Por Davi Lago
Muitas vezes quando me perguntam se eu
acredito em Deus, eu respondo: “Depende de que Deus você está falando”.
Eu não creio, por exemplo, num “Deus banqueiro” que serve apenas para
resolver nossos problemas financeiros. Não creio também num “Deus” que
criou o mundo e o abandonou, como crêem os deístas; nem num “Deus
tapa-buraco” de nossas ignorâncias; nem num “Deus de indulgências” que
barganha favores para os homens. Se for um desses deuses que você tem em
mente, então eu sou o maior ateu do universo.
Há vários
deuses no supermercado religioso contemporâneo. Mas são todos tão
mesquinhos, que não vale a pena desperdiçar tempo falando sobre eles. Dá
agonia ter que aturar tanta frivolidade. Como é possível crer num
“Deus” que não zela por sua própria glória? Como crer num “Deus” que não
seja onipotente, perfeito e digno de louvor?
Não creio num “Deus” que possa ser
colocado numa caixa e estudado num laboratório. Não creio num “Deus” que
seja só amor sem justiça, ou que seja somente justiça sem amor. Não
creio num “Deus” inseguro, instável e mutável como o temperamento humano
ou a bolsa de valores. Não tenho fé para crer num “Deus” ilógico,
irracional e absurdo. Não creio num “Deus” que seja um mero passatempo e
entretenimento para uma vida alienada.
Não creio num “Deus” que não tenha o
controle do cosmo e fique amedrontado diante de demônios e outros
deuses. Não creio num “Deus” antiquado que precisa ser readaptado de
tempos em tempos. Não creio num “Deus” insensível ao sofrimento, ao
racismo e à escravidão. Não creio num “Deus” que serve apenas como um
conforto ilusório para minhas tristezas.
Não creio num “Deus” limitado, impotente
diante da natureza, que nada sabe sobre o futuro, como afirmam os
teístas abertos. Um “Deus” assim é digno de dó e piedade. Também não
posso crer num “Deus” antropocêntrico, que adora o homem e coloca a
vontade humana acima da sua. Não creio ainda num Deus impessoal como
acreditam os hindus. Esse “Deus” não passa de uma “energia superior”,
que não se relaciona com a humanidade e nem é consciente de si.
Perceba: não posso crer num “Deus” que
não passa de uma projeção humana, um “Deus” à imagem e semelhança do
homem, assim como afirmou Feuerbach. Nesse “Deus” eu não creio. Nem no
“Deus pai super-protetor” que Freud negou. Um “Deus” assim teria apenas
um monte de filhos mimados e insuportáveis.
Se foi um desses deuses que Nietzsche
afirmou que está morto, graças a Deus que ele está morto e não existe
mais. Aliás, ele nunca existiu. E que ninguém tenha a ideia insana de
reinventá-lo. No funeral desse “Deus”, não choraremos.
Creio que rejeitar esses falsos deuses é o primeiro passo da verdadeira fé.
Fonte: Napec
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