E também
nunca vivi num contexto de contato com ovelhas mas simplesmente me ensinaram o
que era. Quando meu pai me ensinou que Cristo era o “leão da tribo de Judá” –
era óbvio que eu não tinha contato com o animal africano – mas foi mais fácil
me ensinar o que é um leão do que tentar "contextualizar" com os animais que eu
tinha contato. Então veja, olhamos só um exemplo de contextualização verbal que
por fim, obscurece mais do que esclarece. Mas o que temos hoje é algo muito
pior.
A estratégia
pós-moderna missional de contextualização sempre parece envolver abraçar os
valores da cultura alvo. Ouça aqueles que mais falam sobre “contextualizar”,
como se fosse um mantra de tão repetitivo, e veja que com a ideia de tornar o
evangelho “mais claro”, às vezes deliberadamente, às vezes inconscientemente,
envolve fazer com que o cristianismo pareça mais familiar e mais confortável e muito
menos contra-cultural.
Então o que é dito é
que a contextualização adequada envolve, pelo menos “temporariamente”, adotar
qualquer visão de mundo das pessoas ou grupos que queremos alcançar, de modo
que a partir desse ponto, possamos falar com eles como parte do grupo, e não
como estranhos ou estrangeiros.
Na verdade então, a
contextualização vai muito além de traduzir e ilustrar as verdades. Também vai
muito além de adotar a linguagem e as convenções sociais da cultura educada,
evitando certos tabus culturais. A contextualização vai muito além, e os “contextualizadores”
hoje estão tentando adaptar o conteúdo da mensagem do evangelho, tanto quanto
possível, a visão de mundo de qualquer subcultura que eles vejam como
público-alvo. Não só os leões marinhos ou caribus se tornam substituto para as
ovelhas; tolerância pós-moderna se torna um substituto aceitável para “amor
cristão”.
Para resumir – a idéia
não é deixar a mensagem da cruz e toda a ofensa da Verdade de Deus para o homem
natural mais clara. Porque ficaria até mais claramente ofensiva ao homem
natural.
Ouça atentamente o missiólogo típico, ou “plantador” de igreja que
defende a ideia da contextualização como a grande descoberta para “salvar” o
evangelho da irrelevância, e o que normalmente você vai ouvir é alguém
tentando desesperadamente tornar o evangelho mais palatável, agradável e que se encaixe no estilo
de vida do público alvo.
O entusiasmo
desenfreado sobre esse tipo de "contextualização" mudou drasticamente a
estratégia evangelística - tomando como
missão o como a igreja pode assimilar o mundo, tanto quanto possível; e acima
de tudo, como parecer legal para o mundo (com todas as suas sub-culturas – do esquimó
ao apaixonado por touradas, Vale-tudo, filosofia da tolerância...), para que
todos gostem de nós.
Essa realmente é a ideia
motriz que está por trás do “pregador sensível” e da abordagem da Igreja
Emergente e outras. Essa ideia de “contextualização” - ajustando o cristianismo ao mundo e seus
grupos específicos, crenças existentes, valores, tradições, entretenimento... foi a “contribuição”
mais “significativa” das últimas décadas para a estratégia da igreja. O que foi
péssimo.
Conseguiu e está
conseguindo tornar a igreja e o mundo indistinguível, indistinta na essência da
visão de qual é o objetivo do evangelho centrado na glória do Deus que é santo,
santo, santo. E, francamente, ineficaz como força transformadora, e sim se
tornando algo moldado pelo mundo e seus valores.
A mensagem tem de ser
comprometida, pois o mundo jamais vai achá-la legal! O homem odeia a verdade
por um motivo muito mais profundo do que nosso vocabulário. Jesus foi um homem
perfeito. Perfeito em amor e em tudo o mais que se possa imaginar. Por que Ele
foi odiado neste mundo? Contextualizou errado? Não usou a linguagem da cultura?
Escute Cristo: “O mundo
não vos pode odiar, mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más”. - João 7:7
O mundo, a não ser que
o homem seja regenerado, não suporta ouvir isso: “dele testifico que as suas obras são más”. Nunca vai achar isso legal!
Quando parecer legal é
um objetivo, já nos perdemos e teremos sérios problemas com a mensagem.
Fonte: Josemar Bessa
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