"Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, seja esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos. Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.43-45). Se, no mundo, as relações de poder estão intrinsecamente ligadas à dominação e ao auto-enriquecimento, na Igreja não é assim, disse Jesus.
Só posso entender o verbo é , neste caso, como uma declaração de propósitos, pois na prática eclesial é mais comum ver o contrário. Falando francamente, bispos, pastores e demais líderes eclesiásticos são muito mais parecidos com governantes humanos do que com Jesus Cristo, no que se refere ao exercício do poder. Eles têm títulos honoríficos, possuem status especial na Igreja e se assenhoreiam do rebanho e das instituições eclesiais. As relações dominadoras de poder na Igreja, legitimadas pelo conceito sacramental de ordenação, são o sintoma de que a Reforma ainda não foi completada – o sacerdócio universal ainda é teoria e esperança.
Não! Acalme-se. Não sou contra a ordenação ao sagrado ministério. Sou contra, e por razões bíblicas muito fortes, a vinculação entre ordenação ministerial e inserção na estrutura de poder denominacional ou eclesiástica. O problema do conceito "sacramental" de ordenação é que, ao invés de estabelecer uma ordem para o ministério enquanto serviço, estabelece uma ordem do ministério para exercer o poder eclesiástico. Já está mais do que na hora de reformarmos corajosamente a doutrina e a prática das relações de poder na Igreja, especialmente aquelas relacionadas ao ministério ordenado. Sei que isto é complicado, pois afeta a concepção de "governo" de Igreja, mas é possível começar a renovação sem entrar na discussão mais forte do sistema de governo eclesiástico – um passo que virá depois...
Por onde começar? Em primeiro lugar, retirando de nós, ministros ordenados, os privilégios da função que nos distinguem dos demais crentes (o que varia de instituição eclesiástica para instituição eclesiástica): por exemplo, sermos disciplinados apenas por nossos pares, sermos tratados com termos sacerdotais negados aos demais crentes, a vinculação direta do ofício ao exercício do poder institucional e, em vários casos, não sermos membros da igreja local. Ministro é quem serve, não quem é servido. Se queremos, de fato, seguir o exemplo de Jesus, precisamos estar colocados em outro lugar dentro das estruturas de poder eclesiástico: um lugar de serviço e não de domínio. Isto não quer dizer que pessoas ordenadas não possam exercer cargos institucionais, mas apenas que o seu acesso aos mesmos seja idêntico ao dos demais membros da igreja.
Em segundo lugar, abandonando o padrão hierárquico militarista na instituição, com a adoção de um padrão com participação ampla nos processos decisórios e com pequeno grau de assimetria nas relações de poder. A máxima, derivada da teologia bíblica e com a mediação de teorias políticas, seria: o máximo de co ordenação possível, com o mínimo de sub ordinação necessário. Ou seja, quanto menos hierarquia, melhor. Quanto mais acesso direto e pleno aos processos de planejamento, tomada de decisão e ação, melhor. Não basta aumentar o número de assembléias ou alegar que a assembléia é soberana na tomada de decisões. Assembleísmo não é o mesmo que democracia! O passo decisivo é a abertura do caminho para a participação direta no planejamento eclesial, na definição orçamentária, na avaliação continuada dos serviços da igreja. Pode-se até chamar de assembléias as reuniões que tratarem dessas questões, isso não importa. O que importa é descentralizar os processos decisórios e as cadeias de comando – tanto na igreja local como nas estruturas denominacionais.
É possível? Não só é possível como, a meu ver, biblicamente necessário. Teremos coragem para seguir o exemplo de Jesus?
Júlio Zabatiero / Vida Nova Via: Emeurgência
Só posso entender o verbo é , neste caso, como uma declaração de propósitos, pois na prática eclesial é mais comum ver o contrário. Falando francamente, bispos, pastores e demais líderes eclesiásticos são muito mais parecidos com governantes humanos do que com Jesus Cristo, no que se refere ao exercício do poder. Eles têm títulos honoríficos, possuem status especial na Igreja e se assenhoreiam do rebanho e das instituições eclesiais. As relações dominadoras de poder na Igreja, legitimadas pelo conceito sacramental de ordenação, são o sintoma de que a Reforma ainda não foi completada – o sacerdócio universal ainda é teoria e esperança.
Não! Acalme-se. Não sou contra a ordenação ao sagrado ministério. Sou contra, e por razões bíblicas muito fortes, a vinculação entre ordenação ministerial e inserção na estrutura de poder denominacional ou eclesiástica. O problema do conceito "sacramental" de ordenação é que, ao invés de estabelecer uma ordem para o ministério enquanto serviço, estabelece uma ordem do ministério para exercer o poder eclesiástico. Já está mais do que na hora de reformarmos corajosamente a doutrina e a prática das relações de poder na Igreja, especialmente aquelas relacionadas ao ministério ordenado. Sei que isto é complicado, pois afeta a concepção de "governo" de Igreja, mas é possível começar a renovação sem entrar na discussão mais forte do sistema de governo eclesiástico – um passo que virá depois...
Por onde começar? Em primeiro lugar, retirando de nós, ministros ordenados, os privilégios da função que nos distinguem dos demais crentes (o que varia de instituição eclesiástica para instituição eclesiástica): por exemplo, sermos disciplinados apenas por nossos pares, sermos tratados com termos sacerdotais negados aos demais crentes, a vinculação direta do ofício ao exercício do poder institucional e, em vários casos, não sermos membros da igreja local. Ministro é quem serve, não quem é servido. Se queremos, de fato, seguir o exemplo de Jesus, precisamos estar colocados em outro lugar dentro das estruturas de poder eclesiástico: um lugar de serviço e não de domínio. Isto não quer dizer que pessoas ordenadas não possam exercer cargos institucionais, mas apenas que o seu acesso aos mesmos seja idêntico ao dos demais membros da igreja.
Em segundo lugar, abandonando o padrão hierárquico militarista na instituição, com a adoção de um padrão com participação ampla nos processos decisórios e com pequeno grau de assimetria nas relações de poder. A máxima, derivada da teologia bíblica e com a mediação de teorias políticas, seria: o máximo de co ordenação possível, com o mínimo de sub ordinação necessário. Ou seja, quanto menos hierarquia, melhor. Quanto mais acesso direto e pleno aos processos de planejamento, tomada de decisão e ação, melhor. Não basta aumentar o número de assembléias ou alegar que a assembléia é soberana na tomada de decisões. Assembleísmo não é o mesmo que democracia! O passo decisivo é a abertura do caminho para a participação direta no planejamento eclesial, na definição orçamentária, na avaliação continuada dos serviços da igreja. Pode-se até chamar de assembléias as reuniões que tratarem dessas questões, isso não importa. O que importa é descentralizar os processos decisórios e as cadeias de comando – tanto na igreja local como nas estruturas denominacionais.
É possível? Não só é possível como, a meu ver, biblicamente necessário. Teremos coragem para seguir o exemplo de Jesus?
Júlio Zabatiero / Vida Nova Via: Emeurgência
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