Nas últimas vezes que fui ao cinema me
dei conta de uma coisa interessante e atual: antigamente, ao começar
subir os créditos ou ao verem o “the end” projetado na tela todos
começavam a sair da sala, mas ultimamente a regra tem mudado. Todos
esperam para ver qual a “deixa” de continuidade da história. A ficha só
me caiu quando eu já estava na porta de saída e meu filho lá esperando,
segundo ele, o que ia acontecer depois do fim.
Talvez
Hollywood tenha notado a nossa dificuldade com o “fim” das coisas. Não
sei quantos homens aranha ainda vão existir ou ter suas histórias
reescritas, remodeladas, e outros “re’s” pela frente, mas de uma coisa
eu sei: nós temos sérios problemas com o “fim”.
Acredito que em grande parte este receio
em relação ao fim esteja intimamente ligado com o início e meio de
algumas histórias de vida. A lei da semeadura é implacável e imutável,
só se colhe aquilo que se planta. A esperança de mudar o meio da
história na busca de um fim melhor, ou então, tentar reescrever ou
refilmar um roteiro de vida marcado por decisões e escolhas erradas pode
ser a raiz do problema de algumas pessoas com o “fim”. A história ainda
não está no ponto de acabar ou então está tão boa que não precisava
terminar.
Então, quem não gostaria de ter este
poder? Incluir uma “deixa” de continuidade no final de suas vidas?
Estender sua película numa saga feita de capítulos longos e com isto
adiar o fim? Quando todos se preparam para sair da sala, subitamente, um
olho se abre, uma mão se levanta, uma carta chega pelo correio, é
encontrada embaixo de um móvel, alguém sussurra um nome, alguém morre em
seu lugar.
Curiosamente, segundo a Bíblia, o fim
das coisas é melhor que o início delas (Ec 7:8). Não tenho dúvidas de
que todos os bons roteiros foram escritos de trás para frente. Toda vez
que escrevo um conto o que primeiro me vem à mente é o seu fim. Todo o
resto trabalha em função dele. Este é o momento épico, crucial e
importante de toda boa história.
Vivemos submissos ao tempo, ou a noção
dele se você for mais filosófico. O ponto é que existe limite para quase
tudo e o fim invariavelmente chega. Ele pode ser apoteótico e alegre ou
catastrófico e infeliz, depende de como a história foi escrita.
Estão tentando, mas não vão conseguir
tirar a alegria do meu fim, ele foi escrito muito antes de eu existir.
Tenho a plena convicção de que o final desta história será bem melhor
que o começo, sem a necessidade de refilmagens ou de novos roteiros. Não
será necessário nenhuma “deixa” de continuação nem terá aspectos de uma
trilogia. É necessário que haja o fim para que venha o novo, do
contrário viveremos um eterno déjà vu.
Tudo passa, tudo acaba…
… menos o amor (isso é o que virá depois do fim).
Fonte: Napec
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