Por Clodoaldo Machado
Desde que o pecado adentrou a
humanidade, o medo passou a fazer parte dela. Adão e Eva, tão logo
ouviram a voz de Deus após terem desobedecido a Ele, tiveram medo (Gn
3:10). Desde então temos convivido com o medo. Alguns têm medo de uma
coisa, outros de outra. Há pessoas que têm medo da violência dos homens,
outros têm medo de doenças, outros têm medos espirituais, tais como de
ataques de demônios. Há pessoas que podem dizer que não têm um
determinado medo, mas afirmam ter outro. Assim, os tipos de medo variam
de pessoa para pessoa, e todos padecem de alguma espécie dele. Mesmo
aqueles que afirmam não ter medo de nada defendem sua própria vida,
demonstrando assim um medo de perdê-la.
Não é difícil
reconhecermos que há vários tipos de medo e que todos são acometidos
por, pelos menos, um destes tipos. O que é difícil é reconhecermos que
há um tipo específico de medo que acomete todos os seres humanos. Há uma
modalidade específica, da qual nenhum ser humano está livre. Esta é o
medo do homem. Nem todos estão dispostos a admitir, mas a Bíblia afirma
que todos tememos o homem. Não é um temor da violência do homem, como já
foi mencionado aqui; é um temor do pensamento do homem.
Notemos,
por exemplo, os adolescentes. Eles se vestem, falam, se comportam,
escolhem seu entretenimento como resultado da pressão de outros sobre
eles. A decisão de ser membro do grupo ou o medo de ser diferente é uma
demonstração clara de que eles temem o homem. Este temor exerce controle
sobre suas vidas, ainda que não vejam desta forma ou não admitam isso.
Não
é diferente com os mais velhos. Nós também estamos o tempo todo sendo
pressionados pelo temor do pensamento das outras pessoas a nosso
respeito. Quando falamos de moda, por exemplo, tememos nos vestir de
maneira a parecermos ridículos para os outros, assim os outros
determinam como temos que nos vestir. Não estou estimulando que devemos
nos vestir sem nos preocuparmos com os outros, mas apenas demonstrando
que temos medo do pensamento dos outros. Nos preocupamos o tempo todo
com o que estão pensando de nós. Isso é temer o homem. Temos que
admitir: existem medos variados, mas o medo do pensamento do homem
acomete a todos.
O temor do homem é resultado do pecado e Jesus
afirmou que veio nos libertar do pecado (Jo 8:32,36). Assim, a obra da
nossa salvação nos transforma de tal maneira que temos condições de
vencer o temor do homem. Além disso, a Bíblia é enfática em nos dizer
que devemos temer somente a Deus. Tudo que fazemos então deve ser pelo
temor a Deus, tudo deve ser feito de maneira que Ele seja glorificado.
O
ensino de Jesus em Mateus 23:1-12 nos ajuda a lidar com o medo que
temos das outras pessoas. Jesus estava no templo em Jerusalém, dias
antes de sua morte, e passou a falar às multidões e aos seus discípulos.
Ele falou que eles deveriam fazer e guardar o que os escribas e
fariseus falavam, mas não deveriam imitá-los em suas obras, porque
falavam, mas não faziam (vv.1-3).
Jesus define a motivação dos escribas e fariseus no versículo 5: Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens...
Os escribas e fariseus tinham medo dos homens, certamente não admitiam,
mas temiam o julgamento dos homens. Jesus afirma que não devemos agir
como eles, por isso temos que admitir que nossa tendência é a mesma:
fazemos as coisas para sermos vistos pelos homens. Todo mandamento na
Bíblia nos faz atentar para o fato de que somos susceptíveis a
desobedecê-los. Se Jesus afirma que não devemos ser como os escribas e
fariseus é porque temos a tendência de sermos como eles. Devemos
observar as palavras de Jesus sobre os escribas e fariseus e ter o
cuidado de não agirmos como eles. Podemos enumerar três cuidados que
devemos ter para que nosso temor seja dirigido somente a Deus.
Primeiro,
devemos ter cuidado com a demonstração de espiritualidade aos homens.
Ainda no versículo 5 Jesus diz que eles alargavam seus filactérios e
alongavam suas franjas. Deus havia ordenado que a Lei fosse atada
perante os olhos e na mão (Dt 6:8). A ordem de Deus era um simbolismo de
obediência total. A Lei na cabeça, entre os olhos, simbolizava todo
pensamento voltado para Deus, e na mão todas as atitudes. Para isso, foi
criada uma caixinha de couro onde quatro textos da Lei seriam
colocados. Esta caixinha era o filactério. Deus também ordenou que se
atassem borlas nos cantos das vestes para que se lembrassem de sua Lei
(Nm 15:39). Os líderes judeus transformaram estes dois mandamentos de
Deus em uma tradição vazia de significado, que servia apenas para manter
as aparências perante as pessoas. Por isso, eles aumentavam o tamanho
de seus filactérios e alongavam as franjas de suas vestes, assim
pareceriam mais espirituais.
