quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

SOLIDÃO, O VAZIO DE RELACIONAMENTOS


Por Rev. Hernandes Dias Lopes

A solidão é o apanágio da geração contemporânea. Somos experimentados no relacionamento com as máquinas e inexperientes no trato com as pessoas. Vivemos cercados de gente e ao mesmo tempo, como uma ilha existencial, somos profundamente solitários. A solidão não é simplesmente uma questão de viver no ostracismo, à margem dos relacionamentos interpessoais, mas uma atitude interna, uma inadequação para esses relacionamentos. Há indivíduos solidários que vivem no meio da multidão, mas que não conseguem construir pontes de contato com as pessoas. Quando um dos grandes vultos da música popular brasileira, Roberto Carlos, foi interrogado acerca da pior coisa que lhe poderia acontecer, ele respondeu sem hesitar: a solidão. A solidão atinge grandes e pequenos, ricos e pobres, doutores e analfabetos.

Emile Durkhaim, ínclito sociólogo francês, chegou a afirmar que o suicídio, a maior agressão contra si mesmo, é uma inadequação social. É a incapacidade de inserir-se no convívio social e relacionar-se com as pessoas de modo a criar vínculos de amor e amizade. Vivemos numa sociedade doente. Na mesma proporção que cresce a população do mundo, aumenta a solidão das pessoas. Os grandes centros urbanos fervilham de pessoas que se acotovelam todos os dias em imensas aglomerações humanas, mas essas pessoas são rostos sem nome e sem identidade: uns que vão, outros que vêm e todos que passam.

A solidão não está apenas do lado de fora da família; está também dentro do lar. A televisão ocupou o lugar da conversa ao redor da mesa. A internet preencheu o espaço do diálogo cheio de intercâmbio das idéias. O telefone celular nos conecta com o outro, do outro lado da linha, mas nos afasta daqueles que estão ao nosso derredor. Vivemos no paraíso das comunicações virtuais, mas transformamos esse jardim cheio de raras belezas num deserto de relacionamentos vazios e carente de significado. Transformamos o palácio da cibernética na masmorra da solidão.

Não precisamos jogar pela janela as conquistas da ciência. Não precisamos viver paquerando nostalgicamente o passado que se foi. Mas, precisamos urgentemente, preservar os valores do passado, usar com racionalidade as conquistas do presente e estabelecer metas elevadas de comunhão para o futuro. Não podemos transformar o conforto da tecnologia em armas mortíferas contra nós mesmos. É tempo de buscarmos as primeiras coisas primeiro. É tempo de realinharmos nossas prioridades de conformidade com a prioridade de Deus. É tempo de entender que devemos adorar a Deus, amar as pessoas e usar as coisas em vez de amarmos as coisas, usarmos as pessoas e nos esquecermos de Deus. Pessoas valem mais do que coisas. Família é mais importante do que sucesso. Relacionamento sadio na família, na igreja, no trabalho e na escola é melhor do que a solidão na masmorra luxuosa da sofisticada tecnologia contemporânea.

Deus não nos criou para a solidão, pois fomos feitos à sua imagem e semelhança. Deus é Triúno e plenamente feliz em si mesmo. As três pessoas da Trindade relacionam-se em perfeita harmonia. O projeto de Deus é que vivamos em profunda comunhão com ele e uns com os outros. A solidão é uma negação dessa semelhança divina, uma conspiração contra essa vocação celestial, uma oposição radical contra esse sublime desiderato. Não somos apenas uma gota desse vasto oceano da humanidade. Não somos apenas um rosto sem nome no meio da multidão; somos alguém especial, criados de forma especial, para um propósito especial, para vivermos de forma abundante, maiúscula e superlativa a realidade bendita da comunhão íntima e profunda com Deus, com a família e com a igreja.

3 comentários:

  1. Pr. Silas, estou passando nos blogs amigos para desejar um natal de felicidade e simplicidade, do Deus que se fez simples por nós, justamente para que pudessemos re-encontrar o caminho da simplicidade da vida e com isso termos novamente plenitude que provém do Pai.

    Paz e bem

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  2. Acabei de ler a mensagem e fiquei profundamente emocionada, pois hoje vivo um momento desses.
    Conheço a Cristo e sei do sacrifício que Ele fez por mim, mas infelizmente não consigo me libertar da profunda tristeza que sinto no meu íntimo.
    Espero que Deus me veja como filha especial e que estenda suas mãos para mim, pois do contrário não sei o que será da minha pessoa.

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  3. Graça e paz Julia.
    O que você está falando é algo que conheço muito bem, pois eu convivo com pessoas que se sentem como você. São pessoas que conhecem a Cristo, mas passam por momentos de grande depressão, ao ponto de acharem que não são amadas por Deus. Nesses momentos de crise as pessoas que não conhecem o que é depressão e solidão, acham que a outra pessoa está inventando, ou fazem de conta que aquilo tudo não é nada. Mas na verdade é um grande sofrimento, tanto para a pessoa que está passando pela crise, quanto para as pessoas que querem ajudar. Mas não há nada que através da oração e de um braço amigo, uma boa conversa não ajudem em muito a pessoa sair da crise. Muitas vezes é necessário pedir ajuda de um profissional, mas acima de tudo, Deus é o melhor remédio.
    Estarei orando por você para que Deus lhe ajude nesse momento tão difícil.
    Fique na Paz!
    Pr Silas

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