Por Johnny Bernardo
Em uma das várias comunidades
alternativas de Alto Paraíso (GO), um ritual um tanto quanto inusitado
chama a atenção – um grupo de adeptos liderados pelo “pastor” Veet
Prayas (32), e o “profeta” Gauthama (29), se reúnem semanalmente para
adorar seres do espaço sideral (os famosos “ETs”) ao som de música
eletrônica. Com encontros que variam entre 10 e 3 mil pessoas, a Igreja
do Trance Divino foi fundada em 2005 e em apenas um ano afirma ter
conquistado quase mil adeptos ao redor do Brasil – o número atual de
seguidores não é revelado. Há uma filial em Campinas (SP), dirigida pelo
“pastor” Gustavo Lima Caio, conhecido como DJ Guga. Inusitada, a Igreja
do Trance Divino teve passagem pelo programa do Jô Soares e divulga
seus encontros (“trances”) em redes sociais, como no Facebook.
A Igreja do
Trance Divino surgiu de uma brincadeira, explica o fundador. Na
“Radioativa”, de Alto Paraíso, Goiás, o radialista Cacau Gonzaga decidiu
falar de sua experiência espiritual com o trance. “Comecei com uma
história que o trance é uma divindade, que todos deveriam se reverenciar
quando ouvissem, meio que na zoeira, enquanto virava entre uma música e
outra. Um dia ao ver o então Papa João Paulo II acenando na janela,
percebi que ele dizia que Jujú iria voltar e que nós deveríamos nos unir
à espera dele. Decidi neste momento fundar a Igreja do Trance Divino
por entender que Jujú na verdade é Jah”, revela Gonzaga.
Particularidades
A ITD não é uma igreja no sentido
literal da palavra, embora possua local de reunião, líderes espirituais,
credo doutrinário mais ou menos formulado, coleta de ofertas etc. Seus
rituais e crenças giram em torno de ufologia, esoterismo, religiões
orientais etc. Esperam o retorno de Jujú – Jesus, segundo os adeptos -, e
são orientados a buscarem a elevação espiritual por meio da dança de
música trance (eletrônica). Apesar das particularidades, há quem
suspeite de que tudo não passa de uma brincadeira, mesmo – e das boas.
Não é o que pensam alguns adeptos, como a goiana Lane Paranhos. Nomeada
bispa da ITD, Paranhos conta um pouco de sua experiência com o Trance.
“Frequento a cena desde 2000 quando
morei na Europa. Já experimentei todos os lados. De Dj anônima que luta
pelo reconhecimento das pessoas, como a “frita” que pula durante dias
seguidos nos festivais. Durante anos vi muitos jovens se drogando,
fazendo de tudo para conseguir tocar em uma festa, chegando até a se
humilhar para alguns organizadores. Já toquei em grandes festivais, já
fui aplaudida, como também já fui passada pra trás. Na cena psy ou você é
um bom político ou você é um bom artista”, afirma Lane.
Ainda segundo a Dj – citada em uma matéria de Giselli Souza, e disponível no site
da ITD -, “é sempre bom ser exemplo para as pessoas que buscam uma
evolução espiritual. A galera que me conheceu em outras épocas fica bem
surpresa com a minha nova maneira de viver. Com a Igreja, pretendo
semear isso em toda cena.” Assim como Lane, outros adeptos acreditam
fazerem parte (de fato) de uma organização com objetivos espirituais,
como mostra um vídeo sobre a ITD.
Similaridade
O uso da música eletrônica nos encontros
da ITD, apesar de estranho ao cristianismo tradicional, recentemente
vem atraindo novas igrejas evangélicas e até mesmo grupos católicos,
como mostra a quarta e última reportagem
da série “Fé sob medida”, do SBT. Na reportagem, o repórter Sérgio
Utsch apresenta a Cristoteca – um espaço criado em São Paulo por padres
onde, ao invés de missa, jovens católicos dançam ao som de música
eletrônica. Em Estocolmo, Suécia, uma igreja luterana também chamou a
atenção da mídia ao promover seu primeiro culto techno. Segundo os
organizadores, “esta foi apenas uma tentativa bem sucedida de fazer
religião e tornar a igreja interessante para jovens”.
Fonte: Napec
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