A disputa e distorção acerca da Doutrina
da Justificação pela Fé não é algo novo. Não é algo iniciado e
propagado pelo Movimento da Fé e suas igrejas neopentecostais. Na
verdade, essa doutrina tem sido atacada e distorcida ao longo dos anos, e
esse ataque não é, em essência, uma agressão contra personagens
evangélicos que defendem tal doutrina. Antes, é um ataque direto contra o
coração do próprio Evangelho de Cristo. E é exatamente isso que Charles
Haddon Spurgeon, conhecido como o príncipe dos pregadores, em seu
sermão de número 1239, afirma ao fazer uma defesa da doutrina
apresentada por Moody e por Sankey, com a seguinte afirmação:
Por favor, notem que esta não é uma disputa destes senhores contra os nossos amigos senhores Moody e Sankey sozinhos! É uma disputa entre esses opositores e todos nós que pregamos o Evangelho! [1]
Alderi Souza de Matos fez a seguinte declaração, sobre essa doutrina:
Em nossos dias, a verdade bíblica da justificação pela fé é desconhecida ou mal-compreendida por muitos evangélicos. No entanto, ela foi a questão central levantada pela Reforma Protestante do século 16. Assim como o “sola Scriptura” foi denominado o “princípio formal” da Reforma, porque a Bíblia é a fonte de onde procedem todas as autênticas doutrinas cristãs, a justificação mediante a fé é o seu “princípio material”, porque envolve a própria substância ou essência do que se deve crer para a salvação. [2]
Com isso, podemos afirmar que o correto
entendimento e aplicação dessa doutrina é fundamental para a correta
compreensão sobre a salvação. Muito embora vivamos em um país que se
orgulha pelo fato da comunidade evangélica estar crescendo, ao mesmo
tempo, boa parte dessa mesma comunidade nunca ouviu falar sobre essa
doutrina e outro tanto tem um entendimento distorcido ou inadequado da
mesma.
John Piper, sobre essa doutrina, afirmou que “este é o centro do cristianismo”.
Isso é diferente de todo islam, todo xintoísmo, todo budismo, todo hinduísmo, todo secularismo, todo animismo, ninguém, nenhuma religião tem isso: um filho de Deus e algo chamado justificação pela fé somente. Aqui estamos, então, nesse tribunal, culpados, pecadores, todos nós, e o juiz dá o veredicto: JUSTO! [3]
A justificação pela fé é uma das
principais doutrinas existentes na Sagrada Escritura, se não for a mais
importante. Nessa doutrina encontramos várias outras interligadas. A sua
importância é tal, que importantes homens de Deus na história se
referiram a ela da seguinte maneira:
“o tema principal do qual fluem todas as outras doutrinas” (Martinho Lutero)“o principal ponto de apoio sobre o qual se articula a religião [...] Interpretamos a justificação simplesmente como a aceitação pela qual Deus nos recebe em seu favor como homens justos, e dizemos que ela consiste na remissão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo” (João Calvino – Institutas 3.11.1)“a forte rocha e o fundamento da religião cristã” (Thomas Cranmer)“um ato de Deus pelo qual ele declara os pecadores justos somente pela graça, somente por meio da fé, somente por causa de Cristo” (James Montgomery Boyce)“o articulus stantis et cadentis ecclesiae – o artigo pelo qual a igreja se sustenta ou cai” (Reformadores Protestantes)
A Reforma Protestante ficou conhecida
pelos cinco “solas” (Sola Scriptura: Somente a Escritura; Sola Gratia:
Somente a Graça; Sola Fide: Somente a Fé; Solus Christus: Somente
Cristo; Soli Deo Gloria: Somente Glória a Deus).
Desses cinco “solas”, que são
considerados os princípios da Reforma Protestante, três estão
diretamente relacionados com a Doutrina da Justificação pela Fé.
Vejamos:
- SOLA GRATIA. A Graça é fonte da justificação de Deus.
- SOLA FIDE. A Fé é o instrumento, o meio, dessa justificação.