Temos a mesma tendência. Em Mateus 6:1 Jesus nos advertiu: Guardai-vos de exercer a vossa justiça perante os homens, com o fim de serem vistos por eles.
Quando nos convertemos e somos incluídos na Igreja do Senhor Jesus,
corremos o sério risco de fazermos as coisas para sermos vistos pelos
outros. Queremos parecer espirituais para nossos irmãos. Os crentes não
querem que outros saibam que eles assistem a novelas, ou veem qualquer
outra coisa, tanto na TV quanto na internet, porque isso os
envergonharia perante as pessoas. Na verdade acabam mais preocupados com
o pensamento dos outros do que com o de Deus. Muitas vezes, vivemos
administrando nossa vida espiritual para os outros e não para Deus.
Cuidemos para que o zelo por nossa vida espiritual não seja para sermos
vistos pelos outros.
Segundo, Jesus nos adverte a ter cuidado com
a busca por posição perante os homens. No versículo 6, ele afirma que
os escribas e fariseus amavam o primeiro lugar nos banquetes e nas
sinagogas. Eles queriam ser sempre o centro das atenções, gostavam de
ter o respeito das pessoas. Os próprios discípulos também viviam
disputando para ver quem era o mais importante. Tiago e João, por meio
de sua mãe, pediram a Jesus para sentarem um à direita em o outro à
esquerda de Jesus quando este viesse em seu reino (Mt 20:20-24); e os
outros ficaram indignados com eles, pois também se achavam dignos destes
lugares. Assim somos nós, queremos posição entre os homens. Se não
tivermos o reconhecimento das pessoas, tememos o que pensarão de nós.
Não gostamos de ser diminuídos em nada. Quantos de nós não se sentem
ofendidos porque nossa data de aniversário não apareceu no boletim da
igreja? Muitos são capazes de entrar em atrito com o secretário da
igreja por causa disso. Por que isso acontece? Porque gostamos de estar
em evidência, amamos os primeiros lugares. Gostamos de ver nosso nome
aparecer. Jesus afirma que devemos lutar contra isso. Precisamos ficar
satisfeitos quando, por algum motivo, somos diminuídos. Isso faz com que
Deus seja engrandecido em nossas vidas.
Em terceiro lugar, Jesus
nos adverte a ter cuidado com a procura de títulos reconhecidos pelos
homens. No versículo 7, Jesus diz que os escribas e fariseus gostavam
das saudações nas praças e de serem chamados mestres pelos homens. Eles
adoravam quando as pessoas se referiam a eles por seus títulos. Assim
como eles, nós também temos paixão por títulos. Nosso coração deseja que
nosso nome seja aumentado com um título. O título eleva o ego, nos
engrandecemos com ele. Com os títulos nos sentimos superiores aos
outros. Sem perceber, ficamos distantes do que Paulo escreve em Fl 2:3: "Cada um considere os outros superiores a si mesmos".
Somos
chamados para sermos servos. Servos sequer tinham nomes, não
perguntavam de quem eram filhos, não queriam saber sobre seu passado,
apenas designavam-lhes tarefas para serem executadas. Por que muitos
crentes não querem executar trabalhos simples na igreja? Porque isso não
lhes confere nenhum título. Gostamos de fazer coisas que aparecem,
muitos querem ser chamados de professores, pastores, líderes. Sem
perceber, nos assemelhamos muito aos escribas e fariseus. Devemos ter
cuidado para não desejarmos ser chamados mestres pelos homens. Tememos
as pessoas e queremos que nos vejam por meio dos títulos.
Vemos
nestas palavras de Jesus a luta que devemos travar contra nós mesmos.
Somos tomados pelo medo dos homens. Temos medo de que pensem que não
somos tão espirituais quanto queremos que eles pensem. Temos medo de não
parecermos importantes para eles. Queremos ter uma posição elevada
perante eles. Desejamos ser respeitados pelos homens e temos o medo de
não sermos reconhecidos por eles. Assim amamos os títulos. Isso tudo
resume o temor para com o homem.
Todos padecem deste mal, mas em
Cristo recebemos tudo o que precisamos para vencê-lo. E a vitória virá
quando entendermos que fomos chamados para sermos diminuídos. O maior
para Deus será o servo (v.11), literalmente o escravo, o mais baixo em
uma casa. Somos chamados para humilharmos a nós mesmos (v.12). A estes,
Deus exaltará. Reconheçamos nosso medo dos homens, lutemos contra ele
para que temamos somente a Deus. O caminho para isso é a humildade!
Fonte: Editora Fiel
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