Por Magno Paganelli
Fundada por Selêuco c. 300aC, Antioquia
tornou-se a terceira maior cidade do Império Romano. Antioquia foi
importante ponto e rota comercial e tornou-se um influente centro do
pensamento teológico, tendo nomes como Inácio e João Crisóstomo como
bispos.
Havia ali
farta diversidade no campo do pensamento. Dentro os habitantes,
contava-se mais judeus em Antioquia do que em toda Jerusalém. O judaísmo
predominante na igreja em Jerusalém impedia o amplo florescimento do
cristianismo; mas em Antioquia havia sinagogas nas quais foi possível
estabelecer vínculos com a nova religião. Soma-se o helenismo e cultura
grega naturais na cidade de Antioquia, o culto ao Imperador, os
elementos do gnosticismo, religiões asiáticas, charlatanismo babilônico e
o templo de Apolo: o desafio não era pequeno.
Curiosamente foi em Antioquia onde os
discípulos de Jesus foram, “pela primeira vez, chamados cristãos” (At
11.26). E um dos segredos que vejo para que isso acontecesse reside na
mensagem de reconciliação ensinada por Paulo.
Revertendo o que Noé predisse milhares
de anos antes, o Espírito Santo estava reconciliando consigo o mundo,
etnias e classes sociais antes separadas. Vemos a conversão do cananita
etíope (At 8); do semita Saul (At 9) e do jafetita
Cornélio (At 10). Em seguida, em Atos 11, não mais um indivíduo, mas uma
igreja entende o sentido plural de sua missão.
Paulo fala de reconciliação em quatro
textos ao longo de sua obra: em Romanos 11 (sobre Israel), em
2Corintios, Efésios e Colossenses.
Rm 11.15: “Pois se a rejeição deles é a reconciliação do mundo…”.2Co 5.18-20: “Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem [ou palavra] da reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus.”Ef 2.15,16: “[...] na sua carne desfez a inimizade [...] para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela [a cruz] as inimizades.Cl 1.19,20: “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.”
A raiz grega da palavra reconciliar (apokatalassō)
indica restauração, restabelecimento e cura. De fato as pessoas e a
sociedade estão doentes. Quando um filho grita e estapeia sua mãe,
quando um adolescente recebe a polícia à bala, quando um político eleito
pelo povo desvia dinheiro que deveria ser usados na melhoria de vida de
milhões de pessoas, estamos vendo o resultado da doença chamada pecado.
Não gostamos mais dessa palavra; é obsoleta. Mas não há com ignorar
seus efeitos diários em nossas vidas.
Tapar o sol com peneira em nada
ajuda.
A cura do homem é o que precisamos
observar na expressão da nossa mensagem e missão diárias. A igreja deve
curar as pessoas, não adulá-las. As pessoas estão separadas de Deus e
para reconciliá-las, precisamos aplicar a Palavra que corta e opera, não
uma filosofia ou promessa que ilude e mata.
Portanto, a mensagem da Igreja não deve ir ao mesmo sentido dos acontecimentos do seu tempo. Num ambiente que se separa de Deus
matando o Salvador do homem, a igreja em Antioquia promovia a
reconciliação pelo Evangelho, na prática missionária local e
estrangeira. A igreja não pode ser uma alternativa cultural, ela deve
ser a melhor – senão a única – opção espiritual: a única que reconcilia o
homem com Deus.
Fonte: Napec“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. (2Co 5.17)
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