- SOLUS CHRISTUS. Jesus Cristo é o fundamento sobre o qual esta justificação está alicerçada.
Assim sendo, o homem é justificado mediante a Fé, que é derramada pela Graça de Deus, por meio de Jesus Cristo somente.
Ainda, os outros dois princípios da Reforma estão, indiretamente, relacionados com esta doutrina. Vejamos:
- SOLA SCRIPTURA. Somente a Escritura revela o meio, a fonte, o fundamento e o objetivo desta Doutrina.
- SOLI DEO GLORIA. Somente Deus é glorificado por essa Doutrina.
Talvez pelo fato de considerável parte
da igreja estar afastada da Escritura é que esta doutrina seja atacada,
incompreendida e esquecida. E por essa razão, Deus não tem sido
glorificado como deveria na obra da salvação.
Se lembrarmos que a fé é um dom de Deus
(Rm 12:3,6) e o conceito de Graça é de um presente dado sem o
merecimento de quem recebe (Ef 2:8,9), perceberemos que tanto a fé como a
graça, essenciais e imprescindíveis à salvação, são dádivas de Deus e
por isso só o Senhor é merecedor de glória pela salvação humana. Porém,
como o homem é orgulhoso por natureza, sempre busca criar novos meios e
fórmulas religiosas para se chegar à salvação.
O conceito de justificação, apresentado
no livro aos Romanos, é diferente do conceito popular de justificação.
Na ideia popular, justificado é alguém que esteve diante de um tribunal e
foi considerado inocente pelo fato de não haver cometido crime. Então,
tal pessoa é inocentada porque é inocente. Todavia, o conceito de
bíblico de justificação traz, em si, a ideia de “ser declarado justo”. E
ser declarado justo é diferente de ser justo. Aqui, encontramos a ideia
de uma declaração, e não de uma mudança interior. A mudança interior é o
segundo passo que o Senhor trata de resolver, e a isto chama-se de
santificação posicional.
Deus, em Sua graça, declara justo o pecador. Então, não é uma mudança do estado interno, mas uma declaração da parte de Deus.
Em Romanos, podemos utilizar duas passagens para ilustrar o sentido de justificação. São elas Romanos 4:25 e 5:16,18.
- Rm 4:25, 5:18 (dikaivwsin – dikaíosin): Justificação, vindicação, absolvição que traz vida.
A culpa do pecado do homem gerada pela
herança de Adão, que lhe proporcionou uma natureza caída, recai em forma
de castigo sobre Jesus (Is 53). A isso chamamos de morte substitutiva
(Rm 4:25; Ef 5:2).
- Rm 5:16-21 (dikaivwma – dikaíoma): Justificação, veredito de inocência.
A justificação é declarada por meio da
transferência da culpa para Cristo e pela consumação da justificação
realizada pelo próprio Jesus, ao ressuscitar incorruptível (Rm 3:21-25).
É importante destacar, mais uma vez, que
a justificação não ocorre por meio de boas obras, mas é um dom gratuito
de Deus (Efésios 2:8,9). Por isso, afirma-se que a justiça do salvo é
imputada (atribuída a ele) mediante a declaração de Deus (justificação).
Primeiro o Senhor nos declara justos (justificação) e depois Ele nos torna justos (santificação).
O QUE A EPÍSTOLA AOS ROMANOS NOS ENSINA
“sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3:24)
“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei” (Romanos 3:28)
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1)
“porquanto quem morreu está justificado do pecado” (Romanos 6:7)
“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Romanos 8:33)
NOTAS:
[1] Uma defesa da Doutrina da
Justificação pela Fé. Disponível em: <
http://www.projetospurgeon.com.br/2012/01/uma-defesa-da-doutrina-da-justificacao-pela-fe-moody-sankey/>.
Acesso em: 13 nov 2012.
[2] Justificação pela fé: o coração do
evangelho. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/7136.html>.
Acesso em: 13 nov 2012.
[3] Justificados Pela Fé Somente. Disponível em: . Acesso em: 13 nov 2012.
Fonte: NAPEC
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