terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Marcas de uma Igreja Saudável - 2 Palavra


Por: Rubens Muzio

Dizem que o sangue de John Bunyan era biblino: se cortassem seu braço iriam escorrer versos bíblicos ao invés de sangue. Sua vida encharcada pela Palavra inspirou a escrita do Peregrino, o livro mais vendido depois da Bíblia, enquanto esteve prisioneiro por 12 anos. Precisamos de crentes desta estirpe: gente que conheça toda a Bíblia, que medite nos seus princípios, memorize vários dos seus capítulos chaves e aplique a Palavra do Senhor aos seus diversos pensamentos, sentimentos, relacionamentos de maneira que ela vivifique, forme e transforme. João Calvino, nas suas Institutas da Religião Cristã, ensina que a primeira marca da verdadeira igreja é a fidelidade à Palavra de Deus. Ele ensinava que "onde quer que encontremos a Palavra de Deus fielmente pregada e ouvida... ali, não se pode duvidar, está uma igreja de Deus" (Brown, 68-69). A Palavra é indispensável para o amadurecimento cristão. Ela nos dá o conhecimento de Deus e é a fonte da nossa direção que vem de Deus (Pv 3:5-6).

A Palavra define a conduta cristã. Com freqüência os cristãos tomam decisões nas suas famílias, casamentos ou profissões que vão contra o que está escrito na Bíblia. Por vezes, eles sabem o que a Bíblia diz. Por que não seguiram suas instruções? Eles dizem, eu senti que deveria fazer isso ou achei a ordem Bíblica muito rígida. E assim continuam buscando a vontade de Deus no coração, mas desprezando a vontade de Deus revelada nas Escrituras. Ou a Bíblia nos sentencia ou ela nos confirma. Porque a Palavra de Deus, como fielmente registrada nas Santas Escrituras, é normativa. Os Reformadores firmaram o seu credo: Sola Scriptura. Martinho Lutero desafiou Roma e os nobres germânicos por causa da Palavra.

O texto de 2 Tm 3:16,17 explica algo muito importante. A Palavra de Deus é "inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra". Encontra-se nele que a Palavra de Deus foi dada com dois propósitos promordiais, a perfeição e a habilitação. As palavras perfeito e habilitado tem a ver com "saber" ou "ser e fazer". Ambas apontam não para o conteúdo, mas sim para a aplicação da Palavra à nossa vida. Ou seja: 1) Caráter: Quem ele é. Para que o cristão seja perfeito (artios) apto, completo, suficiente. 2) Comportamento: o que ele faz. Para que ele se torne habilitado (exertismenos) completamente trajado, provido, equipado para toda boa obra.

Pode-se aplica a Palavra de quatro maneiras diferentes a fim de produzir mudança: Com relação a crença: 1) Ensino (didaskalian) ensinar, instruir. Ocorre quando explicamos a Palavra (Rm 15:4); 2) Correção (epanorthosin) "tornar novamente reto", levantar aqueles que caíram, corrigir quem está no erro. Com relação ao comportamento: 3) Educação na justiça (paideian) criação da criança, guiar no caminho. Castigo e disciplina estão incluídos (Ef 6:4, Hb 12:5,8); 4) Repreensão (elegmos) convicção, punição, censura a um pecador. Orlando Costas nos lembra que esta passagem põe as Escrituras no centro da expansão missionária. Ela não só se destaca na comunicação da mensagem da salvação, como também no processo de maturação interna ("perfeito"), de reflexão (ensinar, redargüir, corrigir, instruir) e de encarnação profética ("na justiça para toda boa obra") (Costas, crescimento). Conforme D. L. Moody escreve: "A Bíblia não foi dada para nos dar informação, mas para operar transformação".

A importância da Escritura para o tema "conhecer a Cristo" nunca pode ser superestimada. Não é que simplesmente não tenhamos um conhecimento confiável de Cristo fora da Bíblia; a interpretação claramente cristã de Jesus Cristo – que é, no final das contas, o evangelho – é também mediada primariamente na Escritura e através dela (McGrath, ano, pág).

Como João Calvino coloca, "não temos que lidar com um Cristo despido, mas com um ‘Cristo que é vestido com o evangelho’. Temos que lidar tanto com a pessoa de Cristo quanto com a interpretação de Cristo que encontramos no Novo Testamento" (Calvino, ?). Vários reformadores representavam uma geração de líderes que valorizaram a Palavra de Deus acima de todos os outros livros. Para Calvino, tudo era exposição bíblica. Para se ter uma idéia, ele foi expulso pelo Concílio da cidade de Genebra no domingo de Páscoa, em 1538, após pregar um sermão no livro de Deuteronômio. Ele retornou três anos depois, em Setembro de 1541, e pregou seu primeiro sermão no versículo seguinte! Eu tenho a coleção dos sermões de João Calvino. Ele pregou 200 sermões no livro de Deuteronômio, 186 sermões em Coríntios, 43 sermões em Gálatas, 123 sermões em Isaías, 159 sermões em Jó, e assim por diante.

Por mais que destaquemos a importância fundamental do estudo e meditação da Palavra para nossa vida cristã, ainda assim seria insuficiente. Como o registro fidedigno da revelação, a Bíblia tem um papel inquestionável no crescimento do povo de Deus. A vida cristã se nutre com a leitura e ensino das Escrituras. Um dos meus professores no Westminister Theological Seminary havia memorizado uma grande parte do Novo Testamento e vários capítulos do Velho Testamento (ele preferia não dizer o quanto para não provocar surpresas nos outros e o levassem a se envaidecer). Como ele fazia isso? Repetindo os versículos, durante as 2 horas no carro, saindo de casa para a igreja e de volta para casa, no trânsito congestionado da Filadélfia, Pensilvânia. George Miller, por exemplo, leu mais de 200 vezes a Bíblia, sendo que 100 dela depois dos seus 70 anos de idade, 4 vezes por ano, enquanto orava. Nós temos centenas de exemplos de santos e sábios na história da igreja que valorizaram o conhecimento, memorização, meditação, proclamação e aplicação da Palavra de Deus acima de tudo o mais na vida e realmente encontraram alegria, paz e prazer para viver.

Fonte: Sepal

2 comentários:

  1. Logo a Bíblia, que é o padrão de conduta moral da igreja, está sendo descartada de muitas "igrejas".

    Tirando a pregação das Escrituras, o que fica? Fica apenas uma "igreja" sem padrão algum de moralidade, uma igreja sem regras e sem direção.

    PS: notei que inseriu o código do selo da Sociedade Calvinista, mas ela não está fazendo um link para a página da Sociedade. Aconselho a copiar todo o código e colá-lo novamente.

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  2. Graça e paz Heitor.
    A Bíblia deixou de ser regra de fé e prática, prumo da verdade na vida de muitas igrejas. O que vale hoje é a experiência, é o culto sensitivo não mais o culto racional.
    Estamos precisando com urgência de um grande avivamento em nosso País.

    Obrigado pela diga do link, já vou copiá-lo novamente.

    Fique na Paz!
    Pr. Silas

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